- Afinal, qual o sentido de ir em frente? Uma hora o trabalho dele vai me incomodar, melhor parar por aqui. Mais um chopp, por favor?
Eu já tinha visto esse filme. Minha amiga Amanda*, 26 anos, loira de 1,70m, gente boníssima, mais uma vez discursava, ali num barzinho bacana da Joaquim Távora, a mesma pauta das duas últimas semanas: o Rico*, homem lindo e bacanérrimo, porém com uma péssima profissão – o cara é policial civil. Milico, gambé, boina-azul.
- Você viu Tropa de Elite? Imagina se fosse eu? De repente o cara me liga do meio da Operação Alvorada?
- Amanda do céu... quantas vezes você saiu com ele mesmo??
- 3.
- Então. Tá tão preocupada por que? Você nem conhece o cara direito, vai que você se apaixona. Ou acha ele um bosta? Vamos pedir uma batatinha?
- Tô de regime, pede aí.
Eu logo vi na minha querida amiga os sinais clássicos de um comportamento de fuga e esquiva: pra não se confrontar com possíveis e hipotéticas e imaginárias consequências negativas, ela já estava tirando o time de campo. Pensei nos meus pacientes: quantos faziam a mesma coisa? Pior que eu concordava com a Amanda. Assim como já tinha concordado antes com meus pacientes. Mas, na dúvida...
- Olha só, amiga, você não acha que tá sendo meio precipitada?
- Gata, a coisa é simples: eu tô querendo que as coisas com o Rico sigam por um caminho em que o desfecho vai ser eu acabar querendo sair fora. Então o que eu quero? Eu quero o que eu não quero. Simples assim.
- Como toda boa histérica.
- Pode ser.
- Ainda acho que é ser racional demais. Passa o isqueiro.
- Bom, eu consigo ser racional.
- Guardar os sentimentos não resolve o problema.
- É o que você diz pros seu pacientes doidões?
- Hum...
Era o que eu costumava dizer aos meus pacientes. Mas eu sentia que com a Amanda era diferente. Eu realmente concordava com ela. Era tipo comprar um carro pensando em vender depois. Não era investimento. Mas eu tinha que tentar.
- Você acha que as outras opções são melhores?
- Que opções?
- Ah... desculpa, amiga, mas você só tem se metido em furada. Aquele carinha do curso que você fez... pô, tava na cara que o cara era casado.
- Eu não sabia!
- A gente nunca sabe. Mas agora você sabe logo de cara. Você pode escolher. Ser polícia não é ter câncer, vai...
- É como ter filhos. O cara ama a parada, nunca vai largar. Ele vai no banheiro armado.
- Você poderia se sentir protegida.
- Nã... não vai funcionar. Ele não é o cara certo.
- E quem é??
Àquela altura eu já estava à beira do desespero. Eu conhecera o Rico. Cara bacana. Gente fina de verdade. Atencioso, simpático, conversador. Eu não aguentava mais ver a minha amiga dispensar os caras legais e se meter com os filhos da puta, e o Rico não parecia ser filho da puta. Mas como assim, logo eu, defendendo um homem? Eu tinha que tentar.
- Você tá agindo como aquela minha paciente, que não compra um cachorro por medo de que ele fique velho.
- Ele vai ficar.
- Vai, mas daqui a quanto tempo? E o que puder rolar de bom até lá? E o quanto você pode se divertir, se sentir querida, ir ao cinema, andar de mão dada e ser tipo aqueles casais que nós odiamos, que se beijam a cada 5 minutos e que ficam em casa no domingo vendo futebol?
- Eles se beijam bastante né?
- Horrores! E você ainda vai ter quem te ligue. E quem diga que gosta de você. E quem te abrace no meio da noite. Pô, Amanda, pára de julgar os outros... você nem sabe por que o cara virou polícia. E se você sofrer e se machucar, porra e daí? É isso aí, faz parte do jogo, não seria nem a primeira nem a última vez, arrisca, dá a cara a tapa, vai deixar de viver um monte de coisa que você nem sabe o que é, pra ficar reclamando da sua vidinha que você tá cansada de saber como é, PRA FICAR RECLAMANDO QUE NINGUÉM TE QUER NO MEU OUVIDO PORRA??? LIGA PRA ELE CARALHO!
Eu fora longe demais. Gritara com a minha amiga. Por causa do dilema dela. Eu sabia porque, e a Amanda também. Ela deu um trago no Marlboro azul dela, cerrou os olhos e deu um sorrisinho safado. Soltou a fumaça e pegou o celular.
- Só por você mesmo.
- Brigada, Amanda.
Respirei fundo.
Eu ainda tinha esperanças.
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Eu já tinha visto esse filme. Minha amiga Amanda*, 26 anos, loira de 1,70m, gente boníssima, mais uma vez discursava, ali num barzinho bacana da Joaquim Távora, a mesma pauta das duas últimas semanas: o Rico*, homem lindo e bacanérrimo, porém com uma péssima profissão – o cara é policial civil. Milico, gambé, boina-azul.
- Você viu Tropa de Elite? Imagina se fosse eu? De repente o cara me liga do meio da Operação Alvorada?
- Amanda do céu... quantas vezes você saiu com ele mesmo??
- 3.
- Então. Tá tão preocupada por que? Você nem conhece o cara direito, vai que você se apaixona. Ou acha ele um bosta? Vamos pedir uma batatinha?
- Tô de regime, pede aí.
Eu logo vi na minha querida amiga os sinais clássicos de um comportamento de fuga e esquiva: pra não se confrontar com possíveis e hipotéticas e imaginárias consequências negativas, ela já estava tirando o time de campo. Pensei nos meus pacientes: quantos faziam a mesma coisa? Pior que eu concordava com a Amanda. Assim como já tinha concordado antes com meus pacientes. Mas, na dúvida...
- Olha só, amiga, você não acha que tá sendo meio precipitada?
- Gata, a coisa é simples: eu tô querendo que as coisas com o Rico sigam por um caminho em que o desfecho vai ser eu acabar querendo sair fora. Então o que eu quero? Eu quero o que eu não quero. Simples assim.
- Como toda boa histérica.
- Pode ser.
- Ainda acho que é ser racional demais. Passa o isqueiro.
- Bom, eu consigo ser racional.
- Guardar os sentimentos não resolve o problema.
- É o que você diz pros seu pacientes doidões?
- Hum...
Era o que eu costumava dizer aos meus pacientes. Mas eu sentia que com a Amanda era diferente. Eu realmente concordava com ela. Era tipo comprar um carro pensando em vender depois. Não era investimento. Mas eu tinha que tentar.
- Você acha que as outras opções são melhores?
- Que opções?
- Ah... desculpa, amiga, mas você só tem se metido em furada. Aquele carinha do curso que você fez... pô, tava na cara que o cara era casado.
- Eu não sabia!
- A gente nunca sabe. Mas agora você sabe logo de cara. Você pode escolher. Ser polícia não é ter câncer, vai...
- É como ter filhos. O cara ama a parada, nunca vai largar. Ele vai no banheiro armado.
- Você poderia se sentir protegida.
- Nã... não vai funcionar. Ele não é o cara certo.
- E quem é??
Àquela altura eu já estava à beira do desespero. Eu conhecera o Rico. Cara bacana. Gente fina de verdade. Atencioso, simpático, conversador. Eu não aguentava mais ver a minha amiga dispensar os caras legais e se meter com os filhos da puta, e o Rico não parecia ser filho da puta. Mas como assim, logo eu, defendendo um homem? Eu tinha que tentar.
- Você tá agindo como aquela minha paciente, que não compra um cachorro por medo de que ele fique velho.
- Ele vai ficar.
- Vai, mas daqui a quanto tempo? E o que puder rolar de bom até lá? E o quanto você pode se divertir, se sentir querida, ir ao cinema, andar de mão dada e ser tipo aqueles casais que nós odiamos, que se beijam a cada 5 minutos e que ficam em casa no domingo vendo futebol?
- Eles se beijam bastante né?
- Horrores! E você ainda vai ter quem te ligue. E quem diga que gosta de você. E quem te abrace no meio da noite. Pô, Amanda, pára de julgar os outros... você nem sabe por que o cara virou polícia. E se você sofrer e se machucar, porra e daí? É isso aí, faz parte do jogo, não seria nem a primeira nem a última vez, arrisca, dá a cara a tapa, vai deixar de viver um monte de coisa que você nem sabe o que é, pra ficar reclamando da sua vidinha que você tá cansada de saber como é, PRA FICAR RECLAMANDO QUE NINGUÉM TE QUER NO MEU OUVIDO PORRA??? LIGA PRA ELE CARALHO!
Eu fora longe demais. Gritara com a minha amiga. Por causa do dilema dela. Eu sabia porque, e a Amanda também. Ela deu um trago no Marlboro azul dela, cerrou os olhos e deu um sorrisinho safado. Soltou a fumaça e pegou o celular.
- Só por você mesmo.
- Brigada, Amanda.
Respirei fundo.
Eu ainda tinha esperanças.
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* Nome fictício, exatamente como faço com meus pacientes...
4 comentários:
“Os Tamanhos variam conforme o grau de envolvimento…
Uma pessoa é enorme para ti, quando fala do que leu e viveu, quando te trata com carinho e respeito, quando te olha nos olhos e sorri.
É pequena para ti quando só pensa em si mesma, quando se comporta de uma maneira pouco gentil, quando fracassa justamente no momento em que teria que demonstrar o que há de mais importante entre duas pessoas: a amizade, o carinho, o respeito, o zelo e até mesmo o amor.
Uma pessoa é gigante para ti quando se interessa pela tua vida, quando procura alternativas para o seu crescimento, quando sonha junto contigo. E pequena quando se desvia do assunto.
Uma pessoa é grande quando perdoa, quando compreende, quando se coloca no lugar do outro, quando age não de acordo com o que esperam dela, mas de acordo com o que espera de si mesma.
Uma mesma pessoa pode aparentar grandeza ou miudeza dentro de um relacionamento, pode crescer ou decrescer num espaço de poucas semanas.
Uma decepção pode diminuir o tamanho de um amor que parecia ser grande.
Uma ausência pode aumentar o tamanho de um amor que parecia ser ínfimo.
É difícil conviver com esta elasticidade: as pessoas se agigantam e se encolhem aos nossos olhos. O nosso julgamento é feito não através de centímetros e metros, mas de ações e reações, de expectativas e frustrações.
Uma pessoa é única ao estender a mão, e ao recolhê-la inesperadamente torna-se mais uma.
O egoísmo unifica os insignificantes.
Não é a altura, nem o peso, nem os músculos que tornam uma pessoa grande… é a sua sensibilidade, sem tamanho”
te amo.
Ok.. depois do que a Flá expôs acima, acho que não tenho mais nada a dizer a não ser concordar..
Tudo faz parte de um grande jogo que nem sempre estamos dispostas a jogar...
Bejos, chuchuzinha!
muito bom o seu texto. É muito bom saber que há mais pessoas com esperança por aí...
=)
http://elimlieri.blog.terra.com.br/
visite...e apaixone-se
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