sexta-feira, abril 27, 2007

Remédio amargo

Eu sempre tive medo do tempo.

E de tudo que com ele vinha: as perdas, as rugas, os kilos extras, a distância, a saudade. Todas as mudanças que o tempo vai criando, e as certezas que se distanciam conforme os ponteiros do relógio vão andando. Aliás, sempre odiei relógios, e hoje me forço a usar um, apenas pra perceber a inevitável passagem da vida: tic-tac, tic-tac, um minuto a mais, um minuto a menos.

Houveram vezes na minha vida que eu tive certeza de que possuía garantias. E um dia me disseram “Nana, o tempo é um aliado... mas você só vai perceber isso quando deixar de enxergá-lo como um inimigo.”

Hoje eu percebo a pressa que sempre tive, na busca endoidecida pelas minhas garantias perdidas... como se eu pudesse ganhar do tempo, e roubar dele tudo aquilo que havia um dia me sido prometido. E no fundo, hoje percebo: não passava de um cachorro, correndo atrás do próprio rabo.

O tempo come vidas, distancia as pessoas, suga a naturalidade de um reencontro e cristaliza antigos ressentimentos. Alimenta o medo da passagem de uma vida, e consome certezas.

Mas o tempo... sim, ele pode ser um aliado. Ele pode mostrar coisas que de maneira nenhuma conseguiríamos enxergar, ele derruba máscaras e liberta as pessoas, dá asas àqueles que podem voar e nunca viram que tinham asas.

Quanto tempo dura um sonho?
Por quanto tempo resiste a esperança?
Quanto tempo leva até que um amor se dissolva?
Por quanto tempo conseguimos ter lembranças?

Dizem que o tempo é o médico inexorável da vida.

Confiemos no tempo, acreditemos no que ele constrói, aceitemos o que ele destrói. Percamos o controle de nossas vidas, e nos pautemos no fato de que, um dia, um piscar de olhos levará toda a eternidade, enquanto que uma história de confiança pode se acabar em segundos.

Hoje, tempifico-me... e deposito no tempo a confiança de que tudo, a seu tempo, se resolve. Me apego ao ditado budista: a não ser pelas questões de vida ou morte, nada é tão importante quanto parece ser a princípio. O tempo delas se encarrega.

Tic-tac, tic-tac.

Um minuto a mais,
Um minuto a menos.

O Tempo (aliado ou inimigo?)



eu acho que a vida anda passando a mão em mim

eu acho que a vida anda passando a mão em mim

eu acho que a vida anda passando


eu acho que a vida anda

a vida anda em mim

a vida anda

eu acho que há vida em mim

há vida em mim

acho que a vida anda passando

a vida anda passando a mão em mim


e por falar em sexo quem anda me comendo é o tempo

se bem que já faz tempo, mas eu escondia porque ele me pegava a força e por trás

até que um dia resolvi encará-lo de frente e disse: tempo, se você tem que me comer que seja com meu consentimento, e me olhando nos olhos...

eu acho que eu ganhei o tempo

de lá pra cá ele tem sido bom comigo

dizem que ando até remoçando.



(viviane mosé)

quarta-feira, abril 11, 2007

Diálogo

- É que, tipo, você é a mina entende, a que eu quero pra estar comigo. Apaixonei. Sabe?

- Então, sei lá, to sabendo agora, fiquei confusa.

- Eu te espero, por minha conta e risco. Mas eu espero.

----------------------------- ALGUM TEMPO DEPOIS --------------------------------------

- Mas o que foi que aconteceu, te fiz alguma coisa? Poxa, não tava tudo super ok? Eu correspondendo e etc?

- Desculpa, agora sou eu que tô confuso, não sei bem o que eu quero, mas espera... não bota um ponto final em mim não... a gente tem muito o que viver.

- Será?

--------------------------------- DIAS DEPOIS ----------------------------------------------

- Desculpa, é que conheci outra pessoa no caminho, sabe como é, não podia trocar tudo isso por um grande ponto de interrogação que é você.

- ... 'tendi.

- Sacou?

- Aham.

- Mesmo?

- Horrores.