quinta-feira, março 27, 2008

Back to the track

1 .love.

Achei que num momento desses eu ia mais era querer cortar os pulsos. Cortei, mas de uma forma diferente. Amor foi o que gravei nele: sempre. No outro pulso virá a vida. Amor à vida, este é meu lema atual.
Não doeu nadinha. Meu tatuador, homem mais confiável impossível, me perguntou: “Nana, o amor dói?”. Tinha achado que não e desdenhei. Depois ele passou a tinta por cima. Ardeu pra burro, reclamei. Palavras do sábio Maurício: “O que dói não é o amor, mas passar por cima dele”. Éééé....!
A tatuagem tá linda e soltando as casquinhas. Como toda ferida de amor, leva um tempo pra cicatrizar.

2. Da separação à reparação

Todo mundo sabe: terminar um namoro é um porre. Primeiro tem a fase do inconformismo, que a gente reza pra passar logo. Tudo o que conseguimos fazer é abrir a boca de cair o queixo: “Ahn? Como assim?”. Depois vem a fase do conformismo e da raiva. A sede de vingança. Informações pipocam por todos os lados sobre o infeliz. Você fica sabendo dos podres. Por fim vem a aceitação: acabou e a vida continua. Mesmo assim a gente se corrói de lembranças. E um belo dia, tudo passa. Enquanto isso você retoma sua vida, seus amigos, suas viagens e seu amor-próprio. Retoma também os pretês do passado (a gente sabe: terminou, eles caem matando. É um pegapracapá). Você retoma também os amores antigos que te faziam tanta falta no dia-a-dia, e relembra como é bom tomar café com ele toda quinta (ou quase toda) ali do ladinho, às vezes rindo e às vezes chorando. Às vezes você lembra daquela desgraceira toda e respira aliviada: o mundo girou e você graças a Deus não está no mesmo lugar. E finalmente entende – a amplitude emocional do cara era de uma colher de chá. Você? Um poço sem fim.

3. Better now

A única coisa que eu não ando entendendo é por que raios algumas pessoas que eu nem sequer falava oi de repente estão desejando-me melhoras. Ou dizendo que não querem me ver assim. Assim? Amores, vocês não me viram 1 mês atrás.

4. Na beira do portão

Na onda do amor-próprio, finalmente me dei conta: não sou mulher de curtir às 5 da manhã, nem de dar beijinho na beira do portão. Ok, a carne é fraca, o diabo tenta e a gente gosta, mas não tô pronta. Desculpa, não tô. Tô mais pra ter orgasmos mentais do que propriamente sexuais. Minha cabeça tem sido meu principal órgão sexual, e me dói um pouco pensar em outras mãos me fazendo carinho. Ainda não me acostumei, me dá vontade de dizer ‘se liga, tenho dono’. Mas não tenho – pelo menos não uma terceira pessoa. A dona sou eu, o corpo é meu e vão ter que esperar. Se quiserem. Super okei, sou totalmente a favor do ‘bola pra frente que atrás vem gente’. Mas como diz um amigo meu... calma, mané. Pra que tanta pressa?

5. Luz pra cego... que piada!

A gente só vê aquilo que quer. Ignora os instintos e interpreta tudo na busca por resoluções mais coloridas e românticas. Como diz meu mais novo amigo Aruã (picareta pra caramba), o homem tem é que voltar a ser bicho. Parar de viver de ilusão. A vida é obscena de tão lúcida, já dizia a Senhora D. Concordo com ela: a maior das obscenidades é a hipocrisia. E ponto final.

6. E no balanço das coisas...

Eu ando melhor. Tô respirando melhor, comendo melhor, rindo melhor, vivendo bem mais. Não minto: tô ainda lá pelos 30%. Ainda dói. Ainda tô confusa com o rumo da minha vida. Pego minhas trouxas e vou de vez? Faço aquele curso? Aqueles bicos? Saio com aquela galera? Vou no forró, no sambarock ou no cinema? Como pizza ou guarda-chuvinhas de chocolate? Peço o tamanho M ou P? Vale a pena gastar tudo isso? Anel neste dedo ou naquele? Vejo comédia ou um documentário belga? Excluo do orkut? Bloqueio do msn? (que porra de tecnologia, não?) Café com açúcar ou adoçante? Cianureto ou arsênico? É tanta escolha na vida que eu nem sei o que escolher. Mas a vida é uma só, e eu escolho escolher tudo. Ao mesmo tempo. De uma vez só.

Eu sou o que sou. Me perdôo pelo meu passado, perdôo meu presente. Estou livre.

quinta-feira, março 06, 2008

Na cara

Um almoço que virou um suco, uma conversa pra matar a saudades que virou um monólogo.

Encontro um amigo, muito querido e talvez o mais de todos, ali na esquina da Wisard com a Fradique, e a princípio o papo está ameno. A baladinha de sexta, ah, super legal, valeu pelo vip, e as bandas? Ah, andam bem, cada um faz sua parte. A conversa passa pelos meus cabelos e chega à inevitável pergunta “Como você está?”

Difícil de responder. Até tento disfarçar, o rosto não convence, esse cara sabe muito de mim. Ele evita me olhar nos olhos como sempre, e isso a princípio me incomoda. A princípio apenas, porque depois é um alívio – mal eu consigo olhar para seus olhos.

Ali está ele, falando de mim como quem me conhece há tantos e tantos anos, revelando seus dissabores e seus desapontamentos a meu respeito. Me imaginava uma líder. Alguém de sucesso. Alguém de respeito. De forma alguma esperava que eu chegasse ao ponto que cheguei, precisando da química farmacêutica pra fazer meu sangue correr pelas veias, passando tardes modorrentas a fio esperando por uma resposta, pensando nas duas únicas alternativas que restam a alguém como eu, segundo sua visão: mudar o mundo ou cair fora dele.

- Cair fora dele?
- Talvez se matar?


Esse cara conhece muito de mim, definitivamente. Mudar o mundo? Tanta coisa pra alguém pequena como eu.

Volto pra casa com uma sensação de desolamento total, um frio na espinha de quem vê o último lampião da rua apagar repentinamente. Desapontei talvez a última pessoa que ainda tinha esperanças a meu respeito, que me enxergava ir longe. Estourei o último fio da cordinha que segura meu barco a este tosco atracadouro.

Como um tapa na cara, eu percebo o que tantos tentaram me dizer: cavei minha própria cova. Onde estava aquele ser de luz, aquele ser de esperança? Aquela pessoa grata e feliz com as pequenas coisas, que amava ter tempo livre e se sentia criança? Aquela menina ainda não tão egoísta, que sonhava com a revolução, com a bondade sobre todos, que tinha força nos punhos pra fazer diferente? Terá mesmo virado ela alguém tão opaca, tão fraca, tão desalmada? Esqueci meus sonhos?

Sigo em sua busca nem que seja em uma volta pelo bairro, arfando como o cão que trago na guia. Em meio a milhões de cigarros e latas tombadas, ergo as mãos e as fecho com força, cravando na pele a lembrança das unhas, um dia quebradiças e hoje recuperadas, como garras recém-descobertas.

Eu ainda vivo. Se alguém me vir por aí, por favor me encontre.