Você e eu,
nós nos entendemos muito bem. Sabemos o que falar para evocar o passado em
nossas entrelinhas, esses chiados da nossa música que ninguém mais é capaz de
decodificar. Nosso diálogo tem senha, a qual ninguém mais tem acesso, só eu e
você sabemos nossos pequenos sinais desencadeadores de nós dois. É um gesto com
as mãos, é um estreitar de olhos, é a menção a uma velha canção. Nosso alerta
vermelho e profano.
Nossos
versos quase nunca rimam, mas são bem feitos, curtidos com o tempo, que vai dando um amargor especial a uma história que,
bem sabemos, nunca terá final feliz. Nessa novela, de caracteres marcados,
sabemos de antemão o drama e o ápice de nossos personagens. Interpretamos muito
bem. Fingimos não saber que essa peça logo tem seu desfecho. Amarramos em nossos
punhos as cortinas para que nunca fechem. Reprisamos sempre as mesmas cenas,
num eterno retorno de disco riscado de tantas perguntas não feitas, ganhando
tempo para que perdure esse teatro sagrado fadado ao fracasso.
O antes, o
depois, quem se importa com o que será de nós dois? No passar dos anos que
esculpiu a nossa imagem, não sobrou pedra sobre pedra pra ter esperança. Tudo
se resume a pó – esfarelamos entre os dedos tudo aquilo que foi bonito um dia,
torcendo para que o vento sopre forte, conduzindo você pra longe de mim, mesmo
sabendo que de uma forma ou de outra, o vendaval produzirá novos chiados, novos
ruídos, dizendo... por que, por que,
porque.
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