Outro dia, meu amigo Beto me alertou quanto ao fato de que, geralmente, as pessoas (as mulheres principalmente) acreditam que os fracassos de seus relacionamentos se deve a um erro processual, ou seja, uma falha no processo de relacionar-se. Apontou-me este me amigo que tal crença é absolutamente ilusória: na maioria das vezes, o erro das mulheres era um erro de escolha.
A princípio, concordei por concordar. Afinal, ele estava maluco? Como assim escolhemos a opção errada? Desde quando temos bola de cristal para adivinhar que aquele homem lindo irá quebrar nossos corações dali a alguns meses? Como poderíamos adivinhar que se tratava de um ciumento clássico? Ou de um cara com fortes complexos maternos?
Entretanto, após alguns meses, tendo tido algumas experiências interessantíssimas com os seres do sexo masculino, não posso mais negar: é indisfarçável, inegável, indiscutível: eu escolho os homens errados.
Imaginem só vocês o susto que levei ao me deparar com esta nova descoberta. Foi um choque: sempre acreditei que isso era papinho de seriado americano, coisa de mulherzinha, gente neurótica que não está há 4 anos em terapia. Mas eis que então percebo, repassando mentalmente minhas últimas relações fast-food: eu ignorei todos os sinais (sim, eles existem) de que algo ali não cheirava bem.
Como não percebi que aquele gatinho ótimo fazer análise 3 vezes por semana só podia significar “encrenca”? No que eu devia estar pensando? Talvez na qualidade do sexo, no jeitinho de falar, pra ter esquecido tudo o que aprendi em 5 anos de faculdade? Toda estudante de Psicologia está careca de saber: homem que faz análise por opção é problema a vista. Dificuldades relacionais seríssimas. Caso de livro. Tema prum outro post.
E quanto aquele gatinho da praia, que logo de cara me contou que havia terminado com a namorada quase 10 anos mais nova, menor de idade? Isso sem contar no quanto todo mundo babava no cara. Incluindo minhas próprias amigas – como não haveria uma concorrência braba, com tanta cobiça em cima de um partidão de coração partido?
As escolhas atuais também têm se revelado pouco inteligentes: homens mais novos, usuários de drogas, com pais ausentes (ou filhos em demasia), portadores de armas, criadores de pitt bulls ou respondendo a processos legais. Sinais que podem ser apenas meros potenciais de problemas, mas que, geralmente, apontam para possíveis confusões.
Os mais céticos podem debochar; os comportamentalistas de plantão diriam que são os mantenedores de tal padrão de escolha que é o que realmente importa; os astrólogos diriam que é só coisa de 2007, ano de número 9; os psicnalistas teriam um prato cheio (ainda mais analisando minha família), e meu amigo Beto, em especial, teria orgasmos múltiplos: ele está certo, eu escolho os errados, os mais complicados, os verdadeiramente perturbados.
Será que quando alguém escolhe pela pior opção, está realmente querendo errar? Seria assim uma espécie de masoquismo, como numa roleta russa com o tambor da pistola cheio? Afinal, pode uma pessoa escolher se machucar? E a pergunta que não quer calar: deveria EU fazer análise 3 vezes por semana?
Alguns conselheiros de meia pataca diriam que eu me esquivo da felicidade. Outros, que sou viciada em rejeição, em melodrama, em melancolia. Outros ainda poderiam especular que o que eu quero mesmo é mudar um homem: curá-lo das drogas, amadurecê-lo alguns anos à força, transformá-lo num homem bom e fiel. Mas e quanto aos outros “senão”s? Poderia eu voltar no tempo e impedir o suicídio da mãe daquele carinha bacana?
Será que eu realmente deveria escolher melhor? Talvez aqueles caras tranquilos, sem traumas familiares, sem problemas sexuais, sem leucemia, sem filhos, sem drogas, sem dívidas, com carrinhos cheirosos, apartamentos perfeitos, trabalhos convencionais, fins de semana tradicionais, seus vinhos clássicos, suas roupas sóbrias, suas carteiras de couro, e suas vidinhas-padrão? Argh! Escolher melhor? Melhor pra quem??
Sim, talvez eu goste de uma boa tragédia. Talvez eu ame um bom dramalhão mexicano, uma boa confusão. E sim, talvez eu costume escolher quem tem menos probabilidade de me escolher de volta, ou quem, no máximo, procure uma relação efêmera. Mas, ao contrário do que vejo por aí, das pessoas afundadas na moralidade e padronização de suas vidinhas regradas e relacionamentos perfeitos, eu costumo viver intensamente. E, às vezes, a intensidade vem da adversidade, ou das tentativas de mudança que fazemos. Das batalhas que travamos na vida.
Às vezes, o mais interessante das pessoas são suas próprias falhas, o fato de serem humanas, demasiado humanas. Suas idiossincrasias são o que as tornam seres únicos – e, pelo menos por enquanto, esta escolha tem valido a pena.
Ok, talvez eu tenha uma certa atração pelas dificuldades. E talvez esta seja a minha falha, que pode acabar espantando alguém por aí. Ou atraindo.
Mas tenho consciência de que, mesmo com todas as minhas imperfeições, dramas familiares e facetas um pouco distorcidas, tudo isso me transforma numa pessoa extremamente falha, porém estremamente humana, extremamente real. E, por enquanto, minha melhor opção.
Um comentário:
E quem será a primeira mulher na história a ter a clareza de perceber que está entrando numa fria, antes mesmo de entrar?
Se estiver apaixonada... nunquinha.
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