quarta-feira, março 28, 2007

Parte Dela






Sou parte dela, quando canto penso que ela tá lá
Se estou sozinho sei que ela tá lá
Se eu cair no mundo e me virar
Morto de saudade um dia você vai me ver voltar
Se eu cair no mundo vou dizer
Calma, pois um dia volto correndo só pra te ver

É a hora eu tenho que arriscar
E eu tenho muito pra fazer
Eu sei que um dia chego lá
Gosto de você é pra valer

Moça bonita, cor de canela
Chapa meu globo toda vez que penso nela
Brasil é terra onde se tem várias donzelas
Faço essa rima e até coloco o nome dela
É sempre assim, cabelo crespo
Caliente, inteligente,
Senta aqui bem do meu lado, lhe dou uma flor
Pensei em contruir família, seja o que for

Sexta-feira eu encontro ela
Veste claro e cetim a perfeita cinderela
Abracadabra, meu Santo Antônio
Se ganha um beijo, o tristonho fica risonho
E não medonho
Marcha nupcial no ritmo do samba
No esquema tropical, aqui se gasta aqui se ganha
Moça bonita, disputo na esgrima
Estou na rima

É a hora eu tenho que arriscar
E eu tenho muito pra fazer
Eu sei que um dia eu chego lá
Gosto de você é pra valer

quarta-feira, março 21, 2007

ANO ZERO!

Dizem por aí que a vida é aquilo que acontece quando fazemos planos para o futuro.

Mas... e se a última coisa que a gente quer é fazer planos pro futuro?! E se o futuro, num determinado momento da nossa vida, nos parece algo distaaaaaaaaaaaaaaante e imprevisíííííível?


E mais, e se o futuro simplesmente parecer ultra-nebuloso e a gente não tiver o menor plano, nem unzinho que seja, pra daqui um dia, um mês, ou anos?


A vida pára?


E se a gente ainda estiver preso aos lances do passado, que podem ter sido tipo assim suuuuper importantes pros planos que algum dia a gente pode vir a fazer???


Perguntas importantes estas...?


Explico.


Comecei 2007 com o pé esquerdo de propósito, só pra ver se algo mudava e se algo extraordinário acontecia, já que extraordinário é bem o que a palavra diz: é além do ordinário, do comum. E eu comecei o ano sedenta por novidades, por mudanças, por muitas e ótimas surpresas. Pra começar, quebrando um ritual de 23 anos de vida, eu passei o Ano-Novo em São Paulo - e não, não foi por falta de lugar pra ir, nem por grana, nem por ter que trabalhar. Foi por opção mesmo! (Inteeeeeeeeeeeeeeeeerna!!!).


Pulei ondinhas num gramado japonês de pedras, que era pra ver se Iemanjá sentia falta dos meus pezinhos e dava uma força... e na última ondinha, pus em prática o que tinha descoberto: a última onda tem que quebrar na nossa canela. Então, deixei a sétima onda imaginária quebrar na minha perna, e quase senti o geladinho anunciando as mudanças! (Inteeeeeeeeeeeeeerna!)


Depois de anos de bebedeira descontrolada, este Ano-Novo passei sobriazinha da Silva, voltei dirigindo o carro da amiga e achei que o Santo Protetor dos Alcoólatras ia ficar bem orgulhoso e ia dar um help, ou no mínimo, achei que meu fígado agradeceria.


Em resumo, só faltei fazer promessa pra ver se as coisas tomavam novas formas.


Não que eu estivesse descontente com alguma coisa. Pelo contrário. Tava tudo bom demais, confortável demais, na inércia demais, e quando ta tudo muito em paz eu fico aflita e começo a sentir falta das dificuldades, e às vezes, até das fossas de sexta a noite, porque pelo menos está rolando algo importante e a gente tem a sensação de que a vida tem movimento. Então, voltando, tava tudo tranquilinho demais, e eu não estava desejando “muita paz em 2007” pra ninguém. Paz demais é ruim. Bodeia. Cansa.


Bom, pelo que parece, despertei a ira de Iemanjá, que deve ter ficado meio ofendida com o lance das pedras... e o Santo Protetor dos Alcoólatras deve ter achado meio sacanagem não beber no ano-novo, me achou meio caxias, se sentiu abandonado, sei lá. Porque desde que começou o ano, a impressão que eu tenho é que, com o perdão da palavra, eu só me fodi.


Sem melancolia, gente! Falo isso com sarcasmo, porque afinal de contas fica até engraçado se parar pra olhar o quanto as merdas vêm em comboio. Chega a ser irônico.


Okei, confesso: o assunto é homem. Pronto falei.


Comecei o ano com uma decepção fatal, daquelas que doem na alma, na cabeça, e no bolso – precisei de 5 novas blusas fantásticas e carésimas pra me sentir um pouco melhor. Esse drama, ou melhor, essa tragicomédia, vocês bem que acompanharam. Ela deve desenlaces e desdobramentos, que não vêm ao caso, mas que podem ser imaginados. Foi uma quebra, confesso. Chorei as pitangas, perdi o chão, e também quase perdi as amigas de tão chata que fiquei. Falta de referencial, de parâmetros, em resumo, começar do início tudo de novo a idéia de felicidade amorosa. Foi foda pra caralho.


Na seqüência, decidi que então era hora de continuar com a sessão “finalizando-questões-mal-resolvidas” e entrei no clima, terminando uma relação turbulenta de quase 1 ano, marcada por ciúmes patológico, amor, raiva, rejeição, histeria generalizada e, infelizmente, um tesão descontrolado. Sim, dei adeus ao melhor sexo da minha vida. Haja desapego. Adeus, 20 telefonemas em um dia! Adeus, relatório diário! Adeus, insatisfação constante! Adeus, gato-delícia de distintivo em punho! Adeus, figura de autoridade! Você me ensinou muito, mas a gente pára por aqui, ta?


Super okei.. Então era essas, Ano Zero em termos de amor. Vamos recomeçar.


Até decido dar uma chance a um amigo fofésimo que havia recém se declarado, mas percebo logo que aquilo não vai dar (literalmente, se é que vocês me entendem) em lugar nenhum. Super okei. Nana, tenhas paciência, minha filha. Espera mais um pouco. E até agora estou esperando. Ponto pra mim.


Então o conheço. Ai ai. O homem mais lindo que já vi de perto na minha vida inteira. Ai ai. Ali na praia. Me dando bola. Perguntando se sou dali. Quase olho pra trás pra ver se era comigo mesmo. E não é que era? Ai ai... como não me apaixonar? Lindo, lindo! Inteligente, viajado, fala inglês, aleluia! E que cabelo, gente! De propaganda da Pantene. Gente boa, interessado, fazendo perguntas sobre meu trabalho como nenhum outro antes fizera. Como não me apaixonar?


E depois de algumas noites calientes, o papo de ‘estou-magoado-por-um-término-recente-e-estou-100%-racional’. Ai ai... como não me apaixonar?? Lindo, gostoso, inteligente, gente boa, fala inglês, e o mais importante, NÃO QUER NADA COMIGO! Como, gente, como não vou me apaixonar desse jeito??


Super okei, recado dado, mensagem recebida: o coração do rapaz não está aberto, e o meu está abertinho da silva, hora de partir pra outra. E quem disse que o moço sai da área? Sai, volta, bate, assopra, não caga e não passa a moita! Como não me apaixonar? Rá-rá-rá!


E não é, gente, que Iemanjá deve ter ficado bem puta da vida, bem recalcada, porque na seqüência descobri que o melhor-sexo-da-minha-vida já estava sendo também o melhor sexo da vida de outra?? Putz, aí foi um arregaço! Pô, assim tão cedo? Puta dor de cotovelo, com direito a cervejas noturnas e isolamento social, Adriana Calcanhoto no rádio o dia inteiro e também a noite inteira, com as músiquinhas não saindo da cabeça... “Entre por esta porta agooooooooooooora, e diga que me adooooooooooooooooooora, você tem meia hooooora, pra mudar a minha viiiiiiiiiiida!” (meia hora por que?? Que tipo de deadline é esse? Enfim, música pra afundar ainda mais na fossa!)


Bom, mas como sou otimista (apesar de melancólica e histérica), tentei brincar de Pollyana e achar os pontos positivos desse imbróglio todo. E achei, um monte. Cair na realidade. Matar o Ex-Namorado Ideal. Aprender a não arrastar situações até o limite. Ser menos defensiva. Praticar o desapego. Aprender a separar sexo de afeto. Não ser tão suscetível aos encantos caiçaras. Valorizar quem me valoriza. Iéééééé!


Tudo isso pra voltar ao assunto do começo... gente, como fazer planos pro futuro amoroso (porque, na boa, sobre o futuro profissional eu nem vou comentar!) estando mais zerada do que placar do Corinthians no Paulistão?


Onde conhecer mocinhos novos e ativar novamente o meu placar pra que eu possa-poder fazer planos, fantasiar dias ideais, e cair de quatro babando na sola do sapato de alguém que me corresponda, é favor obrigada?


Em termos de futuro, concluo que o único plano que posso fazer no momento é programar meu próximo fim-de-semana, meu próximo atendimento no hospital, meu próximo par de sapatos novos, meu próximo almoço.


E o plano mais imediato é pegar uma cerveja na geladeira pra dar uma desbaratinada! Porque o Santo Protetor dos Alcoólatras que me perdoe, mas já fiquei sóbria tempo demais!


Interna gente! E rápido!

segunda-feira, março 19, 2007

Esquadros

Opostos, sentidos, momentos, crenças, sensações.

Um pouco de mim, um pouco de tudo, da vida e do belo, num punhado de versos.

Por Adriana Calcanhoto




Eu ando pelo mundo

Prestando atenção em cores que eu não sei o nome

Cores de Almodóvar, cores de Frida Kahlo, cores

Passeio pelo escuro
Eu presto muita atenção no que meu irmão ouve
E como uma segunda pele, um calo, uma casca,
Uma cápsula protetora
Eu quero chegar antes
Pra sinalizar o estar de cada coisa
Filtrar seus graus
Eu ando pelo mundo divertindo gente
Chorando ao telefone
E vendo doer a fome nos meninos que têm fome


Pela janela do quarto, pela janela do carro
Pela tela, pela janela
(quem é ela, quem é ela?)
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle


Eu ando pelo mundo
E os automóveis correm para quê?
As crianças correm para onde?
Transito entre dois lados de um lado
Eu gosto de opostos
Exponho o meu modo, me mostro
Eu canto pra quem?



Pela janela do quarto, pela janela do carro
Pela tela, pela janela
(quem é ela, quem é ela?)
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle



Eu ando pelo mundo
E meus amigos, cadê?
Minha alegria, meu cansaço?
Meu amor cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado

quarta-feira, março 14, 2007

ME FALA PARABÉNS?


Porque hoje é o meu aniversário!

segunda-feira, março 12, 2007

Aos meus queridos


Eu reclamo, reclamo, reclamo e reclamo mais um pouco da vida, mas tem horas que eu paro e me dou conta: sou é muito abençoada!


Quando paro pra pensar nas coisas que tenho de bom na minha vida, quase sinto vergonha dessa melancolia suprema que sempre me acompanha... como posso reclamar assim tendo as pessoas maravilhosas que tenho ao meu redor? Tendo os amigos que tenho?


Nunca escrevi nada sobre os meus amigos, talvez porque eu sempre sinta necessidade de escrever sobre os sentimentos ruins que tenho, e não era mesmo o Vinícius de Moraes que dizia que as coisas mais belas eram justamente as mais tristes?


Pois agora dei um tempo na tristeza, mesmo tendo o mesmo Vinícius dito que mulher tem que ter alguma coisa de triste, que chora, que sente saudades. Hoje eu estou com saudades eternas daqueles que me acompanham na jornada diária dessa coisinha difícil e complicada chamada vida, e por isso que hoje eu resolvi fazer uma dedicatória toda especial a eles, coisas mais importantes desse mundo... AMIGOS.


Quando eu penso nos meus amigos, começo pelo começo, na minha infância, e meu sorriso se abre quando lembro que tenho 2 grandes amigas que vêm desde esta época. A Dea e a Paola. A Paola eu quase não vejo, mudou pra Austrália e vem pro Brasil de vez em quando, mas sempre que nos vemos ficamos felizes igual a quando éramos crianças, com 7 anos de idade. A Dea conheço desde os 5 anos de idade, foi a primeira amiga que fiz na vida, e é uma irmã até hoje, daquelas que sabem o que acontece aqui dentro só de olhar pra minha cara.


Indo em frente, chego lá pra minha 6ª série, aos 12 anos de idade... e foi nessa época que conheci outra irmã... Julinha Perissinoto, com quem passei umas mil histórias bizarras, hilárias e inacreditáveis. E o que rola entre a gente é amor de verdade, sabe assim? Nessa mesma época surgiram pessoas incríveis na minha vida... o Beto, meu xuxu mais adorável, o Erik, que nem ao menos sei por onde anda, mas que anda no meu coração, ah, isso eu sei! O Tunico, a Sabrina, com quem falo super esporadicamente, mas amo de verdade. Na viagem de formatura, anos depois, conheci a Marcelinha, que hoje é a chinesinha mais fofa, mesmo sem ser chinesa, e é a doçura em pessoa.


Alguns anos depois, conheci uma pessoa especialíssima, lá pelos meus 15 anos. A Fe, que é uma criatura única. Não conhecem? Pois precisam conhecer. Companheiríssima, parceira de tudo, de forró a frescobol, de filme a restaurante japonês. Foi mais ou menos nessa época que conheci a Luli, a Ciça e o Pepe, que são tipo uma segunda família, pra quem eu sempre corro quando a coisa aperta de verdade.


Alguns anos mais tarde, já na faculdade, conheci outras pessoas que nem consigo descrever meus sentimentos por elas. Tem uma pequenininha, porém muito apimentada, que segurou muitas barras, e esteve comigo em momentos, trágicos, cômicos, tragicômicos e alguns outros meramente normais. Nandinha, pô irmã, te amo! Rafinha, Marcelo, e outros tantos (alguns que talvez hoje nem sejamos mais tãããão amigos), em relação aos quais o sentimento continua o mesmo, de amor e aceitação, de papos profundos e inacreditáveis, de viagens incríveis e de cineminhas no meio da semana. A Dri, com quem só fui criar uma amizade depois de formada, e hoje estudamos juntas no mesmo hospital.


Na Ilha, amizades valiosas, e entre elas uma verdadeira irmã, Didi... que hoje ta casada e com o Caíque já no colo. Ficamos semanas sem nos vermos, passamos por muitas coisas juntas, muitas fases diferentes e iguais ao mesmo tempo, coisa demais desde os meus 17 anos... Guardo na minha vida como um brilhante, muito raro e precioso, e que em breve vai estar tão longe de mim, de novo, e eu vou morrer de saudades...


Me orgulho demais de ter amigos de longa data, ou de média, se preferirem. E me orgulho demais de manter estas mesmas amizades até hoje. Mas não é que no último ano fiz amizades bacaníssimas, especiais, que agregaram muuuuito valor na minha vida?


Logo no começo de 2006, conheci uma ruiva muito estranha. A gente tava assim mais ou menos no mesmo momento da vida, as duas deprimidas por um chute na bunda quase simultâneo. E de repente a ruiva foi ficando presente, presente, presente, deixou de ser uma estranha, e hoje em dia a presença dela é constante e fundamental, de passar tipo quase um mês na praia juntas e uma não enjoar da cara da outra e depois disso ainda sentir saudades!


Eu e a Má, junto com a Fê, a Dri, o Rogério e o Vitor, que são dois meninos absolutamente fofos, formávamos o que um dia batizamos de G6, o grupo dos Seis, que era o grupo de entretenimento noturno dançante mais animado de São Paulo. Batíamos ponto no Canto da Ema toda quarta feira, e isso era sempre garantia de muita, mas muita risada.


O G6 quase não existe mais, mas os membros continuam na minha vida... mesmo com o Xu namorandíssimo ou o Rogério meio sumido, amo horrores todos os dias.


Existem muitas outras pessoas que eu vejo quase nunca, mas sempre lembro, e considero amigas do mesmo jeito... a Thais e a Bruna, que conheci pela minha irmã, e que são sempre uma presença que torna minha casa mais alegre. Tem também o Léo, que conheci bizarramente pela internet e hoje não vivo sem e já to morrendo de saudades. Na Ilha, novos amigos, relações diferentes das que tenho em São Paulo... a Didi e a Juju, a Ady, sumidaça mas que vez em quando aparece sempre fofa no seu jeitinho de menina-mulher. O Diogo, hoje um amigo muito querido, o Jé, Gordinho de São Sebastião, que outro dia me deu um presente e fez meu dia, me falando que sou até hoje sua melhor amiga, mesmo a gente se vendo tão pouco. O Duda, que entre indas e vindas, segredos, mistérios e esclarecimentos, entre provas e expiações, continua sendo meu irmão mais velho e por quem tenho um amor quase que incondicional.


Algumas pessoas eu lembro tristemente quando percebo que foi uma relação momentânea e que não pôde ser evoluída pra algo maior. Em relação a estas pessoas, eu lamento, mas preservo um carinho gigante e as portas do meu coração sempre abertas.


Tem também aquelas pessoas com as quais tenho uma relação mais superficial, mais de coleguismo, mas que também são super queridas e com as quais desenvolvi o que se chama apego...


Sei que alguns podem ter sido esquecidos aqui, mas estejam certos de que esquecidos não foram no meu coração, que é tipo de mãe e sempre cabe mais um. Aliás, na minha vida, tem espaço de sobra pra quem quiser entrar, e como diz os Racionais, sempre tem uma fatia de bolo pra vocês.
Nesses tempos meio turbulentos, é bom lembrar que tenho vocês, e senão no meu cotidiano, tenho na cabeça, no peito, no sentimento.


Obrigada amigos, por serem a família que tive a oportunidade de escolher...!

quarta-feira, março 07, 2007

Ah, se eu tivesse...!

Já perdi as contas do número de vezes que me peguei a dizer para mim mesma esta maldita frase.

São tantos “se’s...”, são tantos os momentos decisivos que apenas vi passar... atitudes que nunca tomo, momentos mal aproveitados, oportunidades perdidas, palavras não ditas e caladas por outras tantas cheias de impulsividade.

São aqueles 10 segundos nos quais mil coisas poderiam acontecer, mil coisas poderiam ter sido feitas e transformadas. Bastava um gesto, um olhar, um sorriso, bastava ter sido sincera e ter expressado o real sentimento.

Bastava ter percebido que aquele era o momento.

Quantas vezes mais na minha vida vou me flagrar dizendo ‘ah, se eu tivesse...’?

O que me falta para perceber esse momentos de potencial mudança? Pra usar as ferramentas que existem aqui dentro?

Falta sensibilidade?
Falta coragem?
Auto-percepção?
Espontaneidade?
Relaxamento? Clareamento? Alongamento?

Ou seria necessário apenas ACREDITAR que algo pode ser mudado??

terça-feira, março 06, 2007

... e foi, só que não era...






Dias assim são oscilantes, pendulares, contraditórios.




A cada momento, pensamentos em direções opostas são flagrados, andando lado a lado com sentimentos igualmente ambivalentes. Em 24 horas tudo pode mudar, e cada detalhe faz toda a diferença – como achar uma velha revista nunca lida, ou uma abençoada caneta no fundo de uma gaveta.

Em dias assim, começo a despertar e a olhar insistentemente o relógio às 6:45 da manhã. A ansiedade perturba meu sono, pela aflição do que será de um novo dia. E a cada vez que checo os ponteiros, nem 15 minutos se passaram desde a última conferida.

Às 9h30 me levanto, julgando aquele ser um bom horário, tarde o suficiente, razoavelmente preguiçoso para um dia de férias. Amaldiçôo meu velho hábito de acordar tão irritantemente cedo.

Pois quando se está sozinha, o dia tem muito mais de 24 horas.

Tenho fome, mas nenhuma vontade de comer. São estes os momentos mais solitários do dia, quando sento na cozinha quente como uma sauna e tenho saudades das vozes amigas reclamando do calor do velho fogão. Andar pela casa agora deserta se torna doloroso. Fecho as portas dos quartos vazios, uma ruga se acende em minha testa quando encontro vestígios de que houvera ali uma movimentação dias antes: uma lata de cerveja pela metade num canto da varanda; uma bituca de cigarro de filtro branco no cinzeiro da sala.

Por fim, como, apenas para matar o tempo. O cereal já desce rasgando, e nele nenhum sinal da velha euforia e do prazer histérico, geralmente seguido de um ataque de risos. Como, sem a menor vontade, enrolando ainda 10, 20, 30 minutos para chegar à praia e parecer ter a alma e o coração tranqüilos.

Resolvo então pintar aquela parede que há tanto tempo venho planejando. Levo nesta tarefa exatos 37 minutos, incluindo as bordas. 37 minutos, devidamente cronometrados pelo celular, que insiste em pemanecer silencioso.

São 37 minutos de pura terapia ocupacional, instantes relaxados e divertidos, durante os quais minha cabeça permite-se sossegar. O resultado é muito bom. A pena é não haver quem olhasse aquela parede vazia, e agora verde como o mar na Ponta das Canas.

Ao olhar as horas, entristeço: gostaria que não houvesse passado tão rápido.

Saio de casa a 20km/h, como um turista, olhando a paisagem. Ela já é minha velha conhecida, mas a cada dia percebo detalhes que nunca havia notado: uma árvore em forma de espiral, ou um novo parceiro de dominó para o velho e bêbado Índio no Bar do Genésio.

Uma vez na praia, tudo me reconforta. A areia sob meus pés, quente e fofa. O mar azul e convidativo. O céu limpo de um azul quase violáceo. Mergulho no mar, e então estou no meu ambiente outra vez. E meu coração se aquieta.

Alguns rostos conhecidos, e agora já queridos, aproximam-se sempre com gentileza. Pessoas que sempre estiveram ali, e com as quais jamais houvera uma oportunidade de conversar.

Pego-me a pensar o quanto me protejo atrás dos inúmeros amigos e amigas que sempre me acompanham. Percebo o quanto me apavoro, a princípio, quando estou só. E com o tempo, sou apenas eu mesma, de igual pra igual, na companhia daqueles que parecem ter sido colocados ali para que meu dia ganhe cor.

Macarrão, antes visto como arrogante, se revelou um ótimo companheiro, para um frescobol ou para papos intermináveis em tardes modorrentas de sol. Um espírito jovem aprisionado num corpo de 40 anos, já maltratado e magoado pela rejeição de um esporte ingrato. Aldeir... meu querido Negão, nego especial, criatura linda. Homem que fala baixo mas fala com os olhos, que são de moleque capoeira quando entra na roda. Sempre gentil, pra me dar cinzeiros, sorvetes, catálogos do Regatta, papel e caneta ou aulas de Laser a custo zero. Amarelinhos, que hoje me dão ‘bom dia’ e me fazem me sentir sempre bem-vinda e querida, seja com uma mangueira de água doce, um côco cheio de água, goiabas ou acerolas. O Israelense meio bobo e de Inglês difícil, mas de qualquer forma, um sorriso ao chegar. Jean, Sabiá Preto, sempre quieto em sua torre de observação. Rafa, amante dos números, meros 17 anos e futuro planejado.

Pessoas que fazem da praia que amo um espaço sempre alegre, sempre comunicativo. Sempre especial.

É verdade que ali falta um rosto, o rosto bonito daquele que não ligou mais, o rosto só presente aos fins de semana, o rosto daquele para o qual meu convite não foi assim tão tentador. O rosto daquele que colocou mais uma pontinha de frustração no rol já extenso presente no meu cérebro. É a lição do ano: foi, só que não era...

O Rosto Bonito faz falta, mas quando estou ali, no meio do mar, meu habitat natural, velejando num pequeno barquinho, seu rosto se torna menos nítido e já um pouco borrado: o cenário já está colorido o suficiente, e minha mente, ocupada o bastante. Caço a vela, empurro o leme, ‘arribo’ com o laser no través do vento, pronta para dar o bordo e picar um pouco mais aproveitando a veloc total. Nesse momento, não há espaço para frustrações.
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Dias assim seguem assim: telefones, piadas caiçaras, convites para churrascos aos quais não vou.

- Se você fosse minha mulher, te dava um presente por dia.

Paro, e imagino como seria.

Recolho minha cadeira, meus chinelos, e saio sob as nuvens densas que anunciam uma chuva de verão. Me despeço, ante a promessa de uma nova aula de vela no dia seguinte, e volto para minha casa solitária, a mesma que um dia já odiei, e que hoje me recebe de portas, redes e sininhos abertos. É ali o meu lugar.

Volto para mais uma refeição solitária, feita sem nenhum capricho, e para o silêncio contínuo com o qual devo me confrontar. Volto para as duas latas diárias de cerveja, que, preocupantemente, aplacam minha ansiedade noturna, quando volto a consultar o relógio a cada 15 minutos.

Volto para o silêncio, novamente, apontando a inquietude de minha alma – o silêncio de uma casa, de um celular, de um coração.

- Ta morando aqui agora moça?

Quase. Estou chegando. Eu to quase aqui, quase lá. Até onde meu coração mandar.

Até onde essa Ilha me levar.