terça-feira, janeiro 31, 2012

ORAÇÃO PELAS MENTES ANSIOSAS

Venerável Mestre Hsing Yün

Ó grande e compassivo Buda!

Por favor, por tua bondade amorosa, ouve meu clamor!

Por favor, por tua compaixão, vê minha angustiante condição!


Minha mente assemelha-se a um emaranhado de fios, e a menos que ela se desembarace e desvencilhe, não conseguirei libertação!
Minha mente assemelha-se a um barco à deriva, e a menos que ela encontre um porto seguro, afogar-me-ei num mar de sofrimentos.


Ó Buda! Rogo a ti: por favor, afasta-me destas preocupantes condições; e guia-me pelo caminho da libertação.


Ó grande e compassivo Buda! Quero revelar-te minhas transgressões; quero arrepender-me de minhas faltas: diante das circunstâncias, nada delineio; na vida, ando sem rumo; confusas são minhas ideias e troco os pés pelas mãos; como pessoa, sou ignorante e apegada; na ação, não me adéquo às circunstâncias, e assim, divago sem saber como agir; meu coração está tomado por ganância, raiva, desconfiança e inveja; à minha mente faltam confiança e convicção no Caminho; no dia-a-dia, vivo a me queixar com ansiedade e inquietude; falta-me preparo para a autodisciplina; sou incapaz de agir com determinação, e assim, titubeio sem saber o que fazer.


Sei que todos os erros são por mim acarretados; e que todo carma e preocupação são por mim suscitados. Faltam-me, no entanto, determinação para emendar-me e motivação para arrepender-me; e assim, equivoco-me ao contemporizar, perdendo o bom senso e desperdiçando meu precioso existir.


Ó Buda! rogo para que me assistas com teu grandioso poder.

De hoje em diante, abandonarei minha estreiteza de espírito; de hoje em diante, eliminarei o vício da impaciência; de hoje em diante, desenvolverei o espírito da cooperação; de hoje em diante, levarei uma vida de otimismo.


Ó grande e compassivo Buda! Tantas são as pessoas que neste mundo, vivem tão ansiosas e confusas e, por conseguinte, perdem como eu, a noção de risco lamentando-se pelos irremediáveis erros cometidos.


Ó Buda! rogo por tua perene e imensa bênção para que possamos: subjugar Mara² que reside na profundeza de nossas mentes; eliminar nossos vícios de acomodação enegligência; reforçar nossa tolerância e paciência ao professar os teus preceitos; apreender teu meio hábil de aquietar corpo e mente; cultivar a concentração meditativa e prajña³; aumentar nossa coragem para sermos diligentes e não esmorecer; desenvolver bondade amorosa, compaixão, alegria e equanimidade; eliminar os três venenos existentes em nós, por incontáveis eras.


Ó grande e compassivo Buda, peço, por favor:

recebe esta minha sincera oração!

recebe esta minha sincera oração!
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² Māra: O demônio para o budismo. Tecnicamente um deus (deva). Māra é o inimigo do Buda que constantemente tenta aviltar seus ensinamentos com o objetivo de impedir que os seres possam vir a atingir o nirvana, estado no qual eles estariam fora do alcance da sua malignidade.


³prajñā (sânscrito: “sabedoria”): a mais sublime forma de sabedoria; compreensão intuitiva do vazio de todos os fenômenos e da não-dualidade; o mais elevado dos seis paramitas (perfeições). A realização da sabedoria prajñā costuma ser equiparada à conquista da iluminação e é um dos objetivos essenciais da natureza búdica.

quinta-feira, janeiro 26, 2012

Naipe de Água, as Emoções...

O SONHO



Isto tem sido dito repetidas vezes no decorrer dos tempos. Todas as pessoas religiosas têm afirmado que: "Sozinhos nós chegamos a este mundo, e sozinhos partiremos".


Toda idéia que envolve estar junto é ilusória. A própria idéia de companheirismo aparece porque estamos sós, e o isolamento fere. Queremos neutralizar nosso isolamento com relacionamentos... Por isso é que nos deixamos envolver tanto com o amor.


Tente entender a questão. Normalmente você pensa que se apaixonou por uma mulher, ou por um homem, porque ela é bela, ou ele é belo. Essa não é a verdade. A verdade é exatamente o contrário: Você "caiu de amor" porque não consegue ficar sozinho. Você estava mesmo pronto para "cair". De uma maneira ou de outra você iria fugir de si mesmo.


E existem pessoas que não se apaixonam por mulheres ou homens – então se apaixonam pelo dinheiro. Elas passam a acumular dinheiro, ou embarcam na aventura do poder – elas se tornam políticos. Isso também é fugir do próprio isolamento.


Se você observar o Homem, se observar com profundidade a si mesmo, ficará surpreso: todas as suas atividades podem ser reduzidas a uma única origem. Essa origem é o medo que você tem da solitude. Tudo o mais são apenas desculpas. O motivo verdadeiro é que você se sente muito só.




(O Baralho Zen de Osho)

quinta-feira, janeiro 19, 2012

Nos últimos dias senti que minha mente girou mais alguns graus.
Tenho me esforçado para obter o entendimento correto sobre a situação, mas acho que não estive, desde o princípio, com o peito aberto para o que poderia descobrir.
Sinto perceber que estive pré-disposta, e agora é necessário reconhecer que não tenho sentido exatamente o que havia imaginado.
Embora seja cedo demais para afirmar, é ao mesmo tempo muito tarde já para admitir: surpreendi a mim mesma. Tenho em mim muitas coisas que me eram desconhecidas – o romantismo, a poesia, as lágrimas sobre uma família.
Se o que hoje chamo de amor seria uma forma de apego, talvez seja esta uma lição prática. Preciso encontrar a coragem para este improviso inesperado e de última hora, e a serenidade para entender que, improviso que é, não existe certo, não existe errado, não existe gabarito ou crivo de correção que possa julgar e condenar um ato que, em última análise, jamais deixará de ser um ato de amor.

sábado, janeiro 14, 2012

SDS

Eu já estava esquecendo como dói estar sem alguém que você gosta. Fechada no meu castelo de autonomia emocional, quase não lembrava mais como era sentir saudade. Saudade – não falta. Falta é aquilo que você sente quando qualquer um poderia aliviar a sua dor. A falta é um buraco em que todo mundo cabe. A saudade tem um formato específico, único, em que apenas um único individuo se encaixaria perfeitamente. Qualquer outra coisa ficaria desconfortavelmente inadequada ali. Na saudade nos lembramos de coisas esquecidas. Um cheiro, uma frase, uma piada que fosse, uma palavra que sempre servia. Na saudade você repensa quantos defeitos poderia relevar em nome daquele único abraço – não o abraço de qualquer pessoa, não um abraço aleatório. O amor não admite genéricos – não há espaço pra esconder o sol com a peneira. E o amor não perdoa: faz com que você se lembre, cada vez mais nitidamente, de tudo o que abriu mão quando resolveu que a solidão era melhor do que as rusgas. O que sobra é a paciência amarga de não tomar atitudes precipitadas: tentar fazer com que ao menos este sofrimento não seja em vão. Que ele construa um castelo no lugar onde antes houve uma cabana. Hoje você sofre pela tapera que ali deixou um buraco, mas se mantém mais forte que a dor imaginando o futuro mais brilhante. Futuro sem genéricos. Futuro em que ambos voltam a se encaixar perfeitamente, como chave e fechadura, sem espaço que sobre pra me lembrar de que, afinal de contas, não consigo jamais aceitar nada que não seja a felicidade em si.

sexta-feira, janeiro 13, 2012

Perda

Que irônico passar a enxergar com minhas novas lentes de contato a partir do momento em que passei por cima do meu coração e decidi me afastar de você. É incrível pensar que a distância me trouxe uma clareza perturbadoramente mais nítida.


O medo e a culpa passaram a ser guardiões constantes deste período forçosamente triste em que voluntariamente me submeti. A dúvida, a incerteza, e a vontade de sentir a felicidade plena que um dia nos acompanhou foram as forças motrizes desta atitude que, aos olhos de tantos, pareceu tão descabida.


No meu íntimo, gritam as vozes enlouquecidas da esperança de que tudo sirva a um bom propósito, de que o sofrimento valha a pena, de que a distância faça se acurar a saudade latente que já vinha manifesta nos últimos tempos... saudade dolorida que se sente junto; saudade de algo que se encontra ao seu lado; saudade como se tivesse ido embora esta presença constante.

Em algum momento, perdemo-nos. Em algum momento desta trilha, tomamos direções distintas. Mas cansei de nadar contra a correnteza, forçando nossos caminhos a se manterem paralelos quando as perpendiculares tornaram-se rotina. Desisti de remar contra a correnteza, restando a mim desviar dos obstáculos e aceitar, humildemente, o sofrimento inevitável desta perda.


Pois, afinal, se esta perda se fez mesmo em sua presença, não estaria nos poupando a nossa ausência? Não preservaria este pano em frangalhos a evitação de mais uma disputa?


Oro ao deuses que preservem este amor, que nos poupem das amarguras dos casais que já não se amam – que mantenham o amor aceso dentro das almas muito mais do que no corpo, pois estas sim são companheiras eternas.


Quanto ao corpo, o corpo hoje adormece solitário, sob as luzes azuladas do televisor, enquanto chega às narinas o aroma conhecido da única peça de roupa que escondi entre os lençóis – um último refúgio que dê sentido a todo este caos, um abrigo em meio à dor que, de tanto tentar evitar, acabou por se instalar bem no centro, no âmago, no doloroso íntimo do meu coração.