segunda-feira, maio 31, 2010

Next anyway

Quando se passa tempo demais equilibrando-se em cima de um muro de fina largura, é quase um alívio finalmente cair. Seja para o céu, seja para o inferno, creio que o mais importante é sair do limbo.

Após o duro silêncio, com tormentas, xiliques e estranhas calmarias, estar solo novamente pode ser uma perspectiva desanimadora. Eu nunca acreditei que realmente houvesse esse estágio assustador de estar à beira dos 30 anos e ainda não estar nem perto de constituir uma família. Essa é a deixa pros moderninhos de plantão elevarem suas vozes: é isso o que eu quero, ou é o que a sociedade nos impõe? Você realmente gosta do cara, ou gosta de ter um namorado? Você sente saudade dele, ou de não estar sozinha?

Eu certamente não sei responder essas perguntas nada sutis com convicção, mas a verdade é que, após qualquer rompimento amoroso, a gente sempre acha que quer, que gosta, que sente. A gente só lembra das coisas boas e esquece todos os mil defeitos, os amigos não tão legais assim, os hábitos estranhos ou mesmo as frustrações sexuais.

A carência fala tão alto que de repente eu, que nunca tive assim loucura por crianças, comecei a desejar uma casa barulhenta e com fraldas all over. C’mon! Tudo o que eu quero é ter algo mais importante pra me preocupar do que homens, relacionamentos e a falta deles (filhos costumam sem ótimos para quem realmente acredita que transferir o problema pruma outra coisa é resolver o problema).

É triste, porque ser mulher nos dias de hoje é complicadésimo. E ser uma mulher como eu, caseira, introspectiva e mais voltada pras coisas intra do que pras coisa inter, fica mais complicado ainda. Qualquer menção a conhecer novas pessoas já me dá preguiça: preguiça de conhecer alguém. Saber com que trabalha e falar do meu trabalho. Ter que agüentar as perguntas que invariavelmente assombram uma psicóloga. Ter que compartilhar gostos musicais, explicar porque não como sushi, que não sei andar de bicicleta, que eu não sou agressiva por lutar kickboxing nem super sensual por fazer dança do ventre, que eu tenho alguns problemas com intimidade... affe, já cansei.

Dá vontade de montar um dossiê pessoal e entregar pro camarada (que camarada?), com todos os prós e contras já descritos, todos os defeitos já escancarados, e pedir pra ele assinalar sim ou não no final da página. Prático, rápido e eficiente.

Mas a vida real bate na nossa porta e a gente tem que então se conformar que a partir de agora é isso aí: noites frias enrolada no edredon, convites sem graça, homens babacas com papos chatos. E se convencer de que a vida de solteira também tem, afinal, seu lado bom – sem horários, sem satisfações, podendo escolher P, M ou G a qualquer momento, ir pro forró ou pra casa do amigo, não ter que sorrir amarelo nem fazer social quando tudo o que se quer é ficar de calcinha velha deitada na cama.

Se agora a perspectiva da solidão me assusta, que venha... afinal, por dentro, não somos todos sozinhos? Como diz minha amiga Luli, I´m not ok, but NEXT!, anyway...

sexta-feira, maio 21, 2010

Silêncio

Tento, aqui dentro, reencontrar meus fragmentos. Mas as palavras fogem súbitas enquanto aguardo o seu momento – esperando respostas encontro apenas mais perguntas, desça sua espada sobre mim, seja ela um não, seja ela um sim, qualquer que seja o peso desse fardo. Esse silêncio bastardo que corrói é o mesmo que constrói expectativas sem fim, unindo pontos, ligando formas e buscando fórmulas para dissipar esse nó aqui dentro de mim. A cabeça pesa procurando uma saída, um desenlace firme para essa cilada, a frase é triste, mas quem poderá negá-la? – eu admito, é verdade, apenas quem te inflige dor pode tirá-la.

sexta-feira, maio 14, 2010

Boas Novas



Há muito tempo que eu não escrevo aqui sobre o Projeto Mulherzinha. Bom, na verdade, faz tempo que eu não escrevo aqui sobre qualquer outra coisa além do sentimento de rejeição que estava acabando com a minha beleza.

Mas a verdade é que o Projeto Mulherzinha deu tão, mas tão certo, que eu levei oficialmente meu primeiro pé na bunda e chorei como uma mocinha dos filmes de faroeste. Deprê daquelas com direito a litros de lágrimas, espinhas no rosto e 5kg a menos (oba!).

Minhas amigas mais chegadas me dariam a maior bronca por eu usar o termo “pé na bunda”. Mas a real é que eu não acredito em términos de comum acordo, sempre tem uma parte que fica sentindo aquele gostinho de ‘quero mais’ que, apesar da iniciativa do término ter sido minha, amargou a minha boca nas últimas 4 semanas. Então eu sinto que na verdade quem foi a rejeitada fui eu mesma, já que não houveram protestos do outro lado sobre a possível e tenebrosa separação.

Nas últimas 4 semanas, eu confesso não ter tomado banho todos os dias e não ter depilado as pernas com a mesma frequência. A preguiça dominou – ai que se não fossem meus atendimentos e minha própria terapia, promovida a duas vezes por semana, eu teria ficado em casa com o mesmo pijama todo dia. Meu cabelo andou meio negligenciado, os hidratantes foram postos de lado e o resultado disso é a pele rachada estilo solo do sertão. O fato de estar entrando em calças há muito abandonadas não estava sendo muito animador.

Mas aí eu lembro que tudo nessa vida é impermanente e que até as piores cólicas menstruais têm fim após 5 dias. É claaaaaro que as ligações do ex e uma nova perspectiva de futuro deram uma animada na potranca aqui, mas no fundo no fundo, ter recuperado uma parte da minha vida foi indispensável pra minha sobrevivência psicológica.

Revisitar amigos, retomar família, recuperar o gosto por certas coisas, dançar forró até os pés doerem, girar os véus na dança do ventre e até mesmo ter os cabelos cheirosos novamente deram um up cerebral daqueles, e eu finalmente consigo vislumbrar como é que era ser eu mesma. E é uma delícia voltar a ver os olhos mais brilhantes e as pálpebras desinchadas.

Hoje, ainda a 50% da recuperação completa, eu vejo um pouquinho mais de fé no futuro dentro deste coraçãozinho magoado. Mas quem me conhece sabe: dentro da mesma mulherzinha habita a guerreira que distribui socos e pontapés na tristeza quando se cansa de reclamar.

Eu ainda quero mudar o mundo. No maior estilo Scarlet Ohara, eu digo que jamais (jamais??) sentirei dó de mim novamente.

segunda-feira, maio 10, 2010

A outra

Uma amiga minha disse: você só sabe se realmente gosta de alguém quando transa com outra pessoa.

Que pena, essa de se conhecer tão bem a ponto de saber, de ante-mão, que nada disso seria necessário pra poder consultar com toda sinceridade o meu coração.

A ignorância, às vezes, é tudo o que se precisa para ser feliz.

quarta-feira, maio 05, 2010

Feliz aniversário

Eu queria poder olhar no relógio e achar que já são horas de te ligar. Te diria bom dia e diria que estou muito feliz pelo nosso aniversário. Eu faltaria ao treino somente pra ficar com você. Eu te levaria uma flor e sorriria como sorri há muito tempo atrás. Eu escreveria uma poesia, compraria sorvete, compraria lingerie nova, e me perfumaria toda só pra receber teu abraço apertado, sabendo que nosso futuro estaria apenas começando, como o nascimento de algo que acaba de acontecer, apenas neste minuto. Eu dormiria bem. Eu não teria pesadelos. Eu jogaria no lixo minhas bolinhas de dormir. Eu tiraria do lixo as coisas que amargamente descartei. Eu atiraria no lixo meus sentimentos maldosos. Meus pensamentos cruéis. Se hoje ainda tivesse você, eu daria uma festa, esta mesma na qual o mundo inteiro hoje dança, andando pela Angélica, falando nos telefones, acelerando os carros, rindo no trânsito, ouvindo música, nos cafés na padaria, nas risadas no metrô, nos cigarros ao longo da calçada. Se ainda tivesse você, apagaria eu meu próprio meu cigarro e retomaria minha vida, aquela mesma que ficou lá atrás, no dia em que nosso amor tão prematuramente morreu.

sábado, maio 01, 2010

Maio




Abril passou por mim como um tufão que destelha as casas. Mais particularmente, diria que abril me arrancou o chão. Exatamente um mês atrás, tudo era muito diferente, muito constante, e não posso deixar de afirmar – tudo estava muito crônico. Inexplicavelmente, os últimos anos têm sido assim para mim, com bons presságios de verão e ventos duríssimos no inverno. Gela também aqui dentro.

De certa forma, minhas folhas também estão caindo junto com as das árvores que balançam nas ruas. Como em outros outonos, a sensação é de hibernar num constante farfalhar de sentimentos, em busca do galho mais forte que sustente a última folha. As distâncias, as separações, tudo o que tem permeado meu cotidiano me lembra a solidão que já senti em outras estações, que passaram incólumes enquanto o tempo me trazia novos focos.

A semeadura tão batalhada revelou necessidade de plantar novas flores, engolindo a seco os fracassos da última colheita. Perda, solidão, luto. Percorro todos os estágios do elaborar ao mesmo tempo: negação, raiva, barganha, tristeza. Espero pacientemente pela aceitação sem colocar carros na frente dos bois, sem me forçar a adentrar esta festa da vida da qual me sinto temporariamente excluída. É hora de escolher bem as sementes, cuidar bem do solo, adubar.

Este primeiro de maio não encerra em si esta fase avassaladora, mas traz novos ventos de que, afinal, qualquer lugar que estejamos se trata do primeiro passo rumo a uma existência mais edificante. Eu ainda não cheguei lá, onde sempre quis estar, mas sinto que o caminhar, de agora em diante, precisa romper esta espiral e seguir em frente.

Levanto da cama à uma da tarde com uma estranha sensação de dejà vu. Ouço na voz de Paula Toller o veredito final. Quase que um presságio...

Maio
Já está no final
O que somos nós afinal
Se já não nos vemos mais
Estamos longe demais

Maio
Já está no final
É hora de se mover
Pra viver mil vezes mais
Esqueça os meses
Esqueça os seus finais
Esqueça os finais