terça-feira, junho 11, 2013

Uma vez apenas

Era pra ser uma vez apenas, era para ser casual. Era pra ser uma coisa normal da qual se esquece dois dias depois. Era pra gente fingir que não tinha amanhã, nos justificarmos no passado e pular pro futuro próximo onde outros próximos figurariam a nossa cena. Era pra ser um hiato entre dois pontos distantes entre si por centenas de quilômetros – fechasse a conta, passasse a régua e nós dois só teríamos coisas boas pra lembrar. “Eu volto logo”, você disse, e pra mim era mais uma frase de novela, daquelas em que a mocinha se derrete no final.

Você voltou, eu derreti, e fui recolhida pelas suas mãos, elas não foram tão doces mas souberam bem marcar o tempo, esse senhor avarento que vive pregando suas peças em mim, levando você daqui. Eu estava quase esquecendo, os hematomas já haviam sumido, mas seria só mais essa vez, mais uma vez apenas!, e um cataclisma baixou sobre mim: me ressensibilizei ao seu cheiro e seu gosto, minhas células se viciaram de novo quando quebrei essa abstinência. Eu inspirei o seu ar como se sufocasse, tentei fundir o seu corpo ao meu. Vibrei baixinho quando seu toque doeu. Queria de você um pedaço pra relembrar.

Desta vez, nenhuma marca ficou, você já não é mais visível aos meus olhos, e eu já não sei como te citar nas minhas orações. A sua imagem, assim em branco e preto, é tudo o que me sobrou, e em breve também se fragmentará. “Volta”, eu pedi pra você, um pouco antes de desistir de ir embora. Era pra ser uma vez apenas, mas por um segundo pequeno eu traí o nosso trato, e pedi que o tempo fosse bom comigo também, que congelasse um instante ou trouxesse você de volta pra mim. "Muß es sein? Es muß sein! Tem que ser assim!" O tic-tac do relógio gritou na madrugada e ocupou nosso silêncio - confirmou aquilo que eu já sabia: nessa novela, um segundo a mais acaba sendo, sem dó nem piedade, um outro segundo a menos pra estar ao lado de você.

Nenhum comentário: