Acho que as palavras poderiam chegar a definir o meu interior, mas também limitariam essencialmente a intensidade e a força dos meus sentimentos. Então, tenho basicamente sentido. Tenho passado muito tempo sozinha, o que hoje, graças a Deus e a uma série de fatores, tem sido uma coisa agradável. Já não me sinto triste, ou sequer raivosa, com a pessoa que sou, como vinha me sentindo antes de viajar. Na verdade, tenho sentido quase que uma gratidão por tudo o que vivi ter me colocado novamente em contato comigo mesma, essa Eu de verdade que tem se formado ao longo dos anos.
Não acho que cheguei onde queria chegar – conseguir me enxergar como realmente sou e no que venho me tornando conforme as mudanças acontecem. Mas acredito estar me vendo com olhos mais suaves, sem tanta pressão em ser o que acredito que deveria ser, em fazer o que é esperado, em ser bem-sucedida, rica ou reconhecida. O engraçado é que, de repente, o que pareço ser perdeu completamente o sentido, ao mesmo tempo em que o que verdadeiramente sou não aparece muito nitidamente por entre esta névoa diante dos meus olhos.
Mas talvez o mais bonito disso tudo seja que, com bastante simplicidade, finalmente consegui entender que o importante da vida é ter essencialmente a leveza dentro de si, é ter momentos agradáveis com as pessoas que amamos, é estar em harmonia e sem conflitos dentro e fora. É ser simpática com a moça da padaria, é tratar bem o manobrista do shopping, é rir da piada do porteiro. Reconheci que não preciso sempre da profundidade, mas que esta também não deve se manter por muito tempo longe das minhas vistas.
Talvez ser feliz seja muito mais fácil do que parece – talvez baste jamais perder este contato delicioso que se tem consigo mesmo quando, pura e simplesmente, sentimos amor por nós mesmos.