quinta-feira, julho 19, 2007

Censura

- Não, não estou vendendo sexo! Estou apenas
vendendo preservativos com uma demonstração grátis!

Já pensaram no que aconteceria se falássemos o que pensamos sem nenhum tipo de censura interna? Se não existisse superego? Se não existisse o bom senso? Ou o famoso “semancol”?

Caos. Catástrofe. Confusão.

- Oi, querida, como está??
- Com caganeira.


Imaginem vocês se falássemos exatamente o que pensamos, ao invés de mascarar o verdadeiro conteúdo de nossos diálogos. Ia ser briga pra cá, mágoa pra lá, caras viradas ou rostos boquiabertos diante de tanta sinceridade.

- Pô, mano, e aí... o que tu achou da minha mina?
- Os dentes são meio tortos, mas tá gostosa pra cacete. Se ela der mole eu pego.


Diz a quase-finada Psicanálise que o superego, ou nossa censura interna, nosso juiz particular, possui a função de filtrar aquilo que é ou não aceito como socialmente adequado, barrando possíveis comportamentos inaceitáveis na convivência grupal. Em última análise, ele exerce a mediação entre nossos impulsos mais primitivos e nossa máscara social, aprendida e moldada ao longo do tempo por meio de modelos sociais e regras morais culturalmente construídas. Isso pode, aquilo não se faz. Sem a censura estaríamos perdidos, e nosso esquema social, fadado ao fracasso. Imaginem a cena:

- Senhor Presidente, o que o pacote de reformas do Governo prevê para o próximo ano, caso o senhor seja eleito?
- Olha, eu adoraria dizer que tudo irá melhorar, mas a verdade é que o desemprego vai continuar igual, a violência só tende a aumentar e o meu bolso vai se encher de verdinhas.


Pronto. É revolução na certa. Poderíamos imaginar então que a verdade nesses momentos poderia beneficiar a muitos, não é? Mas, veja bem, estamos falando de honestidade total, sem limites e sem pudores. Passemos para a seguinte situação:

- Doutora, não sei mais o que faço... (choro)... minha vida não tem sentido! Meu marido me abandonou, meu filho é alcoolista, o banco tomou minha casa e descobri que peguei HPV... (choro) Por que ainda vivo? Talvez seja melhor me matar. É a única solução.
- De fato, Dona Fulana. Concordo plenamente. Sua vida é uma merda e seu marido sofreria bem menos se a senhora morresse. Pois você é uma pentelha e foi por isso que ele te largou. Seu filho bebe Zulu e deve ter poucos anos de vida. Seu tipo de HPV é cancerígeno, e a senhora também me deve R$500,00 das consultas do último mês. Também não vejo outra solução a não ser o suicídio. Por que a senhora não o faz saindo daqui? Conheço uma ponte ótima.

Como podemos perceber, a mentira é, por vezes, alternativa de necessidade máxima. E sem ela, muitas situações tomariam rumos inimagináveis.

- Senhor Sicrano, a reunião começou há 20 minutos! Pode me explicar seu atraso?
- Claro chefe, estava batendo punheta no banheiro do depósito.

Nós massacramos sentimentos, ocultamos fatos, inventamos tantos outros, damos tratos à bola e sambamos miudinho para amenizar situações e dourar pílulas fundamentais para a convivência pacífica dos membros de nossos grupos sociais, pra não citar a fraternidade entre os povos. Não nos esqueçamos que o diálogo, esse tão defendido elemento de qualquer relação entre duas ou mais pessoas, é construído sempre com base no bom senso, no jeitinho de falar, no escolher de palavras que, no final das contas, acaba fazendo toda diferença.

- Mas então, comissária, o vôo está previsto para que horas com este atraso?
- Há, só o senhor acha que vai embarcar. Conselho? Vai tomar um cházinho enquanto eu faço as unhas, a manicure está me esperando lá na sala da chefia.


É indiscutível a importância da diplomacia, da retórica, da oratória, e de outros tantos “caminhares” por cima de muros invisíveis, que nada mais são do que a censura interna se fazendo presente nas mais diferentes esferas de nossa sociedade. Já percebemos o quanto isso pode ser benéfico na política, prejudicial na psicoterapia, perturbador no plano laborativo. E o que dizer das relações amorosas?

- Você ainda me ama?
- Não sei. Quando você me chupa juro que te amo. Mas depois queria mais que você virasse uma pizza e uma cerveja. By the way, engravidei minha secretária.

Ou então:

- Puxa... quanto tempo não te vejo! Você está com uma cara boa!
- E seu abdômem está fantástico. Posso lamber?


E ainda:

- Então fico esperando você me ligar hoje a noite.
- Claro. Espera sentada. Você e esse seu bafo.


Desnecessário continuar. As consequências da Honestidade Total são previsíveis e tragicômicas. Caos nas escolas, nos hospitais, nas prefeituras (ah, as prefeituras!), nas famílias (“Você vai na casa da Cidinha?” – “Não mãe, estou indo buscar cocaína com o Juliano”), nas amizades (imaginem se a Mariazinha resolve dizer pra Joaninha que ela está um bucho de gorda?), nas empresas... e por aí vai. Os tribunais estariam extintos. Os vendedores ficariam pobres. O Bolsa-Família então nem existiria. A Igreja Católica viraria um circo. E o mundo viraria um grande hospício.

Nosso mundo atual depende da sábia arte de mascarar a realidade. De ocultar os fatos, de omitir dados. Sábio é aquele que transforma a verdade numa mentira muito bem contada, ou aquele que finge acreditar no que contaram a ele.

Poderia continuar aqui imaginando infinitas histórias nas quais a verdade seria, no mínimo, motivo de gargalhadas. Exemplos não faltariam. Mas deixo pra vocês a oportunidade de criarem, vocês mesmos, as mais inusitadas cenas mentais. É um exercício no mínimo surpreendente, pra não dizer extasiante!

Experimentem. Pois, se não trouxer diversão, ao menos suas próximas mentiras serão bem melhor contadas!

5 comentários:

Marcela Marson disse...

Ai , ainda bem que eu tenho um pouco de censura interna , porque se não iria sair cada coisa! hehe

Ick disse...

é ia ser estranho. rs. mas confesso as vezes eu toco o foda-se uso este metodo e por mais mal que faça... FAZ um BEMMMMMMMMMMM. kkk
Um beijo e nos falamos {leia-se} = (e ai te pego quando?)rsrsrsrrsrsrsrsrs

Fernanda S. disse...

Nossa, que doidera... assim nem precisa mais de advogados... hehehe.. e o que seria de mim, hein, hein?!?!?
Mas a verdade é uma só: tudo é uma gfrande mentira... meio que o show de Truman, essa é a vida que levamos: sendo assistidos a todo momento e buscando pequenas respostas, ainda que omissas, para mascarar sentimentos...

Imagina um namorado chegando para sua mina e dizer: meu a gente s´[o serve pra fazer isso, isso e isso... e só!

Pois é.. casos reais de uma comédia intensa... deixa pra lá! já to ficando doida.... hahaha

Bjocasssssss

Anônimo disse...

impagável! Muito bom!

Fernanda Rossinih disse...

Eh povo mentiroso, entendi pq todos reclamam da minha sinceridade, doi ne, falar as coisas certas nas horas erradas? mas perai que hora que é a hora certa? "Amiga vc acha q eu engordei?" "Perai só posso responder depois das 20:42hs" rsrs
Po nao quer saber? Entao nao pergunta! rsrsrs
Tudo não passa de ilusão mesmo e o importante é a experiencia se eu tava ocupada, que te importa o que eu tava fazendo?
eu hein gente curiosa!! rsrs