E de tudo que com ele vinha: as perdas, as rugas, os kilos extras, a distância, a saudade. Todas as mudanças que o tempo vai criando, e as certezas que se distanciam conforme os ponteiros do relógio vão andando. Aliás, sempre odiei relógios, e hoje me forço a usar um, apenas pra perceber a inevitável passagem da vida: tic-tac, tic-tac, um minuto a mais, um minuto a menos.
Houveram vezes na minha vida que eu tive certeza de que possuía garantias. E um dia me disseram “Nana, o tempo é um aliado... mas você só vai perceber isso quando deixar de enxergá-lo como um inimigo.”
Hoje eu percebo a pressa que sempre tive, na busca endoidecida pelas minhas garantias perdidas... como se eu pudesse ganhar do tempo, e roubar dele tudo aquilo que havia um dia me sido prometido. E no fundo, hoje percebo: não passava de um cachorro, correndo atrás do próprio rabo.
O tempo come vidas, distancia as pessoas, suga a naturalidade de um reencontro e cristaliza antigos ressentimentos. Alimenta o medo da passagem de uma vida, e consome certezas.
Mas o tempo... sim, ele pode ser um aliado. Ele pode mostrar coisas que de maneira nenhuma conseguiríamos enxergar, ele derruba máscaras e liberta as pessoas, dá asas àqueles que podem voar e nunca viram que tinham asas.
Quanto tempo dura um sonho?
Por quanto tempo resiste a esperança?
Quanto tempo leva até que um amor se dissolva?
Por quanto tempo conseguimos ter lembranças?
Dizem que o tempo é o médico inexorável da vida.
Confiemos no tempo, acreditemos no que ele constrói, aceitemos o que ele destrói. Percamos o controle de nossas vidas, e nos pautemos no fato de que, um dia, um piscar de olhos levará toda a eternidade, enquanto que uma história de confiança pode se acabar em segundos.
Hoje, tempifico-me... e deposito no tempo a confiança de que tudo, a seu tempo, se resolve. Me apego ao ditado budista: a não ser pelas questões de vida ou morte, nada é tão importante quanto parece ser a princípio. O tempo delas se encarrega.
Tic-tac, tic-tac.
Um minuto a mais,
Um minuto a menos.