A HISTÓRIA
Há cerca de um ano e meio, escrevi uma longa carta a um querido amigo*. Nela, me despedia. Me despedia de um vício que sustentei durante anos apesar de saber o mal que me fazia. Apesar disso, não tive força suficiente pra romper uma relação tão longa, tão profunda, tão íntima como a que existiu, durante 12 anos, entre mim e o cigarro.
No começo deste ano, alcancei a incrível e assustadora marca dos dois maços diários. Culpava o Transtorno Ansioso que eu havia desenvolvido (todo mundo sabe que o cigarro é o melhor amigo dos ansiosos), igualzinho a manco que põe a culpa na muleta.
Dois meses atrás, tomei um xeque-mate: Sensei Rato afirmou categoricamente que a conquista da graduação verde no Muay Thai dependia, INTEGRALMENTE, do meu hábito de fumar. Sem parar, sem graduar. Ao mesmo tempo, minha querida professora de canto, Luciana, insistia que o cigarro havia prejudicado horrores a minha potência vocal. Me assustei quando não consegui responder à pergunta dela sobre como era minha voz sem fumar – não consegui lembrar.
A DECISÃO
Simples como uma escolha entre este ou aquele sanduíche, a decisão foi fácil: pararia de fumar. Entre algo precioso e algo destrutivo, me parecia um pouco óbvia a escolha que deveria fazer. Escolher o contrário seria o cúmulo do retardamento mental.
Loira sim, burra nunca, estava decidido: como uma grávida que abandona o fumo em prol de seu bebê, eu abandonaria meu Marlboro azul em prol da luta e do canto. Simples assim. Bem simples. Super.
A DESPEDIDA
Aproveitei meu último dia de fumante como uma louca. Fumei dezenas de cigarros até a bituca, como quando se abraça um amigo mil vezes antes de vê-lo partir para sempre para outro país. Passei um frio de 9 graus, ficando do lado de fora do Sarau da Samma (tema para outro post), só pra pitar. Eu sabia que era o último dia, sabia que ia travar uma luta contra mim mesma ao parar, mas não sabia que seria tão, mas tão dificil.
Pra facilitar o processo, desmarquei tudo que tinha agendado na próxima semana. Iria pra praia, pararia de fumar lá, já que São Paulo me agita e lá eu fico mais tranquila. Encarei como uma semana de desintoxicação. Uma internação voluntária. Uma medida desesperada.
A AÇÃO
No primeiro dia sem fumar, fumei que nem doida. Me senti um fracasso. Duas horas depois de acordar, já estava com um cigarro nos lábios. A simples lembrança de que não iria mais fumar me deixava com mais vontade de fumar do que nunca. Tinha uma viagem pela frente (quem fuma sabe o prazer que é dirigir fumando), e não resisti, fumando mais de meio maço em meras 3 horas. Me senti totalmente looser, mas não amarguei – no dia seguinte joguei fora todos os meus cigarros e entrei pra batalha.
Nos 3 primeiros dias sem fumar, quase morri de nervoso. Tive tremores e sonhava com cigarro, tive crises de mal-humor e precisei ir embora de uma baladinha para não bater em alguém. Chorei de desespero. Nas piores horas, visualizava a graduação, o calção verde, visualizava a sala da casa da Lu, imaginava minha voz mais limpa.
Quando ia correr, na tentativa de substituir a vontade de fumar pelo exercício, parecia que estava correndo de mim mesma – uma Eu ex-fumante fugia da fumante inveterada, como diabo foge de água benta. Terminava a corrida e ficava desesperada pra fumar. Só falava nisso. Tratei mal as pessoas à minha volta. Fumei um milhão de cigarros apagados (meu querido Apagadinho, como a Pri bem explica no seu último post).
Os dias subsequentes foram mais suaves. Livre da dor de cabeça, procurei outras coisas pra substituir o hábito. Nas horas mais críticas, tomava litros de água e cantava sem parar, e a vontade de fumar logo passava. Voltei a fazer origamis e comecei a fazer mosaicos com minha irmã e a Pri, na tentativa de conseguirmos descolar algum dinheiro expondo as peças na pousada do Rafa e no estúdio do Ick, e descobri que o artesanato é uma terapia fantástica pra quem está ansioso.
Houveram desafios. TODAS as minhas amigas fumam. As de Sampa e as da praia. Aliás, o mundo fuma. E fuma perto de mim (por enquanto ainda acho gostoso). Ao contrário das outras tentativas feitas anteriormente, não parei de tomar cerveja, nem de tomar café, nem de encontrar as amigas. Já que é pra ser difícil, que seja de uma vez!
E DEPOIS DA TEMPESTADE...
Hoje completo exatos 10 dias sem fumar. Ando orgulhosa das minhas conquistas, e esta, em especial, merecia até uma comemoração! Comemorei – hoje de manhã passei litros de hidratante Victoria Secrets, e é maravilhoso perceber como, mesmo horas depois, um não-fumante ainda está cheiroso.
Não fumante não tem bafo, as mãos não fedem, o quarto de dormir é inodoro e o bolso agradece (façam as contas: R$3,25 X 30 dias: R$97,50 por mês!!!). Sensei Rato então ficou feliz da vida e a graduação já está garantida!
Só pra concluir, não pretendo virar ex-fumante mala... o cigarro é uma delícia e todo mundo que fuma sabe disso, não importa que tenha parado há não sei quantos anos. O cigarro é um puta companheiro e eu bem sei que ele alivia qualquer tensão, qualquer fome, qualquer espera em fila, qualquer ódio no trânsito. O cigarro é um amigão.
Mas cigarro é droga e vicia. Cansei de depender dele, como cansei de depender de um monte de coisas externas a mim mesma. Então não tem jeito, a não ser sentir saudades – e, às vezes, aquela vontade louca de fumar um maço inteiro.
O bom é que, como diz a Pri, vontade dá e passa! Já a consciência... ah não, senhores, essa permanece inabalável! Um dia de cada vez... para o alto e avante!!
Há cerca de um ano e meio, escrevi uma longa carta a um querido amigo*. Nela, me despedia. Me despedia de um vício que sustentei durante anos apesar de saber o mal que me fazia. Apesar disso, não tive força suficiente pra romper uma relação tão longa, tão profunda, tão íntima como a que existiu, durante 12 anos, entre mim e o cigarro.
No começo deste ano, alcancei a incrível e assustadora marca dos dois maços diários. Culpava o Transtorno Ansioso que eu havia desenvolvido (todo mundo sabe que o cigarro é o melhor amigo dos ansiosos), igualzinho a manco que põe a culpa na muleta.
Dois meses atrás, tomei um xeque-mate: Sensei Rato afirmou categoricamente que a conquista da graduação verde no Muay Thai dependia, INTEGRALMENTE, do meu hábito de fumar. Sem parar, sem graduar. Ao mesmo tempo, minha querida professora de canto, Luciana, insistia que o cigarro havia prejudicado horrores a minha potência vocal. Me assustei quando não consegui responder à pergunta dela sobre como era minha voz sem fumar – não consegui lembrar.
A DECISÃO
Simples como uma escolha entre este ou aquele sanduíche, a decisão foi fácil: pararia de fumar. Entre algo precioso e algo destrutivo, me parecia um pouco óbvia a escolha que deveria fazer. Escolher o contrário seria o cúmulo do retardamento mental.
Loira sim, burra nunca, estava decidido: como uma grávida que abandona o fumo em prol de seu bebê, eu abandonaria meu Marlboro azul em prol da luta e do canto. Simples assim. Bem simples. Super.
A DESPEDIDA
Aproveitei meu último dia de fumante como uma louca. Fumei dezenas de cigarros até a bituca, como quando se abraça um amigo mil vezes antes de vê-lo partir para sempre para outro país. Passei um frio de 9 graus, ficando do lado de fora do Sarau da Samma (tema para outro post), só pra pitar. Eu sabia que era o último dia, sabia que ia travar uma luta contra mim mesma ao parar, mas não sabia que seria tão, mas tão dificil.
Pra facilitar o processo, desmarquei tudo que tinha agendado na próxima semana. Iria pra praia, pararia de fumar lá, já que São Paulo me agita e lá eu fico mais tranquila. Encarei como uma semana de desintoxicação. Uma internação voluntária. Uma medida desesperada.
A AÇÃO
No primeiro dia sem fumar, fumei que nem doida. Me senti um fracasso. Duas horas depois de acordar, já estava com um cigarro nos lábios. A simples lembrança de que não iria mais fumar me deixava com mais vontade de fumar do que nunca. Tinha uma viagem pela frente (quem fuma sabe o prazer que é dirigir fumando), e não resisti, fumando mais de meio maço em meras 3 horas. Me senti totalmente looser, mas não amarguei – no dia seguinte joguei fora todos os meus cigarros e entrei pra batalha.
Nos 3 primeiros dias sem fumar, quase morri de nervoso. Tive tremores e sonhava com cigarro, tive crises de mal-humor e precisei ir embora de uma baladinha para não bater em alguém. Chorei de desespero. Nas piores horas, visualizava a graduação, o calção verde, visualizava a sala da casa da Lu, imaginava minha voz mais limpa.
Quando ia correr, na tentativa de substituir a vontade de fumar pelo exercício, parecia que estava correndo de mim mesma – uma Eu ex-fumante fugia da fumante inveterada, como diabo foge de água benta. Terminava a corrida e ficava desesperada pra fumar. Só falava nisso. Tratei mal as pessoas à minha volta. Fumei um milhão de cigarros apagados (meu querido Apagadinho, como a Pri bem explica no seu último post).
Os dias subsequentes foram mais suaves. Livre da dor de cabeça, procurei outras coisas pra substituir o hábito. Nas horas mais críticas, tomava litros de água e cantava sem parar, e a vontade de fumar logo passava. Voltei a fazer origamis e comecei a fazer mosaicos com minha irmã e a Pri, na tentativa de conseguirmos descolar algum dinheiro expondo as peças na pousada do Rafa e no estúdio do Ick, e descobri que o artesanato é uma terapia fantástica pra quem está ansioso.
Houveram desafios. TODAS as minhas amigas fumam. As de Sampa e as da praia. Aliás, o mundo fuma. E fuma perto de mim (por enquanto ainda acho gostoso). Ao contrário das outras tentativas feitas anteriormente, não parei de tomar cerveja, nem de tomar café, nem de encontrar as amigas. Já que é pra ser difícil, que seja de uma vez!
E DEPOIS DA TEMPESTADE...
Hoje completo exatos 10 dias sem fumar. Ando orgulhosa das minhas conquistas, e esta, em especial, merecia até uma comemoração! Comemorei – hoje de manhã passei litros de hidratante Victoria Secrets, e é maravilhoso perceber como, mesmo horas depois, um não-fumante ainda está cheiroso.
Não fumante não tem bafo, as mãos não fedem, o quarto de dormir é inodoro e o bolso agradece (façam as contas: R$3,25 X 30 dias: R$97,50 por mês!!!). Sensei Rato então ficou feliz da vida e a graduação já está garantida!
Só pra concluir, não pretendo virar ex-fumante mala... o cigarro é uma delícia e todo mundo que fuma sabe disso, não importa que tenha parado há não sei quantos anos. O cigarro é um puta companheiro e eu bem sei que ele alivia qualquer tensão, qualquer fome, qualquer espera em fila, qualquer ódio no trânsito. O cigarro é um amigão.
Mas cigarro é droga e vicia. Cansei de depender dele, como cansei de depender de um monte de coisas externas a mim mesma. Então não tem jeito, a não ser sentir saudades – e, às vezes, aquela vontade louca de fumar um maço inteiro.
O bom é que, como diz a Pri, vontade dá e passa! Já a consciência... ah não, senhores, essa permanece inabalável! Um dia de cada vez... para o alto e avante!!
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* A carta pode ser lida na íntegra em
4 comentários:
Queeee orguuuulho!!!!
PARABÉNSSSSSS!!!
Agora você tem cheirinho de Nana!!! Estou mto feliz por vc e esta conquista é realmente gigante! Tenho certeza!
Só um adendo: talvez eu seja uma única amiga em meio a tantas que não fuma... hehehe
Mil bjocas cheias de saudade =)
BOA Naninha!
Graduada, com saúde e feliz da vida!
Vai com tudo garota!
BJOK!
Queridíssima!
Se vc estiver produzindo origamis e mosaicos proporcionais a dois maços/dia já-já teremos de organizar uma mostra das suas produções no MUBE...rsrs
Para qualquer grito ou emputecimento pós-fumante, tô na área...rs
BJO!
Todas as suas amigas fumam??
Credo me excluiu!! Eu nao fumo! E comemoro um ano de ex fumante no mes que vem!
welcome to the time!
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