Um almoço que virou um suco, uma conversa pra matar a saudades que virou um monólogo.
Encontro um amigo, muito querido e talvez o mais de todos, ali na esquina da Wisard com a Fradique, e a princípio o papo está ameno. A baladinha de sexta, ah, super legal, valeu pelo vip, e as bandas? Ah, andam bem, cada um faz sua parte. A conversa passa pelos meus cabelos e chega à inevitável pergunta “Como você está?”
Difícil de responder. Até tento disfarçar, o rosto não convence, esse cara sabe muito de mim. Ele evita me olhar nos olhos como sempre, e isso a princípio me incomoda. A princípio apenas, porque depois é um alívio – mal eu consigo olhar para seus olhos.
Ali está ele, falando de mim como quem me conhece há tantos e tantos anos, revelando seus dissabores e seus desapontamentos a meu respeito. Me imaginava uma líder. Alguém de sucesso. Alguém de respeito. De forma alguma esperava que eu chegasse ao ponto que cheguei, precisando da química farmacêutica pra fazer meu sangue correr pelas veias, passando tardes modorrentas a fio esperando por uma resposta, pensando nas duas únicas alternativas que restam a alguém como eu, segundo sua visão: mudar o mundo ou cair fora dele.
- Cair fora dele?
- Talvez se matar?
Esse cara conhece muito de mim, definitivamente. Mudar o mundo? Tanta coisa pra alguém pequena como eu.
Volto pra casa com uma sensação de desolamento total, um frio na espinha de quem vê o último lampião da rua apagar repentinamente. Desapontei talvez a última pessoa que ainda tinha esperanças a meu respeito, que me enxergava ir longe. Estourei o último fio da cordinha que segura meu barco a este tosco atracadouro.
Como um tapa na cara, eu percebo o que tantos tentaram me dizer: cavei minha própria cova. Onde estava aquele ser de luz, aquele ser de esperança? Aquela pessoa grata e feliz com as pequenas coisas, que amava ter tempo livre e se sentia criança? Aquela menina ainda não tão egoísta, que sonhava com a revolução, com a bondade sobre todos, que tinha força nos punhos pra fazer diferente? Terá mesmo virado ela alguém tão opaca, tão fraca, tão desalmada? Esqueci meus sonhos?
Sigo em sua busca nem que seja em uma volta pelo bairro, arfando como o cão que trago na guia. Em meio a milhões de cigarros e latas tombadas, ergo as mãos e as fecho com força, cravando na pele a lembrança das unhas, um dia quebradiças e hoje recuperadas, como garras recém-descobertas.
Eu ainda vivo. Se alguém me vir por aí, por favor me encontre.
Encontro um amigo, muito querido e talvez o mais de todos, ali na esquina da Wisard com a Fradique, e a princípio o papo está ameno. A baladinha de sexta, ah, super legal, valeu pelo vip, e as bandas? Ah, andam bem, cada um faz sua parte. A conversa passa pelos meus cabelos e chega à inevitável pergunta “Como você está?”
Difícil de responder. Até tento disfarçar, o rosto não convence, esse cara sabe muito de mim. Ele evita me olhar nos olhos como sempre, e isso a princípio me incomoda. A princípio apenas, porque depois é um alívio – mal eu consigo olhar para seus olhos.
Ali está ele, falando de mim como quem me conhece há tantos e tantos anos, revelando seus dissabores e seus desapontamentos a meu respeito. Me imaginava uma líder. Alguém de sucesso. Alguém de respeito. De forma alguma esperava que eu chegasse ao ponto que cheguei, precisando da química farmacêutica pra fazer meu sangue correr pelas veias, passando tardes modorrentas a fio esperando por uma resposta, pensando nas duas únicas alternativas que restam a alguém como eu, segundo sua visão: mudar o mundo ou cair fora dele.
- Cair fora dele?
- Talvez se matar?
Esse cara conhece muito de mim, definitivamente. Mudar o mundo? Tanta coisa pra alguém pequena como eu.
Volto pra casa com uma sensação de desolamento total, um frio na espinha de quem vê o último lampião da rua apagar repentinamente. Desapontei talvez a última pessoa que ainda tinha esperanças a meu respeito, que me enxergava ir longe. Estourei o último fio da cordinha que segura meu barco a este tosco atracadouro.
Como um tapa na cara, eu percebo o que tantos tentaram me dizer: cavei minha própria cova. Onde estava aquele ser de luz, aquele ser de esperança? Aquela pessoa grata e feliz com as pequenas coisas, que amava ter tempo livre e se sentia criança? Aquela menina ainda não tão egoísta, que sonhava com a revolução, com a bondade sobre todos, que tinha força nos punhos pra fazer diferente? Terá mesmo virado ela alguém tão opaca, tão fraca, tão desalmada? Esqueci meus sonhos?
Sigo em sua busca nem que seja em uma volta pelo bairro, arfando como o cão que trago na guia. Em meio a milhões de cigarros e latas tombadas, ergo as mãos e as fecho com força, cravando na pele a lembrança das unhas, um dia quebradiças e hoje recuperadas, como garras recém-descobertas.
Eu ainda vivo. Se alguém me vir por aí, por favor me encontre.
5 comentários:
"Eu ainda vivo. Se alguém me vir por aí, por favor me encontre."
Acho que é só olhar para dentro do eu-lírico que escreve...
Eu já o encontrei...
Beijo!
Ei.. a menina linda que eu conheço está logo aí... aí mesmo, com você, dentro de você e você sabe que está. Ela precisa de um tempo pra ela, só isso...
O brilho no olhar continua o mesmo.
O lado demasiadamente homano também.
Cuide da sua menina... ela precisa de você e você pode fazer isso!!!
Amooo!!!
Beijos
Que seja um momento de reflexão, passos pra trás para pulos a frente.
A corda do ancoradouro jamais existiu, dois portos e dois barcos, vento e chão. O grande mar jamais nos causou medo e dentre caminhos e partidas, sempre estaremos conectados. A amizade conquistada é mais sólida que pedra e mais corrente que água.
Olhar para o horizonte... nariz na linha dele também, vai que o mundo tá pedindo a sua conquista. Pra cima!
Eu te encontro.
Bem aqui, dentro de mim.
Ufa
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