sábado, maio 01, 2010

Maio




Abril passou por mim como um tufão que destelha as casas. Mais particularmente, diria que abril me arrancou o chão. Exatamente um mês atrás, tudo era muito diferente, muito constante, e não posso deixar de afirmar – tudo estava muito crônico. Inexplicavelmente, os últimos anos têm sido assim para mim, com bons presságios de verão e ventos duríssimos no inverno. Gela também aqui dentro.

De certa forma, minhas folhas também estão caindo junto com as das árvores que balançam nas ruas. Como em outros outonos, a sensação é de hibernar num constante farfalhar de sentimentos, em busca do galho mais forte que sustente a última folha. As distâncias, as separações, tudo o que tem permeado meu cotidiano me lembra a solidão que já senti em outras estações, que passaram incólumes enquanto o tempo me trazia novos focos.

A semeadura tão batalhada revelou necessidade de plantar novas flores, engolindo a seco os fracassos da última colheita. Perda, solidão, luto. Percorro todos os estágios do elaborar ao mesmo tempo: negação, raiva, barganha, tristeza. Espero pacientemente pela aceitação sem colocar carros na frente dos bois, sem me forçar a adentrar esta festa da vida da qual me sinto temporariamente excluída. É hora de escolher bem as sementes, cuidar bem do solo, adubar.

Este primeiro de maio não encerra em si esta fase avassaladora, mas traz novos ventos de que, afinal, qualquer lugar que estejamos se trata do primeiro passo rumo a uma existência mais edificante. Eu ainda não cheguei lá, onde sempre quis estar, mas sinto que o caminhar, de agora em diante, precisa romper esta espiral e seguir em frente.

Levanto da cama à uma da tarde com uma estranha sensação de dejà vu. Ouço na voz de Paula Toller o veredito final. Quase que um presságio...

Maio
Já está no final
O que somos nós afinal
Se já não nos vemos mais
Estamos longe demais

Maio
Já está no final
É hora de se mover
Pra viver mil vezes mais
Esqueça os meses
Esqueça os seus finais
Esqueça os finais

3 comentários:

pereira, fabiano disse...

Depois de ler este texto eu posso afirmar com todas as letras que sensibilidade não é intolerância!
Beijão!

Edilson disse...

No outono, a vida também floresce.

Beijo.

raul bele disse...

voltei!