segunda-feira, outubro 06, 2008

I´m 80's!

Lindíssimo, Ian Curtis, do saudoso Joy Division

Que a música pode ser um estímulo poderoso para despertar lembranças, isso todo mundo sabe. Todo mundo tem aquela música que marcou época, que lembra alguma coisa especial, que deixa o coração quentinho. Também tem aquelas músicas que a gente não suporta ouvir porque lembra algo ruim, triste ou mesmo algo de que sentimos falta.

Todo mundo sabe o que é isso, todo mundo tem uma música especial.

Eu, em particular, sempre tive um gosto estranho para música, o que acabou por gerar uma certa ‘imunidade musical’: as músicas temidas/melancólicas/odiadas dificilmente tocavam no rádio. Por outro lado, as músicas especiais também dificilmente tocavam, o que me levou a adquirir uma coleção bem razoável de CD’s – alguns bastante raros, como o islandês Gling-Gló, do Trio Guðmundar Ingólfssonar, que levava nos vocais a ainda amadora musa Björk, por quem me encantei na minha adolescência.

Tive diversas fases, sempre marcadas pela intensidade e frequência com que eu escutava algum tipo de som. Se era Cramberries, era o dia inteiro ouvindo To the Faithfull Department. Se era Lush, era o dia inteiro ouvindo lovelife. A época de Alisha’s Attic foi a pior – o segundo CD da dupla, Illumina, quase furou de tanto que tocava.

Sempre fui bastante eclética quando se tratava de música, e somente dois gêneros não entravam de jeito-manêra nas minhas caixas de som: axé e pagode (se bem que houveram épocas em que curti um sambinha de roda, mas samba não é pagode, e samba bom eu continuo ouvindo). Na minha viagem de formatura, fomos no maior clichê para Porto Seguro – uma das piores viagens da minha vida, pra qualquer lado que se olhava tocava axé, tinha gente se pegando e se corria o risco de tomar um jato de vômito do pé. Eu lembro que me sentia um ET, amaldiçoava o bomxibomxibombombom e fiz a cabeça da galera para irmos pra Arraial d’Ajuda em vez do programa de sempre (algum bar-inferno-musical).

Isso foi em 1999, e lá se vão quase dez anos em que, a bem da verdade, pouca coisa boa de verdade foi criada no cenário musical. Podem falar o que quiser, mas considero a melhor fase os anos 80. Não apenas a música pop ia muito além de Britney Spears’s em termos de originalidade e melodia, como até mesmo músicos super atuais produziam um trabalho bem melhor naquela época – a Madonna era fantástica (embora meio cópia da Cindy Lauper), o Michael Jackson ainda cantava, e bem melhor do que criava polêmicas.

Quando penso nesta época, no cenário internacional, é quase uma epifania – e olha que eu mal era nascida quando estouraram uns sucessos que até hoje dá pra ouvir na Alpha FM – quem lembra de Marillion, com a fantástica Keighlay? Jon Secada, com Just Another Day? E o Seal, charmosérrimo, a sussurrar nos ouvidos da mulherada “no, we are never gonna survive unless we get a little crazy”?

Joy Division (hoje chamado New Order), Depeche Mode, Sugarcubes (mais um da Björk), Oingo Boingo (quem lembra??), Tears for Fears, Cindy Lauper, Alice Cooper... daria pra escrever uma lista só com sons que me despertam lembranças intensas da minha adolescência. É, acabei sendo uma adolescente atípica, nunca ouvi Bob Marley nem Shakira, passei longe de Spice Girls e de Backstreet Boys (se bem que acho que isso é mais recente, né não?). Dos discos dos meus pais, eu ouvi muita bossa nova, achava o Vinícius de Moraes o homem da minha vida, ouvi muito Raulzito e seus Panteras, e um pouco de jazz, o que anos mais tarde virou uma paixão, especialmente Ella Fitzgerald. Da onda techno eu também me preservei, taí um som que tem a capacidade de me deixar irritada em um curto espaço de tempo. Nunca fui numa festa rave, e não adianta nem me convidar que eu não vou.

Do finzinho dos anos 90 pra cá, andei bodiada. Quase não escuto mais rádio, que costumava ser a melhor fonte de novidades, de tanto que enjoou. De novidade mesmo, só o novo CD do 50cent, do Ja Rule, da Alicia Keys (nada contra, by the way adoro hip hop e rap nacional – dos antigos tá, que Mv Bill não me cativou nem um pouco). A verdade é que o cenário musical foi totalmente comprado, dominado e monopolizado pelas grandes gravadoras, e o que a gente houve é basicamente sempre a mesma coisa – um pouco de black, uma mpb muito da vendida, um rockzinho que deixaria Bruce Dickinson meio constrangido.

Claro que dentre os pops atuais tem bastante coisa boa, vê a voz da Vanessa da Mata que coisa linda que é. Mas quem aí lembra da Mônica Salmaso, que canta já faz quase 10 anos e nada de ‘estourar’? Quem aí sabe mais de uma única música da Fiona Apple, Criminal? Alguém aí lembra da Jewel?

Hoje em dia, me preocupa que as músicas já não possuam conteúdo para trazer lembranças a alguém. De que momento especial uma música como Créu te lembraria? Peloamoredosmeusfilhinhos que isso nem palavra é, é onomatopéia de sei lá o que. ‘Velocidade 5’ o caralho, abaixa o volume, põe aí um Simonal por favor?

Onde foi parar os Ian Curtis’s de hoje em dia? Onde estão os rebeldes 80’s dos anos 2000? Será que tudo o que temos é a Pitty, a Britney Spears em seu 15º surto psicótico, a Amy Winehouse que faz juz ao próprio nome sem fazer juz à voz maravilhosa que tem, o Caetano que ficou mais comercial do que PF de boteco? Temos mais 'celebridades' do que gênios musicais?

O que tem salvado a vida são alguns sons de uma galera que procura atingir o público de um jeito meio alternativo, seja por priorizar as apresentações ao vivo (como as novas bandas de sambarock), seja por sair do meio pop e adentrar o meio cult (que também acabou sendo meio pop afinal), como a ótima Juliette and the Licks, rock do bom cantado pela ‘anti-diva underground’ Juliette Lewis. A verdade é que tem sim coisa boa por aí, mas tem que garimpar. Eu, meio por falta de opções nesse garimpo eterno, ando afundada numa onda retrô que não pára de tocar no meu PC e dentro do meu carro, estou novamente viciada em The Cure e até Kid Abelha e os Abóboras Selvagens eu andei desenterrando (com a maravilhosa Maio, quem lembra?).

Eu comecei esse texto falando de lembranças e com as lembranças eu vou terminá-lo: a música que está tocando nesse exato momento é Roxanne, que me faz lembrar alguém muito especial, com quem aparei as arestas apenas muito recentemente. Me faz lembrar o seu violão e o seu corpo debaixo dele, a sua voz no meio da madrugada, os cabelos negros enrolados e a barba por fazer.

Mas ela ainda dói, então eu passo pra frente...

4 comentários:

Ricardo Pereira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ricardo Pereira disse...

Os anos 80 são conhecidos como a década perdida, é que depois das revoluções musicais dos anos 60 e 70, nos anos 80 tudo ficou meio comercial, foi a explosão do pop, do digerível, do descartável, mas os anos 80 criou um bando de nostálgicos, mais do que os 90 vão criar e os 00, apesar da música ter até melhorado, o problema é que hoje temos acesso a tanta coisa que fica difícil de conhecer tudo, eu tento... mas eu estava fazendo as contas aqui e dona Nana, você deve ter nascido lá por volta de 1983, portanto, era uma criança linda e loira nos anos 80, uma nikka costa quase... e kayleigh é do começo dos anos 80, Jon Sedaca eu não sei dizer porque abomino, deve ter tocado na minha fase macho insensível, acho que mesmo que tocasse em outra fase minha eu abominaria, questão de poesia ou falta dela, mas voltando ao que eu ia dizendo... você nasceu nos anos 80 mas começou a decidir sua roupinha, seu corte de cabelo e seus discos na década de 90, parece nostalgia do que nem viveu mas acha que deveria ter sido... a nostalgia é um pouco isso, muitas vezes sentimos saudade do que imaginamos era de um jeito e nem era assim, como acontece com certas paixões que ficaram para trás, seja com a 'minha' Mariana, seja com a 'sua' Roxanne... tudo isso era só para dizer que a partir do dia 14 a Rádio Blogue ganha um 'programa' novo, o Geração 80, você sugeriu, eu concordei... o que você não me pede sorrindo que eu não faço chorando? (é assim o ditado)...

Cris Medeiros disse...

Eu era alucinada por música, agora estou numa fase de escutar música velha e escuto pouco... Deve ser uma fase...

Obrigada pela visita! Beijos

Marcello Fiore disse...

Queridíssima,
Experimente os alternativos Morphine (power trio de bateria, baixo e sax tenor), Rocket From the Cript, Butthole Surfers (o nome da banda já é fantástico e combina com o som), Dispatch, Goldfinger, Jesus Lizard, Man or Astroman. Prove também as misturas Acquabats, Mighty-Mighty Bosstones, Flogging Molly, Five Iron Frenzi, The Pogues e Dropkick Murphy´s, . Para um rock de primeira com baixo de pau e guitarras sensacioais Rerevend Horton Heat, Demented are Go, Brian Setzer e George Thorogood. Depois falamos a respeito pois tenho certeza que novas memórias serão gravadas com esta seleção :).
GRANDE BEIJO!

PS. Joy Division - que tinha influências de Velvet Underground e Iggy Pop - acabou com o suicídio do Ian Curtis (isso vc sabe), e os 3 remanescentes Bernard Sumner, Peter Hook e Stephen Morris, juntamente com os novos Phil Cunningham e a lindíssima Gillian Gilbert montaram o New Order, cujo som era classificado como electro-pop e não mais o Pós-Punk eletrônico, por isso, não dá para dizer que Joy Division hoje é New Order...rs (fui pentelho, mas preciso...rs)
BJO!!!