segunda-feira, junho 30, 2008

adendo

Foto: Nana Ferreira, julho de 2007.



Tem dias que a gente se sente assim - menos gente e mais planta.

Impassível a tudo que ocorre.

Parada diante do mundo.

Sem precisar falar sobre nada.

Basta o sol, a brisa, o sangue-clorofila correndo nas veias. Minha seiva bruta.

Eu tenho admirado mais as árvores do que as gentes: para o alto, e avante.

sexta-feira, junho 27, 2008

De inverno


Assim como muitas pessoas, eu costumo ficar carente no inverno. Época de edredom, chocolate quente e de cafuné, o inverno é a estação ideal pra iniciar um novo romance, ou pra estreitar laços com quem já se dividiu os ventinhos do outono.

Acredito que isso não acontece apenas comigo. O Tim Maia cantou, durante um tempão, que era primavera, mas que quando o inverno chegasse, ele queria estar junto à pessoa amada. A Adriana Calcanhoto chegou a dizer que o inverno no Leblon era quase glacial, e óbvio que isso é porque ela estava sem par.

No inverno, todo abraço é quente, toda mão te aquece e todo peito nu tem calor para dar. Se as pessoas já evitam sair porque está frio, com um parceiro o frio vira a oportunidade ideal pra não fazer nada juntos, pra ver filmes românticos na TV ou apenas para se agasalhar mutuamente.

Porque no verão, tudo já é quente demais, e o abraço, em vez de aquecer, se torna gosmento. As pessoas ficam assim, meio cremosas demais, para estarem num contato muito próximo. Então no verão a solidão pode até passar despercebida – verão é época de romances fugazes, de histórias pela metade sem capítulos finais faltando, e época de tomar picolés, que são sorvetes individuais.

Inverno é época de fondue com os amigos, e assim todos partilham da mesma comida. É época de vinho, cuja garrafa serve ao menos 2 pessoas. Tudo no inverno é mais coletivo, e até um ônibus cheio pode te aconchegar – fica assim quentinho, todo mundo cobertinho, tudo fica gostosinho.

Eu sou uma pessoa especialmente veranista – amo o calor, a praia, o sol, a cor saudável e dourada das pessoas que costumam sorrir mais e andar pouco vestidas por aí. O frio me deprime – especialmente quando minha enorme cama quentinha fica grande demais para eu dormir sozinha.

O fato é que é ótimo estar solteira no verão, onde tudo é descompromissado e pode-se facilmente praticar a política do cada-um-na-sua-canga, evitando assim jorros de areia, peles grudando e micoses praianas. Mas estar solteira em pleno inverno é um saco. Incomodam-me as referências meramente primaveris, e refrigerantes tornam-se totalmente desinteressantes e gelados.

E não adianta fingir que o inverno não existe, nem tentar aproveitar pra comprar biquinis em liquidações como se estivéssemos num eterno verão. Pra mim, é como já dizia a velha música (acho que o Tim Maia também se sentia meio solitário no inverno), não adianta vir com Guaraná, é chocolate o que eu quero beber.

(sorte a minha que o Brasil é um país tropical, abençoado por Deus, bonito por natureza, e que aqui o inverno passa rapidinho!)

segunda-feira, junho 16, 2008

OSSU!!


Família Seiwakai: preparando o corpo, a mente e o espírito.
Porque a água estagnada apodrece, a água fluente é sempre boa!

segunda-feira, junho 09, 2008

Goodbye Stranger

Eu prefiro me despedir destes seus seus olhos tão castanhos que me fitam intermitentemente do que permanecer na eternidade das nossas ilusões. Foi assim e sempre seria, se não houvesse finalmente chegado o momento da nossa despedida. Pois foi ali, naqueles olhares dúbios ao final de uma festa já sem graça, em que nós nos perdemos para sempre – foi na promessa de uma brincadeira já manjada em que todas nossas virtudes foram deixadas de lado.

Sem mais encontros às escondidas e sem mais mentiras no dia seguinte. A sua crise de consciência nos salvou. A nossa história, que todos sabem mas evitam comentar, teve seu último capítulo terminado junto com a sua moralidade e a minha falha de caráter em meio às impulsividades de um sábado à noite. Convenhamos: não há necessidade de nem mais um inverno sequer. Encaremos os fatos de que nossas vidas sempre seguiram caminhos separados, havendo se encontrado unicamente dentro do meu próprio sexo. Nós dois sabemos: eu te quero e você sempre me quis, mas de alguma forma, tudo isso perdeu o sentido.

Houveram noites mal-dormidas e esperanças por meses a fio; houveram frases duras e carinhos inesperados. Você pegou minha mão na sua e elogiou minha maciez, sem notar que ao seu lado, toda minha fluidez desaparece. Somos apenas e tão somente jogadores de uma partida de cartas marcadas. Não há maneiras de mudar as regras no meio desse jogo – elas foram determinadas há muito, muito tempo atrás. Você propôs, eu aceitei. Sem falsos moralismos.

Acho que é hora de nos despedirmos de verdade. Encarei seu blefe de jogador experiente pela última vez. Não aposto tudo – que momento mais amargo para alguém que se propôs a dizer adeus a tantas coisas menos superficiais. O seu semblante rígido, porém sempre doce, fica gravado no fundo das minhas retinas, como uma foto em branco e preto que esmaece com o tempo. Nosso filme ficará trancado nas gavetas da memória: tudo o que sobra é seu cheiro de maresia e a negação da sua partida.

Hoje esfriou de repente - vá na vida e eu irei na sorte. Mestre dos mares que ainda será, você navegará bem pelos rumos determinados pelos ventos a soprarem suas velas. Eu pegarei meus remos e seguirei com destino certeiro: você coube dentro de mim, mas eu sou grande demais para caber dentro de você.

domingo, junho 01, 2008

Testando


Tenho me perguntado, com os mais recentes acontecimentos, se estou sendo testada. Por quem, por que e para que são apenas trivialidades, já que a dúvida que me cabe é se estou sendo bem sucedida.

Os temas atuais da minha vida têm se mesclado, e no final das contas, todos se resumem a única pergunta: eu realmente acredito no que venho fazendo?

# 1. Dizendo “não”

Após 25 anos de uma vida marcada por comportamentos ‘altruístas’, ‘generosos’ e ‘desapegados’, finalmente me peguei definindo melhor minhas verdadeiras motivações. Nada de altruísmo ou de generosidade: passividade sempre foi minha maior característica. Frustrar alguém? A morte! Negar um pedido? Nunca! É interessante reparar que, quando você resolve se amar, fazer o que você não quer se torna absolutamente impensável. Fatalmente, você começa a mudar sua postura, o que, vez por outra, acaba afastando as pessoas de você. Se antes você passava por cima de todos os seus desejos em prol do bem-estar alheio, hoje você está cheia disso e todo mundo te estranha. Você não vai cumprir as expectativas alheias e acaba virando uma megera abominável, uma filha da puta insensível e egoísta ao extremo, só porque não quer de jeito nenhum ir numa balada insuportável apenas pra agradar a sua amiga. O mais curioso é que você finalmente entende que, para muitos, é melhor que você esteja infeliz, desde que continue fazendo tudo o que esperam de você. Ninguém curte uma bela mudança. Eu paro por aqui e, como diz um amigo meu, só dou a mão e só.

# 2. Perdoando

Todo mundo já ouviu aquela máxima que diz que perdoar ao outro requer que, antes de mais nada, perdoemos a nós mesmos. O problema é que nem sempre damos ouvidos a estes clichês, especialmente quando a gente ainda não entrou numas de se prejudicar a ponto de ter que se perdoar. E convenhamos que é tão mais fácil culpar o outro do que assumir nossa responsabilidade. Perdoar a si mesmo é extremamente difícil, reconhecer nossas fraquezas humanas e finalmente compreender que sempre fazemos algo na tentativa de acertar torna-se, via de regra, impossível quando estamos recheados de culpa e auto-comiseração. Atenção, navegantes: não há perdão se não houver, antes de mais nada, aceitação. No balanço das coisas, se você se sente uma boa pessoa e dorme tranquilo com sua consciência, o perdão se torna mais fácil. Pare de negar e reconheça sua humanidade e sua infinita ignorância nesta vida. Errou por tentar acertar, errou e aprenda com o erro. Tem sido difícil me perdoar por ter sido tão cruel comigo mesma, por ter sido uma grande escrota com meu corpo e com minha mente, por ter me permitido afundar como afundei. As consequências disso são devastadoras, e tenho pago meus pecados: de remédios psiquiátricos a broncas do meu sensei, ando recuperando os sentidos perdidos. E aos outros que me magoaram? Se é difícil perdoar, imagina agradecer.

# 3. Agradecendo

Meu sensei, Mestre Rato, viu o quanto eu havia ficado puta da vida quando uma atleta da outra academia me acertou um Mawashi bem na boca no último treino. A raiva não se devia simplesmente ao fato de que, naquele momento em específico, golpes na cabeça estavam proibidos. Minha raiva vinha da humilhação do meu primeiro chute na cara em 2 anos de Muay Thay. Quando sensei Rato e sensei Jurandir viram minha mágoa (a despeito dos pedidos de desculpas da lutadora em questão), tentaram me consolar, dizendo que, por mais que minha defesa tivesse sido falha, havia sido falta e que eu ganharia o round em questão. Sensei Jurandir me pergunta então: “Você agradeceu a ela por ela ter te mostrado seu ponto fraco?” Não, sensei, ainda não consegui perdoá-la por isso. Como então agradecer? Se perdoar é difícil, agradecer a quem te machucou torna-se, fatalmente, uma guerra santa na busca pela paz. Meu Deus, quem já pensou em agradecer ao filho da mãe covarde que te enganou? Agradecer as mágoas, pois te ajudaram a ser uma pessoa melhor? Agradecer por ter sido levada ao fundo do poço, pra que sua ascenção fosse mais sincera?

# 4. Conclusões

Sensei, eu juro que tenho tentado agradecer a todas as pessoas cretinas que um dia me fizeram sentir uma bosta. Sei que elas, eventualmente, e indiretamente, me ajudaram a ser uma pessoa melhor, mais forte e mais honesta. Sei que, graças a elas, meus “nãos” têm sido mais articulados e menos radicais. Eu tento me perdoar todos os dias por ter me deixado levar, e tento agradecer por ter chegado neste ponto cruel de desejar coisas terríveis, pra verificar que, conhecendo o que é verdadeiramente amargo, todo o resto se torna mais doce.

Eu tento perdoar a todos que me machucaram. Tirar lições de suas palavras terríveis. Aprender com erros quase fatais. Eu ainda tenho muito chão pela frente. Ainda não sei, mas um dia espero poder agradecer, sem sede de vingança, os golpes que a vida me deu.

(Inclusive da vaca que me acertou o mawashi. O perdão até está próximo, mas eu juro que no próximo treino arrebento a cara dela.)