segunda-feira, outubro 26, 2009

A Depiladora


Outro dia, a Luli discorreu sobre profissões-carrasca. Não me recordo se ela chegou a citar aquela que verdadeiramente me apavora, pelo menos uma vez por mês: a Temível Depiladora.

No lugar onde faço depilação, existem pelo menos 30 depiladoras diferentes (tipo um fast-food da cera quente). E eu, em busca de uma que parecesse mais boazinha, já caí na mão de pelo menos metade delas. Acabei parando na Adenilza, que é a única que já me sorriu ao falar “oi”, e que não parece sentir tanto prazer em cada puxada de cera.

Sim, porque é ÓBVIO que as depiladoras são sádicas por natureza. Ninguém mais suportaria trabalhar o dia inteiro infligindo tanta dor à sua semelhante. Eu imagino que a Adenilza, por mais tranquilinha que pareça, solta altas gargalhadas depois que eu vou embora, se deleitando com o meu sofrimento, e tenho certeza absoluta que ela sonhava, desde pequenina, em ser depiladora.

Deve funcionar como com os médicos, que precisam ser insensíveis, frios e calculistas pra poder clinicar, ou não agüentam. Ou como os psicólogos, que se não forem meio doidos, piram de vez após o primeiro semestre de trabalho.

Com as depiladoras deve ocorrer o mesmo: se elas fossem boazinhas, jamais conseguiriam puxar aquela cola desenvolvida pela NASA que é a tal de cera espanhola. Pré-requisito de depiladora é ser filha da puta.

Não bastasse a posição desconfortável e constrangedora, depilação é algo infernal que exige uma bela dose de boa-vontade. Quando uma amiga me pergunta se tatuagem dói, eu sempre digo que dói menos que depilar virilha completa. Parece drama, mas eu juro: não me acostumei até hoje.

E reclamar que a cera está quente demais nunca adiantou nadinha para mim, nem na forma assertiva (“A cera tá um pouquinho quente”) nem na forma mais sutil (“Ufff! Tá quentinha!”), nem na forma agressiva (“Cacete, tá queimando!”). Tudo o que consegui ao longo dos anos de queimação foram risinhos de soslaio como quem diz “Dói, né?”. Dane-se, elas nunca estão nem aí pra você e se você está sendo escaldada viva. E o foda é que, doendo ou não, sendo carrascas ou não, todo mês você tá lá, desmatando o terreno. Todo mês. Todo mês. Todo mês (dízima periódica).

E é justamente por isso (pela dor e pelo constrangimento) que eu acho que depiladora deveria ser fofa, simpática e bater papo como fazem as manicures (que, à bem da verdade, nem precisariam ser tão faladeiras assim, já que fazer unha não dói nadica de nada). As depiladoras deveriam passar por um crivo tipo assim a OAB, e o pré-requisito fundamental deveria ser ter um bom coração.

Quando você chegasse, em vez de um “vai fazê o que?”, você escutaria um “o que é que vamos embelezar hoje?”. E em vez de “assim você me atrapalha!”, elas diriam “já já te trago aquele cafezinho”. Você bateria papo e elas seriam confidentes, exatamente como a minha manicure, a Márcia, que sabe tintim por tintim da minha vida (já a Josi eu nunca gostei muito, ela faz a minha sobrancelha...).

Mas aí a gente volta pro começo: se fossem fofas, não seriam depiladoras, seriam manicures... A verdade é que eu tenho pânico da Adenilza e ando pensando em levar uns chocolates pra ela. Quem sabe ela pára de me cutucar com aquela pinça e vê que ali, deitada na maca com uma cera borbulhante nas partes baixas, está um ser humano bom e generoso, e não uma boneca de treino de primeiros-socorros.

Ou talvez eu coma os chocolates da Adenilza quando a dor infernal acabar e eu precisar de um pouquinho de prazer, pra tolerar voltar lá no próximo mês. E no próximo. E no próximo. E no próximo (dízima periódica).

domingo, outubro 18, 2009

É ferida que dói, e não se sente...


Quando ouço dizerem que gente feliz é sempre mais bonita, internamente sou forçada a discordar. Algo em mim sempre achou a tristeza mais bela, o olhar sofrido mais marcante, lágrimas mais elegantes do que sorrisos.

A tendência pela melancolia: pra mim, amar sempre foi sofrer. Não, não me refiro a platonismo. É que em mim o sofrimento sempre foi a expressão mais bela do interior de uma pessoa.

Não só de Byron me alimentava a alma, não só em Álvares de Azevedo encontrava sentido na minha sensação de que amor e dor não rimam só na poesia. Quem ama sofre, pois para o que ama já não basta amar: se deseja adentrar o corpo do outro, invadir suas entranhas, dominar sua mente e sua alma, apagar seu passado, controlar suas memórias, se apossar de seus sentimentos, manipular suas emoções. Deseja-se fundir-se ao Eu do outro em busca de mais, sempre mais.

Não basta ser Nós.

Há de ser Uno, há de ser místico.

Amar é doer.

E amar dói não pelo medo, não pelas defesas. Amar dói mesmo quando se é reciprocamente amado de volta. É uma dor tão fina, coisa assim tão bela, que vale a pena amar só pra sentir essa agonia inexplicável de que o amor já não cabe dentro de si. Se quer explodir de tanto sentimento, se quer sangrar e aliviar a pressão interna do peito que bate e grita exigente enquanto é docemente corroído.

O amor é vermelho como o sangue.

Da modernidade ao ultra-romantismo, me reduzo ao classicismo ao concordar com o poeta*: é ferida que dói e não se sente, é um contentamente descontente, é dor que desatina sem doer...

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*Luís Vaz de Camões, 1595. "... um não querer mais que bem querer / é um andar solitário entre a gente / É nunca contentar-se de contente / é um cuidar que ganha em se perder / É querer estar preso por vontade / É servir a quem vence o vencedor / É ter com quem nos mata lealdade / Mas como causar pode seu favor / nos corações humanos amizade /se tão contrário a si é o mesmo Amor?"


quarta-feira, outubro 14, 2009

Projeto Mulherzinha 2009 - updated!


O Projeto Mulherzinha 2009 vai de vento em popa, obrigada.

Vai tão bem que tem contagiado gente por aí. É sério!

A Antonella, do grupo de dança, andou por aí pintando as unhas do pé de vermelho, coisa que jamais havia feito na vida (eu entendo porque também nunca consegui essa proeza sem me sentir biscate); a Luli tem investido em SMS’s poderosas e românticas; a Ka outro dia se disse “completamente apaixonada tudo girando feito um carrossel” no maior estilo brega Marcelo Augusto; a própria Elis tem achado cedo demais pra relaxar diante do maridão turco, e corre na boca miúda que a Nesrine, que também dá aulas de dança lá na Elis, também anda repensando seu vestuário de dar aulas (parece que uma aluna chegou de meia furada e ela se sentiu um mau-exemplo).

Quanto a mim, não poderia estar dando mais certo: minha fascinação por dança do ventre tem crescido de maneira inversamente proporcional ao meu desempenho e tesão nos treinos de kick; meus esmaltes estão pendendo prum tom assim mais cor-de-rosa, e outro dia – pasmem – eu até comprei um vestido que tinha uns lances meio rosados (ohhh!!!).

Minha TPM, até então sempre suave, me atacou com força total este mês, com direito a cólicas jamais sentidas na vida, espinhas all over e crise de tristeza, choro e insegurança sem qualquer motivo aparente. Sobrou até pro namorado.

É, NA-MO-RA-DO. To tão mulherzinha que até esse meu lado já foi totalmente assumido, com foto no Orkut e tudo (tá certo que eu acho o Orkut a maior palhaçada que existe, mas to lá, as amigas não querem que eu saia, então...). É isso, mundo, EU TENHO SENTIMENTOS!

Pra resumir, é descontrole de estrogênio total. Só falta eu usar estampa de oncinha – mas isso eu já falei pra Elis, esse ano ainda não vai dar.

segunda-feira, outubro 05, 2009

60 segundos


Os dias têm passado rápido. Talvez até rápido demais, rumo ao novo ano que nos espera. Pulamos de vez rumo ao Natal, com exatos 81 dias de antecedência. Mais um piscar de olhos, e fogos de artifício já estarão no céu. O Brasil inteiro comemora 2016. A passagem mais rápida do tempo não tem sido observada apenas por mim. Cientistas fazem teorias sobre a rotação da Terra, sobre as novas dimensões; gente afirma que o dia não tem mais 24 horas, gente diz que um minuto já não tem sessenta segundos, tem teoria que diz que, quanto mais velhos ficamos, e mais conhecido o mundo se torna, mais rápido parece que o tempo passa - pois o tempo não existe, existe é a contagem do tempo, a nossa percepção sobre ele. (Percepção: sentidos + interpretação) Nossos sentidos continuam intactos... a velocidade das coisas inexiste. Mudou nossa interpretação? Mudou minha maneira de ver as coisas? Meus minutos já não formam horas – formam dias. A agenda mudou ao longo dos anos. Minha semana deixou finalmente de ser um martírio sem fim rumo ao sábado e domingo, quando a vida realmente acontecia. Agora a vida acontece. Os dias mais belos, coloridos, amáveis, transformando a passagem das horas num escorrimento indelével do tempo rumo ao fim dos meus tempos. Cada dia a mais, um dia a menos. Metamorfose. A memória, que persiste. Ah, o tempo... finalmente um aliado.
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(De repente se torna surpreendentemente cedo e precipitado fazer uma retrospectiva)