segunda-feira, setembro 11, 2006

REFLEXÕES NO PRONTO-SOCORRO

Duas e meia da tarde. Sentada na recepção do pronto-socorro. Nº da senha: 127.
Ao meu lado esquerdo, uma senhora reclama das costas para sua comadre. Do lado direto, um menino de uns 11 anos tem o nariz sangrando, a mãe com um lencinho na mão faz carinho nos seus cabelos.
Na minha frente, um velho tarado de uns 50 anos me come com os olhos, demonstrando que seu problema deve ser no pau. Ou na esposa ao lado.
Meu problema – sinusite.

- Curam aqui dor de coração? – quase pergunto pra senhora ao lado.

De repente, percebo que todos ali, naquela sala, estão aos pares.
Filho com mãe.
Amiga com amiga.
Vó com neto.
Marido e mulher.
Até o bonitinho sentado 2 cadeiras ao lado está acompanhado – da mãe, é claro.
Olho para os pacientes – um a um, todos me parecem sofrer de males que aquele hospital não poderá curar. Velhice, desespero, preocupações, desemprego. Falta de dinheiro. Falta de estilo. Falta de beleza. Mas não falta de companhia.

Me dou conta então de que sou a única sozinha. Desacompanhada. Solteira – até no hospital.

- Enfermeira, vocês fazem curativo em cotovelo?

Sou chamada para o atendimento. O médico tem uns 40 anos, é bonito e arrogante. Me olha de alto a baixo e diagnostica: você precisa de antibióticos. Perfeito. “E de um bom Milanta Plus”, penso comigo mesma. Receita uma injeção. Agora, além de solteira, tomei no rabo, em pleno hospital.

- Doutor, vocês têm algo aí pra ego ferido?

Volto pra casa, a sensação é de solidão total. Lancinante. Massacrante. Fungo duas ou três vezes, a bunda dói. E eis que meu celular toca. Uma amiga mais do que querida. Abro um sorriso. 5 minutos depois, outra amiga liga, querendo saber como estou.

E assim se segue, nos próximos 3 dias em que amargo o resfriado, termômetros, chazinhos, filminhos, Sex and the City.

Uma semana depois, quando volto à saúde (mental?), caio em mim: se dizem que a maior dor é dor de amor, então tenho tudo o que preciso pra me curar.

Amorazil de Amizadopran. 3 vezes por dia, 100mg.

E ah! Não tem genérico...

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