domingo, outubro 18, 2009

É ferida que dói, e não se sente...


Quando ouço dizerem que gente feliz é sempre mais bonita, internamente sou forçada a discordar. Algo em mim sempre achou a tristeza mais bela, o olhar sofrido mais marcante, lágrimas mais elegantes do que sorrisos.

A tendência pela melancolia: pra mim, amar sempre foi sofrer. Não, não me refiro a platonismo. É que em mim o sofrimento sempre foi a expressão mais bela do interior de uma pessoa.

Não só de Byron me alimentava a alma, não só em Álvares de Azevedo encontrava sentido na minha sensação de que amor e dor não rimam só na poesia. Quem ama sofre, pois para o que ama já não basta amar: se deseja adentrar o corpo do outro, invadir suas entranhas, dominar sua mente e sua alma, apagar seu passado, controlar suas memórias, se apossar de seus sentimentos, manipular suas emoções. Deseja-se fundir-se ao Eu do outro em busca de mais, sempre mais.

Não basta ser Nós.

Há de ser Uno, há de ser místico.

Amar é doer.

E amar dói não pelo medo, não pelas defesas. Amar dói mesmo quando se é reciprocamente amado de volta. É uma dor tão fina, coisa assim tão bela, que vale a pena amar só pra sentir essa agonia inexplicável de que o amor já não cabe dentro de si. Se quer explodir de tanto sentimento, se quer sangrar e aliviar a pressão interna do peito que bate e grita exigente enquanto é docemente corroído.

O amor é vermelho como o sangue.

Da modernidade ao ultra-romantismo, me reduzo ao classicismo ao concordar com o poeta*: é ferida que dói e não se sente, é um contentamente descontente, é dor que desatina sem doer...

________________________________
*Luís Vaz de Camões, 1595. "... um não querer mais que bem querer / é um andar solitário entre a gente / É nunca contentar-se de contente / é um cuidar que ganha em se perder / É querer estar preso por vontade / É servir a quem vence o vencedor / É ter com quem nos mata lealdade / Mas como causar pode seu favor / nos corações humanos amizade /se tão contrário a si é o mesmo Amor?"


6 comentários:

Cori. disse...

Acho poético o sofrimento também. Qdo pequena colocava pedrinhas no sapato só pra sentir dor e sempre me amei *.*
hehehe

Beijinhos

Ana disse...

O sofrimento é bom quando já passou, principalmente se a sofredora sou eu, rs
Mas concordo que quando se escreve com dor, a alma é muito melhor explorada!
Se bem que eu adoro os poemas do Drummond sobre o amor :)
Beijos,

Marcela Marson disse...

É amiga, não é fácil. Mas o que seríamos sem o amor?!
Todas as formas de amar doem, infelizmente...
Mas é como o Dalai Lama diz: "Ame profunda e passionalmente. Você pode se machucar, mas é a única forma de viver o amor completamente."

Amo

Ricardo Pereira disse...

Embelezar a tristeza é uma forma de disfarçá-la.

Luli disse...

Sei lá... mas o texto tá lindo, parabéns!

Johnny na Babilônia disse...

Achei isso a sua cara!

Muito lindo e poético. Ou não.

bjs