Quem me conhece sabe que eu sou uma das pessoas mais ditas “certinhas” que há. Não pego troco errado, não furo fila de cinema, não roubo jogando tranca, dificilmente passo em sinal vermelho. Também não sou muito de festinhas nem sou chegada a drogas. Isso não significa, claro, que eu jamais tenha fumado um baseado nem enchido a cara, mas é fato que minha personalidade não é exatamente do tipo viajandão, extrovertida, sexo subversivo. E é claro que sendo assim, nos dias de hoje muita coisa me espanta e até me desagrada.
Dia desses, fui parar numa festinha. De galera conhecida, a festa é produzida por um cara conhecido do meio musical, e reúne mais ou menos sempre as mesmas pessoas. Então fui lá, achando que a festa ia ser sussa como os forrós que costumo freqüentar. A festa foi numa casa linda lá no Morumbi, cheia de gente bonita e arrumadinha, mas assim num estilo informal. E eu, como sempre, pairei na posição de observadora durante um bom tempo (tempo suficiente pra me divertir e ao mesmo tempo me desanimar).
Eu já comentei por aqui que fico impressionada de ver como as pessoas parecem viver pro final de semana. Mais ou menos como se elas segurassem a onda a semana inteira pra então extravasar no sábado a noite, vivendo o restinho de vida que o dia a dia lhes permite. É claro que isso é produto de viver uma vida insatisfatória, pra mim isso é bem claro: de segunda a sexta se sobrevive; de sexta a domingo a vida acontece de verdade. Escolhas à parte, independente do que eu ache a respeito, é fato que 90% das pessoas naquela festinha estavam tentando viver a vida como se não houvesse amanhã, ficando muito loucas, falando baixaria a maior parte do tempo e se detonando com vários tipos de drogas.
Tendo tomado umas cervejinhas, fui amargar na fila do banheiro. Depois de mais de 20 minutos esperando, me sai uma turminha farinhenta de dentro do banheiro apertadinho. Que fique claro: cada um que meta o nariz onde quiser, mas quando eu fico contorcendo a bexiga porque tem gente cafungando em vez de fazer xixi, aí eu começo a me invocar.
E essas pessoas, à base de birita e de farinha (e maconha igual cigarro), carregaram o ar da festinha com uma libido sem tamanho. A cada duas frases, uma era do naipe “comer fulana”, “chupar meu pau”, “enquadrar a gostosa” e congêneres. Um tal de fulano dando em cima da fulana, que tava ficando com sicrano, que veio dar em cima de mim a despeito de eu estar batendo papo com beltrano. Meio que uma filosofia Woodstock de “vamos foder e amar, somos todos espíritos livres”.
Diálogo testemunhado:
- Quero ver Comer Rezar Amar.
- Vamos abolir o segundo verbo. Aliás Comer e Amar não dá na mesma?
- Hahahahahhahaha.
Participei de um mínimo de conversas bacanas (que dada a véspera eleitoral, era basicamente sobre as eleições). O que salvou a noite foi um encontro especialíssimo com alguém que eu não encontrava há 10 anos e por quem sinto um carinho infinito e sobre quem guardo ótimas memórias. Papo inteligente, interessante, de verdade, que me fez ficar na baladinha até o dia clarear. Mas o simples fato de estar rodeada de gente limitada, adicta e sexualmente invasivas me bodiou até os ossos. Ouvir os papos vazios e as investidas sexuais a cada 5 minutos arrepiou meus cabelos e desagradou os ouvidos – jogaria 90% de todo o conteúdo escutado no lixo sem dó nem piedade.
O mais difícil foi ver meus próprios amigos partilhando destes comportamentos – falando bosta, se insinuando vulgarmente, enchendo a lata e dando bafão. Mulher bonita empinando o peito e dizendo que vai dar uma de biscate; homem inteligente (?) dizendo “eu vou é pegar geral”, turminha de bizarros dando murro na janela de um quarto onde dormiam meninas meio bêbadas (argumento: “vai dormir em casa!” Ainda paguei de chatona pedindo pra deixar as meninas dormirem, era melhor do que irem pra casa dirigindo naquele estado).
Juro por Deus, no próximo sábado à noite desligo o celular ou faço um Dia de Sofá, esquento a cadeira montando meu quebra-cabeças lindo do Taj Mahal que tá ficando sensacional. Ou, no máximo, ligo praquele carinha, pra tomar um café e bater um papo num lugar que tenha, no mínimo, um banheiro livre de cocaína. Ah, e com libido opcional.