A gente tem um acordo não-declarado: eu gosto de você e você gosta de mim, mas não é permitido falarmos a respeito. Gostar: já faz tempo que esta palavra caiu em desuso nas bandas de cá, ela dava medo e me entristecia, então eu selei alguns pactos comigo mesma e a exorcisei do meu vocabulário. Eu andava preferindo outros verbos mais seguros, querer, desejar, atrair, comer, quem sabe até transar, mas sempre naquela neutralidade que tanta gente afirma ser incapaz. O verbo preferido sempre foi defender, às vezes zombar, tirar o time de campo. E durante algum tempo essa foi a conjugação da vez: eu dou, tu me pegas e Ele ainda faz tanta falta. Nós trepamos, vós tremeis... e eles continuam em silêncio.
Nas últimas semanas minha língua andou me traindo, apesar de que você nem percebeu. “Você me faz bem” em vez de elogiar sua performance, suspiros no lugar de gemidos, sorrisos abertos ao invés de olhares provocantes. Minhas mãos foram apenas até seus joelhos, e os beijos pararam na testa. Você ganhou um apelido, e apelidos são perigosos – mais ou menos como um cãozinho ao qual você não se apega até o instante em que lhe dá um nome. De repente aquele nome assume um formato e a gente sabe bem como apego demora pra passar.
Então a coisa fica assim: eu fumo meu cigarro compulsivamente do lado de cá, você fuma seu baseado e a gente toma tantas doses quantas couberem dentro da gente, mantemos a boca ocupada e não corremos o risco de falar baboseiras. No nosso acordo está implícito: nada de emoções “que é pra não estragar”. Somos dois calejados e meio entediados desses joguinhos românticos, sabemos bem que não vale muito a pena perder a cabeça por aí.
Eu tenho me policiado, mas o fato é que o desgosto me ronda dia e noite. Não lembrava que gostar de alguém era tão ruim. Não é a toa que paixão rima com insatisfação – as duas caminham lado a lado na beirinha do precipício (eu procuro não olhar muito lá pra baixo, às vezes o precipício se precipita sobre a gente).
Eu que te quero sempre mais perto ou é a tua proximidade que me incomoda? A sensação é a de que algo está constantemente errado e apesar disso é uma delícia tentar consertar. Não basta uma sessão de terapia broxante, nem “fazermos amor” como dois alucinados – o coração já nem reage mais. Basta a gente continuar fazendo valer o nosso acordo e se manter nos mesmos verbos: ligar, beber e trepar. E depois fumar. E fumar... e fumar...
3 comentários:
"morreu tanto que sumiu".
don't let it happen to you.
Por que, de repente, as pessoas não podem mais falar o que sentem para "não estragar as coisas"??? Desde quando isso estraga..
Acho que o mundo está de ponta-cabeça e só eu que não consigo acompanhar... credoooo!!!!
Saudade enorme de vc.. e querendo (mto) saber o que se passa aí...
Mil bjinhossssss
Não que eu deva me intrometer na sua vida, mas acho que vc não está feliz!
A fila anda, linda. A fila DEVE andar...
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