terça-feira, outubro 31, 2006

NO MICROSCÓPIO: O amor, a paixão e a estabilidade afetiva

Freqüentemente é assim: a gente busca, busca, busca, e quando acha, percebe que ainda tem uma porção de coisas a serem buscadas.

Na polêmica da vez, da validade da paixão, não foi diferente. A resposta de todo o imbróglio acabou gerando novas perguntas, excelentemente bem feitas pelo meu querido amigo, e, caramba, de difícil resolução. Vamos a elas.

1 (da credibilidade do artigo) – a pesquisa foi feita segundo as normas internacionais de pesquisa, numa das maiores universidades do planeta. Sim, creio que é absolutamente crível! De credibilidade duvidosa é mesmo o que está por detrás da minha aflição: meu choro quando vou a casamentos nunca é pela noiva, mas sim porque me pego pensando que talvez eu jamais me case. Porque temo que, por mais que a intenção na hora de dizer o “sim” seja sempre boa, seja sempre a de ficar juntos até que a morte nos separe, eu não consiga cumprir a promessa (na verdade, a promessa não seria a de “tentar”? Porque, afinal de contas, ninguém prevê o futuro?). Seria mais uma maneira de fugir da realidade? Será que eu deveria colocar os óculos alla Jackie O. e dizer “não não, é para sempre sim senhor, divórcio é uma alucinação que milhares de casais têm todos os anos!” ??

2 (da possibilidade de se apaixonar várias vezes pela mesma coisa) – acho que isso se torna fácil em se tratando de motos, que não falam, não peidam e nem têm ciúmes. As motos não implicam com suas idiossincrasias cotidianas, não se tornam maçantes com o passar do tempo, não te privam de uma série de coisas. Além do mais, acontece o processo inverso: você não se cansa de amar o motociclismo, assim como eu não me canso de gostar de estar com alguém. Mas você pode cansar da velha motinho e trocar por uma melhor. Por uma mais potente, sem arranhões na pintura, com muito mais cilindradas, ou que seja apenas aquela especificamente ideal pr'aquela fase da sua vida. Não seria a verdade... hm... que na verdade... hm... praticamente tudo é substituível?

3 (da complementaridade das pessoas, ou do mito da “metade da laranja”) – taí uma coisa que eu sempre critiquei, não-romântica que sou. Metade da laranja? Tampa da panela? Alma gêmea? Bah! Bobagem. Já pensou em como fica, se sua metade da laranja simplesmente apodrecer ou for embora? Quer dizer que amar é ser apenas meia pessoa? Fodeu, né?
Não me venha com xurumelas! Amar não é completar, é COMPLEMENTAR. Amar é somar, e não dividir. Para amar (definições a seguir), temos que ser laranjas inteiras, panelas com tampa, um ser uno e indivisível. Não é sensato colocar a cargo de um outro ser humano a responsabilidade por nossa felicidade, e, em minha humilde opinião, é precisamente esse o erro da maioria dos casais que não dão certo: a falta de individualidade, de auto-suficiência, de completude, a excessiva expectativa que colocam em cima de seus parceiros, como se a única forma de felicidade estivesse ali, naquela pessoa. Então os anos passam, as pessoas deixam de estarem apaixonadas (ou de se complementarem) e vão embora, e tudo o que fica é um grande vazio. Não pensem que é fácil ser completo hoje em dia, mas creiam: o amor saudável, não patológico, ideal, é aquela grande laranjada, feita a partir de duas laranjas inteiras. No strings attached.

4 (da sustentação de uma relação a longo prazo) – seria o amor que sustentaria uma relação? Depende tanto! Tenho um amigo, ele provavelmente vai ler isso aqui (e vai ficar puto, portanto não citarei nomes). Esse amigo namora uma menina super recalcada, mas boazinha. Ela o ama, ele já nem tanto. Ele reclama horrores dela, está sempre infeliz, mas continua com ela. O que sustenta a relação? A insegurança. O medo de ficar só. Tenho outro amigo, esse aí é cachorro de carteirinha. Ainda está na fase da paixão. Namora há menos de dois meses. Não se pode dizer que ele a ama (ainda), mas se um dia chegar a amar e permanecer fiel a ela (coisa que duvido), será por tudo, menos por amor. Será por acreditar que deve completar Bodas de Ouro, como ele mesmo me disse. Será porque é um menino religioso, que tenta a todo custo ser legal (e nem sempre consegue) e tem um superego do caralho em construção (o que não o impede de fazer cachorradas). Torço pra que ele seja diferente, mas, na boa, não é por amor. Amor a Deus, só se for... O que sustenta a maioria das relações: comodismo, insegurança, conservadorismo, conformacionismo, superego, criação, MEDO. Quantos casais vocês conhecem que já não sentem tudo aquilo pelo parceiro, há anos já não trepam como gostariam, há anos não se sentem “completos” e nem mesmo um friozinho no estômago sentem mais e... continuam juntos, num amor mais fraternal do que carnal? Conheço dúzias. Recentemente, amiga minha terminou com o namorado. 8 anos de namoro. Dizia que amava o cara mais que a si mesma (ó o erro aí...). Chorou durante exatos 15 dias úteis. Tomou antidepressivos, vontade de morrer. Parou de comer. Foi realmente preocupante. Passados 15 dias? Está dando mais que chuchu em cerca. Feliz. E que venha o próximo. A fila anda. O amor também.

5 (da definição romântica e científica do amor) – essa aí é difícil. Milhares de homens já pereceram na vã tentativa de responder a essa milenar questão. Pelo que escrevi acima, discordo que amar seja se apaixonar infinitamente pela mesma pessoa/coisa. Como já disse, não sou romântica. Sou mulher, mas não sou Pollyana. Amar? Amar é projetar, e transferir, é utilizar. Sim, UTILIZAR, vocês não leram errado! A gente ama por conveniência, por aquela pessoa conseguir suprir nossas necessidades naquele momento. Amar é troca. É uma mão lavar a outra. Costumo dizer que temos sim “almas gêmeas”, uma por fase da vida. As pessoas nos servem. Quando mudamos de fase, geralmente elas não nos servem mais. É cruel! Mas é a realidade! Tiremos os óculos: 2 pessoas jamais conseguem mudar exatamente ao mesmo tempo, da mesma maneira, pra que continuem se completando ad eternumm. Quando isso acontece... surgem as brigas, as diferenças de interesses, a apatia, a falta de amor. O desamar. E passamos pra próxima. Já não aconteceu com vocês? Já aconteceu comigo. Ainda “amo” aquela pessoa, ou melhor, os momentos legais que ele me proporcionou. De certa forma, ainda o amo. Mas ele não cabe mais na minha vida (às vezes me pergunto se algum dia coube, ou se era pura insegurança...). Ele já não proporciona as coisas que me faltam. O amor não foi suficiente pra que permanecêssemos juntos. A gente ama e desama, como amamos uma roupa, e no próximo verão, amamos outra. Depende do peso que adquirimos naquele ano. Depende da “tendência” (de novo?) do momento. Depende do quanto mudamos naquele período de tempo. Amar é momentâneo, carinho sim é eterno. Amar é passageiro, respeito fica. Amar é fugaz, tanto quanto o sexo (mas convenhamos: uma mulher que ama um homem ruim na cama ficará com esse homem menos tempo do que a que não ama um que a faz ver estrelinhas!).

Em tempo (como diz meu querido): falo aqui do amor romântico, amoroso, carnal. Amor familiar, de amizade, aí são outros 500. Tema pra outro post.

Pois como li em algum lugar:

“E assim a vida vai,
Resolvendo seus dilemas.
Plantando nas soluções
A raiz de outros problemas...!”

segunda-feira, outubro 30, 2006

Betinho diz: SE TEM PRAZO DE VALIDADE, É PORQUE EXISTE!

OK... entendi a polêmica... você sempre acreditou em um belo e frondoso conjunto de máximas e, de repente, out of nowhere (adoro essa expressão, soa melhor que “brotando do nada”), surge uma autora de artigos da baixa-literatura, munida dos valiosíssimos resultados de uma pesquisa feita por um cientista estrangeiro de quem você nunca ouviu falar, com o total respaldo de uma faculdade da qual você também nunca ouviu falar e afirma, categoricamente, que paixão vem com rótulo de validade.

Já imaginou?
– Oi amiga, o que você vai fazer hoje? Vamos sair?
– Ai, gata, não posso... acredita que eu vou ter que ir ao mercado trocar esse gatinho que eu peguei? O prazo de validade da paixão dele está quase no final!
Péssimo, simplesmente péssimo.

Pergunta um: se o artigo fosse do Dr. Temístocles Brodówski, do Centro de Pesquisas Avançadas sobre Relacionamentos Humanos da Faculdade Municipal de Matoury – Guiana Francesa, qual seria a credibilidade que você atribuiria ao artigo?

(em tempo: não tenho absolutamente nada contra a queridíssima Guiana Francesa, um belíssimo presídio francês até 1951, por sinal)

Não, não vou gastar vossa retina desqualificando o artigo. Vou te dar duas respostas, uma “científica” e uma pessoal.

Resposta científica: sim, paixão tem prazo de validade mesmo.

Vamos lá. Homens (no sentido amplo) são animais, assim como cachorros, periquitos, morsas, lontras, urubus, pulgas e percevejos.
Você disse que a paixão é um sentimento que garante a proximidade dos animais para que ocorra a procriação da espécie. Se não disse isso, eu entendi isso. E isso faz todo e completo sentido na minha cabeça. Basta ver o número de “acidentes de procriação” que ocorrem com casais recém formados e com casais com algum tempo de convívio (não vou chutar quanto tempo). Ou seja, paixão ajuda na procriação, sim.

Pergunta dois: por que os animais, excluindo desse grupo os homens (no sentido amplo), vivem em sociedade ou algo parecido com ela? Por que, raios, alguns animais estabelecem vidas mono ou poligâmicas e assim passam suas vidas?

Eles vivem e convivem pelos mesmos motivos que nós vivemos e convivemos. Por necessidade. Pela necessidade de proteção, de auxílio, de companhia, de apoio, de calor, de se expressar, de incentivo, de cobrança, de supervisão e de várias outras coisas.

Sim, estou afirmando que, se fosse pensar apenas com argumentos científicos, eu diria que paixão tem validade e que os animais vivem juntos por necessidade, e não por algum sentimento romanticamente lindo e socialmente aceito. E digo mais! Cientificamente pensando (não poderia escrever “cientificamente falando” porque não tenho provas para nada do que estou escrevendo), paixão é doença mesmo!

(em tempo, novamente: a única doença boa desse mundo!)

Pergunta três: onde já se viu um ser em sã consciência abrir mão de amigos, trabalho, estudos, família, esportes, lazer, cuidados pessoais e tempo de sono por conta de um outro ser que acabara de conhecer?
É doença, sim! Daquelas que se curam sozinhas em 24 meses, mas se você se medicar, duram apenas 2 anos.

Mudemos de ótica.

Resposta pessoal: sim, paixão tem prazo de validade mesmo.

Isso aí. Minha resposta pessoal também diz que paixão tem validade. Mas, minha resposta pessoal não diz apenas isso.

Pergunta quatro: o artigo que vossa estimada pessoa leu dizia que há um prazo de validade para a completa supressão dos hormônios responsáveis pelos sintomas que – aglutinados – chamamos de paixão. Mas, disse esse artigo que é impossível se apaixonar mais de uma vez pela mesma coisa ou pessoa?

Paixão acaba, é fato. Não só a paixão por pessoas. A paixão por qualquer coisa acaba. O segredo está em se apaixonar várias vezes pela mesma coisa.

Exemplo: eu ando de moto. Sou apaixonado por andar de moto. Eu amo pilotar motocicletas. A paixão acaba? Sim e não. Sim, porque ela de fato acaba. Não, porque antes de eu perceber que acabou eu já me apaixonei novamente.
Cada coisa é única: cada viagem, cada curva, cada arrancada, cada susto, cada tombo, cada companhia, cada paisagem...
Eu estou sempre apaixonado por andar de moto, mas sempre por motivos diferentes.

Frases batidas e detestáveis: “conquistar muitas mulheres é fácil, quero ver conquistar uma mulher várias vezes”, “achei a metade da minha laranja”, “você é a azeitona da minha empada”, “fulano é o sol da minha praia”. Você me completa.
Ridículas, mas cheias de verdade.

Pode chamar de transferencial e de projetivo. Eu concordo com o conceito. Ampla e integralmente. Você não se apaixonaria (ou, ainda, amaria) alguma pessoa que tem os mesmos defeitos que você, ou que não tenha absolutamente nada que você não tenha. Pelo menos não deveria. Não há motivos para se envolver com alguém que não agregue nada a você. Mas nem sempre percebemos isso tão facilmente e acabamos fazendo bobagem...

Ou seja, a paixão acaba para garantir que você não faça merda com a sua vida por muito tempo. Ela acaba, você não se apaixona novamente e a relação termina. Viu, sempre acreditei na sabedoria da Natureza...

Mas eu também não acredito em amor romântico. Não sou cientista, mas trabalho com finanças. Tudo deve ser provado e comprovado por meio de números, equações, modelos e gráficos.
Sua leitura já provou que paixão existe sob a ótica científica, mas ela acaba.

Pergunta cinco: se paixão tem prazo de validade, o que sustenta uma relação no longo prazo?

O amor.

Pergunta cinco: amor existe (o cientificamente viável, não o romântico)? Se sim, defina.
Sim. Amar é conseguir se apaixonar seguida e infinitamente pela mesma coisa ou pessoa.

sexta-feira, outubro 27, 2006

COM OS DIAS CONTADOS - SOS

Outro dia li numa revista meio-intelectual-meio-de-esquerda (“Psique”, do grupinho psico) um artigo super in hoje em dia. O nome do artigo já dizia tudo: “COM OS DIAS CONTADOS”.

O artigo me desconcertou. Me deixou meio em pânico, meio aliviada, meio confusa, meio desconfiada, meio aflita.

Dizia ele (o artigo) que os sintomas típicos da paixão (calores e calafrios arrebatadores, taquicardia, vontade de ver o tempo todo, apetite sexual intenso – esse foi o melhor – mensagens de amor o tempo todo, fantasias de futuro e tudo aquilo mais que estamos acostumados a sentir quando nos apaixonamos) são, na verdade, frutos de um desequilíbrio neuroquímico inerente à condição de paixão, que, segundo a Psicologia Evolutiva, nada mais é do que sinais clássicos que fazem o animal manter-se perto do parceiro, o suficiente para procriar a espécie.

Até aí, tudo bem. A palavra “paixão” vem do latim pathos, que significa doença. Que estar apaixonado causa uma certa doença, isso todos nós sabemos. Quem mais, senão os apaixonados, fazem uma série de coisas idiotas que pessoas normais não fazem? Como por exemplo, ficar imaginando como seriam os futuros filhos, mandar mensagens no celular a cada 2 horas, escrever bilhetes de amor ou só falar na pessoa o dia todo.

Bom... ainda segundo este mesmo artigo, esse desequilíbrio neuroquímico (definição: alteração quantitativa e qualitativa da emissão/secreção de hormônios e neurotransmissores, tais como adrenalina, noradrenalina e mais outra porrada de nomes complicados) tende a se estabilizar em, no máximo, 24 meses, donde decorre a supressão TOTAL da maioria destes sintomas.

Em outras palavras: A PAIXÃO DURA, NO MÁXIMO, 2 ANOS.

Terminei de ler o artigo meio branca, meio verde, meio amarelada. Tava inquieta. Quer dizer que paixão dura 2 anos? E depois? O que fazer? Procurar outra pessoa?

Ok, aí vocês me dizem que o que sustenta uma relação não é a paixão. E disso eu já sei, “é o amor!” muitos diriam. Que lindo. Eu juro que também acho. E como um grande amigo já me disse, não se pode tentar basear tudo em fatos científicos.

O problema é que eu, enquanto psicóloga, sou uma cientista. E outro problema é que eu não acredito em amor no sentido romântico da palavra, mas no amor transferencial, projetivo. Amamos aquele no qual depositamos diversas características faltantes em nós, ou desejadas, ou ilusórias. Amamos o que existe de nós mesmos (real ou imaginários!) no outro.

Me peguei lembrando no discurso dos padres em casamentos: “Fulano e Fulana estão aqui hoje para contrair matrimônio...” CONTRAIR matrimônio? Mas contrair... não se usa essa palavra quando se refere a doenças?

Que enrascada! E aí?

É contigo, Beto... socorro.

quarta-feira, outubro 25, 2006

Desentendendo

Entender, entender, entender, entender.

Bah! Por que sempre tenho que entender tudo?
Eu tenho que entender tanta coisa que chego a ficar cansada.

Eu tenho que entender que cada um é de um jeito. Que as intenções sempre são boas. Que se eu estivesse no lugar da pessoa, talvez fizesse igual.
Entender que ele estava nervoso. Que ela é assim e pronto. Que é 50% do meu sangue. Que agora sou adulta. Que o Brasil não tem jeito. Que a viagem foi cancelada. Que a loja estava fechada. Que ele passa por muita coisa, e que por isso é assim.
Entender que agora eu tenho um diploma, e por isso tenho responsabilidades. Que cada um tem seu limite. Que o que eu penso não se aplica na realidade. Que minha mãe ainda está muito magoada. Que ela nunca vai voltar a falar com meu pai.
Entender que ter um filho aos 61 anos de idade é diferente, ainda mais se ele for homem. Entender que a criança não tem culpa de nada. E que ela deve receber amor.
Entender que "é difícil!". Entender que a culpa também é minha! Que eu não devia ter participado. Entender que a "penitência" também é minha, por consequência. Que não era a hora.
Que nunca é a hora. Entender que não é meu momento. Entender que a vida não é justa. Que nem todo mundo teve estudo, e que por isso tem tanta gente ignorante.
Entender que a maturidade vem com o tempo e não quando a gente quer que venha.
Entender que não importa o quanto a gente se importa, certas pessoas simplesmente não se importam.
Entender que a vida é assim, que as pessoas são assim, que todos têm dificuldades emocionais. Que todo mundo se descontrola de vez em quando. Que a 4ª negativa de fato enche o saco. Que não se pode ter tudo, mas que ter nada é bem pior.
Entender os sentimentos alheios. E os da Naninha também, e do queridinho também, e da querida também-também.
Entender que assim é mais fácil, mas às vezes se torna difícil. Entender que aconteceu, e não foi porque eu quis. Que eu fui vítima, não algoz. Que isso também já aconteceu com milhares de pessoas no mundo, e que muitas superaram. Entender que só depende de mim superar uma violência.
Entender que tudo só depende de mim.

Eu entendo que seja assim. Mas também queria que me entendessem de vez em quando.

Que entendam que eu não sou bem o que pareço ser, e que tenho segredos. Que sou emocionalmente perturbada. Que sou muito mais frágil do que pareço ser.
Que eu choro de noite, com dó de mim. Que 5 minutos depois dou risada de mim mesma porque me acho patética. Que minhas depressões vão e vêm num intervalo de no máximo uma semana entre uma e outra. Mas que sou uma ótima atriz.
É tão difícil assim entender que minha parte criança traz uma nódoa dentro de si? Que ela foi maculada há muito muito tempo atrás?
Queria que entendessem que não sou assim porque quero. Sou assim porque não consigo ser diferente. Porque por mais que eu tente nunca é suficiente, sempre acabo morrendo na praia. Sempre acabo implorando por um pouquinho de afeto, de amor, de atenção, mas quando isso vem, está sempre manchado, sempre contaminado, sempre envelhecido.

Sou uma criança que só pede por um pouco de entendimento, por um pouco de compaixão, um pouco de solidariedade. Que me deixem quietinha em paz, no meu canto, sem cobranças, sem demandas, sem lições de moral. Sem dizerem "eu te entendo" sem nunca jamais terem entendido. Que respeitem minhas cicatrizes, que não as cutuquem com falsas promessas de cura. Eu sou assim, e serei assim sempre. Me aceitem da maneira que sou, aceitem meus conflitos, minhas neuroses, minhas dores e mágoas, minhas idiossincrasias que, entendo, são um pouco difíceis de entender às vezes. No fundo ainda acho que tenho condições de superar, de evoluir, de transmutar... só preciso de um pouco de entendimento. De acolhimento.

Entende?

segunda-feira, outubro 23, 2006

DEZ COISAS QUE APRENDI EM UMA SEMANA DE ISOLAMENTO NA PRAIA

1. A sensação que temos quando o feriado acaba, de "ai que pena, ficaria aqui para sempre" é absolutamente ilusória. A vontade que temos não é de ficar mais tempo ali, e sim de que o tempo parasse naquele instante que causou tal sensação. O que, aliás, invalidaria totalmente o tal momento, já que ele só é tão bom porque é único e especial porque é finito. A imortalização de um momento bom é tão desejada porque é utópica: sempre vamos querer o que não podemos mais ter: semana que passou, a música que já tocou, o feriado tudo outra vez.

2. Ficar sozinho (sem gato nem cachorro por perto) emagrece. Comida é símbolo de afeto, e eu percebi que comer perde a graça no dia em que comprei uma caixa de Amanditas, pensando em finalmente devorá-la sozinha, e não consegui comê-la até o final. Rezei para que alguém me pedisse umazinha sequer na rua, só pra poder compartilhar o prazer e poder dizer "Hmmm é tão bom, sou viciada nessa merda!!". Comer sozinho não tem a MÍNIMA graça. A gente come só pra matar a fome mesmo, sem ninguém junto de nós a gula perde o sentido. Comprei uma garrafa de 2L de Coca Light achando que ia ser pouco, e até agora não abri! E hoje comi, de maneira totalmente sem graça, restos do macarrão de ontem... ah, e jantei um sorvete por kg, e esse sim estava ótimo - comi na companhia de uma amiga.

3. Depois de um tempo sozinha, sem Tv, rádio, msn ou sem ninguém no telefone pra fofocar, você começa a duvidar da sua própria existência. Será que eu realmente tô aqui? Será que alguém me vê? Será que se eu sumir vão notar a minha falta, ou dizer "sim, eu a vi pela última vez na banca, comprando uma cruzadinha"?? Dizem que se uma árvore cai no meio da floresta e não há ninguém ali vendo, sua queda não emite qualquer som. Será que alguém me ouve cantando no chuveiro? Nossa existência só é admitida como tal por nós mesmos porque temos um outro nos servindo de espelho e nos refletindo (pelo menos se este outro responder às nossas perguntas ou elogiar nossa mini-saia!). Por isso eu agradeço aos céus quando o telefone toca - eu existo sim! Quando ele não toca, considero seriamente comprar uma bola de vôlei, escrever WILSON nela e fazer seus cabelos com as folhas do abacaxi que está apodrecendo na geladeira (como eu já disse, comê-lo sozinho não teria a menor graça). Depois de uns 3 dias sem abrir a boca, até considerei arrumar briga com o vizinho, só pra ver se ele me escutava.

4. Falando em telefone, quando a gente está sozinho é que a gente aprende a valorizar certas coisas que a gente adora dizer que detesta. Tipo tecnologia. A gente descobre que, na verdade, a gente A-DO-RA a tecnologia, especialmente o telefone - ah, o telefone!! E torpedo no celular então?? Bicho, que alegria! Parece até videogame - manda, recebe, responde, recebe de novo, iupii, que alegria!! A gente também começa a sentir saudades dos paus que o PC dá, religiosamente, uma vez por semana. Aí a gente idolatra o DVD, o cinema e até mesmo o Galvão Bueno começa a fazer falta. Eu admito: fui ao cinema em São Sebastião, dei uma fuçadinha no Orkut na casa de uma amiga, e tô doida-biruta pra ir logo na lan house escrever esse texto (para, mais uma vez, receber comentários depois e perceber que de fato existo). Porque olha, sinceramente, agora acabo de descobrir que adoro um bom teclado - escrever tudo à mão dói pacas!

5. A praia só é linda de morrer e o pôr-do-sol só é super romântico quando temos alguém pra compartilhar. É tipo o lance da comida, sozinho perde a graça. Na boa? Não tô nem um pouco afim de ir ver o pôr-do-sol, nem de torrar na praia, nem de contar estrelas. Tudo bem que tá chovendo... não tá dando praia, não tem pôr-do-sol e não tem nem uma única estrela no céu, mas acredite em mim: é bem menos legal quando estamos sozinhos. Especialmente numa terra como Ilhabela, lotada de borrachudos e pernilongos. Outra descoberta: a gente tolera os insetos pra não cortar o barato dos amigos, quando na verdade tá todo mundo igualmente pensando o quanto eles são insuportáveis!!!

6. Tem uma coisa muito legal de se estar sozinho: a gente descobre que é uma ótima companhia para nós mesmos. Afinal, tudo o que queremos fazer é sempre amplamente apoiado por nós mesmos. É como se fôssemos 2 pessoas, melhores amigos(as). Nunca tem alguém querendo fazer outra coisa. Somos só nós: eu e Eu. Quando eu tô com fome, Eu também está. Quando eu pensao em tomar banho, isso é exatamente o que Eu está afim de fazer. Eu tô sempre na mesma pegada que Eu. Sempre queremos fazer as mesmas coisas, comer as mesmas comidas, vestir as mesmas roupas - e eu não tenho o menor ciúmes de emprestar minhas roupas pra Eu mesma! Só tem algumas situações em que entramos em conflito. Como agora, por exemplo: Eu está com dor na mão, mas eu quero continuar escrevendo. Ou quando eu quero dormir de lado, e Eu, de bruços. Assim. Tudo ao mesmo tempo. Uma loucura.

7. A gente dorme muito mais, muito melhor, com muito menos culpa, e o dia rende muito menos quando estamos sozinhos. Explico: independentemente da hora que fui dormir ou do dia da semana, sempre que estou dormindo, exatamente às 10 da manhã, me bate uma culpa excruciante. O dia está passando e eu estou dormindo. Não quero dormir 1 terço da minha vida, o que me leva a dormir, no máximo, 5 horas por noite. Se tem gente por perto, pior ainda, porque escuto as vozes e quero logo levantar pra conversar, contar os sonhos, etc. Sozinha não: não tem ninguém pra conversar, nem pra achar ruim eu dormir tanto, nem nada a resolver. Só me resta dormir. O sono dos justos. E o dia rende menos não só porque dormimos mais, mas porque, sozinhos, podemos parar a hora que quisermos pra fazer qualquer coisa que quiser ou necessitar. Por exemplo: eu já levantei umas 3 vezes para ir ao banheiro enquanto escrevo esse texto, e no caminho parei para beber água, fumar um cigarro, lavar um copo. Quando não tem nada nem ninguém interferindo ou fazendo uma pressão social básica (mesmo que projetiva), a gente deita e rola, e não faz o que tem que fazer (no meu caso, absolutamente nada!).

8. A nossa imaginação se torna muito fértil quando estamos sozinhos. Qualquer barulhinho vira cães acasalando, um ladrão entrando, ou alguém vindo informar que ganhamos na loteria (mesmo sem ter jogado). Confesso já ter fantasiado meia dúzia de vezes que o estalo da madeira tão comum aqui em casa era, na verdade, um homem lindo que errou de casa, me viu, me achou bonita e simpática e quis conversar um pouco. E fazer sexo, claro. A gente se pega imaginando que coisas estranhas podem acontecer, como surgir um periquito dentro da geladeira (era o barulho do motor ligando e desligando), alguém estalando os dedos no banheiro à meia-noite e meia (eu não havia fechado direito a torneira) ou alguém com uma moto-serra do lado de fora da janela (era o vizinho roncando - como a esposa aguenta??). Já bati altos papos comigo mesma na frente do espelho, já fingi umas duas vezes que era a Madonna dando entrevista pra MTV (em inglês, claro!) e já esbocei mentalmente centenas de vezes o que gostaria de dizer praquele ex-namorado - sem cortes nem censuras, óbvio.

9. Cuidar de uma casa sozinha dá um trabalhão! Deus abençoe as empregadas e faxineiras! Vocês não imaginam quanta coisa tem pra fazer que a gente nem se dá conta: fazer comida e lavar a louça depois, varrer a sala, tirar lixo do banheiro, arrumar a cama, guardar as coisas na geladeira, dobrar as roupas de cima da cama, recolher os copos espalhados pela casa, apagar as luzes (incrível como sempre sobra uma acesa!). É uma manutenção constante. E é um saco. Ufa.

10. Ficar sozinha e isolada é muito bom, mas não vale o preço de uma boa fofoca, um bom cinema, um bom almoço em família, uma boa briga de trânsito. Não vale a delícia que é brigar com a irmã ou fazer manha pra namorado, e também não vale o prazer que é reunir as amigas pra ir comer num japonês na 2ª feira a noite. Taí a coisa mais importante que aprendi nesta semana: o danado do Vinícius de Moraes estava certo, é impossível ser feliz sozinho, fundamental é mesmo o amor. Amor de mãe enchendo o saco, de pai superprotetor, de irmã maravilhosa, de amigos preciosos. Sozinho a gente valoriza coisas que no dia-a-dia a gente nem dá bola - um cineminha ou um baralhinho no meio da semana na casa de um amigo, nem que tenha que atravessar a balsa pra isso (THANKS BABY!!!). A maior descoberta é essa: sou absurda, demasiada, deliciosa e ridiculamente dependente dos meus amigos e família. E também tô morrendo de saudades, voltando correndo! Japa na segunda feira?

Amor,
Eu

PS: Eu manda lembranças!!

terça-feira, outubro 17, 2006

Sem título

Sexta-feira.
11 da noite, São Paulo, Vila Madalena.
Estava quente.
Mas não quente o suficiente pra que eu deixasse sumir a frieza na alma que eu andava sentindo nos últimos tempos. De qualquer forma, senti um pouco de calor quando vi você, parado ao lado do bar - 1,95m, bonito, olhos cor de mel, tatuagem no braço.
Gostei imediatamente do seu jeito de se vestir, mas estranhei sua forma de olhar. Quando nos apresentaram, você não me olhou nos olhos, e por isso o calor que eu senti se esvaiu quase que por completo em questão de segundos. Percebi que você era daquele tipo quieto, meio taciturno, que está pouco se importando pros problemas do mundo, pra política, pra Amazônia ou pra futebol. Apesar de que você logo de cara se revelou corinthiano, e por isso simpatizei um pouco contigo. Achei que devia ser daqueles caras em paz, serenos mas que sabia engrossar quando fosse necessário.
Mas aquela esfriada que eu dei, sua falta de contato visual, me fizeram te olhar poucas vezes durante a noite, pelo menos até dar o último gole na 4ª e última caipirinha que havia me proposto a tomar naquela noite.
Quando virei o restinho doce do fundo do copo e o bati na mesa bamba de lata, senti seus olhos em mim. E como naquele momento seus olhos encontraram os meus, o calor voltou.
Seria o início da primavera?
Seria o efeito da vodka, já sendo metabolizada em meu fígado e atingindo meu cérebro, interferindo em minhas sinapses?
Decidi que era simples, claro e arrebatado tesão - você era do tipo de homem que não se devia desprezar, e eu bem que podia ver o olhar admirado das inúmeras solteiras que se resfolegavam ali naquela multidão, lutando por uma cerveja ou uma caipirinha. E você, em 2 minutos, chegou com um dry-martini. Perfeito.
Imediatamente senti que tínhamos uma afinidade. Você consegue se lembrar mais ou menos quanto tempo ficamos ali, perto daquela janela, conversando sobre tudo?
Quando seu cotovelo tocou no meu braço, eu senti um arrepio. "Será que é ele?". (Eu estava meio bêbada, por isso me dá um desconto). Mas é que tinha que ser. Entende? 33 anos! Bem sucedido! Independente financeiramente! Adorei sua profissão, imaginei que você devia ser sensível e bom com as mãos... Fumante! Corinthiano! Morando pertíssimo da minha casa! Me lembrei dos tempos de trânsito infernal da Av. Rebouças e na Raposo Tavares, ou dos congestionamentos quilométricos na 23 de Maio. Lembrei ainda das 3 horas de viagem rumo ao litoral, e de todas as grandes distâncias percorridas em meus últimos relacionamentos. Tinha que ser você.
Um fato me preocupou: você fazia terapia... e eu sei bem como que é - homem que faz terapia é porque está bem mal, sofrendo em segredo um amor edípico pela mãe, uma tara por cachorros e outras perversões do tipo, ou então está em depressão pós-divórcio. Mas você disse que era crise dos trinta e eu acabei achando super maduro e sexy, apesar de ter achado estranho que a crise durasse já 3 anos inteiros...
A gente dividiu um pedaço de bolo, você lembra disso? E depois que todo mundo foi embora você ainda ficou ali, mesmo que a festa já tivesse acabado até mesmo pros aniversariantes.
Eu podia jurar que era você! Talvez tenha depositado em você todas as expectativas de sair do enrosco que eu venho me metendo nos últimos 9 meses. Talvez eu simplesmente quisesse acreditar que grandes amores surgem assim, quando precisamos.
E então você disse, "deixa eu te falar uma coisa?" E disse que tinha me adorado assim que tinha me visto, e eu acreditei e por isso deixei você me beijar.
Só que... os sinos não tocaram. Sabe assim? Tava perfeito demais, você era bom demais, e eu não posso esquecer que sou histérica e que quando você mostrou que talvez precisasse de mim, de alguém, você deixou de ser tão bom.
E procurei sua língua, em vão, e de repente eu senti um sono absurdo, narcótico, extenuante, e naquela hora eu só pensava no meu enrosco de 9 meses (estaria sendo gerado algo maior?), do cheiro dele que eu não tava sentindo, da covinha dele que eu não via, do corpo dele, que ali não tava. E na dor no pescoço que seus 195 centímetros estavam me causando.
Não nêgo, não era você.
Desta vez, pelo menos, não era você. Grandes amores não surgem assim quando precisamos, e sim quando nem pensamos nisso.
Desculpa não ter te ligado de volta, eu realmente não fiquei afim de você.
Mas não se preocupa, você é lindo, gostoso, tem 33 anos e é bem sucedido, e eu tenho certeza de que tem 1000 mulheres por aí totalmente normais e que com certeza vão achar o máximo você fazer terapia.
Não era você.
Era eu.
Podemos ser amigos?
CTRL, ALT, DEL. Reiniciando.

quinta-feira, outubro 05, 2006

ORA, BOLAS!

Uma pausa em prol da paciência masculina: uma pausa no pensamento fortuito e complexo, deliberado e demasiado subjetivo que provém das cabeças femininas pensantes.

Abro hoje espaço pra desfrutarmos do outro lado da moeda.

Inaugurando uma seção de convidados, dou a palavra a um dileto amigo, homem papo-fácil, poeta das antigas e dono vitalício do cargo de Revelação do Ano.

Senhoras e Senhores, Elói Goes Rigout.


ORA, BOLAS!


“Pois é, em pensar que todos os nossos problemas estão nas bolas! Sim, em ti diletas bolas, que ao passo que nos fazem gozar um deleite ímpar, nos punge com uma dor de igual singularidade. Ora lágrimas de alegria; logo, de dor. Um dia, dóem-nos pelo excesso, outro pela escassez. Mesmo sendo patrão, não consigo entender-vos, queridas bolas!

Tu que conquistas casamentos à rodo hoje, amanhã és a culpada pela ação de divórcio litigioso - claro, pois, qual mulher traída hoje em dia se nos concederia tal separação sem antes arrancar tudo o que lhe fosse factível? Vês bolas?!? Tu nos custa muito dinheiro! E não obstante, continuas a fazê-lo.

Se nossas companheiras possuíssem o dom de entender-te (oh, bolas) tudo ficaria realmente mais fácil. Sim, porque nossas patroas pensam que traímos por gosto, de oficio, que traímos pelo puro prazer da perfídia, do pouco caso... Ahh se elas soubessem que há aí uma “coação moral irresistível” que nos infligi, todos os embates estariam solucionados, ou melhor dizendo, inexistiriam na verdade! A vida nos seria muito mais agradável, muito mais desfrutada. Viveríamos tempos de verdadeira paz! E cá pra nós, quem não gosta de viver em paz?

Ou quem sabe ainda atinassem que não são nossos olhos que olham para aquelas bundas deliciosas que caminham pela praia, numa linda tarde de verão, veladas apenas por um fiozinho que, diga-se passageiro, mais instiga que acalma! Sim, patroas! Não são nossos olhos que o fazem, ou se são, o estímulo/comando não vem do cérebro como de costume (ou como deveria vir) e sim das bolas! Isso mesmo, de nossas queridas bolas que, por desditas, não conseguem conter-se à menor provocação que se lhes fazem.

Ora, bolas! Somos capazes de controlar a fome, a sede, a fadiga, o sono (o sono é osso), mas não conseguimos controlar os ímpetos que vêm/emanam das bolas! Não sei de onde merda vem tanto poder, tanta força! É-nos praticamente incontrolável, irresistível! E aí de nós se não “apelarmos” antes de sair de casa, antes de ir para um barzinho, para uma balada, um forrozinho... (ahh um forrozinho, quantas danças já tive de negar por vossa causa). Não nos é possível nem conversar com alguma amiga que seja (ainda mais se essa estiver de saia e calcinha fio-dental... UI!) sem que a única coisa entendida de toda a prosa seja um: “Oi, quanto tempo!” É. Porque o resto de todo esse tempo é gasto em imaginações de cores, formas, posições, gostos, engole-não-engole, “GOD DAMN IT”!

Não é possível que não haja um jeito de controlá-las! Vivemos em função de ti (oh, bolas). De seu bem-estar, de sua comodidade, de saciar-te! Um modo deve haver de convivermos juntos em harmonia, em reciprocidade, sem mais vergonhas ou escusas esfarrapadas... Uma relação deveras!

Para mim: “that’s enough”! Porém, se não há remédio que nos cure, gozemos do mal que nos padece!”

quarta-feira, outubro 04, 2006

CARTA DE FRANQUEZA A UM DESONESTO

Hoje eu me peguei pensando em você e em como você desperta o pior lado de mim.

Aquele rancoroso que resolve dar as caras e me lembrar de tudo o que de ruim você já me fez, e que eu insisto em esquecer toda vez que recebo um mísero, incauto e doloroso “oi” vindo de você.

E (subitamente?) eu percebi o que devia fazer quando recebesse teu oi: te mandar tomar bem no meio do seu cu, que é pra você ver o quanto dói receber aquilo que não se quer.

Pois você não devia ter me chamado pra jantar naquele dia (e eu sei que você se lembra) e nem ter insistido em trocar aquela idéia dentro do seu carro, que era lindo, cheiroso e arrumadinho, mas que também era exatamente como você: certinho e bacaninha, mas quebrava bem na hora agá. Você também não devia ter feito nem dito uma série de coisas, mas isso é um texto, e não uma Bíblia, isso é um desabafo, e não lista de supermercado em fim de mês.

Chega uma hora na vida em que a gente tem que crescer sabe? E todo aquele seu papinho de “A gente nunca sabe” de repente fez todo o sentido do mundo, porque realmente você nunca soube de nada.

Nunca soube como é feia sua manipulação, como são ridículas suas traições, como toda essa sua máscara de menino-do-bem-que-sabe-cozinhar já caiu faz tempo, e também nunca soube o quão borrada está sua maquiagem. Nunca soube conduzir a vida com leveza, nem nunca soube o quanto doeu quando Big Brother foi motivo de auê.

Acima de tudo, acho que você não sabe o mais importante da vida: que respeito é bom e eu gosto, e que sem ele você não tem nada, e eu tenho tudo. Você julga estar me negando uma parte da vida boa demais, mas meu bem, se tem uma parte da minha vida que se relaciona com você é apenas o meu passado, e como você sempre disse, o que é passado a gente dobra e guarda na gaveta.

Eu não espero que você entenda. Porque afinal de contas, você nunca entendeu. Nunca entendeu a complexidade da pessoa que eu sou e a profundidade da minha visão a respeito das coisas, porque em matéria de sensibilidade, você só vai até a página 2, se entender a introdução. 2 mais 2 pra você sempre foi quatro, enquanto que pra mim sempre pôde ser 5, 9 ou 14. Às vezes pode ser até 29, mas eu não me importo – gostoso é fazer a conta, e não a somatória que ela produz.

Incrível eu participar da somatória que você faz com outra pessoa. Inacreditável eu ter aceitado tanto tempo que você me abra e me feche ao seu bel-prazer, a cada discussão tola e vazia (tivemos várias, lembra?) que você tem com ela. E a cada vez que você resolve me por pra dentro de novo da sua vida, pra no momento seguinte eu me lembrar do quanto você é volúvel – e aliás, não foi por isso que te tirei da minha? – e do como eu já deveria esperar novamente seu pé na minha bunda.

Sua covardia me dá ânsia, seu medo da vida me enoja, seu conformismo afetivo me dá arrepios. Você deixa seu saco estufar, sentado na sua bela Poltrona (incrível esse nome, bem sua cara), enquanto a vida passa e você apenas acena. Você deixa a vida te levar, meu bem, e isso não combina comigo: eu levo a vida nas costas, nos bolsos, nas mãos, nos meus sapatos salto 12 que você sempre julgou tão bonitinhos porém ordinários (você prefere rasteirinhas e disso eu lembro bem), nos meus olhos, que brilhar por você simplesmente não vão mais.

Faça suas malas, leve sua escova de dentes, e não esqueça de deixar a chave. Uma vez que a porta se fecha, amore, eu tranco ela por dentro e engulo a fechadura inteira. Ela desce raspando, arranhando meu esôfago, mas seu peso me lembra que, ao menos, seus sapos não engulo mais.

A música finalmente parou, eu pra variar não chorei, e você, pobre coitado, foi infeliz para sempre.

terça-feira, outubro 03, 2006

PULSÃO

Vontade... vontade de coisas simples da vida, de coisas difíceis da vida.

Vontade de brigadeiro, de pôr-do-sol, de água de coco e de banho de mar. Vontade de sapatos novos, de apartamento novo, de água com açúcar, de beijo na testa. De pé na estrada, mochila nas costas, e problemas pra trás.

Vontade de você comigo, aqui perto de mim.

Vontade de fofocas no meio da tarde, de cerveja com suco de limão, de olhar pra Lua e contar estrelas. De dar risada por pura bobeira, de fazer merda sem sentir culpa. Vontade de ver você mais de perto, de desconsiderar a distância, de comer brigadeiro de colher e lamber os restos que ficaram na sua boca.

Vontade de jogar bola como quem não quer nada, de andar na grama sentindo o gelado nos pés, vontade de brincar de passa-anel e de ter hora pra comer. De colinho de mamãe e de bronca de papai.

Vontade de bronca vinda de você.

Vontade de usar só a parte de baixo do biquíni e de brincar na beira do mar, de tomar sorvete de groselha, bombom sonho-de-valsa, ver Chaves e achar engraçado. Vontade de dormir a tarde toda, e não sentir culpa. De não ter responsabilidade, de não me preocupar com política.

Vontade de não me preocupar mais com você.

Vontade de escutar aquela música, aquela, sabe, que dá mais vontade ainda de ter vontade de querer você, naquelas horas em que tudo o que tenho vontade é de nunca mais te ver, pra no minuto seguinte, querer ter você acima de qualquer outra coisa.

Vontade de ir, de ficar. De sair e de entrar, de partir, para nunca mais voltar. Vontade de ficar sem nunca precisar ter ido. Vontade de sorrir, mesmo tendo vontade de chorar. E de chorar, quando não há mais sorrisos nem nada mais a ser dito.

Vontade de cores, de gostos, de gestos, de toques e mãos. Sua mão na minha.

Vontade de você.

De você, de nós, vós, eles...