quarta-feira, dezembro 31, 2008

A Carta

"Querida Ana,
Perdoe-me por lhe escrever somente no último dia do ano! As correrias desta grande família por vezes me impedem do que realmente desejo!
Todos estao bem neste fim de ano. Todos com saúde. (Diana e Laura ainda brigam de vez em quando, como normal das criancas. Maria ainda fala pouco.)
O ano foi conturbado. Sinto pela minha ausência! Aline deu um bocado de trabalho - adoeceu a coitadinha. Disseram que eram os nervos. Imagine você que, lá pelo mês de abril, a pequena chegou a atravessar avenidas inteiras sem olhar pros lados, somente em mangas de camisa e shorts curtos de lycra. As soquetes, nos pés, já estavam marrons! Havia enlouquecido! Foi necessário o trabalho em conjunto de familiares e amigos para livrá-la da angústia (obviamente, foram necessários também medicamentos). Após ter sido depositado muito amor em seu partido coração, recuperou a sanidade. Vez por outra, apesar de ainda medicada, tem recaídas, e portanto mantenho constante vigília - a pobre ainda chora a noite, atormentada por pesadelos terríveis.
O divórcio de Aurora foi a notícia. Todos demos Aleluia por ela ter dito adeus àquele obtuso! Agora, parece estar desfrutando dos prazeres de sua libertação - retomou o gosto pela leitura e pela filosofia (pensa em voltar aos estudos no ano que vem), passa tardes com os grandes pensadores (receio estar se tornando um pouco solitária), caminha todos os dias ao som de melodias orientais. Se deseja saber, pensa em sa casar novamente!
Amanda iniciou aulas de música - o canto, creio eu, tem sido seu grande aliado e assim realiza fantasias de infante, pois recordo-me de te-la flagrado, ainda pequena, alguns pares de vezes imitando artistas famosos defronte o espelho. Sua voz me parece mais bela (pende mais para os agudos), e mais limpa também após ter largado de fumar aquelas horrorosas cigarrilhas prateadas que lhe empesteavam os cabelos.
A pequena Ariadne recebeu gradução positiva naquela arte marcial que insiste em praticar. Não vejo com bons olhos que ela tenha se inscrito num novo torneio - será que a tomo por frágil demais, minha amiga? Temo pelas dores que observo que sente com frequência. Observei lesões em ambas as mãos. A sua terapeuta (você sabe que ela sempre foi dada a agressividade) define minha cisma como infundada - me recomenda paciência e compreensão. Parece que esta aí uma boa forma de extravazar seus impulsos por vezes auto-destrutivos.
Em especial, é o menino Andre denota mais cuidados. O autismo ainda parece irreversível. Ainda não responde direito aos comandos, se mostra assustado diante de qualquer estímulo meramente positivo. Elogios o embaraçam a ponto de tornar-se intratável, demonstrações de afeto o constrangem. Ainda nao sabe abraçar.
O cuidado com minhas crianças exigem-me bastante energia - Deus sabe o quanto preciso pensar antes de ceder-lhe os coloridos caprichos, ou me torno escrava de meus próprios afetos e gentilezas! Querida Ana, se lhe parece estranho que eu me ausente deste longo e tedioso relato, suplico-lhe que não te preocupes. Ando bem. Extenuadas as forças, e claro, dormindo pouco. Os mantras de Mestre Lanto me aquecem a alma, mas o espírito anda inquieto - creio serem os desejos insatisfeitos que rogam para serem atendidos.
Recentes acontecimentos agitaram-me por dentro. Descobri (mascarados, e claro) sentimentos há muito adormecidos, que agora, entre flores e olhares de soslaio, bocejam e procuram se espreguiçar. Bom sentir-me acesa novamente - muito embora não tenha confessado minhas emoções, só o despertar do coração por si só ja basta para acolher um interior outrora magoado - o resto, creio ser o Destino o responsável encarregado.
Perdoe-me a pressa na despedida e as falhas na pontuação - o peixe está no forno e Adriana grita por mim. Parece que algum bicho a picou e agora ela pede por sorvete! Ah, as crianças, sabidas na arte de seduzir, com seus olhinhos molhados e lânguidos, queixinhos trêmulos e bracinhos estendidos...
Lá vou eu. Desejo a ti, cara amiga, meus votos de um feliz ano-novo, com tudo o que a vida te reserva de mais colorido.
Com rosas vibrações e muito amor,
Paula"

3 comentários:

Anônimo disse...

Beijos moça! adorei a carta ^^

Marcello Fiore disse...

Queridas Ana e Paula,

Por felicidade tenho notícia de ambas ao mesmo tempo, e me regozijo com tantas novidades e balanços pessoais positivos para o ano que se foi.

Apesar de eu conscientemente saber das bobageiras de ano novo, já que mais um giro completo da terra em torno do sol não irá mudar o destino da humanidade, confesso que me espanto positivamente com a oportunidade de renovação que todos se permitem nessa época, e desse sentimento partilho alegre, para que vocês duas tenham um ano de 2009 maravilhoso, assim como todos os demais anos depois dele.

Apenas peço que permaneçam, Ana e Paula, cada uma com suas características e anseios, exatamente como são, pois vocês duas juntas são simplesmente sensacionais!

BEIJO ENORME!

Marcello.

Fernanda Rossinih disse...

Querida Nana,
Sei que andei ausente no impetuoso ano que passou. Não sei se por conta do alinhamento dos planetas, a numerologia ou o feng shui, a minha vida mudou.
Creio que existe a sua compreensão visto que você precisou visitar os mundos de Ana e Paula que estavam agitadas também.
No meu antigo caldeirão novas fórmulas estao em ebulição. Descobri novas fontes de luz, pitadas de sabedoria e paciencia.
Meu tino pros negócios estão a toda prova, e devo dizer que ando tendo idéias.
Agadeço a ligação de Feliz Ano Novo, admito que não estava esperando.
Infelizmente ainda tenho expectativas, mania minha de querer ser amada e aceita.
Dispensei minha terapeuta mas me inscrevi em cursos que considero de melhor ajuda pra minha alma. Não sei se minha mente tem cura.
Espero que no ano que se inicia, Paula e Ana possam viver em harmonia.
Te espero pra um café qualquer dia desses.