domingo, fevereiro 22, 2009

Implacável

Às vezes a gente luta muito pra esquecer alguma coisa.

E, de repente, a gente lembra. Parece que tomou um soco. Assim, vindo do nada, com a guarda baixa, inocência rara de que se está protegido. A memória ataca.

Difícil pensar no que poderia ter sido. No que poderíamos ter feito. No que poderíamos ter tido. Difícil pensar que a felicidade pode ter escapado pelos vãos dos dedos sem que nos apercebêssemos disto, iludidos que estávamos com a idéia da estabilidade.

Mas não - o tempo não para, o mundo gira, as coisas mudam. Os sentimentos, a despeito do que possam dizer, costumam ser volúveis, e inesperadamente, apenas a memória é estável e firme o suficiente para resistir à passagem do tempo.

O que poderia ter sido. Ter feito. Ter tido. Tic-tac, tic-tac. Poderia ter sido diferente? Ou o destino era certeiro, independente do caminho utilizado para chegar até aqui? Teria sido possível pegar uma tangente, um atalho no meio dessa minha história, e mudar o fim deste período?

As dúvidas pulam, as pulgas plantadas atrás de minhas orelhas. As dúvidas: ter sido, ter feito, ter tido. Se eu pudesse. Se eu tivesse podido. Tic-tac.

Sem choro nem vela - não pude, não fiz, não tive.

A vida segue. Implacável. Bola pra frente.

sábado, fevereiro 21, 2009

Beijo me liga!!

Pasmem - eu fugi do litoral!
Carnaval no interior, acreditem se quiserem, pode ser tudo de bom.
Só de não ouvir o ziriguidum característico já fica bão demais. Com cervejinha, amiga fantástica, sol e piscininha, aí sim fica completo!
Bom carnaval... e ziriguidum!

quarta-feira, fevereiro 18, 2009

Algo mudou

Algo mudou entre nós.

Não foram suas mãos e nem seu abraço depois de nós dois. Tampouco foi nosso durante – você como sempre foi bruto; eu, claro, submissa. Fomos os dois, como de costume, como cão e gato – gato e rato, rato e presa: me prende entre os dentes num momento de glória, e me dá de presente seu sorriso afetado. Nada poderia ser, ao um mesmo tempo, tão sublime e tão trivial.

Seu tom foi igualmente íntimo. Nos elogiamos como de costume, sem falsas modéstias. Adormecemos exatamente da mesma forma – do contato total à individualidade no final da noite. Agradecemos, ainda que em vão, a nossa total reciprocidade de objetivos – no fim do episódio, ninguém jamais sai magoado.

Foi seu ‘bom dia’ que mudou em meus ouvidos? Para mim foi como sempre sonoro. Acordamos roucos, dolorido como de costume, ainda guardo comigo seus dedos nos braços. Para não perder o hábito, ri com o canto dos lábios de sua primeira piada. Escutei em silêncio suas primeiras rimas do dia. Xinguei com humor sua primeira implicância. Te contei meus sonhos e você como sempre espantou – sempre tenho sonhos estranhos em sua cama, e jamais confessei que todos incluem você. Nesta noite, você estava dentro do carro que explodia numa rua qualquer.

Mas algo mudou entre nós, e ao fim de mais um domingo não houve pesar na despedida. Ela foi rasa – não havia mais ânsia em voltar. Algo mudou e não foram nossos corpos, não foi minha língua, mas definitivamente meus olhos, enquanto os seus permanecem os mesmos. Algo mudou e foi dentro de mim, como uma sede que por fim se sacia.

Será essa uma despedida? Algo mudou que nossas imagens não mostram – seu sorriso congela, meu coração pára, nossos rabiscos continuam exatamente os mesmos, paralizados em nossos corpos conforme um dia determinamos. Tenho fotos; envio um dia, talvez falte o bilhete: algo mudou e foi minha alma, e neste momento ela já não tem nada mais a dizer.

domingo, fevereiro 15, 2009

I like my new bunnysuit :)




**strong convictions and perfect diction!


PLAY!

quinta-feira, fevereiro 12, 2009

Bem aventurados os honestos...

Nada ofende aquele que crê na verdade.

terça-feira, fevereiro 10, 2009

Merda no ventilador...

... só pra não perder o costume!

sábado, fevereiro 07, 2009

Vale a pena?


Minha amiga Ariela*, 26 anos, advogada, é destas mulheres apavoradas com relacionamentos. Ela faz parte do mais novo grupo de espécimes humanos do sexo feminino: os que desenvolveram uma visão negativa e tão aversiva sobre o afeto, que fogem das relações como quem foge de um vírus mortal. É claro que minha amiga não foi sempre assim – como quase sempre acontece, um relacionamento fracassado e bastante sofrido foi o gatilho para sua ‘conversão’. E, como quase sempre também acontece, ela passou o último ano se refugiando em relacionamentos efêmeros, vazios e superficiais – ora sob a forma de uma amizade inocente que sempre acabava em sexo, ora com homens pelos quais ela certamente jamais se apaixonaria.

Recentemente, Ariela resolveu dar uma chance a um amigo do trabalho que declarou interesse por ela. Apesar da aversão à idéia do envolvimento emocional, ela decidiu que era hora de pôr fim às barreiras. Consultou a terapeuta nº 1, a terapeuta nº 2, e então o grupo seleto de amigas ‘residentes’ para a votação final. É claro que todo mundo, sem exceção, foi favorável à abertura emocional, o que rendeu algumas ficadas com o amigo enquanto ele a levava ao estacionamento no final do expediente, emails fofos e telefonemas escassos, mas intensos.

Na última semana, minha amiga me ligou, indignada. “Não está valendo a pena!”, ela vociferou entredentes antes mesmo que eu terminasse de falar ‘alô’. Em plena 23 de maio, rumo à escola, eu me preparei pra enxurrada de reclamações e de racionalizações que certamente viriam. Eu não estava errada – parece que, após uma breve aproximação emocional entre ela e o moço, as coisas haviam esfriado. Não se falavam há alguns dias, os emails rarearam, e ela mal o via durante o trabalho (sendo justa com o cara, ela me explicou que ele estava sempre correndo para um lado e para o outro, atolado de tarefas). E dado importantíssimo: NÃO, eles ainda não haviam transado, o que a princípio ela achara super-fofo.

“Muito barulho por nada, como diz aquela música. O cara me cercou por todos os lados até me vencer pela insistência, eu finalmente acreditei que poderia ser legal, debati isso horrores na terapia, vibrei rosa pá caralho, me esforcei horrores pra me abrir... e o que aconteceu? Passei o fim de semana todo em casa, lendo Revista Nova e um monte de livros idiotas de auto-ajuda. Nem um único telefonema. Não nos vemos há mais de uma semana. Pior de tudo é que por email ele insiste que sou isso e aquilo, mas me fala, quem acredita numa situação destas? Todo mundo sabe que homem quando quer, QUER! Eu estava bem antes disso tudo e agora estou uma BOSTA!”

A fala da minha amiga me lembrou meu post de dias atrás, a frase de Nietzsche: “Odeio quem me rouba a solidão sem em troca me oferecer verdadeira companhia”. Era como se minha amiga tivesse acreditado na maior propaganda de um prato finíssimo, servido num restaurante fantástico, caro e longérrimo, pegado o maior trânsito para chegar lá, amargado 2 horas de espera... por um prato de batatas fritas um pouco oleosas e em quantidade insuficiente. Não há nada pior do que a frustração.

Naquele dia mesmo, minha amiga havia agendado um fim de semana na praia com a ‘amizade-que-sempre-acaba-em-sexo’, o que para mim era, nitidamente, um sinal de fechamento emocional. E, ao desligar o telefone, eu mesma já estava me sentindo um pouco desesperançosa.

Voltei a pensar em defesas, em barreiras, em bloqueios, e me peguei pensando novamente: toda defesa deve ser quebrada? É claro que eu, contagiada pelo maior clima ‘ame ao próximo’ do universo, acabei por incentivá-la a ter um pouquinho mais de paciência (às vezes o cara tava mesmo cheio de trampo e não tava podendo and stuff...), mas a bem da verdade, concordei com ela.

Muito barulho por nada – e isso acontece na maioria das vezes. E então, quando você finalmente resolve tentar mais uma vez, a despeito de toda a descrença, geralmente não é o que você esperava. É claro que nisso tudo tem uma pá de idealização – esperamos que o outro-bola-da-vez nos salve de todos os relacionamentos de merda que tivemos no passado, nos provando, assim, que o ‘felizes para sempre’ ainda pode servir pra nós. Uma ligeira diferença dos planos originais joga nossa energia pro bueiro, e então vem a sensação do desperdício. Desperdício de energia, de esforço, de luta por mudanças – resultado zero.

Zero? Zero se pensarmos nos objetivos idealmente estabelecidos. No fundo no fundo, romântica que sou, acredito que alguma coisa de bom minha amiga leva desta – às vezes o cara pode ser apenas um mensageiro entregando um recado importante: ainda dá pra sonhar. Talvez não seja com ele, nem com o próximo, mas a abertura que houve é um indício de que ainda existe, ali dentro daquele peito machucado, o desejo de gostar de alguém.

O problema é que, se realmente a história furar, entrará mais um item na lista das tentativas mal-sucedidas de minha amiga, o que certamente acabará reforçando o movimento ‘entrando na concha’. No fundo, então, talvez nem toda barreira seja indevida – pelo menos até algo forte o suficiente motivar a quebra das defesas. Até lá, talvez nem terapeuta nem amigas residentes devam dar pitacos. Vai ver é coisa que só a pessoa sente.

Fato é que, de agora em diante, passei a respeitar um pouco mais o esquema tático de defesa da psique humana – provavelmente vou encher menos o saco dos meus pacientes. Talvez ele saibam o que fazem. Talvez de fato minha amiga esteja certa ao chamar telefonemas, flores e convites ao cinema de ‘puro desperdício de rímel’. Talvez seja como a música da Maria Rita: é uma pena, mas certas coisas não valem a pena.

Não importa o tamanho da alma... para se abrir mão da solidão, deve-se receber em troca a verdadeira companhia...
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* Nome fictício, pra defender os sentimentos da amada amiga amargurada.

sexta-feira, fevereiro 06, 2009

Nietzsche

Odeio quem me rouba a solidão sem me oferecer em troca verdadeira companhia.

terça-feira, fevereiro 03, 2009

Alegre exaltação humana

Odeio comparações.

Mas, invariavelmente, ainda as faço.

O fato é que pode ser extremamente difícil e até injusto comparar coisas que, simplesmente por serem diferentes, dispensam comparações, mas quando se trata de diferenças de todo um abismo, a comparação chega a ser quase que involuntária.

Retrocedendo quase um ano no tempo, recordo, conforme descrito aqui, minha situação de vida da época. O sentimento que aflora quando leio estas linhas é inexplicável... poderia chamar de angústia, mas seria genérico demais. Meu peito aperta, a respiração falha... meus olhos molham como se eu olhasse uma pequena criança apavorada diante de algo bastante trivial no mundo adulto, como um personagem fantasiado ou uma roda-gigante... algo que, quando ela crescer, verá que não era tão assustador assim.

Hoje, olhando para trás, vejo nitidamente, claro como a água, uma óbvia transformação – não apenas emocionalmente falando, mas mesmo em relação às, digamos, conjunturas atuais.

Creio ser o mérito da mudança super merecido: se hoje tenho um consultório relativamente movimentado, outros 3 trabalhos, incluindo as escolas e atendimentos domiciliares, foi porque, em algum momento, eu disse ‘chega’ ao marasmo e à inércia que me envenenava, e disse ‘sim’ às oportunidades quando estas surgiram.

Se hoje me sinto capaz de ajudar pessoas cujos nervos se encontram tão em frangalhos quanto os meus naquela época, foi porque tive a humildade de reconhecer minhas próprias falhas e, no auge da empatia, me colocar no lugar do outro e compartilhar de suas dores e sofrimentos.

Pôr fim a um relacionamento doentio, masoquista, neurótico e absolutamente insatisfatório foi muito mais do que uma questão de amor-próprio: foi uma questão de sobrevivência. O que no fundo, ok, é uma questão de amor-próprio. Mas o amor-próprio, em última análise, não é o amor pela própria existência?

Hoje tenho a segurança plena de que somente em meu estado mais bruto de essência, o ápice do ser-eu-mesma, poderia ser feliz com alguém. Isso envolve, necessariamente, alguém extremamente satisfeito consigo mesmo, forte o bastante e convicto o suficiente de suas qualidades e defeitos para suportar a honestidade do meu caráter. Hoje, tudo se resume a uma equação muito simples: eu sou assim, você é assado. Combina? Hmmm...

(Super ok, ser eu mesma restringe, e MUITO!, o meu universo de relacionamento, em todos os sentidos. Fatalmente, homens ou mulheres diametralmente opostos, ou identicamente similares a mim poderão se afastar devido à minha extrema autencidade. Se tô ligando? Nem um pouco. Aceitei aumentar o diâmetro da intensidade de poucas relações para aumentar igualmente a circunferência da minha felicidade.)

A bem da verdade, só existe mudança onde existe desejo. Creio eu que, ao ouvir meus desejos, passei a dar mais atenção a lados de mim tão esquecidos que, ressentidos, rebelaram-se contra mim na forma de ansiedade, depressão e vazio emocional.

A Nana de hoje canta e dança como uma babaca quando acorda e vê um céu de brigadeiro; come uma panela de brigadeiro sem a menor culpa; se culpa apenas quando se machuca de propósito; e se machuca de propósito apenas se for para salvar alguém.

A pessoa que sou hoje tem orgulho de tudo o que passou e passa pra frente a experiência da dor – simpatizo com quem sente, sofre e ama, a tríplice aliança humana. Odeio julgamentos.

Fortaleci meus afetos; afastei de mim os julgamentosos; reconheci na força do meu trabalho a possibilidade de abrir um milhão de portas – não há nada nem ninguém que possa me impedir de fazer o que quer que seja. Tenho apoio, tenho família, tenho trabalho. Nada pode ser tão grave a ponto de destruir qualquer um destes alicerces quando se tem a argamassa essencial que os une de maneira perfeita: a tranquilidade mental.

Hoje minha mente é mais calada – não sinto saudades de suas época agitadas, mas ouço com atenção a tudo o que fala.

E é respeitando meu mais recente silêncio e meu comedimento emocional que encerro por aqui, deitada eternamente no berço esplêndido da minha alegre e exaltada alma humana: estou feliz. Não importa até quando.

domingo, fevereiro 01, 2009

A Dúvida

A cada crítica que surje ao suposto fechamento da alma, me pergunto: é defesa? A cada defesa, uma questão: é precisa?

Se existe defesa, é por opor-se a ataques. Defesas não existem à toa - a capacidade de enfrentamento é diretamente proporcional ao nível experiências bem sucedidas.

Certificai que o cenário não seja o mesmo para desempenhar papéis distintos em distintas peças. A representação das personagens depende do delicado equilíbrio entre o seu passado, o meu futuro, e o quanto guardamos para nós mesmos o que deles surje.

Do âmago dos filmes já vividos, a defesa desperta encerrando em si mesma os já velhos questionamentos: todo passado é pregresso? Pode o ser humano desvencilhar-se de seu histórico? Deve este ser humano fazê-lo? Sob que preços altos a pagar?

Do alto dos aparatos retaguardeiros, surge a centelha divina da dúvida e o bichinho a pulular na parte de trás de minhas orelhas, estourando maliciosamente a delicada bolha de sabão formada por nossa sutil homeostase, acusando-me da dúvida jamais silenciada: toda defesa é indevida?