sábado, junho 19, 2010

Maktub



Estando a meio passo de dar a maior passada da minha vida, percebo hoje o quanto tenho a agradecer. Eu não estaria neste lugar hoje, se não tivesse passado por tantos outros, tenham sido eles bons, tenham sido ruins.

Mas agradeço. Agradeço a quem me fez sorrir por pouco tempo, e depois me feito chorar por muito, e agradeço também à rejeição imposta, porque sem ela eu jamais teria percebido o desperdício de energia que teria sido apostar num jogo cujas cartas já estavam tão marcadas... como costumo dizer, o universo conspira a favor, nós é que deturpamos. Então agradeço por terem me impedido de deturpar uma triste, porém concreta realidade: para duas pessoas ficarem juntas, não basta querer, precisa haver afinidade de almas, precisa haver amor sincero e criativo, e por isso agradeço por ter sido forçada a ver, por mais dolorido que tenha sido, que nenhuma das duas coisas jamais existiu sinceramente dentro de mim. Estar apaixonado pode ser muito bom, mas há algo de muito errado quando é mais gostoso a sensação de estar apaixonado do que as conseqüências que o apaixonamento deveria trazer.

Então agradeço por ter sido forçada a admitir que na verdade não era amor, não era sequer paixão, era mais carência e necessidade de perdoar a mim mesma, expiando as culpas do passado numa nova relação. Era teimosia e carinho, que juntos podem se revelar uma combinação fatal. A gente tem que saber a hora de parar, e não fosse o medo alheio, eu não teria parado na hora que devia. Agradeço.

Agradeço pelo outro lado da moeda, das relações verdadeiras que duram apesar das décadas, em que o encontro genuíno não se dá através do beijo, se dá através da cumplicidade. Maktub: o beijo é o selo oficial da veracidade daquela relação, que não se sabe estável, estruturada, mas que não precisa nem ser. Basta que exista por conta própria, que a intimidade resista aos anos e às outras pessoas que cruzaram nossos caminhos, às brigas e mágoas. Basta que tudo o que foi de ruim se dissolva quando os olhares se encontram e quando simplesmente nada precisa ser dito. O beijo somente sela a autenticidade do nosso elo, e agradeço por isso tudo me fazer lembrar que não, não estou pedindo demais, apenas pedi à pessoa errada. Não adianta pedir a alguém por algo que este alguém é incapaz de dar, não por capricho, mas por simplesmente não possuir. Agradeço a quem realmente está junto de mim mesmo não estando... como um anjo da guarda que me protege à distância, como um dia comentamos.

Eu agradeço também às inovações. Porque se eu não estivesse no vazio, jamais haveria espaço pra esse outro ser entrar, e na verdade não importa quanto tempo este ser irá ocupar este espaço, importa que nos momentos que ocupou, este espaço foi verdadeiramente preenchido. Me fez perceber que na vida sempre há movimento, a gente se movimentando junto ou não. Então eu agradeço pela possibilidade de me ver novamente como sou e gostar do que vejo, sem ser forçada a me moldar tal qual massinha para corresponder às expectativas de outrem. A espontaneidade reforça o quão especial algo pode ser, apesar de efêmero e incerto, e esta aceitação das coisas como elas simplesmente são é o verdadeiro perdão que procurei encontrar no lugar errado.

Está na hora de dar este passo mágico e abandonar as antigas crenças e culpas. Sem buscar nada, sem fazer perguntas, apenas vivenciar o que pede para ser vivido, o que estava escrito nas linhas tortas da minha vida: eu já sou exatamente a pessoa que desejo me tornar e, por enquanto, este é todo o amor de que preciso.

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