quarta-feira, julho 28, 2010

Contato

Tem sido muito difícil colocar em palavras o que venho sentindo. Afora a vontade de descrever como foram aqueles 28 dias idílicos em que viajei por aí, tenho sentido uma necessidade urgente de escrever sobre meus sentimentos, mas as palavras, surpreendentemente, não têm me ocorrido.

Acho que as palavras poderiam chegar a definir o meu interior, mas também limitariam essencialmente a intensidade e a força dos meus sentimentos. Então, tenho basicamente sentido. Tenho passado muito tempo sozinha, o que hoje, graças a Deus e a uma série de fatores, tem sido uma coisa agradável. Já não me sinto triste, ou sequer raivosa, com a pessoa que sou, como vinha me sentindo antes de viajar. Na verdade, tenho sentido quase que uma gratidão por tudo o que vivi ter me colocado novamente em contato comigo mesma, essa Eu de verdade que tem se formado ao longo dos anos.

Não acho que cheguei onde queria chegar – conseguir me enxergar como realmente sou e no que venho me tornando conforme as mudanças acontecem. Mas acredito estar me vendo com olhos mais suaves, sem tanta pressão em ser o que acredito que deveria ser, em fazer o que é esperado, em ser bem-sucedida, rica ou reconhecida. O engraçado é que, de repente, o que pareço ser perdeu completamente o sentido, ao mesmo tempo em que o que verdadeiramente sou não aparece muito nitidamente por entre esta névoa diante dos meus olhos.

Mas talvez o mais bonito disso tudo seja que, com bastante simplicidade, finalmente consegui entender que o importante da vida é ter essencialmente a leveza dentro de si, é ter momentos agradáveis com as pessoas que amamos, é estar em harmonia e sem conflitos dentro e fora. É ser simpática com a moça da padaria, é tratar bem o manobrista do shopping, é rir da piada do porteiro. Reconheci que não preciso sempre da profundidade, mas que esta também não deve se manter por muito tempo longe das minhas vistas.

Talvez ser feliz seja muito mais fácil do que parece – talvez baste jamais perder este contato delicioso que se tem consigo mesmo quando, pura e simplesmente, sentimos amor por nós mesmos.

quarta-feira, julho 21, 2010

Tamally Maak



É com o coração apertado e com os olhos querendo vazar que hoje escrevo estas linhas. Impossível converter em palavras tantos sentimentos, tantas saudades, tantas vivências. São sons, cheiros e fotos que despertam em mim sentimentos que nunca antes experienciei, como a saudade da sensação de familiaridade inexplicável que senti em terras egípcias.

Quase como se eu já tivesse passado por lá, quase como se estivesse voltando pra casa. A novidade, misturada ao conforto. Estar à vontade num lugar absolutamente estranho, e nem por isso menos conhecido. Os cheiros não me importavam, o trânsito não me aborrecia. O calor castigando a pele e apesar disso, se sentir renovada. A areia entrando nos olhos e você não se importar de fechá-los. Uma língua estranha soando surpreendentemente bonita aos ouvidos.

Estar de volta chega a ser dolorido, não pelo retorno à realidade, mas pela impossibilidade de construir esta realidade num novo cenário. A utopia da união de uma vida amada em terras brasileiras, com a magia e as sensações das terras desérticas. Me revolta pensar que tantos acreditam que somos tão diferentes, ocidentais e orientais, sem enxergar a beleza das nossas semelhanças. A maravilha das nossas mesmas origens, nossas crenças tão parecidas, nosso amor ao próximo expresso de maneiras tão singulares, e ao mesmo tempo, exatamente as mesmas.

Estar no lugar certo, na hora certa, com as pessoas certas – acho que isso é plenitude. Perceber a existência como algo tão divino, tão absurdamente lindo, que todos os problemas se tornam insignificantes. O toque dos derbaks e dos snujs, os chamados dos minaretes, tudo isso se torna tão maior, que tenho certeza que este sentimento se chama amor.

Hoje tenho certeza – meu coração ficou no deserto, e minha alma no fundo do Nilo. Tamally Maak, sempre com você. Quero voltar e nunca mais partir, quero viver em meio a Ahmeds, Mohammeds, Bassams, Mostafas... quero não mais ser Aziza, sequer Ana ou Paula, mas apenas Ser, ser tão eu mesma quanto o Egito me permitiu.

Que estas lágrimas que brotam sejam como o Nilo foi durante tantos séculos: uma época de cheias tornando a terra fértil, aguardando farta e tão esperada colheita...

quinta-feira, julho 01, 2010

La fora




Reaprendi a viver sem voce
Surpreendente perceber ser mais facil do que eu podia imaginar
Ha tanta vida la fora!
Que hoje eu so temo a hora
Em que tiver que voltar.