sexta-feira, julho 20, 2007

Pra que "por que"?

Olha, eu vou ser sincera contigo, nem é mais o caso de eu tentar entender por que você age assim. Pra jogar a real, eu cansei de tentar.

Também já não me importa mais saber por que sua costeleta é tão grande, se é um estilo Rockabilly ou se você se julga reencarnação do Elvis Presley, ou se é porque sua gilete anda meio mal das pernas.

Descobrir por que às vezes você usa camisa e calça social, e às vezes só joga um moletonzão azul meio fudido por cima de uma calça jeans já nem me preocupa mais, até porque eu mesma sou assim. Sei lá, nem reparo mais nessa constante, perdeu a importância.

Assim como perdeu a importância saber por que seu carro é tão irritantemente limpo. Porque, sabe, isso me incomoda - como pode ser seu carro assim tão cheirosinho, enquanto o meu tem uma camada de areia de no mínimo 1 cm no chão, biquini no banco de trás, saquinho de lixo lotado de papéizinhos de pedágio? Irrita, cara. O seu não tem uma poeirinha fora de lugar. Nem saquinho de lixo tem. Bom, mas como eu disse, perdeu a relevância.

E eu nem quero mais saber se o que eu ouvi era verdade, porque de viado eu acho que você não tem nada mesmo. Não porque não pareça, mas por conhecimento de causa, rá-rá-rá. Pelo menos não pareceu naquele dia, entende... mas, bicho, também desencanei de saber por que caralho pensam isso de você. Deve ser do sotaque arrastado, que às vezes também me incomoda. Não dá pra falar mais rápido? Não tanto quanto eu, mas olha, esse ritmo Brasil-grande-devagar-quase-parando já tá dando no saco. Não é tão charmoso quanto você pensa. Ou ao menos, não é mais.

Do mesmo jeito, desisti de saber por que dizem o que dizem sobre você nos corredores daquele hospital. Será que é mesmo, será que não é? Ai, deixa pra lá, se tu for pegador mesmo eu logo vou saber. Onde tem fumaça tem fogo, nem que seja um incenso. Mas, sinceramente? Nem quero mais saber se tu é incenso ou incêndio da TAM. Affe.

Também não quero mais saber por que você veio pra São Paulo e não pra Londrina, nem por que tua banda acabou. Se acabou é porque tinha que acabar, ou no mínimo, devia ser um lixo. Esse “por que” é até interessante: por que em vez da banda acabar, não virou grupo circense? Rá-rá-rá! Ah, não, deixa pra lá, eu nem quero mais saber.

Nenhuma pergunta dessas é de fato importante – veja bem, nem mais saber por que tem duas escovas de dentes no teu banheiro me importa mais! Nem por que você mora num apê com dois quartos se tu mora sozinho. Nem por que sempre só tem água e banana na tua geladeira, mas tem uma garrafa de Jack Daniels na estante da sala. Irrelevante.

Assim como por que tu tira a mesa pra atender, se é psiquiatra e não psicoterapeuta. Por que você insiste em negar teu papel? Ah, nem responde, dá preguiça de escutar (uma frase tua demora demais, rá-rá-rá!). Deve ser frustração mesmo. É dose né, 8 anos estudando? Injusto né, por que?

Agora, a pergunta realmente interessante é por que caralho você faz terapia 3 vezes por semana! Tem tanto assim pra falar? Tanto conflito? Acontece tanta coisa assim na tua vida? Puxa, você deve ter uma pá de problema! E se não tinha antes, agora com certeza já deve ter vários! Rá-rá-rá! Não me conta, não me conta! Que pra mim foda-se, não quero nem saber!

Meu anjo cabeludo, chega de por que! Pra mim importa mais outro tipo de pergunta: pra que tudo isso??

quinta-feira, julho 19, 2007

Censura

- Não, não estou vendendo sexo! Estou apenas
vendendo preservativos com uma demonstração grátis!

Já pensaram no que aconteceria se falássemos o que pensamos sem nenhum tipo de censura interna? Se não existisse superego? Se não existisse o bom senso? Ou o famoso “semancol”?

Caos. Catástrofe. Confusão.

- Oi, querida, como está??
- Com caganeira.


Imaginem vocês se falássemos exatamente o que pensamos, ao invés de mascarar o verdadeiro conteúdo de nossos diálogos. Ia ser briga pra cá, mágoa pra lá, caras viradas ou rostos boquiabertos diante de tanta sinceridade.

- Pô, mano, e aí... o que tu achou da minha mina?
- Os dentes são meio tortos, mas tá gostosa pra cacete. Se ela der mole eu pego.


Diz a quase-finada Psicanálise que o superego, ou nossa censura interna, nosso juiz particular, possui a função de filtrar aquilo que é ou não aceito como socialmente adequado, barrando possíveis comportamentos inaceitáveis na convivência grupal. Em última análise, ele exerce a mediação entre nossos impulsos mais primitivos e nossa máscara social, aprendida e moldada ao longo do tempo por meio de modelos sociais e regras morais culturalmente construídas. Isso pode, aquilo não se faz. Sem a censura estaríamos perdidos, e nosso esquema social, fadado ao fracasso. Imaginem a cena:

- Senhor Presidente, o que o pacote de reformas do Governo prevê para o próximo ano, caso o senhor seja eleito?
- Olha, eu adoraria dizer que tudo irá melhorar, mas a verdade é que o desemprego vai continuar igual, a violência só tende a aumentar e o meu bolso vai se encher de verdinhas.


Pronto. É revolução na certa. Poderíamos imaginar então que a verdade nesses momentos poderia beneficiar a muitos, não é? Mas, veja bem, estamos falando de honestidade total, sem limites e sem pudores. Passemos para a seguinte situação:

- Doutora, não sei mais o que faço... (choro)... minha vida não tem sentido! Meu marido me abandonou, meu filho é alcoolista, o banco tomou minha casa e descobri que peguei HPV... (choro) Por que ainda vivo? Talvez seja melhor me matar. É a única solução.
- De fato, Dona Fulana. Concordo plenamente. Sua vida é uma merda e seu marido sofreria bem menos se a senhora morresse. Pois você é uma pentelha e foi por isso que ele te largou. Seu filho bebe Zulu e deve ter poucos anos de vida. Seu tipo de HPV é cancerígeno, e a senhora também me deve R$500,00 das consultas do último mês. Também não vejo outra solução a não ser o suicídio. Por que a senhora não o faz saindo daqui? Conheço uma ponte ótima.

Como podemos perceber, a mentira é, por vezes, alternativa de necessidade máxima. E sem ela, muitas situações tomariam rumos inimagináveis.

- Senhor Sicrano, a reunião começou há 20 minutos! Pode me explicar seu atraso?
- Claro chefe, estava batendo punheta no banheiro do depósito.

Nós massacramos sentimentos, ocultamos fatos, inventamos tantos outros, damos tratos à bola e sambamos miudinho para amenizar situações e dourar pílulas fundamentais para a convivência pacífica dos membros de nossos grupos sociais, pra não citar a fraternidade entre os povos. Não nos esqueçamos que o diálogo, esse tão defendido elemento de qualquer relação entre duas ou mais pessoas, é construído sempre com base no bom senso, no jeitinho de falar, no escolher de palavras que, no final das contas, acaba fazendo toda diferença.

- Mas então, comissária, o vôo está previsto para que horas com este atraso?
- Há, só o senhor acha que vai embarcar. Conselho? Vai tomar um cházinho enquanto eu faço as unhas, a manicure está me esperando lá na sala da chefia.


É indiscutível a importância da diplomacia, da retórica, da oratória, e de outros tantos “caminhares” por cima de muros invisíveis, que nada mais são do que a censura interna se fazendo presente nas mais diferentes esferas de nossa sociedade. Já percebemos o quanto isso pode ser benéfico na política, prejudicial na psicoterapia, perturbador no plano laborativo. E o que dizer das relações amorosas?

- Você ainda me ama?
- Não sei. Quando você me chupa juro que te amo. Mas depois queria mais que você virasse uma pizza e uma cerveja. By the way, engravidei minha secretária.

Ou então:

- Puxa... quanto tempo não te vejo! Você está com uma cara boa!
- E seu abdômem está fantástico. Posso lamber?


E ainda:

- Então fico esperando você me ligar hoje a noite.
- Claro. Espera sentada. Você e esse seu bafo.


Desnecessário continuar. As consequências da Honestidade Total são previsíveis e tragicômicas. Caos nas escolas, nos hospitais, nas prefeituras (ah, as prefeituras!), nas famílias (“Você vai na casa da Cidinha?” – “Não mãe, estou indo buscar cocaína com o Juliano”), nas amizades (imaginem se a Mariazinha resolve dizer pra Joaninha que ela está um bucho de gorda?), nas empresas... e por aí vai. Os tribunais estariam extintos. Os vendedores ficariam pobres. O Bolsa-Família então nem existiria. A Igreja Católica viraria um circo. E o mundo viraria um grande hospício.

Nosso mundo atual depende da sábia arte de mascarar a realidade. De ocultar os fatos, de omitir dados. Sábio é aquele que transforma a verdade numa mentira muito bem contada, ou aquele que finge acreditar no que contaram a ele.

Poderia continuar aqui imaginando infinitas histórias nas quais a verdade seria, no mínimo, motivo de gargalhadas. Exemplos não faltariam. Mas deixo pra vocês a oportunidade de criarem, vocês mesmos, as mais inusitadas cenas mentais. É um exercício no mínimo surpreendente, pra não dizer extasiante!

Experimentem. Pois, se não trouxer diversão, ao menos suas próximas mentiras serão bem melhor contadas!

terça-feira, julho 17, 2007

Intruder_ Uma resposta

Pois é... como dizem por aí, tudo tem duas versões. Dois lados da moeda, ou, no mínimo uma boa justificativa.

Pois foi então que um grande amigo, tendo lido meu texto sobre a palhaçada masculina que acomete a vida de nós, belas donzelas, resolveu se manifestar, num texto algo agressivo, algo incômodo, mas, verdade seja dita, objetivo e bem esclarecedor.

Se satisfaz ou não nossas exigências, deixo para vocês concluírem. O manifesto, afinal, é dele e, sendo assim, um tanto particular. Não me cabe julgar.

Tenho cá minhas opiniões, minhas concordâncias e discordâncias. Mas isso é papo para outro texto, que, pelo visto, há de agradá-lo: este amigo é realmente chegado numa tréplica.

Incômodos à parte, é sempre válido saber uma versão diferente dos fatos.

Esta, em especial, me estarreceu. É mole?

Vejam vocês o que acham, a partir das palavras de meu colega, Eloi Goes Rigout.
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Outro dia li um texto, ou melhor, outro dia não, retifico, ontem li um texto que tratava sobre as diferenças entre o homem e a mulher. Um texto muito bem escrito e estudado, feito por uma dileta e antiga amiga. Manja aquelas de outros carnavais? Pois então, ela pegou a escrever o porquê de “nossas” incongruências. (Nota: escrevi nossas porque sou homem e dono do texto). Voltando, escrevia essa minha amiga sobre nossas incongruências, como se de fato fossemos nós (homens) a ter apreço pela contramão de tudo (risos).

Essa tal amiga não economizou palavras, fórmulas e explanações, nada. Inclusive, caso fosse eu um pouquinho de nada mais presunçoso e insolente diria até que ela estaria passando por algum tipo de problema com nós homens, mas, como não o sou, obviamente não farei tal comentário. O fato é que, durante alguns momentos da leitura cheguei até a quase acreditar que o problema está mesmo com a gente, vejam só que loucura a minha. Mas mesmo assim, mesmo após esse meu devaneio, segui lendo o texto até o fim, fascinado pela singular qualidade da narrativa de minha amiga.

Quando terminei, o primeiro instinto foi: essa mina bebeu... Fumou... Fudeu... E o segundo foi: Putz, a mina caiu na conversinha de um mané... Posterior a todos meus instintos, o último e, não menos sensato, foi de escrever alguma coisa, não motivado é claro por qualquer presunção de consentimento com o conteúdo do texto, muito pelo contrário. O fato foi que andava meio vagabundo da escrita e da redação; sem contar é claro o fato de saber que talvez esse meu texto gerasse uma tréplica... Hummm... Isso deveras encheu-me a boca d’água.

Diferentemente da minha dileta amiga, não farei uso de exemplos; nada contra, por favor, o fato é que tenho mais empatia pelas analogias e comparações. Também não tratarei de todos os pontos, ou pelo menos não tenciono fazê-lo.

Primeiramente darei atenção ao fato das nossas intenções e do porque de não ligarmos no dia seguinte. Veja bem, a questão das intenções é puramente subjetiva, por isso complexa, e oscila de homem pra homem. Via de regra, nossa intenção é de “gozar e raspar”. Não por prova de superioridade ou hierarquia, (mesmo porque não sou dado às redundâncias), mas sim por ser esta, de certa forma naturalmente, nossa natureza. O famoso “gozar e raspar” tem lá sua justificativa, por mais que esta seja incognoscível de vocês mulheres, mas a verdade é que existe sim um porquê; aliás, para tudo há um porquê, até para entender o fato de porque caralho vocês fazerem tanto doce.

Voltando, eu aprendi na vida que cada um vive o avesso do que faz, ou ainda, vive o reflexo do que os outros fazem. Isto é, o bom vive em meio ao que não é bom, e o ruim o oposto. Ao justo é-lhe dado não mais que mais injustiças todos os dias, e ao injusto, bom, está cheio de exemplos por aí, e assim vai. Onde eu quis chegar é: existe um enorme contra-senso entre tudo o que nos acontece. As mulheres de boa intenção, que não fazem tanto doce, que atendem as nossas ligações no dia seguinte, que dizem a verdade, que passam o telefone certo depois de catá-las na balada, que não forjam estarem gozando, enfim, as que são deveras o que falam, a essas são dadas apenas o avesso do que fazem, ou seja, esta pobre mulher nunca, ou pelo menos não tão-logo, encontrará uma pessoa compatível ou que corresponda de forma equivalente ao que ela é.

Com efeito, é nessa incongruência que somos forjados, que somos lapidados. Quem, por exemplo, que está lendo esse texto agora desconhece o poder e a influência que as mulheres têm? Principal-e-tão-somente nessa área de relações. Eu acredito que o que falta é vocês mulheres acordarem para o que fazem, e mais ainda, acordarem para a repercussão que suas atitudes causam (ou as suas ou a de suas compatriotas). Ora, quem se não vocês ditam as regras na hora da sedução? Quem se não vocês dizem se querem ou se não querem? Dizem de que forma vai ser? Dizem onde vai ser, se rápido ou devagar, se tudo ou só a cabecinha (risos). Porraaaa... Vês?!? Foram vocês que nos ensinaram a não ligar no dia seguinte, a queremos “gozar e raspar”, a mentirmos sobre nossa intenção para que vocês a aceitassem... Tudo o que fazemos nos foi ensinado por vocês. TUDO!

Agora, infligir a nós a culpa de um erro/falha que não é nosso, isso é intolerável e mais, é inadmissível. Por que teríamos nós que arcar com a contrariedade de vocês? NÃO!! De forma alguma. Ema, ema, ema... Isso não é de competência nossa, ou se é, cabe-nos alegar suspeição.

Agora, um ponto que devo concordar é quanto aos nossos “atrasinhos”. O que sem martírio é algo até supérfluo a meu ver, mas mesmo assim eu concordo que às vezes pegamos pesado. As que não quiserem entender dessa forma, ou não enxergarem esta linha de raciocínio, pensem então que seja algo como pena por um crime futuro, e presente, é claro. Em que sentido, o presente pela demora em escolher roupas, brincos, meia, sapatos, calcinha, (uiiiiiii...) calça, etc. E o futuro por acharem bonito nos deixar esperando de pé no altar por sabe-se lá quanto tempo, passando um calor filho da puta. Bom, mas como disse, isso é futuro.

Hoje em especial estou me sentindo meio perdido, no concernente a não saber por qual motivo a suspeita de que meu texto não ficou como de costume. Acho que me perdi ou que desviei o tema, não sei. Talvez seja porque o texto que li ontem já não esteja tão fresco na minha cabeça. Não sei, sei apenas que me desculpo por qualquer complexidade, ou por qualquer falta de nexo, confesso que não tive a intenção. Ahh, peço escusas também por não dar o remate apimentado que me caracteriza - sei que este é muito importante, mas pensando bem, depois de gozar as coisas perdem um pouco a importância primária...

quinta-feira, julho 05, 2007

Tudo Igual

Todos nós conhecemos a velha máxima: homem é tudo igual!

Eu sempre fui contrária a esta afirmação: como poderiam os homens serem todos iguais? Como alguém poderia ser igual a outra pessoa? Não, não, algo só podia estar errado, cada um é cada um!


Até que resolvi parar e observar os comportamentos masculinos. Aliás gente, desculpa, é que agora tudo pra mim é comportamento, vocês já devem ter reparado, né? Bom, voltando, comecei a perceber sim alguns fatores em comum a estes seres mais do que manjados: homens, vocês vão me desculpar, mas não é que vocês são realmente cara de um, focinho do outro?

Os homens são objetivos, simplistas e, em se tratando de perceber o outro, parecem muitas vezes possuir a profundidade de uma colher de chá. Mal sabem a hora de chegar e se adiantam demais na hora de sair, e muitas vezes, enquanto de fato ainda estão, parecem não estar. Sensibilidade, mesmo que mínima, parece não ser seu forte.

Parece que no cérebro masculino faltam algumas conexões sinápticas referentes ao tema “A Importância de um Telefonema”. Este é um exemplo claro - juro, não consigo entender como esses seres do sexo masculino não percebem alguns pontinhos básicos, como:

1) a importância de ligar no dia seguinte (caso queiram alguma coisa a mais, claro);
2) a importância de ligar caso esteja atrasado mais do que 30 minutos;
3) a importância de saber ouvir no telefone;
4) a importância de saber falar no telefone mais do que as cinco clássicas palavras: “tá livre hoje à noite?”;
5) a importância de realmente ligar quando dizem que vão ligar;

Penso em qual será a dificuldade dos homens em usar sua tão valiosa objetividade em algumas situações especificamente importantes: se é só uma trepada, que fique claro. Se pretendem aparecer com outra, não chamem outras senhoritas para sair dois dias antes, caso estas últimas corram o risco de ver O Grande Encontro. E, por favor, dizer que não vai dar para encontrá-la agora, mas que qualquer coisa acorda no meio da noite para “fazer alguma” é no mínimo ultrajante.

Parecem igualmente faltar noções básicas de linguagem: dizer “sair hoje à noite” não pode, em instância alguma, significar ao mesmo tempo “só vou te procurar no fim de semana”. A expressão “hoje à noite” implica numa delimitação concreta de tempo e espaço (hoje à noite é hoje à noite, e em pleno meio de semana não é fim de semana), e não há exceção semântica ou sintática que fuja à esta regra. E falar com voz de coitado no telefone ao perceber o vacilo já não amolece mulher nenhuma que esteja minimamente zangada – fazer isso é cagar e sentar em cima.

Um atraso de 15 minutos, no máximo 30, é totalmente tolerável, o que é bem diferente de um atraso de duas horas e meia não avisado anteriormente, seja por ter ido na casa da tia, seja por ter ficado preso numa partidinha de bilhar. Não há pretexto que sirva para justificar a falta de aviso sobre o atraso. Isso é falta de educação, ou no mínimo, desinteresse (e se for assim, como já disse antes, por que não deixar beeem claro?). Chamar a melhor amiga da ex-namorada para sair também não é bacana, mas parece que os homens acham que é. E, vejam bem, dizer que a menina é “gostosa pra cacete” significa apenas que ela é gostosa pra cacete: não é demonstração de afeto.

O mesmo vale para convites para dormir juntos 15 dias após a última vez que se viram e se falaram, especialmente se esta última vez foi a primeira em que vocês dormiram juntos – sem a ligação no dia seguinte, é claro. Não há o que justifique, de semana de provas a doenças infecto-contagiosas: além de ser cara-de-pau, demonstra falta de consideração. E isso também vale para quando eles adoram dizer que você está sumida, sendo que ficaram de te procurar há mais de um mês. Mais ainda: se disseram que estão envolvidos por outra pessoa, e isso significar dar um pé na bunda da atual, nada de procurar esta mesma quando terminar o namoro-relâmpago: existe aí um tempo mínimo de “preservação do próprio filme” de pelo menos 15 dias pra não parecerem pobres machos desesperados. Chega a ser patético.

Contar pros amigos detalhes sórdidos da última transa com a gatinha é totalmente normal (quem disse que não fazemos o mesmo?), mas se existir a mínima possibilidade de isso chegar nos ouvidos da gatinha em questão, pega mal pacas. E esse é um cuidado que, infelizmente, os homens não têm muito.

Dizer que pensa em ter algo sério com a mocinha, e depois de 1 semana falar que era “coisa de momento” é a atitude que mais denigre os homens, que depois não entendem porque são chamados de volúveis. Honestamente, melhor se calar do que falar baboseiras em nossos lindos ouvidinhos. Também é melhor poupar saliva antes de convidar a moça prum ménage-a-trois sem saber se esta fruta cabe na geladeira dela – corre-se o sério risco de ouvir uns palavrões.

Homens, por favor: parem de subestimar nossa inteligência dando desculpas esfarrapadas após perceberem que vacilaram. Parem de achar que suas justificativas são excelentes: não nos convence mais. E por favor, parem de fazer vozinha de nenê no telefone tentando ganhar nossa simpatia. Não funciona.

Se esperam que sejamos menos frageizinhas, menos desconfiadas e menos encanadas, façam um favor a vocês mesmos e parem de cagar em nossas cabeças com seus tão costumeiros comportamentos infantis: sejam homens de verdade.

Homem?

Bah... TUDO igual.


PS: O texto acima não é obra de ficção, e foi elaborado com base em depoimentos e fatos reais. Qualquer semelhança com personagens ou eventos verdadeiros, infelizmente, não é mera coincidência.

domingo, julho 01, 2007

Wow! _ Esse tal de kitesurf

Foto: Miler Morais - Ilhabela SP


“Kitesurf, brother, o esporte do futuro!”

Eu lembro quando ouvi essa frase pela primeira vez, saída da boca de uma grande amiga. Ela também tinha ouvido da boca de outra pessoa, lá no sul, numa viagem que fizera.

Eu nem sabia o que era kitesurf, acho que ela também não. De repente, não se falava em outra coisa - virou moda, virou tendência. Se antes era in ser do clubinho do windsurf lá na Ilha, de um minuto pro outro isso ficou ultrapassado. A pipa era a nova estrela do velejo.

A primeira vez que eu vi uma no céu, estranhei e pensei comigo mesma, “se é uma pipa cadê as varetas, a rabiola? Onde passa o cerol?” Pra mim pipa era isso. Mas não, essa pipa era diferente, tinha fio e ia no vento, mas lá debaixo era controlada no mar.

Virou febre, abriram-se vagas pra ter aula na BL3; mudaram-se os instrutores, os que eram de wind viraram de kite. Eu via aquilo tudo rolar, achava o maior barato aquela mistura de surf com wind com wake, batia uma vontade, mas não ousava arriscar. Ainda tinha ciúmes pelo windsurf, que sempre quis aprender e nunca consegui.

Cada dia eu via mais e mais kites no mar, a molecada da Armação trazia uns da Naish quando ainda eram de 2 fios... o negócio saía voando que nem avião, perdiam-se pipas e pranchas, e eu só acompanhando do fundo da praia, sentada embaixo do meu pé de goiaba, dando risada de tudo.

No começo do ano, me aproximei mais da tribo desse tal de kitesurf, conheci instrutores, cheguei a sair com um por algum tempo (ufa, o homem mais lindo e mais misterioso que já conheci), fiz amizade com o pessoal da escola. E o kite lá, todo enrolado, só me olhando. Eu olhava, ele me olhava, ah não, amor, hoje não, tô com dor de cabeça... sacumé?

No carnaval resolvi cair de cabeça no Laser, apaixonei pelo negócio, que sensação... antes achava que devia ser meio monótono, de repente descobri adrenalina pura ao pegar cada rajada que só vendo... caça a vela, empurra o leme, é hora de dar o jibe, putz, o barco virou... tem nada não, pendura na quilha (opa, segura o biquini!), tá, pronto, atrás da rajada de novo, arribando bem na linha do vento... T-E-S-Ã-O!

Quando foi lá por abril, resolvi parar de manha e arrisquei perguntar prum amigo quanto custava a hora do kite, quase tive um infarto e desisti de novo. Semanas depois, arrisquei de novo pedir pro mesmo amigo, com toda cara-de-pau do mundo, se ele não me daria umas aulas grátis, assim, no tempo livre, sabe, de leve, só pra sentir a tensão nos fios e nas veias... Bingo, consegui! Aulas de kite de graça, toda sexta-feira, com o pioneiro do kite na Ilhabela. Perfect, brother, é o esporte do futuro, lá vou eu então!

Semana após semana ligava pro cara, “Tá ventando hoje? Posso descer e chegar na praia às 4 da tarde!” e a resposta foi a mesma, por 4 finais de semana seguidos... “Putz, hoje tá ruim, gata, não passou de 2 nós até agora e não tem previsão nenhuma...” Ah, droga... sério? Beleza, fim de semana que vem eu ligo de novo... Semana após semana, o vento não colaborou... cheguei a conferir na grade de vento do site da escola, pior que era verdade... vento de 2, rajada de 4 nós, no máximo... pra kite precisa de quanto mesmo? Ah, 8 né... droga...

Meu futuro instrutor zarpou pro Havaí, meu amigo que poderia me dar uma força estava de joelho machucado... então deitei na areia e resolvi pegar um sol apenas... praia cheia, feriadão rolando, então vamos no bronze, fazer o que? E eis que descubro que o cara com quem tinha conversado rapidinho um dia antes era instrutor de kitesurf. Aliás, instrutor não, O INSTRUTOR. Tanto que se mandou pra Jericoacoara, onde o vento dá de 10 em Ilhabela, e resolveu só passar a temporada de chuvas na nossa bela Ilha.

De repente, do nada, “E aí, tá afim de cair no mar? Tô com o kite dentro do barco, você sente o negócio, se curtir amanhã tu faz uma aula por um preço baratinho.” Analisei a situação: sairia por um terço da grana que gastaria na escola. Olhei lá pra fora, lá nas Canas, o vento era de Leste, soprando forte, ou como dizem na BL, dia de Slalom e Velinha! Demorou, radical, vambora!

Lycra descolada de última hora, brincos na bolsa, vamos nessa, o que eu faço com isso aqui?? Calma, lá fora eu te explico, entra no barco! Uuuuuuuu... hul!!! Kitesurf, brother, esporte do futuro, e eu tô indo pra lá! Tá frio, ah, que se dane, na água esquenta!

Fiquei 1h30 no mar, agarrada nas costas do Pedrinho (sem palavras pra agradecer!), fazendo com a pipa um 8 no céu... esquerda, direita, sentiu a pressão? Porra se senti! Agora vou te deixar sozinha, prende aqui o kite no trapézio... Não, não, não gira a barra, putz!... já era... SPLASH!, foi o kite pro mar... nada não, é assim mesmo, decola a pipa, sentiu a pressão? Não deixa sair da janela, força no abdômem, maravilha!!!

Depois de 1h30 de explicações teóricas e complexas, lá estava eu, com a pipa firme nas mãos, no total e absoluto controle do seu bailar naquele vento forte, de quase 15 nós, às 6 horas da tarde, com o sol já indo embora. A pipa voava, me arrastava, o fio retesava na barra, e eu ia de um lado pro outro, ora orçando em zigue-zague, ora arribando com força total. O frio fazia os dentes baterem, a garganta doía, os lábios já estavam azuis, mas quem ali se importava? De repente, putz, ‘cabou, o sol foi embora, o gancho estourou, vamos ter que voltar... ahhh, sério? Outra aula amanhã? Fechado, duas da tarde!

Naquele dia até sonhei com o negócio. Nunca imaginei sentir algo parecido, nem nunca tinha percebido a força da natureza nessa magnitude... o vento me conduzindo, a pipa dançando no céu, eu dançando na água, em perfeita harmonia. Loucura total, estava na fissura pra sentir aquilo de novo.

No dia seguinte não tinha vento.

Nem nos próximos 15 dias o vento foi bom prá mim. Pedrinho se mandou pra Jeri de novo, o outro viajou e só volta no fim do ano. E meu velejo... ih, ‘cabou pra mim...

Continuo à procura de algum instrutor, que possa se condoer de minha condição financeira e me levar novamente pro mar, pra sentir tudo aquilo de novo. Mágico, fantástico, orgásmico. Inexplicável.

E eu até posso esperar o fim do ano, ou ir pra Jeri como sugeriu Pedrinho. Porque o negócio, olha, o negócio é bom. E se é o esporte do futuro, ah, o futuro, então é pra lá que eu vou! E como diz o Scheidt... e se perder o leme, não perca o rumo!

Kitesurf, brother...