Existe algo de seriamente errado quando alguém sente vontade de beijar o braço de um desconhecido em pleno metrô, numa das maiores cidades do mundo como São Paulo. Assim, sem mais nem menos, um braço estranho, do cotovelo pra baixo, parece realmente atraente, convidativo, acolhedor, e então você deseja dar uma bela bitoca ou quem sabe uma mordida naquele antebraço.
É definitivamente digno de internação. E sim, aconteceu comigo.
Seria esse braço uma fuga da enorme carência que acomete os paulistanos que, em seu dia-a-dia atribulado, marcham rumo a seus empregos/famílias/meios de sobrevivência, sem entrar realmente em contato com o ambiente ao seu redor? Seria este braço apenas e tão somente um símbolo de um braço-direito que está ali para que você se apóie durante os percalços de seu dia-a-dia? Ou seria este braço apenas a única fonte de um cheiro minimamente mais suportável do que o do mendigo velho e bêbado atrás de você?
Justificativas. Apenas justificativas que encontro para explicar a bizarria de uma situação destas: o desejo de beijar o braço de um completo desconhecido num metrô meio ensebado. Não olhei seu rosto; não perguntei seu nome. Não sabia de onde vinha, em absoluto. Era apenas um braço sem corpo, sem história, que eu queria desesperadamente agarrar, apertar, morder, deixar junto de mim.
A que ponto se chega devido à falta de contato físico? Sequer sei dizer se o braço era de um homem ou de uma mulher. Porque, a bem da verdade, tanto faz se o contato físico, o toque, venha de um homem, de uma mulher, ou de uma criança. Tanto faz se existe ou não segundas intenções – não estou falando de sexo, seus pequenos pervertidos, e sim do toque entre seres humanos, do contato que nos faz sair de uma bolha, uma câmara hiperbárica isoladora, uma capa entre você e o resto do mundo.
Porque se a maioria das pessoas está acostumada ao toque físico em seu dia-a-dia, os meus andam absolutamente intocáveis, sem ironia nenhuma. Não toco meus pacientes. Não tenho tocado muito minha família, nem eles a mim, com exceção, talvez, do meu irmãozinho de 2 anos, o qual vejo ocasionalmente. E se o objetivo em meus treinos de kickboxing é acertar o adversário, é minha tarefa também não deixa-los encostar em mim. Transformei minha vida num ringue, ou num consultório de psicoterapia constante?
Todos os estudos mais recentes comprovam a importância do toque físico em um bebê recém nascido. Prive-o deste contato e lá virá bomba – teorias sobre o autismo infantil tocam (de novo?) nesse ponto delicado. E quanto aos adultos? E quanto a mim? Estarei eu desenvolvendo, em algum grau, um tipo de autismo tardio, devido a uma espécie de câmara hiperbárica subjetiva, como se eu fosse portadora de alguma doença gravemente contagiosa?
Minha terapeuta disse: é um desejo bonito querer beijar o braço de alguém no metrô. Aham. Eu sei que ela se refere ao desejo do contato e tudo e tal, mas já eu considero um ato desesperado de busca de afeto. Para que fique bem claro, é legal eu dizer que não beijei o braço do estranho. Humilhada pelos meus sentimentos e pensamentos, segurei meu impulso, ignorei o braço, voltei para casa e amarguei uma dor de cabeça pelo resto do dia, responsável por me deixar isolada num quarto escuro e silencioso (minha própria câmara hiperbárica?) até que minha cabeça voltasse ao seu estado normal.
Não sei se foi um impulso bonito, desesperado, carente ou incitado pelo fedor horrendo do mendigo atrás de mim. Mas, de qualquer forma, me recordei da terapia do abraço da minha mãe: é melhor eu começar a dar meus 6 abraços diários, se não quiser ser presa por assédio sexual pela Guarda Civil Metropolitana...
A verdade é que, quando você se sente sozinho, até mesmo o metrô parece acolhedor e aconchegante. E é por isso que, por via das dúvidas, essa quinta-feira eu vou no forró. O autêntico rala-coxa.
(sim, talvez eu devesse fazer terapia mais vezes por semana)
É definitivamente digno de internação. E sim, aconteceu comigo.
Seria esse braço uma fuga da enorme carência que acomete os paulistanos que, em seu dia-a-dia atribulado, marcham rumo a seus empregos/famílias/meios de sobrevivência, sem entrar realmente em contato com o ambiente ao seu redor? Seria este braço apenas e tão somente um símbolo de um braço-direito que está ali para que você se apóie durante os percalços de seu dia-a-dia? Ou seria este braço apenas a única fonte de um cheiro minimamente mais suportável do que o do mendigo velho e bêbado atrás de você?
Justificativas. Apenas justificativas que encontro para explicar a bizarria de uma situação destas: o desejo de beijar o braço de um completo desconhecido num metrô meio ensebado. Não olhei seu rosto; não perguntei seu nome. Não sabia de onde vinha, em absoluto. Era apenas um braço sem corpo, sem história, que eu queria desesperadamente agarrar, apertar, morder, deixar junto de mim.
A que ponto se chega devido à falta de contato físico? Sequer sei dizer se o braço era de um homem ou de uma mulher. Porque, a bem da verdade, tanto faz se o contato físico, o toque, venha de um homem, de uma mulher, ou de uma criança. Tanto faz se existe ou não segundas intenções – não estou falando de sexo, seus pequenos pervertidos, e sim do toque entre seres humanos, do contato que nos faz sair de uma bolha, uma câmara hiperbárica isoladora, uma capa entre você e o resto do mundo.
Porque se a maioria das pessoas está acostumada ao toque físico em seu dia-a-dia, os meus andam absolutamente intocáveis, sem ironia nenhuma. Não toco meus pacientes. Não tenho tocado muito minha família, nem eles a mim, com exceção, talvez, do meu irmãozinho de 2 anos, o qual vejo ocasionalmente. E se o objetivo em meus treinos de kickboxing é acertar o adversário, é minha tarefa também não deixa-los encostar em mim. Transformei minha vida num ringue, ou num consultório de psicoterapia constante?
Todos os estudos mais recentes comprovam a importância do toque físico em um bebê recém nascido. Prive-o deste contato e lá virá bomba – teorias sobre o autismo infantil tocam (de novo?) nesse ponto delicado. E quanto aos adultos? E quanto a mim? Estarei eu desenvolvendo, em algum grau, um tipo de autismo tardio, devido a uma espécie de câmara hiperbárica subjetiva, como se eu fosse portadora de alguma doença gravemente contagiosa?
Minha terapeuta disse: é um desejo bonito querer beijar o braço de alguém no metrô. Aham. Eu sei que ela se refere ao desejo do contato e tudo e tal, mas já eu considero um ato desesperado de busca de afeto. Para que fique bem claro, é legal eu dizer que não beijei o braço do estranho. Humilhada pelos meus sentimentos e pensamentos, segurei meu impulso, ignorei o braço, voltei para casa e amarguei uma dor de cabeça pelo resto do dia, responsável por me deixar isolada num quarto escuro e silencioso (minha própria câmara hiperbárica?) até que minha cabeça voltasse ao seu estado normal.
Não sei se foi um impulso bonito, desesperado, carente ou incitado pelo fedor horrendo do mendigo atrás de mim. Mas, de qualquer forma, me recordei da terapia do abraço da minha mãe: é melhor eu começar a dar meus 6 abraços diários, se não quiser ser presa por assédio sexual pela Guarda Civil Metropolitana...
A verdade é que, quando você se sente sozinho, até mesmo o metrô parece acolhedor e aconchegante. E é por isso que, por via das dúvidas, essa quinta-feira eu vou no forró. O autêntico rala-coxa.
(sim, talvez eu devesse fazer terapia mais vezes por semana)
4 comentários:
Hei, que tal "abraçar" mais a si mesma; feito isto, verás o quanto é bom receber o seu abraço, e tudo o que ele traz de bom, acrescida da sua expressão de bem-querer, que todos os seus amigos (de verdade) já experimentaram (do qual modestamente eu me incluo). beijo, e nunca se esqueça; prá cima delas (pode ser em referência às suas adversárias, ou até mesmo àquilo que voce acredita para sua busca, em sua vida).
Nossa, Nana... sei bem do que está falando. Falei exatamente disso neste final de semana: sinto falta do contato, do toque em outras pessoas. E acho que até mesmo por isso tenho intensificado a minha ida ao acampamento onde mesmo tendo o abraço de crianças completamente estranhas, existe um carinho inegável ali.
Não se sinta sozinha, querida!!! Se quiser cia, juro que vou até aí te encher o saco!!! haha
Beijos e mtos e mtos abraços!
Devia ter beijado.
Opa , pela Guarda Civil Metropolitana??? uiii eu quero! hahahahaha
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