terça-feira, outubro 28, 2008

Tantas disse o moço que foi pra panela

Se existe uma lição valiosíssima que eu obtive com tudo o que me aconteceu esse ano, é a de que é possível descobrir, em tudo, um aspecto positivo novo que não foi reconhecido a princípio. Sempre dá pra explorar mais os terrenos e arrancar algo novo de cada situação, e no meu treino de kickboxing não é diferente.

Hoje em dia, além do treino em si, ao qual me dedico de corpo e alma, existe um outro atrativo que me faz sair até mais cedo de casa: são as conversas que rolam antes do treino. Ali na arquibancadinha de madeira, onde esperamos o treino de karate terminar, rola todo tipo de conversa, geralmente iniciada pela Shirlei e amplamente alimentada por mim. Às vezes a gente tem o privilégio de ter a companhia do Lucas e do Rafa pra fazer coro à fofocaiada com alguma piadinha maliciosa, mas a verdade é que somos nós, as meninas, que botamos fogo no circo.

Outro dia, motivada por uma mensagem muito da mequetrefe que eu recebi no meu celular, engatei numa discussão acalorada sobre o assunto. Eu estava indignada com a palavras pouco civilizadas que um pretê havia usado, e o Rafa emendou que outro dia ficara conversando com um amigo sobre a maneira como os casais se tratam (ou algo do tipo). Eu já falei aqui no blog sobre a linguagem dos apaixonados, mas é interessante perceber que existe toda uma lógica por trás dos apelidinhos e vocábulos utilizados em qualquer relação.

Quando duas pessoas começam a sair, geralmente elas se tratam de uma maneira mais impessoal – ou pelo apelido oficial da pessoa (Ro, Re, Thi) ou por nominhos engraçados e neutros como “moço”, “moça” – para mim, é o caso do “menino”. Quando eu chamo alguém de “menino” (nota: alguém com quem eu esteja trocando uns beijos), provavelmente é porque não tenho muita intimidade com a pessoa, ou porque o nome dela é um pouco difícil e curto o suficiente para que a pessoa não tenha um apelido popular, o que me deixa desconfortável para dizê-lo.

Existem também os apelidinhos que denunciam que uma relação é superficial, casual ou pautada única e exclusivamente no sexo – é o caso de duas pessoas que se chamam apenas de “gato/a”. Existe nessa palavra a noção implícita de que a relação é permeada de malícia, de malandragem, de sacanagem, e é um tratamento super utilizado entre fuck-buddies.

Quando existe carinho, denominações como “amore”, “coração”, “querido” ou congêneres são as mais comuns – a idéia é a de remeter imediatamente ao sentimento e ternura envolvidos, valendo, às vezes, até um diminutivo: “Julinha”, “Bruninho” e etcéteraetalz. Mas atenção, apaixonados de plantão! - isso é TOTALMENTE diferente de quando rola um sentimento de verdade, tipo paixonite aguda ou mesmo um lance maior. Nesses casos, o “lindo/a” é campeão, por unanimidade de votos.

Quando o apelido ou o jeito de se chamar é pouco elogioso e carregado de intimidade, pode esquecer o romance: nenhum casal vai pra frente se um chamar o outro de “cabeção”, “doidera” ou “seu lixo” com mais frequência do que se chamam de “gatinho/a”. Desculpa, não dá. Nessas, já dá pra perceber que a coisa é muito mais uma amizade do que uma relação amorosa/afetiva/algo-do-tipo.

(Em tempo: “gatinho/a” é super bacana, mistura o carinho e a ternura do diminutivo com as intenções sexuais do “gato/a”, o que me parece ser a fórmula mágica pruma relação dar certo.)

A coisa vai pro saco mesmo quando, em mensagens eletrônicas ou em torpedos no celular, a alcunha já é dispensada e as palavras escolhidas não mostram um pingo de cuidado - a mensagem é rápida e rasteira, dispensando rebuscamentos literários. Convidar alguém pruma “breja”, dizer pra esse alguém “colar aí”, ou finalizar a frase com remendos do tipo “sacou”, já demonstram bem o grau de cuidado e de esforço que o rapazote está fazendo pela “gata” – a mensagem é clara, ele quer que você faça um delivery pra ele te embebedar e te traçar inteira (sem certeza de ligação no dia seguinte ou de prolongar a relação). Postura, meu bem! Se você ainda curte galanteios, um cortejo bem-feito e não está afim de uma aventurinha qualquer, o melhor a fazer é nem responder a mensagem, ou responder de maneira que o “mano” em questão tenha vontade de “colar” o próprio membro sexual no próprio rabicó e sair rodando. Chamar ele de “Jôu” é uma ótima maneira de produzir este efeito.

A verdade é que a linguagem é um ótimo termômetro, e também denuncia muitas coisas que a gente ora pra Deus pra conseguir se antecipar. Quando uma mulher faz ao cara a célebre pergunta “O que você quer dizer com isso?”, é bem provável que ela esteja de TPM – fatalmente, lá vem bomba, e se o cara for inteligente e não quiser que a namorada durma de calça jeans, vai processar mentalmente todas as coisas que possam ter soado ofensivas e vai tratar de desdizer todas elas em, no máximo, 5 segundos.

Eu comecei esse texto falando sobre os aspectos positivos que todas as coisas possuem, e falando disso eu vou terminar – no caso da minha mensagem de texto, podem ficar tranquilos: não mandei o asshole colar o pau no rabo, mas foi ótimo ter percebido a tempo qual era a do ‘poeta’, o que me poupou tempo e dinheiro. Tendo a máxima consciência de que mereço ser chamada de princesa e ser levada para jantar em algum lugar bacanérrimo, eu assino embaixo daquele música do Vinícius: "... caiu no poço e quebrou a tigela, tantas fez o moço que foi pra panela.”

sábado, outubro 25, 2008

Blog de cara nova!

Não, você não entrou no blog errado.

É que na onda das transformações, até o blog entrou na dança. Pronto mudei!
Chega de preto! Assim como a alma, meus olhos pedem leveza.

Gostaram? Não gostaram? Tá mais gostoso pra vista?

Opine.

quarta-feira, outubro 22, 2008

só pra cumprir promessas

Ah meu pequeno vulcão, o amor é a maneira que a gente encontrou de um dia brincarmos de Deus... lembra do que dissemos, o amor é coisa perigosa. É um apelidinho meigo que deram à Ilusão, foi um jeito sutil de nos enganarem e mesmo assim se atreverem a dizer ‘mas não valeu a pena?’.

Recorda do que um dia concordamos – o amor se tornou obsoleto, até mesmo o conjugar do amar ficou contemporâneo. Ah, minha criança birrenta, um dia vamos poder dizer “eu avisei!”, assim com um prazer quase obsceno, só pra cumprir nossas promessas – não esqueci que juramos proteção e invencibilidade.

Se tornou mais fácil cumprir essas nossas promessas vãs do que encontrar novas maneiras de acreditar novamente. Não é apenas defesa, mas por favor, não pense que é resignação - desde que não nos vimos mais eu tenho usado batom novamente, e eu sugo minha língua em memória a você.

terça-feira, outubro 21, 2008

da chama dourada da sabedoria


"O Mestre Ascensionado Lanto (atualmente é Ele o Hierofante do Templo de Royal-Teton, nas Montanhas Rochosas) diz: 'Em vossa nova maneira que achaste para servir a humanidade, muitas vezes observais a indiferença e a ingratidão dos homens. Às vezes vos sentis exaustos de praticar o bem ao próximo. Quando Nós penetramos em vossa atmosfera, sentimos o vosso desânimo. Porém, pensai nos milhares de anos que estamos servindo a humanidade. Há séculos Nós vos amamos e vos abençoamos aplicando nossa fé e confiança em vós! Se distos estais cientes, dai alegremente a compensação à Vida, enquanto levais o vosso próximo a mesma confiança, a mesma paciência e a mesma fé"*


Obrigada Mestre, porque olha... não tá fácil não...
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* Texto extraído de "Meditação e apelos" - ponte para a Liberdade, da editora Hércules.

quarta-feira, outubro 15, 2008

Lucros e dividendos


Outro dia, conversando com minha amiga Naty*, 29 anos, publicitária, me peguei a pensar. É que ela, após terminar com seu namorado, me ligou indignada por ter recebido uma ligação de um desses grandes magazines, de onde diziam que a fatura da compra de uma TV digital estava atrasada. O motivo da indignação era que não havia sido ela a compradora da TV carésima e ultra moderna, mas o ex, que havia usado seu cartão pela milésima vez. Rugia minha amiga que, apesar da compra ter sido feita enquanto os dois ainda namoravam (ele usar o cartão dela era um hábito), ela jamais chegara a assistir um único filme no novo aparelho, pois a entrega da TV demorara tanto que o namoro expirara primeiro. O problema era que, mediante as férias ‘forçadas’ do ex, ela sabia muito bem quem iria arcar com a parcela de R$299,00.

Frente à ira de minha amiga, me peguei a pensar em perdas e ganhos, e cheguei a cogitar comprar aquele livro da Lya Luft. No mesmo dia, por volta das 13h00, enquanto ia pra escolinha lá em Moema, vi na capa de uma revista a seguinte frase “Nem todo mal faz mal”, o que me remeteu ao célebre ditado: há males que vêm para o bem.

Quando se trata de relacionamentos, é difícil definir um padrão mais ou menos estável de quando se está ganhando ou quando se está perdendo. Como tudo na vida, existem os lucros e também os dividendos. Parcelas das Lojas Americanas, multas de trânsito, livros que jamais serão devolvidos, roupas que viram passado, a ‘conta’ sempre existente entre casais, estão do lado da balança rotulada ‘prejuízos’, aos quais soma-se o coração partido, a mágoa, o ego ferido e possíveis contas dos consultórios de psiquiatria e psicologia.

Geralmente, quando uma relação acaba, os prejuízos se tornam tão nítidos que fica difícil perceber em que ganhamos nos enfiando naquela relação. Sentimos que perdemos tempo, que perdemos dinheiro, que perdemos amor próprio. Às vezes, perdemos até a sanidade mental, perdemos amigos, perdemos famílias inteiras.

A coluna dos ‘ganhos’ tende a ser bem menor quando uma relação acaba com mágoas ou ressentimentos, ou quando pelo menos uma das partes não está de acordo com o rompimento. Nestas situações, dificilmente reconhecemos que algo naquilo tudo possa ter valido a pena, esquecemos dos bons momentos, e todo aquele amor fica soterrado debaixo de uma montanha de péssimas lembranças.

No meu último relacionamento, perdi muito mais do que os 6kg que sumiram em cerca de 20 dias por conta de um transtorno ansioso dos bravos; também perdi muito mais do que os R$60,00 em lighter lashes que jamais foram devolvidos. Muito embora meu livro O corpo fala faça muita falta, hoje sinto que os prejuízos materiais foram tão pequenos perto dos danos emocionais que, na verdade, eu acabei saindo no lucro. Hoje penso que as perdas concretas poderiam ter sido até maiores, se me tivessem sido poupadas as perdas emocionais.

Hoje, exatamente hoje, 16 de outubro de 2008, 7 meses após o término de um período tenebroso no meu campo afetivo, ainda é difícil perceber o que ganhei nesta relação (e, indo além, em muitas das relações que continuo mantendo até hoje sem saber quais os benefícios). Emocionalmente, fica ainda aquele gostinho amargo na boca, aquela mágoa no peito que às vezes sussurra no meio da noite que foi tudo perda de tempo. Racionalmente, a coisa muda de figura: hoje sei que, não fosse esta relação fracassada, eu ainda estaria no exatíssimo mesmíssimo lugar que estava no começo do ano, e já há tanto tempo: me sentindo vítima da situação, culpando aos outros pela minha infelicidade, desmotivada no trabalho e sem um pingo de cor-de-rosa na vida.

Sim, foi preciso perder tudo o que eu tinha, toda a alegria, todo o amor-próprio, toda a energia, pra finalmente reconhecer que não estava feliz há anos. Não fosse conhecer o sabor mais amargo da vida, não reconheceria hoje que tudo tem um quê de doçura, que tudo tem um certo colorido se a gente souber olhar bem. Trocando em miúdos, foi preciso perder quem eu era, pra começar a ser quem eu sou.

Na balança dos meus lucros e dividendos, das minhas perdas e ganhos, foi difícil perceber que, ao perder tanto, eu estava saindo ganhando. Nesse sentido, a frase da revista volta à minha cabeça: nem todo mal faz mal. Nem todo bem parece ser bom por fora e nem parece ser bom a princípio. Muitas vezes, a gente só percebe os ganhos muito tempo depois.

A verdade é que cada atitude nossa tem consequências, e se envolver é, inegavelmente, uma atitude de altíssimo risco. É como a bolsa de valores (se bem que hoje em dia, fica até difícil usar esse referencial): você pode aplicar em ações mais seguras, porém com um rendimento mais modesto. Se você for mais arrojado, poderá investir sua grana em algo mais arriscado, mas que poderá render bem mais caso você tenha apostado correto. Cabe, a cada um de nós, definir qual o nosso perfil de investidor quando o assunto é relacionamentos, e assumir para si a inteira responsabilidade pela relação diretamente proporcional entre risco e recompensa. Acredito que as relações superficiais estão para as poupanças de renda fixa assim como os grandes romances estão para as ações da Vale: você pode evitar o prejuízo, mas também poderá acabar evitando maiores lucros.

Na tentativa de balancear o delicado equílíbrio entre meu lado racional e o emocional, continuo buscando por dados de realidade e também por sentimentos que combatam a sensação de que tudo foi em vão. Procuro substituir a mágoa por compreensão, a sede de vingança por amor-próprio. Tento incansavelmente enxergar um colorido entre as tantas tonalidades de cinza que existem entre o branco e o preto, e tirar de tudo algum tipo de aprendizado.

Pois se ao me perder tanto acabei por meu reconquistar, tudo valeu a pena. Aliás, como diz o poeta, tudo vale a pena, quando a alma não é pequena.
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PS1: O nome da minha amiga foi trocado para que eu não perca (e agora é sério) a sua amizade.

PS2: A título de curiosidade, acredito que os prejuízos sofridos pelo ‘lado de lá’ foram maiores que os meus, pelo menos em relação ao aspecto concreto da coisa. Admito: um lado bem mesquinho aqui dentro morre de dar risada do paradeiro das coisas que acabaram ficando comigo. Desde a lata do lixo até o armário do meu melhor amigo, passando pela minha coleção pessoal de DVD´s e chegando ao baú de doações da igreja, tenho certeza que a perda daquele um foi o ganho de muitos outros :)

segunda-feira, outubro 13, 2008

ConjugA-me(i)

Eu receio que Tu me procures. É que Eles, os sonhos, não me abandonam mais. Nós não temos mais jeito (e sabes o porquê - Vós mereceis um ao outro, e Eles tentaram me avisar).

Tu não imaginas o quanto poderia se tornar importante, se Eu permitisse. Para isso, Nós precisamos dizer adeus. Vos fizeste mais planos do que jamais chegamos perto, e Eles, os sonhos, sempre vencem da realidade.

Eu amei.
Tu não percebeste.
Ela me superou por fim.

Nós arriscamos, mas
Vós venceste - não eu.

E eles,
novamente os sonhos,
por fim se calaram,
por me lembrarem tanto você.

quarta-feira, outubro 08, 2008

eu tenho o pulso firme mas ainda posso chorar


Eu adentro seu quarto tão leviana quanto poderia ser, tenho novas imagens, tenho novas mensagens, tenho novas sujeiras pra sussurrar no seu ombro quando decidirmos brincar. Posso ser seu bichano e você meu bichinho, posso pôr novos piercings para você morder, posso pôr fantasias pra você tirar, você pode deixar o teu rosto transfigurado como alguém que já não se aguenta. Trago no corpo outros rabiscos pra você, eu sei que você sabe ler, até em outras línguas, outros lábios e tantos dedos, principalmente em braille você pode me ler. Seu gosto por saliva, suor e lágrimas combina tanto comigo, só peço um pouco de pressão, a pele pede pra se queimar; leio honra em seu peito mas posso te subjugar como você um dia pediu, lembra do acordo que fizemos? Posso ser sua vadia e você meu escravo, mas no máximo uma vez por mês, podemos até nos fazer um carinho, mas por favor, com muito cuidado - eu tenho o pulso firme mas ainda posso chorar.

segunda-feira, outubro 06, 2008

I´m 80's!

Lindíssimo, Ian Curtis, do saudoso Joy Division

Que a música pode ser um estímulo poderoso para despertar lembranças, isso todo mundo sabe. Todo mundo tem aquela música que marcou época, que lembra alguma coisa especial, que deixa o coração quentinho. Também tem aquelas músicas que a gente não suporta ouvir porque lembra algo ruim, triste ou mesmo algo de que sentimos falta.

Todo mundo sabe o que é isso, todo mundo tem uma música especial.

Eu, em particular, sempre tive um gosto estranho para música, o que acabou por gerar uma certa ‘imunidade musical’: as músicas temidas/melancólicas/odiadas dificilmente tocavam no rádio. Por outro lado, as músicas especiais também dificilmente tocavam, o que me levou a adquirir uma coleção bem razoável de CD’s – alguns bastante raros, como o islandês Gling-Gló, do Trio Guðmundar Ingólfssonar, que levava nos vocais a ainda amadora musa Björk, por quem me encantei na minha adolescência.

Tive diversas fases, sempre marcadas pela intensidade e frequência com que eu escutava algum tipo de som. Se era Cramberries, era o dia inteiro ouvindo To the Faithfull Department. Se era Lush, era o dia inteiro ouvindo lovelife. A época de Alisha’s Attic foi a pior – o segundo CD da dupla, Illumina, quase furou de tanto que tocava.

Sempre fui bastante eclética quando se tratava de música, e somente dois gêneros não entravam de jeito-manêra nas minhas caixas de som: axé e pagode (se bem que houveram épocas em que curti um sambinha de roda, mas samba não é pagode, e samba bom eu continuo ouvindo). Na minha viagem de formatura, fomos no maior clichê para Porto Seguro – uma das piores viagens da minha vida, pra qualquer lado que se olhava tocava axé, tinha gente se pegando e se corria o risco de tomar um jato de vômito do pé. Eu lembro que me sentia um ET, amaldiçoava o bomxibomxibombombom e fiz a cabeça da galera para irmos pra Arraial d’Ajuda em vez do programa de sempre (algum bar-inferno-musical).

Isso foi em 1999, e lá se vão quase dez anos em que, a bem da verdade, pouca coisa boa de verdade foi criada no cenário musical. Podem falar o que quiser, mas considero a melhor fase os anos 80. Não apenas a música pop ia muito além de Britney Spears’s em termos de originalidade e melodia, como até mesmo músicos super atuais produziam um trabalho bem melhor naquela época – a Madonna era fantástica (embora meio cópia da Cindy Lauper), o Michael Jackson ainda cantava, e bem melhor do que criava polêmicas.

Quando penso nesta época, no cenário internacional, é quase uma epifania – e olha que eu mal era nascida quando estouraram uns sucessos que até hoje dá pra ouvir na Alpha FM – quem lembra de Marillion, com a fantástica Keighlay? Jon Secada, com Just Another Day? E o Seal, charmosérrimo, a sussurrar nos ouvidos da mulherada “no, we are never gonna survive unless we get a little crazy”?

Joy Division (hoje chamado New Order), Depeche Mode, Sugarcubes (mais um da Björk), Oingo Boingo (quem lembra??), Tears for Fears, Cindy Lauper, Alice Cooper... daria pra escrever uma lista só com sons que me despertam lembranças intensas da minha adolescência. É, acabei sendo uma adolescente atípica, nunca ouvi Bob Marley nem Shakira, passei longe de Spice Girls e de Backstreet Boys (se bem que acho que isso é mais recente, né não?). Dos discos dos meus pais, eu ouvi muita bossa nova, achava o Vinícius de Moraes o homem da minha vida, ouvi muito Raulzito e seus Panteras, e um pouco de jazz, o que anos mais tarde virou uma paixão, especialmente Ella Fitzgerald. Da onda techno eu também me preservei, taí um som que tem a capacidade de me deixar irritada em um curto espaço de tempo. Nunca fui numa festa rave, e não adianta nem me convidar que eu não vou.

Do finzinho dos anos 90 pra cá, andei bodiada. Quase não escuto mais rádio, que costumava ser a melhor fonte de novidades, de tanto que enjoou. De novidade mesmo, só o novo CD do 50cent, do Ja Rule, da Alicia Keys (nada contra, by the way adoro hip hop e rap nacional – dos antigos tá, que Mv Bill não me cativou nem um pouco). A verdade é que o cenário musical foi totalmente comprado, dominado e monopolizado pelas grandes gravadoras, e o que a gente houve é basicamente sempre a mesma coisa – um pouco de black, uma mpb muito da vendida, um rockzinho que deixaria Bruce Dickinson meio constrangido.

Claro que dentre os pops atuais tem bastante coisa boa, vê a voz da Vanessa da Mata que coisa linda que é. Mas quem aí lembra da Mônica Salmaso, que canta já faz quase 10 anos e nada de ‘estourar’? Quem aí sabe mais de uma única música da Fiona Apple, Criminal? Alguém aí lembra da Jewel?

Hoje em dia, me preocupa que as músicas já não possuam conteúdo para trazer lembranças a alguém. De que momento especial uma música como Créu te lembraria? Peloamoredosmeusfilhinhos que isso nem palavra é, é onomatopéia de sei lá o que. ‘Velocidade 5’ o caralho, abaixa o volume, põe aí um Simonal por favor?

Onde foi parar os Ian Curtis’s de hoje em dia? Onde estão os rebeldes 80’s dos anos 2000? Será que tudo o que temos é a Pitty, a Britney Spears em seu 15º surto psicótico, a Amy Winehouse que faz juz ao próprio nome sem fazer juz à voz maravilhosa que tem, o Caetano que ficou mais comercial do que PF de boteco? Temos mais 'celebridades' do que gênios musicais?

O que tem salvado a vida são alguns sons de uma galera que procura atingir o público de um jeito meio alternativo, seja por priorizar as apresentações ao vivo (como as novas bandas de sambarock), seja por sair do meio pop e adentrar o meio cult (que também acabou sendo meio pop afinal), como a ótima Juliette and the Licks, rock do bom cantado pela ‘anti-diva underground’ Juliette Lewis. A verdade é que tem sim coisa boa por aí, mas tem que garimpar. Eu, meio por falta de opções nesse garimpo eterno, ando afundada numa onda retrô que não pára de tocar no meu PC e dentro do meu carro, estou novamente viciada em The Cure e até Kid Abelha e os Abóboras Selvagens eu andei desenterrando (com a maravilhosa Maio, quem lembra?).

Eu comecei esse texto falando de lembranças e com as lembranças eu vou terminá-lo: a música que está tocando nesse exato momento é Roxanne, que me faz lembrar alguém muito especial, com quem aparei as arestas apenas muito recentemente. Me faz lembrar o seu violão e o seu corpo debaixo dele, a sua voz no meio da madrugada, os cabelos negros enrolados e a barba por fazer.

Mas ela ainda dói, então eu passo pra frente...

quinta-feira, outubro 02, 2008

Filarmônica


Um pulso e um som.

Um agrupado de dedos, e cordas, e bocas e timbres.
Tambores que rufam, a cadência planejada nas mãos do regente.
Violinos e harpas se alternam, frases que dançam em conjunto.
Enquanto uma parte se cala, a outra grita em plenos pulmões.
Então todos se unem.

Sinfonia.
Pulsação.
Respiração.

Um maestro e um coração.

Um sopro de dentro, como a lava do vulcão: o interior destruindo e construindo novos universos.