quinta-feira, maio 31, 2007

Saudade

Tem dias como hoje, cinzentos e frios, em que o ar fica carregado de uma tensão que, invariavelmente, me remete à nostalgia, essa minha velha conhecida.

São em dias assim que minha vivência contínua é o passado, em que minha cabeça fica perdida no tempo e no espaço, relembrando, remoendo, querendo viver tudo de novo os tempos idos.

São em dias assim em que não vejo o tempo passar, as horas viram minutos, e a cada olhar no relógio, um susto pelo quanto de tempo já se passou e eu sequer percebi... parada, olhar fixado, mandíbula travada, os olhos opacos e vazios, como que enxergando, bem na minha frente, tudo acontecer novamente de maneira lenta, tentando agarrar cada restinho das sensações que ainda é possível de sentir. Meu corpo se move como se estivesse lá, no passado, como se estivesse encenando uma grande peça, a peça da minha vida, a peça dos tempos que não voltam mais. A sensação é de que a culpa é minha.

E eu sinto saudades.
Saudades de tanta coisa...

Saudades de quando eu tinha 9 anos e descobri o significado da palavra ‘sinceridade’. E lembranças de quando descobri que a sinceridade é quase uma utopia, já aos 11 anos, já mutilada, ao sentir a maldade do ser humano.

Saudade da inocência que tinha aos 13, quando me apaixonei pela primeira vez pelo meu primeiro namorado. Durou 28 dias. Como o ciclo da Lua. Mas as lembranças e a saudade, a culpa e o arrependimento, tão infantis, duraram anos. Que saudade de ter sofrimentos tão simples!

Saudades dos meus 17, dos fins de semana na praia descompromissados na companhia da minha irmã, fins de semana cheios de irresponsabilidade, de euforia, e de absolutamente nenhuma culpa. Saudades da descoberta do meu primeiro amor, ali naquela mesma cidade, amor este com quem vivi lindos 3 anos, pra depois me encher de novas e grandiosas culpas, quando já adulta e com o coração já meio calejado.

Saudades do começo do ano! Ah, que saudades, que se pudesse voltava e vivia tudo de novo, mas tudo de uma maneira diferente, sem ser tão blasé, sendo mais aberta, sem tanta pré-ocupaçao na cabeça... pra que talvez não tivesse doído tanto. Que saudades dos dias na praia, na sombra de um guarda sol, cercada de pessoas que na época, ainda não percebia o quão amigas poderiam se tornar... Quem dera ter percebido antes que se tratavam de pessoas tão especiais! Que saudades de poder vê-las todos os dias.

Saudades dele, antes de se tornar um fantasma que já quase não vejo, quase não toco, quase não cheiro... mas que quase sempre sinto a presença. Saudades do frisson que era vê-lo todo dia ali na praia, de vê-lo ainda interessado, ainda chegando perto, ainda me olhando de um jeito especial. Saudades de quando tudo era novidade. E saudades me perguntar que horas nos veríamos de novo, porque ainda não tinha virado um lugar-comum. Saudades de vê-lo ali na balada, quando ela ainda existia. De ouvir aquela música sem sentir tristeza.

Sinto saudades de muita coisa, e me pergunto por que ainda me prendo ao passado, e a um passado geralmente carregado de incômodo quando lembrado. Qual a razão da minha dificuldade em simplesmente recordar, sentir a alegria, e guardar as lembranças novamente na Gaveta da Memória?

Seria a insatisfação com o presente? O medo do futuro? Me agarro ao passado para não enxergar o meu contexto atual, presente, vivo?

E de repente alguém que aparece, e o presente é tão efêmero... e logo vai embora. E o tempo separados, inevitável, me apavora e me faz voltar novamente a relembrar tudo de novo, incansavelmente, obsessivamente, obsecadamente, envergonhadamente. E novamente a saudade.

Um aperto no peito. Vontade de voltar no tempo.

De novo o tempo.

Aliado? Inimigo?

Saudades.
"Será que a gente enlouqueceu,
Ou quem enlouqueceu foi eu?
Será que tudo aconteceu dentro da minha cabeça?"

quinta-feira, maio 17, 2007

Confissão


Eu ainda penso em você.

É, eu ainda penso em você, querido Juba, querido Rosto Bonito, meu garoto da Pantene, e tem semanas que sonho com você todas as noites.

E é ridículo, mas eu ainda fico com aquela pontinha de esperança de que meu celular toque aquela sirene que eu pus pra saber que é você, e que você dê aquela mijadinha no poste tão característica sua... e eu ainda espero que você me procure, mesmo depois de tudo o que aconteceu, mesmo depois de ter visto você sendo de outra.

Puta que pariu, mas eu ainda penso em você, e lembro bem da última noite em que a gente passou junto, e tem dias que meu corpo até dói, de tanto que ele queria estar com você de novo, uma última vez, uma última noite de sexo intenso, daquela química que só você e eu sabemos que rolou. E que ninguém percebe que ainda existe, quando a gente se cumprimenta como bons amigos e finge que nada nunca rolou entre nós.

Será que alguém percebe? Será que alguém percebe o jeito que eu te olho? O jeito que você me come com os olhos? Será que alguém saca que no nosso olhar tem uma cumplicidade, um tom de segredo, um tom de “só a gente sabe o que rolou e como foi que rolou”? Às vezes eu dou risada da cara dos nossos amigos em comum, que nem imaginam o que aconteceu com a gente. Ou será que imaginam? Será que o segredo é só meu?

Eu ainda imagino você do meu lado num dia ideal, de bermuda azul e camiseta da Budweiser, com cheiro de mar sentado na minha cama, reclamando do seu chefe, ou da sua mãe, ou de qualquer outra parte da sua vida que eu nunca tiver sequer a oportunidade de saber como é.

Eu ainda espero que você me ligue, mas eu sei que você liga só quando diz que vai ligar. E pra falar a verdade às vezes eu deliro que você está me ligando, mas nunca está, é sempre meu cérebro me pregando peças. Na verdade a gente mal tem se visto, sua imagem tem ficado tão difusa na minha mente, mas eu ainda sinto teu cheiro há 200km de distância e lembro da sua voz me falando aquelas coisas... e nesse momento eu quase sinto você perto de mim.

Faz tempo que o telefone não toca, mas tem meia dúzia de músicas que lembram você, e tem umas que quando eu ouço até dóem, porque tocaram bem naquela hora. E quando eu ouço, me transporto mentalmente praquela sensação única que eu tive, praquele cenário exclusivo que ainda está grudado no fundo da minha mente: o seu quarto, a sua cama, seus lençóis brancos, a sua parede pintada de laranja, e o cantinho, que ainda me pergunto onde é, em que ficou meu sutiã.

Eu penso em você e sinto quase raiva, de tão perfeito que você sempre pareceu ser, de como você ainda parece ser, e das partes de mim que, por ter te desejado tanto, eu acabei perdendo também - a honra, a dignidade, o amor-próprio, o respeito. Tudo aquilo que eu perdi na hora em que desejei ser, novamente, apenas um corpo deitado na sua cama.

Olho no espelho. E a imagem que vejo refletida não é a mesma de antes. É alguém parado no tempo, a ponto de explodir, obsecada por você e pelo seu corpo, meu mais novo vício.

Eu olho no espelho, e quase que com vergonha confesso que ainda lembro de você.

Mas o pior... é que já quase te esqueci.

sábado, maio 12, 2007

Pra bom entendedor...

Sai pra lá, sai pra lá negativismo!

Porque aqui o lado é ativo, e positivo!!

sexta-feira, maio 04, 2007

Paixão ou doença?

Os apaixonados que me desculpem, mas a paixão é uma coisa estranha!

Já me referi aqui mesmo neste blog sobre a origem da palavra paixão: vem de pathos, que no latim (ou no grego??) quer dizer “doença”. Portanto, não me olhem torto: minha estranheza quando à paixão tem embasamento teórico!



Pois, confesso: acho estranho demais.



Já pararam pra reparar de verdade, assim, com atenção, numa pessoa apaixonada? O olhar? As caras? A expressão corporal? O súbito otimismo que a acomete?

Estou numa fase totalmente inversa ao que sempre aconteceu: enquanto que, durante muito tempo, eu era sempre a que estava namorando, hoje quase todas as minhas amigas estão namorando e eu solteira, e enquanto elas estão assim, profundamente apaixonadas, eu ando meio que assexuada. Então eu ando mais sucetível a olhar a paixão de uma forma, eu diria, desapaixonada (me perdoem o trocadilho).

Paro pra prestar atenção ao que meus amigos e amigas apaixonadas dizem, e é incrível notar que existem traços, aspectos, características tão comuns entre todos eles... o olhar, as caras, a expressão corporal, como já disse. Mas uma outra coisa me chamou muito a atenção: a comunicação dos amantes. O jeito de falar. E a linguagem toda específica que dois apaixonados usam para se comunicar.

É impressionante.

É um tal de “amor” pra cá, “gordinho” pra lá (e olha que são magros, os dois!), e teve até uma amiga minha – que vai me matar quando ler isso aqui – que chegava ao ponto de chamar o ex namorado de baby-môr. E ela era a baby-môr dele. E os dois dormiam na baby-lândia, que servia tanto pra designar o quarto dele como o dela. Outra amiga minha chamava o namorado de “Gudju”, assim, fazendo beicinho do tipo gugu-dadá. Um amigo meu chama a namorada de “mái lóve”, escreve cartas que começam exatamente assim, “Minha linda mái lóve”.

Eu mesma já cheguei ao ponto de chamar ex namorado de Xinico, eu era a Xipinimilica (ai!), nós comíamos “fão de fecho” toda sexta e íamos no sábado à “Ficha Fãchi”.

Tradução? Pão de Queijo. Pizza Hut...................................

Ai, era tão lindo ouvir ele dizer “Xini... eu xampo!” (é claro que isso foi na época que eu estava apaixonada. Depois disso o Xinico virou “aquele-maldito” e eu jurei que nunca mais “xamparia” ninguém nessa vida!). Outro namorado meu me chamava de “pepecinho”, e não, não é erro de digitação. Era PePeCinho, um bebê pequenininho falado de um jeito engraçadinho. O shortcut era “pepê”. Opa! Péra lá!

O mais engraçado é que, quando o apaixonado se desapaixona, as gírias-fofas sempre viram motivo de auto-deboche e de vergonha profunda, daquelas que a gente sente mesmo quando está sozinha e se olha no espelho. Ai, que se pudesse voltar no tempo chamaria o rapaz pelo nome e se bobear pelo sobrenome! Bate aquela ressaca total de “como fui ridícula, devia estar doente”, e aí eu chego à conclusão de que paixão realmente só pode ser doença. E das muito estranhas mesmo!

Isso sem falar no tom de voz usado quando os apaixonados conversam, um tom de voz do tipo “tô-quase-morrendo”, e nas brincadeirinhas bobas (pra não chamar de outra coisa) que rola entre um casal. Amiga minha dizia pro namorado: “Uxo, você já mediu a circunferência da sua pançona hoje??”, ao que o fora-de-forma rapaz respondia “Já, uxinha, 178 centímetros!”. E riam, e riam, felizes de estarem se chamando reciprocamente de gordões balofos. Sem serem.

Não sei se sou eu que estou fria e crítica quando ao amor (Amor? Paixão! Quem aqui falou em amor?!). Pode ser que no fundo eu esteja desesperada por um namorado, mas muito me orgulho das minhas amigas que conservam a maturidade e chamam os namorados pelos nomes ou no máximo por um apelido aceitável! Bato palmas, pois não é fácil! Orgulho das amigas que tenho! Que sejam todas felizes e casem, pois além de amá-las e de adorar seus namorados (os que conheço, claro), também amo e adoro um bom boca-livre!

E enquanto isso não acontece, e enquanto eu mesma não adoeço de paixão, só me resta mesmo comer um bom fão de fecho! E se marcar, até uma Ficha Fãchi!! Viva os carboidratos!!

terça-feira, maio 01, 2007

Diálogo¬¬ O Tempo

O Tempo perguntou pro Tempo:

- Quanto tempo o Tempo tem?

E o Tempo respondeu pro Tempo que o Tempo tem tanto tempo quanto tempo o Tempo tem.


** Não queira explicar as coisas. Aceite-as.