Para R. - feliz aniversário...
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E o tempo parou por alguns segundos sem que você soubesse que isso tinha acontecido – natural, eram apenas dois corpos fazendo aquilo que seus instintos pediam. Minha roupa escolhida a dedo mal tinha importado, tampouco a lingerie vermelha que não cobria quase nada. A cama mal tinha sido usada, é verdade, mas nossa pele estava marcada: do meu batom, das minhas unhas, da intensidade dos tapas ferindo minha perna. E ambos concordamos: a efemeridade da coisa agrava o processo. Sem julgamentos.
Não tinha sido nada do que não tivéssemos feito antes, mas o seu jeito fora especial: suas palavras foram mais chulas, seu caráter cada vez mais duvidoso, seu corpo mais agressivo e eu cada vez mais submissa. O nosso jogo de gato e rato havia apenas começado, e sua ratoeira era grande. Bem grande, como só podia acontecer.
Então é isso, você tem seu plantão e eu meus pacientes, e a gente finge que acredita que eu vou pra minha casa e que você vai dormir. Sem julgamentos: um coração dilacerado não é nada comparado a uma trepadinha rampeira ou um boquetinho rápido com uma enfermeira já meio rodada daquele hospital. Enquanto houver vendas suficientes pra tapar meus mil olhos e olhares a coisa anda bem, a gente encena essa peça e eu digo que não me importa seus cabelos meio emaranhados ou que você tenha terminado meio rápido demais: eu sou só de você, e você finge que acredita que isso é verdade.
Tanto faz se costumava ser verdade por algum tempo, conforme os meses passam a gente aprende que quase nada vale a pena, exceto continuar mantendo um sexo fantástico toda quarta-feira à noite, um amasso num consultório vazio, um cumprimento formal com risadas internas na frente de toda a equipe. Discutimos pacientes e somos também pacientes, esperando o momento de ficarmos de novo sozinhos, de nos engolirmos com olhos, lábios e dentes, de nos invadirmos com dedos, línguas e suor, mas nenhum sentimento.
Sem julgamentos - a modernidade nos exigiu isso. São tantas bocas e tantos corpos, tantos egos feridos que a despedida era mais que inevitável. Amor, eu te entendo: são muitos espermatozóides e milhares de possibilidades por aí, pouco espaço pra eu poder entrar, enquanto aqui tem coração de sobra e nenhuma disposição em tolerar seus atrasos ou marquinha de outro batom na manga do avental. A minha cama continua intacta e a sua desarrumada, bem como sempre fomos um com outro: nada macula essa dinâmica doentia que por fim se encerrou. O relógio volta a tique-taquear e eu continuo marcada – desta vez por dentro.
Sem julgamentos: éramos apenas e tão somente dois corpos, fazendo o que nossos instintos pediam...
Não tinha sido nada do que não tivéssemos feito antes, mas o seu jeito fora especial: suas palavras foram mais chulas, seu caráter cada vez mais duvidoso, seu corpo mais agressivo e eu cada vez mais submissa. O nosso jogo de gato e rato havia apenas começado, e sua ratoeira era grande. Bem grande, como só podia acontecer.
Então é isso, você tem seu plantão e eu meus pacientes, e a gente finge que acredita que eu vou pra minha casa e que você vai dormir. Sem julgamentos: um coração dilacerado não é nada comparado a uma trepadinha rampeira ou um boquetinho rápido com uma enfermeira já meio rodada daquele hospital. Enquanto houver vendas suficientes pra tapar meus mil olhos e olhares a coisa anda bem, a gente encena essa peça e eu digo que não me importa seus cabelos meio emaranhados ou que você tenha terminado meio rápido demais: eu sou só de você, e você finge que acredita que isso é verdade.
Tanto faz se costumava ser verdade por algum tempo, conforme os meses passam a gente aprende que quase nada vale a pena, exceto continuar mantendo um sexo fantástico toda quarta-feira à noite, um amasso num consultório vazio, um cumprimento formal com risadas internas na frente de toda a equipe. Discutimos pacientes e somos também pacientes, esperando o momento de ficarmos de novo sozinhos, de nos engolirmos com olhos, lábios e dentes, de nos invadirmos com dedos, línguas e suor, mas nenhum sentimento.
Sem julgamentos - a modernidade nos exigiu isso. São tantas bocas e tantos corpos, tantos egos feridos que a despedida era mais que inevitável. Amor, eu te entendo: são muitos espermatozóides e milhares de possibilidades por aí, pouco espaço pra eu poder entrar, enquanto aqui tem coração de sobra e nenhuma disposição em tolerar seus atrasos ou marquinha de outro batom na manga do avental. A minha cama continua intacta e a sua desarrumada, bem como sempre fomos um com outro: nada macula essa dinâmica doentia que por fim se encerrou. O relógio volta a tique-taquear e eu continuo marcada – desta vez por dentro.
Sem julgamentos: éramos apenas e tão somente dois corpos, fazendo o que nossos instintos pediam...
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*Escrito em 12.09.2007
Um comentário:
ééééé...
ciclos que se encerram.
e no micro? um ciclo se encerra no macro, mas e no micro? será possível que cada passo dado em direção a um fim é também um passo dado em direção a um novo início?
a idéia me parece assustadoramente óbvia, mas angustiantemente incerta.
amo você e o caminho que vc toma a cada passo.
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