segunda-feira, janeiro 12, 2009

A falta

Já faz quase um ano da felicidade de nós dois
E eu já não sinto saudades dos meus tempos de você
Daquelas noites compridas
Dos sonos mal dormidos
Dos dias intermináveis
Das horas arrastadas em mim
Dos banquetes de migalhas
Do coração amargo na boca
Do estômago na minha garganta
Amor meu, eu não sinto mais falta de você
Mas sinto sim falta de mim
E dos meus sonhos desfigurados
E das fantasias que lacro no peito
Da serenidade dos meus planos
Da coragem de saltar das alturas
Da minha velha fé no futuro
Do meu eterno sorriso debochado
O nosso fardo, meu amor, de repente pesou demais
(Eu o retirei dos ombros pra poder respirar em paz)
Hoje em dia só sinto saudades naquelas noites sem lua
Meu peito paralisa de escuridão
O respirar congela e congela
A solidão entra pela porta dos fundos
E me surpreende nua
Meu bem, a falta não é de você
A falta sequer é de mim
A falta é do que sonhei
Do que acreditei enfim
E que agora enterro nos porões sujos da memória
Essa minha velha senhora a me zombar do passado
Usando truques de feitiçaria
Eu te varro pra debaixo do tapete
E finjo que você jamais existiu
Amor, o que eu sinto falta em você
É a parte que você roubou de mim
A que sente saudade de ter saudade
E daquela saudade que jamais tem fim.

Um comentário:

Luli disse...

Lindo texto... o legal é que a melancolia impressa nele, sinaliza que a limpeza começou! Vamos à faxina :-)