Eu prefiro me despedir destes seus seus olhos tão castanhos que me fitam intermitentemente do que permanecer na eternidade das nossas ilusões. Foi assim e sempre seria, se não houvesse finalmente chegado o momento da nossa despedida. Pois foi ali, naqueles olhares dúbios ao final de uma festa já sem graça, em que nós nos perdemos para sempre – foi na promessa de uma brincadeira já manjada em que todas nossas virtudes foram deixadas de lado.
Sem mais encontros às escondidas e sem mais mentiras no dia seguinte. A sua crise de consciência nos salvou. A nossa história, que todos sabem mas evitam comentar, teve seu último capítulo terminado junto com a sua moralidade e a minha falha de caráter em meio às impulsividades de um sábado à noite. Convenhamos: não há necessidade de nem mais um inverno sequer. Encaremos os fatos de que nossas vidas sempre seguiram caminhos separados, havendo se encontrado unicamente dentro do meu próprio sexo. Nós dois sabemos: eu te quero e você sempre me quis, mas de alguma forma, tudo isso perdeu o sentido.
Houveram noites mal-dormidas e esperanças por meses a fio; houveram frases duras e carinhos inesperados. Você pegou minha mão na sua e elogiou minha maciez, sem notar que ao seu lado, toda minha fluidez desaparece. Somos apenas e tão somente jogadores de uma partida de cartas marcadas. Não há maneiras de mudar as regras no meio desse jogo – elas foram determinadas há muito, muito tempo atrás. Você propôs, eu aceitei. Sem falsos moralismos.
Acho que é hora de nos despedirmos de verdade. Encarei seu blefe de jogador experiente pela última vez. Não aposto tudo – que momento mais amargo para alguém que se propôs a dizer adeus a tantas coisas menos superficiais. O seu semblante rígido, porém sempre doce, fica gravado no fundo das minhas retinas, como uma foto em branco e preto que esmaece com o tempo. Nosso filme ficará trancado nas gavetas da memória: tudo o que sobra é seu cheiro de maresia e a negação da sua partida.
Hoje esfriou de repente - vá na vida e eu irei na sorte. Mestre dos mares que ainda será, você navegará bem pelos rumos determinados pelos ventos a soprarem suas velas. Eu pegarei meus remos e seguirei com destino certeiro: você coube dentro de mim, mas eu sou grande demais para caber dentro de você.
3 comentários:
Como já disse Mick Jagger, muito sábio:
"Nem sempre você pode ter o que se quer, mas se você tentar, as vezes pode conseguir o que precisa."
vou usar suas palavras nesse comentário...
"esse não foi exclusivamente para ser lido, foi para ser sentido, principalmente sentido..."
FANTÁSTICO!!!
Nossa...
preciso dizer que estou mais curiosa ainda?! hehe
Delícia.. mto gostoso este post.. e tenha ctz que vc é mesmo grande demais.. mais que imagina!
Beijinhos cheios de saudade =)
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