Não é normal que alguém comece a chorar logo nos primeiros 30 segundos de um espetáculo. “A Bela e a Fera”, em cartaz no Teatro Abril desde o último dia 29, tem inegavelmente muito a ver com um determinado momento de vida que tenho passado.
É redundante dizer que um espetáculo é maravilhoso. Um como “A Bela e a Fera” merecia um outro tipo de definição. É aquele tipo de coisa que transcende qualquer expectativa, que leva às lágrimas pela beleza, que impressiona pela magnitude, que hipnotiza pela pureza. Desde os aspectos técnicos – estruturas de palco suntuosas, iluminação fantástica, figurinos totalmente dignos da Broadway – até as canções e interpretações tocantes de cada uma das personagens, o musical atinge emocionalmente qualquer ser humano minimamente sensível, de crianças a velhinhos.
Mas não. Chorar nos primeiros 30 segundos de apresentação não é normal, nem mesmo num espetáculo da Broadway. E mesmo agora, passados quase 40 minutos do fim do espetáculo, ainda tenho vontade de chorar. E eu sei exatamente porque.
Sentir-se fera num mundo de Gastons pode ser o pior sentimento do mundo. Não há nada mais triste e desolador do que se ver sozinho entre a multidão. E a sensação de ser finalmente compreendido, apesar de ter endurecido ao longo dos anos de solidão, pode ser a corda jogada ao afogado. É encontrar a redenção e resgatar a esperança há muito, muito tempo perdida.
Nem só de livros vive uma mulher. Nem só de poder e dinheiro pode viver uma fera. Nem só de caças e prêmios sobrevive um Gaston. Todos buscam aquilo que todos nós sempre buscamos: o amor cor-de-rosa dos contos de fadas. A ausência de amor pode tornar as pessoas esquisitas. Pode transformar um príncipe em fera, condenado a querer acreditar novamente na beleza do ser humano e a amar ao próximo. A metáfora da rosa vermelha dada pela feiticeira, neste caso, é a representação mais bela do amor romântico – vira-se fera de uma maneira irreversível quando a crença no amor se esvai.
A história está recheada de amor dos mais diferentes tipos – não só entre Bela e fera, mas entre pai e filha, mãe e filho (representado pela Sra. Potts e seu filho-xícara Chip), seres humanos e seres humanos. O amor que é amor por aceitar a fera que habita cada um de nós, os seres imperfeitos que somos e o que fazemos aqui, neste mundo que nos coisifica, transformando-nos quase em objetos. Nesse sentido, é interessante reparar que a história convoca algumas características humanas básicas – a vaidade que transformou a Sra. Cômoda; a meticulosidade que transforma Dindon em um relógio; o calor e afetuosidade de Lumière, o candelabro mais espirituoso dos contos de fadas.
Confesso que chorei do começo ao fim da apresentação. Tive que esperar bem uns minutinhos para levantar da poltrona, inchada como um tomate, e ir embora. Chorei por tudo – pela minha fera interior, pela Bela que também vive em mim. Pelo pai que já não vive comigo, pelos lobos que enfrento por aí. Chorei principalmente por mim e por todos os seres humanos coisificados por aí, preocupados demais com seus carros, lipoaspirações, contas de banco e academias de ginástica. Tão iludidos que só conseguem olhar para o mundo através de um espelho mágico chamado televisão, chamado livros, chamado musicais da Broadway.
É pra chorar. Pra ver, rever e chorar.
Sem se segurar.
PS: É bom que se diga: a história não é da Disney, e sim uma adaptação da história escrita em 1756 (sim, tem mais de 200 anos!) pela francesa Madame de Beaumont.
É redundante dizer que um espetáculo é maravilhoso. Um como “A Bela e a Fera” merecia um outro tipo de definição. É aquele tipo de coisa que transcende qualquer expectativa, que leva às lágrimas pela beleza, que impressiona pela magnitude, que hipnotiza pela pureza. Desde os aspectos técnicos – estruturas de palco suntuosas, iluminação fantástica, figurinos totalmente dignos da Broadway – até as canções e interpretações tocantes de cada uma das personagens, o musical atinge emocionalmente qualquer ser humano minimamente sensível, de crianças a velhinhos.
Mas não. Chorar nos primeiros 30 segundos de apresentação não é normal, nem mesmo num espetáculo da Broadway. E mesmo agora, passados quase 40 minutos do fim do espetáculo, ainda tenho vontade de chorar. E eu sei exatamente porque.
Sentir-se fera num mundo de Gastons pode ser o pior sentimento do mundo. Não há nada mais triste e desolador do que se ver sozinho entre a multidão. E a sensação de ser finalmente compreendido, apesar de ter endurecido ao longo dos anos de solidão, pode ser a corda jogada ao afogado. É encontrar a redenção e resgatar a esperança há muito, muito tempo perdida.
Nem só de livros vive uma mulher. Nem só de poder e dinheiro pode viver uma fera. Nem só de caças e prêmios sobrevive um Gaston. Todos buscam aquilo que todos nós sempre buscamos: o amor cor-de-rosa dos contos de fadas. A ausência de amor pode tornar as pessoas esquisitas. Pode transformar um príncipe em fera, condenado a querer acreditar novamente na beleza do ser humano e a amar ao próximo. A metáfora da rosa vermelha dada pela feiticeira, neste caso, é a representação mais bela do amor romântico – vira-se fera de uma maneira irreversível quando a crença no amor se esvai.
A história está recheada de amor dos mais diferentes tipos – não só entre Bela e fera, mas entre pai e filha, mãe e filho (representado pela Sra. Potts e seu filho-xícara Chip), seres humanos e seres humanos. O amor que é amor por aceitar a fera que habita cada um de nós, os seres imperfeitos que somos e o que fazemos aqui, neste mundo que nos coisifica, transformando-nos quase em objetos. Nesse sentido, é interessante reparar que a história convoca algumas características humanas básicas – a vaidade que transformou a Sra. Cômoda; a meticulosidade que transforma Dindon em um relógio; o calor e afetuosidade de Lumière, o candelabro mais espirituoso dos contos de fadas.
Confesso que chorei do começo ao fim da apresentação. Tive que esperar bem uns minutinhos para levantar da poltrona, inchada como um tomate, e ir embora. Chorei por tudo – pela minha fera interior, pela Bela que também vive em mim. Pelo pai que já não vive comigo, pelos lobos que enfrento por aí. Chorei principalmente por mim e por todos os seres humanos coisificados por aí, preocupados demais com seus carros, lipoaspirações, contas de banco e academias de ginástica. Tão iludidos que só conseguem olhar para o mundo através de um espelho mágico chamado televisão, chamado livros, chamado musicais da Broadway.
É pra chorar. Pra ver, rever e chorar.
Sem se segurar.
PS: É bom que se diga: a história não é da Disney, e sim uma adaptação da história escrita em 1756 (sim, tem mais de 200 anos!) pela francesa Madame de Beaumont.
3 comentários:
Eu chorei logo na abertura do Rei Leão... bom, tb... é minha história.
Mas a Bela e a Fera é demais tb! Concordo, todo mundo tem que ver.
É bom, lava a alma e traz um alívio estranho quando acaba...
Bjo Queridona!
Amooo a Bela e a Fera!!!
E que bom que vc lavou a alma, Nana! Realmente as pessoas, sem dúvida, andam mto coisificadas e até parece que as coisas se tornam mais humanas de onde a gente vê!!!
To com mta saudade! Mesmo!
Beijosss
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