quarta-feira, fevereiro 02, 2011

Allah Akbar!





Enquanto todo mundo se debruça sobre as telinhas de Tv e notebooks para falar e debater sobre a situação política do Egito, eu me pego torcendo pelo povo árabe. Não porque ache isso ou aquilo do que “camarada Obama” acha ou desacha, mas porque tendo estado no Egito recentemente, não consigo fazer outra coisa senão vestir a camisa daqueles milhares de Mohammeds, Abduls, Omars.

Eu não me pego discutindo política – me pego com medo de que tudo aquilo acabe mal. Não, não estou falando do Canal de Suez, não estou falando do petróleo. Tenho medo da perda da cultura. Não me preocupa muito que um possível xiita assuma o poder e foda com o bolso do Ocidente, mas me dá pânico pensar que meus filhos podem não conseguir ver as maravilhas que eu vi por lá, simplesmente por serem ocidentais não-islâmicos.

O Egito é tão lindo, mas tão lindo, que eu tremo de ansiedade de pensar que o bairro copta-cristão, incrustado no meio da maçulmana Cairo, possa vir abaixo e que seus habitantes vivam um holocausto moderno. Morro de medo que rompam o tratado de paz com Israel e que bombas e mísseis destruam o Khan el Khallili, mercado a céu aberto que existe há mais de 600 anos e por cujas ruas andei feliz, assobiando, falando “ma salama!” para todos os seus simpáticos comerciantes.

Relembrando os textos bíblicos, que medo do Nilo ficar novamente vermelho de sangue... sangue árabe, sangue judeu, sangue cristão ou simplesmente ocidental. Tristeza de pensar que futuramente, tanques de guerra ocupem suas margens, que a represa Nasser seja danificada e que o leito do rio seque ou que as cidades sejam inundadas.

Temo pelos amigos que lá fiz e pelos filhos que terão um dia. Receio não vê-los nunca mais, não por se ferirem neste protesto relativamente pacífico, mas por terem de se refugiar em algum país vizinho por serem “liberais demais”. Por serem a favor da igualdade. Por serem meus amigos.

Me pego rezando pelo Egito. Pela sua história milenar, pelos templos suntuosos que resistiram a ventos, chuvas, sol, faraós, mas que talvez não resistam aos homens, como os Budas gigantes do Afeganistão. Torço para que os árabes guerreiros que tomaram a Tahrir caminhem em paz tanto quanto eu, que caminhei por esta mesma praça há menos de 6 meses, já desejosa de voltar.

Ao meio-dia ouço os sinos da igreja mais próxima que, tal qual as mesquitas egípcias que gritam em seus minaretes, anunciam que o sol está a pino – Deus está vendo tudo, e é hora de rezar. Rezo então, para todos os santos, deuses, budas, exus e elementais da terra e do ar iluminem os caminhos, as ruas e as mentes no Cairo, expandindo raios de consciência para todo o oriente, Iêmen, Tunísia, Terra do Nunca.

Meio-dia, hora de rezar.

Allah Akbar!

Alá é grande.

4 comentários:

Edilson disse...

Nana querida, isso é inevitável, somos uma raça que caminhamos para a destruição.

Beijo.

Anônimo disse...

http://www.bb.com.br/portalbb/page511,128,10168,1,0,1,1.bb?codigoMenu=9904&codigoEvento=3897&codigoRetranca=187

N. Ferreira disse...

Ai, Ed, nunca quis tanto que vc estivesse errado...

Obrigada, Anônimo, pela dica. Viu no Rio?

www.pedradosertao.blogspot.com disse...

Texto com uma organização argumentativa bastante lúcida! Quem dera tantos assim se preocupassem com o povo, com a cultura, a História que pode terminar mal...abraço