sábado, agosto 21, 2010

Suicídio

Hoje, ao chegar em casa de uma noite deliciosa na companhia de uma grande amiga, me deparei com policiais e carros de resgate na frente do meu prédio. Imaginei ser coisa boba. Um gato preso na árvore, uma árvore caindo na rua, a rua inundada por algum cano d'água. Acontecimentos banais do cotidiano. Perguntei ao oficial, como quem não quer nada, o que havia acontecido. Deu pra ver o constrangimento e o desconforto estampado na cara dele quando me respondeu: "Uma senhora do seu prédio se jogou da janela".

Uma onda elétrica percorreu meu corpo como se tivesse sido atingida por uma pedra. "Quem?", perguntei ao porteiro. "Dona Fulana, do 174".

Subi até meu apartamento, 3 andares abaixo do dela, em completo estado de choque. E uma tristeza profunda atravessou meu peito quando me dei conta de que sequer sabia quem era a finada moradora.

Os vizinhos dizem que era uma senhora acometida de terrível depressão. Já tentara o suicídio outras vezes, já estivera internada outras tantas. E nada, nem ninguém, pode demovê-la de acabar com seu sofrimento à própria maneira.

Sentei na cama e chorei, abraçada à minha mãe, assolada por uma enorme culpa por não saber quem era Dona Fulana, por não ter tido a chance de ajudá-la. Senti raiva de quem a deixou sozinha, deprimida, solitária até em seus momentos finais. Senti raiva dela própria, por ter deixado tanta gente triste pela sua morte. Mas não ousei julgar a validade da sua atitude.

Fiquei pensando na proporção do desespero que deve existir para levar alguém a causar a própria morte. O grau de sofrimento deste ser, a falta de perspectiva, a assustadora falta de possibilidades. A completa ausência de alternativas que não por fim à própria existência, a única forma de se aliviar a dor.

Por que me afetou tanto a morte da Dona Fulana? Por que é que sinto como se fosse minha própria família? Será que andamos tão ensimesmados, entocados em nossas próprias covas, alheio a tudo e a todos, que não sabemos sequer que um ser próximo está em profundo sofrimento? Morando empilhados uns em cima dos outros, sem saber o que acontece na existência de pessoas 3 andares acima de nós? Essas pessoas que andam, dormem e sentam em cima de nossas cabeças todos os dias, e nada sabemos delas? Se são felizes, se são serial killers, pedófilos, noivos, cancerosos, suicidas?

Será que o que me entristece tanto é que me vejo refletida dentro desta velha senhora, por ter pensado vezes a fio num final trágico como o dela, em momentos de tristeza profunda e de rancor sem igual?

Enquanto procuro compreender os mistérios por detrás de todo suicídio, me afasto para sempre das fantasias sobre o meu próprio, rezando a Deus para que perdoe Dona Fulana por tamanha desgraça. Que seus parentes não se assolem pela culpa que eu mesma sinto por não poder fazer quase nada por quase ninguém, por ter que me conformar que este mundo tão bonito carrega existências não tão felizes e prósperas quanto a minha.

Que de hoje em diante eu conheça mais meus vizinhos e entenda melhor a dor de todos - é a minha própria, estampada nos olhos de um cadáver, a me fazer agradecer por cada sorriso que ainda darei, a partir de hoje e para o resto da minha vida.

sexta-feira, agosto 20, 2010

Paz



Eu tenho andado tão calma, tão pacífica, que mal tenho sentido o tempo passar. E cheguei num ponto tão estranho que já nem sei dizer se essa passagem veloz do tempo é boa ou ruim.

Porque os dias vão passando numa calmaria tão atípica que o dia acabar é bom, começar o próximo também, dormir é gostoso e acordar também, trabalhar é ótimo e ter folga idem, sair de casa é tudo e ficar na toca é uma delícia.

E tudo isso por ter simplesmente passado a aceitar a vida e todas as coisas que a fazem ser o que é, como realmente são. Boas e ruins. Calmas e turbulentas. Difíceis e fáceis. Tudo ao mesmo tempo.

Coisa doida é viver. Coisa boa essa que chamam de existência. Demorei pra descobrir o que era tão óbvio: a paz e a felicidade estão dentro da gente. Ser feliz é simplesmente uma questão de ponto de vista.

sábado, agosto 14, 2010

Saudade eterna de você

Para F.

Quando penso em você
Meu olhar se enche d’água
Não tenho um pingo de mágoa
É só saudade da boa

E fica na lembrança de um beijo
Do abraço que ninguém me deu igual
Da noite que valeu por todas que vivi
O tempo foi passando e eu fiquei
Por todos os amores onde andei
Tentei mas nunca deu pra esquecer de ti

Ai, ai meu coração
Que passa dia, mês e ano e não consigo te esquecer
Ai, ai meu coração
Ainda bate apaixonado com saudade de você...


(Accioly Neto)

terça-feira, agosto 10, 2010

Saudades de Shangahi!


Shanghai Sisters: souvenir no Dragon Boat.


Com a volta eminente de minha irmã ao Brasil, faltando apenas 20 dias para que estejamos juntas novamente, tenho sido invadida por memórias de Shanghai. Não foi simplesmente o fato de ver minha irmã novamente, mas foi como nos divertimos juntas, como fazíamos antes de todas as responsabilidades tomarem conta de nosso cotidiano.

Logo que cheguei a Shanghai, no Aeroporto Internacional de Pudong, o chororô já começou. Em parte, por ver minha irmã, em parte pela emoção de estar literalmente do outro lado do mundo! De pequena que me achava para viagens dessa magnitude, de repente me senti super cidadã do mundo, descobrindo o que nosso gigante Planeta Terra tem a nos mostrar.

Sabrina e Xuxu: carregadores oficias de malas!


Ao encontrar minha irmã, me senti novamente com 17 anos de idade, quando nos divertíamos tanto que mal sobrava espaço pros dramas do dia-a-dia. A sintonia estava fina e o cenário absolutamente inovador dava conta de me deixar 100% ligada o tempo todo, com energia e alegria suficientes pra viver os próximos 5 dias com plenitude!

Logo que cheguei, as primeiras maravilhas de Shanghai já me foram apresentadas: o Maglev, famoso trem-bala que anda a 430km/h e que flutua a 15cm do solo, foi o que me conduziu a Puxi, onde minha irmã mora. E uma vez chegando no dorm onde moraria pela próxima semana, eu mal poderia imaginar quanta coisa boa me aguardava.

Mag-leeev, mag-leeeev!



Logo na primeira noite já fui apresentada a pessoas maravilhosas, especialmente o Rapha e Lincon, parceirões de primeira que me conquistaram de imediato. De cara fizemos uma balada incrível, num navio maravilhoso, onde fui apresentada a quase toda a comunidade brasileira de Shanghai.

São muitas as lembranças desse período incrível, o metrô de Shanghai com suas 13 linhas gigantescas, a Expo Mundial onde honramos nossos ancestrais no pavilhão da Lituânia e onde nos emocionamos no pavilhão brasileiro, nas ruazinhas fofas e amontoadas do Bund, a paz do Yu Yu Garden, o palácio do antigo imperador, a cervejinha em happy-hour na Hong Mei Lu com panyo Lincon, o Simple Thai com a Ju, o Latina, restaurante brasileiro onde matei a fome de picanha mal-passada e pão de queijo, a Nanjin Lu abarrotada de gente, o Jaddhe Buddha Temple, o Rio Pudong, o "cafezinho" hilário na casa do Rapha.

Panyo em plena Old City!



Rapha, aliás, que me encantou e que lamento tanto morar tão longe. Que coisa esse destino, que traz pessoas especiais mas as mantém longe da gente. Tinha que morar na China? Não, eu não podia voltar com esse nível de dilema na cabeça...

Os dias passaram voando, em meio a passeios, festas, massagens nos pés à uma da manhã, em meio ao Gucci Cafei com Sabrina e Xuxu (thanks man!), e principalmente em meio a conversas longas e profundas com minha irmã... e também conversas que não aconteceram, simplesmente porque não precisaram acontecer, dada a intensidade da comunicação pelo olhar.


Para Vó Vera: viva a Lituânia!


Maravilhoso resgatar a sensação de afinidade e de conforto quando se está junto aos seus. Quando se pode ficar confortavelmente em silêncio enquanto se sente completa, plena. Descobri, da melhor maneira possível, que minha vida nunca estará completa se minha irmã não estiver nela, ativamente, presente de corpo e alma. Alma: tenho certeza que as nossas já se conheciam antes dessa vida. Talvez sejamos nossas próprias almas gêmeas, e devemos parar de ficar procurando por aí o que já temos tão perto de nós.



Huang Pu River: o famoso Rio Amarelo.


Voltar ao Brasil, me despedir das pessoas, das ruas, dos chineses, doeu mais do que eu imaginava. Mas foi bom ter conseguido voltar para casa com a certeza de que eu já sei exatamente com quem, como e onde devo estar: é no lugar em que nossos corações escolhem para se sentirem verdadeiramente em casa, com pessoas que realmente te acrescentam, descobrindo as maravilhas de um mundo tão gigante.

Incrível, isso de ter que ir para o outro lado do mundo para descobrir algo que estava debaixo do meu nariz: já tenho tudo o que possuo para ser feliz, enquanto eu tiver o bem mais precioso e insubstituível – amor-próprio, e meu coração aberto.


Rapha, eu, Lincon e Ire: saudades eternas de momentos inesquecíveis! Thanks guys!

Gambei!