segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Hoje eu amei São Paulo

Ontem eu fui pra praia, e voltando pra São Paulo, amaldiçoei Gothan City. Passando por Cubatão, com aquelas chaminés cuspindo fumaça, eu me senti num cenário tipo assim, SinCity, sabe como é?
E detestei morar em São Paulo.

Mas hoje, caminhando na Av. Paulista rumo ao Reino de Piratópolis, mais conhecido como Stand Center, eu vi um besouro voando no céu.

Sim! Um besouro!

Foi como ver uma luz no fim do túnel, e perceber que, no meio destes arranha-céus, ainda existe alguma vida selvagem.

Uns 30 metros pra frente, notei uma plantinha, um pequeno brotinho de algum tipo de mato ou praga vegetal, crescendo entre uma fissura no concreto da calçada. Nessa hora então eu quase chorei. É a natureza vencendo a guerra.

E ali, andando na Paulista, em meio a executivos, proletariados, banqueiros e mendigos, ouvindo SNJ e cantarolando “Se tu lutas tu conquistas é tipo assim...” eu me senti invadida por um sentimento enorme de amor pelo mundo, de amor pelas pessoas, de vontade de dar 100 reais pro mendigo bêbado da esquina comprar um mé, e de pegar no colo aquele cachorrinho fofo e cheio de sarna que me seguiu por um tempo. Vontade de sorrir pra todo mundo sem me importar se correria o risco de escutar baixarias, e de ter 10 milhões pra pagar o tratamento daquela mulher que tem câncer e usa máscara de Michael Jackson na esquina da Rua Antônio Carlos.

Senti vontade de abraçar aquele pivete neguinho que olhou pra mim com cara de fome, de trazer ele pra casa e dar sorvete na boca dele, sem ter medo de ele ter uma dúzia de manos parceiros que viriam correndo roubar o meu apê.

O mais impressionante foi que, ao ser invadida por este sentimento, eu me peguei olhando pra Paulista com carinho e devoção, afinal ela já foi palco de tantas histórias da minha vida.

O Parque Trianon, onde eu costumava ir fumar um cigarro escondida do segurança da porta do Dante, ali na saída da Peixoto Gomide. O ponto de ônibus em frente ao Center 3, onde eu e uma amiga uma vez conhecemos uma garota muito louca que nos apresentou uma parte da vida que geraria histórias durante muitos anos. O antigo Subway, onde matei tantas laricas. A esquina da Joaquim Eugênio de Lima, onde uma vez um quadro foi pintado sob a mira de 4 olhos apaixonados.

Tanta história! Tanta coisa... O Mambo Bazar, onde já cometi pequenos delitos e vi meu professor gato de Inglês andando com uma sunga tipo gay assumidaço, e me decepcionei. A Casa das Rosas, o Masp, onde vi meu primeiro Monet e me apaixonei pelo Impressionismo... puta que pariu!

Então eu cheguei em casa, olhei pela minha janela gradeada, vi uma dúzia de outros prédios, e lá na frente, uma andorinha, que mesmo assim, sozinha, fazia o verão dela. Sorri... ‘se tu lutas tu conquistas tipo essas...’
São Paulo... amada por uns, odiada por outros... leva o nome de um santo, que até hoje protegeu a cidade de ser dominada como tantas vezes tememos. A cidade que abriga uma diversidade enorme de raças, culturas, crenças, e que permite que ainda possamos ver o sol surgir ou a Serra do Japi lá no fundinho, onde estaria o horizonte. A cidade que é cheia de conhecimentos, de ignorância, tecnologia, de circunstâncias às quais sobrevivemos... cidade de parques, de bairros, de vilas, de vielas, de comunidades, de músicas, de fé, de fuga. De gírias, de medo, de pesadelos, Vaz de Lima...

Hoje eu amei São Paulo. Tipo um delírio... eu não via nada, apenas a cidade, apenas o meu lar.

Com suas cores cinzas, seu becos e periferias, com sua pobreza típica de megalópole. Hoje eu amei a 5ª maior cidade do mundo, e fiz parte dela como nunca havia feito. Me senti parte do cenário, mais uma cabeça, mais um pontinho no pontilhismo urbano da minha cidade, mais uma pessoa entre tantas outras, entre tantas histórias, e senti que nenhuma das maiores infelicidades é tamanha perto do tamanho dessa cidade que é São Paulo.

Porque hoje, e somente hoje, eu vi um besouro voar no céu...

4 comentários:

Flavia Melissa disse...

pois é, e sabe que outro dia me peguei pensando nisso...

tava voltando prá casa e de repente senti que tinha alguém me observado desde a washington Luiz até ali, quando a rubem berta vira 23 de maio.

quando olhei pelo vidro, quase chorei: eram as montanhas. elas me acompanharam a volta inteira até em casa.

a gente tá tão acostumada a olhar pro cinza que as vezes o verde tem que pular na nossa frente prá gente se convencer que ele existe.

mas ele existe...

julia p. disse...

ai, que bonito. às vezes me pego reparando nas árvores, quando tô dentro do carro.
como diria meu único título publicado:
"São Paulo: impossível ter nome de santo e não oferecer nada de bom."

(mas okok, não precisamos levar assim ao pé da letra. ilha no final?)

Flavia Melissa disse...

al, al, al
ilha no final!

Fernanda S. disse...

Pois é... em meio a tanto caos, ainda há um besouro no fim do túnel! Muito louca esta nossa cidade... as vezes, penso em deixá-la e sair correndo, mas, ao mesmo tempo, não sei se conseguiria... é uma cidade de oitos e oitentas... contrastes mil... e vivenciamos isso todos os dias... uns dias, com mais alegria, entusiasmo e otimismo. Ouros, com olhares acizentados, pessimismo, sem magia...

E assim, vamos vivendo a vida!

Bjocassss

PS: Tava com saudadeeeeee!!!!