domingo, fevereiro 28, 2010

É pra frente, jão!


E tem gente que ainda se pergunta qual é o sentido da vida...

quinta-feira, fevereiro 25, 2010

"O problema é meu"



Um sábio chinês estava sentado no alto do mosteiro, meditando, quando o novo discípulo chega, afobado:

- Mestre, mestre, houve um problema!

O mestre, calado, sequer abre os olhos.

- A nova servente do mosteiro, que me ajuda nas tarefas diárias, diz que não virá mais!

O mestre respira fundo, e finalmente abrindo os olhos diz:

- Creio que esse é um problema seu – e fecha novamente os olhos.

O discípulo não se dá por vencido:

- É que ela diz estar grávida!

O mestre respira fundo novamente, e sem abrir os olhos diz:

- Então creio que este é um problema dela.

- Mas mestre... ela diz que o filho é seu!

O mestre respira fundo lentamente, e por fim abre os olhos, encarando o discípulo:

- Creio então, discípulo, que este é um problema meu.

Fecha os olhos.

Fim de papo.

terça-feira, fevereiro 23, 2010

Equipe


Assistindo às provas das Olimpíadas de Inverno, me deparei com a patinação artística em duplas. Um show de sincronia. Fiquei pensando que talvez relacionar-se requeira as mesmas habilidades que requer a patinação conjunta: sincronia, parceria. É equipe. Quando o outro desequilibra, o parceiro investe seu próprio equilíbrio para salvá-lo da queda. Se o outro escorrega, o parceiro compensa. Quando um se joga, confia na força e destreza do outro. E se por acaso eles fracassarem no final, por causa do deslize de apenas um deles, o outro há de consolá-lo, e juntos lambem as feridas – sabem que o problema de um é problema dos dois, não há um culpado. São equipe.

quarta-feira, fevereiro 17, 2010

O cultivo das 10 perfeições - parte II



Como eu vinha dizendo no meu último post, as 10 paramis (perfeições) nos auxiliam em nosso caminho rumo à felicidade. E apesar deste caminho ser bem mais complexo do que parece ser, encontrei muito sentido ao pensar nestes quesitos, os quais agora compartilho com vocês.

Banthe Buddharakkitha, na última quinta-feira, iniciou sua palestra falando sobre ENERGIA. Energia para mudar, para evoluir, para fazer o que deve ser feito. Quantas e quantas vezes nós conseguimos perceber que algo deve ser feito, mas nos sentimos sem o menor pique? Banthe alertou: para termos energia, precisamos ter urgência! Urgência espiritual, surgida a partir de reflexões profundas e diárias sobre nossa vida e sobre a efemeridade das coisas. Pense honestamente: se sua casa estivesse pegando fogo, você demoraria a sair correndo? Pegaria sua blusa preferida, tomaria um café? Acho que não. Então por que, diante das coisas que sabemos que precisam ser feitas, demoramos tanto a agir? Se não estamos felizes, por que não agir agora?

Ter energia não significa apenas aquela empolgação inicial, não basta resolver sair da casa e ir até a porta. Você deve atravessá-la. A energia precisa ser sustentada ao longo do tempo, havendo a DETERMINAÇÃO heróica de jamais parar no meio do caminho – e é claro que, para isso, nossas metas devem ser realistas e nossos objetivos claros. Ser determinado é ser imperturbável, é ser resoluto. Ainda no clima de ano-novo, pense por um momento na palavra “resolução”. É verdadeiramente se RESOLver por uma soluÇÃO. É uma escolha, que quando feita internamente, bota pra quebrar. É fogo suficiente para “ferver”, ao invés de permanecer morninho.

É preciso ser consistente! Mas também é preciso ser paciente com nós mesmos e com o mundo. A PACIÊNCIA é a aceitação sábia das coisas como elas realmente são, e reconhecer que somos imperfeitos é uma atitude sábia. Portanto, não importa o quanto tenhamos dificuldade, ou o quão lentamente caminhemos: desde que seja para frente, é válido. Afinal, tudo é apenas percepção, nada do que pensamos é, de fato, a realidade... então por que se incomodar e se impacientar tanto com as coisas, ao invés de simplesmente observar as coisas sob uma outra ótica, livre da raiva? Banthe alertou: por detrás da impaciência está a raiva, meus amigos...

E por falar em realidade, como pode ser difícil apreendê-la quando somos condicionados, desde pequenos, a ver as coisas em sua superfície... enxergar a VERDADE é um grande desafio... falar a verdade, agir com a verdade, sentir a verdade. Tudo isso elimina a ansiedade e as tensões, elimina os conflitos mentais e nos torna mais sábios, livre das ilusões. É claro que existem verdades relativas (você chamaria de mentiroso alguém que te diz que o sol “nasceu” às 6 horas?) e absolutas (todo mundo sabe que o sol não “nasce”, ele simplesmente aparece). Mas a verdade última, livre dos condicionamentos, das ilusões fabricadas pelos nossos sentidos, que independe de conceitos ou de imaginação, é o objetivo final daqueles que realmente desejam se iluminar. Perguntei ao Banthe como enxergar essa verdade final: “você deve meditar com sinceridade, com plena atenção”, ele me respondeu.

Sinceros também devem ser nossos sentimentos. Praticar a BONDADE AMOROSA com sinceridade, e não pra inglês ver, pode ser uma tarefa árdua. Praticar a empatia e ver o amor como uma habilidade pode ser algo novo; amar verdadeiramente todos os seres (não só os humanos) traz amor de volta a quem ama. É a lei da vida, é a lei do Dharma. Amar de verdade não é difícil, é natural do ser humano – devemos criar pontes entre nós, nunca cercas.

Pode ser difícil amar de verdade e conseguir equilibrar tantos sentimentos diferentes. A EQUANIMIDADE é um conceito dificílimo de praticar, especialmente quando as pessoas podem se magoar tão seriamente. O amor deve ser igualmente equilibrado – não se pode confundir com apego, com posse. O afeto entre os seres deve ser equilibrado, assim como nossos estados mentais. Tudo que é excessivo é prejudicial. Devemos tentar praticar a equanimidade sempre que nos vemos “tomados” por sentimentos desconfortáveis – a estabilidade é o objetivo final, e reconhecer a impermanência eterna das coisas ajuda a manter a mente equilibrada.

A ordem de prática destas perfeições pouco importa – a não ser que você queira ser um Buda, aí talvez você deva praticar fervorosamente uma por vida. O importante mesmo é exercitá-las todos os dias com sinceridade, mesmo que seja um pouquinho – gota por gota vamos enchendo nosso potinho de felicidade, nos focando no presente e no que temos, em vez de sempre desejar mais e focar no que não temos.

Qualquer pote, seja pequeno, grande, de boca larga ou estreita, qualquer pote MESMO sempre fica cheio um dia, se as gotas não pararem de pingar. Sejamos determinados, pacientes, e façamos tudo com energia e amor, no caminho da verdade e do equilíbrio. Esta é a receita de Buda que, através do Banthe, se fez chegar nos meus ouvidos: menos drama, mais Dharma!

Namastê!

quarta-feira, fevereiro 10, 2010

O cultivo das 10 perfeições



Esta semana, motivada pela sensação de que algo deveria ser feito sobre minhas oscilações emocionais, meti as caras e fui a uma palestra oferecida pela Casa de Dharma, com o Venerável Monge Banthe Buddharakkitha (foto). Não sou budista, mas sendo simpatizante, me interessei pelo tema: O Cultivo das 10 perfeições. Sem saber meditar e não fazendo a menor idéia das diferenças entre o Budismo Theravada e o Budismo Chinês, lá fui eu na palestra na maior expectativa.

A idéia era fascinante: uma vida feliz envolve necessariamente 10 características, e é necessário se adotar uma determinada postura em relação a cada uma delas. O raciocínio é muito simples: cultivando cada item e mantendo a postura correta sobre eles, o resultado produzido é felicidade. Acreditei piamente: alguém já viu monge deprimido? Ansioso? Com compulsão alimentar?

Neste primeiro dia de palestra, fiquei absolutamente encantada, a começar pela figura do Banthe. A Renata já tinha me dito pra eu atentar pra postura destes monges theravada, e de fato fiquei impressionada: era a imagem da tranqüilidade, era uma pessoa realmente FELIZ. Senti uma extrema paz e confiança vindo dele, alguém que eu realmente gostaria que estivesse dentro da minha vida, da minha casa, do meu círculo de amigos. Alguém em quem me espelhar.

Foram abordadas 4 perfeições: generosidade, ética, renúncia e sabedoria. Tendo como base a idéia de que a felicidade real está no momento presente, e que nosso sofrimento advém dos desejos excessivos ou inapropriados (donde vem a expectativa, e por conseqüência, a frustração), começou a fazer todo o sentido do mundo o que de fato acontece aqui dentro de mim.

Ser generoso faz bem e traz satisfação, alegria, tranqüilidade e então felicidade. Felizes, estamos concentrados e aptos a continuarmos felizes. Mas doar não é o mesmo que abandonar – a generosidade está ligada à renúncia, e não apenas de bens materiais. Quando renunciamos ao material, estamos renunciando à cobiça, à ilusão de que nossa felicidade está fora de nós, nas coisas que possuímos.

Também é necessário renunciar a alguns sentimentos – abrir mão da raiva e dos sofrimentos que nós mesmos criamos! E é claro que determinados sofrimentos advém de fatores externos, mas cabe a nós, novamente, decidir cortar ou manter tais fatores nocivos em nossa existência.

No fundo no fundo, tudo acontece apenas dentro de nós. E dentro de nós está a escolha de existir neste mundo de maneira ética e sábia. Ser sábio é perceber as coisas em seus detalhes, é refletir sobre os conhecimentos, é deixá-los penetrar nossas mentes como a chuva penetra a terra fértil. É agir corretamente não por medo da punição, mas por entender que, na lei da vida, tudo o que fazemos fatalmente se voltará contra nós, o que não tem nada a ver com a tranqüilidade e felicidade.

Fiquei absolutamente encantada com a palestra e realmente motivada a aprender mais sobre o assunto. Ter percebido minha dificuldade em me conectar com o presente, esquecendo passado e parando de me pré-ocupar com o futuro, me fez acordar para a MINHA mais Nobre Verdade: ser feliz só vai depender de mim, e está mais do que na hora de eu me responsabilizar por esta missão.

PS: Este post não teve a intenção de propagandear nada: os links e elogios são por conta própria e foram colocados na intenção de espalhar o Dharmma por aí – mais um dos passos do caminho da felicidade :)

PS2: No fim da semana vai acontecer a segunda parte da palestra. Volto aqui e conto tudo.

segunda-feira, fevereiro 08, 2010

Maktub


Já começo a sentir o calor e a brisa morna que virá daquele deserto. Em meio à urbe paulistana, me pego pensando em camelos, em ouro e prata, em areia e turbantes, em bailarinas usando véus. Conforme o tempo se acelera, me impulsionando rumo ao meu grande sonho, descargas de adrenalina se fazem sentir quando percebo que, afinal, uma parte de mim já está lá.

Cada vez mais possível, mais provável, hoje definitivo: maktub, irei me embrenhar naquele deserto! Irei caminhar por suas areias quentes, irei me calar frente à magnitude de suas pirâmides, irei chorar à beira do Nilo. Irei me banhar em suas praias que tantas e tantas guerras presenciaram, e que tantas e tantas vezes imaginei em minha cabeça. Irei abaixar minha cabeça em reverência a este povo pobre de posses, rico em história, milionário em cultura.

Poderei enfim verificar se minha alma vem de fato dali, se em Luxor e Karnak reconhecerei seus antepassados, se o cheiro do Sahara é como sempre imaginei. Testarei meu paladar procurando reconhecer antigos sabores; fecharei os olhos para ouvir apenas música - que os solos de Derbak tragam para mim as bençãos daquela terra, que já começo a senti-la aqui dentro de mim, nos quase 40 graus desta minha metropolitana São Paulo...

quinta-feira, fevereiro 04, 2010

Catarse

Hoje, quando chorei, pensava que chorava por alguém. Engano meu, este de colocar sempre fora de mim, os demônios por exorcizar. Hoje chorei e achei ser por alguém, mas chorei ainda mais quando, num misto de medo e vergonha, vi que não era assim. Pois se hoje chorei, e não foram poucas as lágrimas, chorei de verdade por mim, e chorei de amor e de pena de todos aqueles que choram sozinhos. Chorei por estar chorando só, sem um braço para me acalmar. Chorei por todas as perdas, todos os lutos, todos os anos e anos idos. Por tudo o que um dia sonhei ser e que jamais fui. Chorei por perceber, ingênua que sou, que achei que não ia mais sofrer quando alegre eu ficasse, por achar que seria sempre perfeito quando as dores cessassem, por acreditar na fórmula mágica dos amores de curam feridas de outros amores. Chorei ao ver em mim tamanhas incapacidades. Hoje chorei e foi por mim, por mim e por mais ninguém. Por ter finalmente descoberto que a vida não poupa nenhum de nós e que as regras deste jogo nem sempre são estabelecidas no começo da partida. Não importa o quanto acreditamos que um dia tudo ficará bem, um dia nos pegaremos chorando, e acharemos que é por alguém, e iremos sentir certa pena de nós mesmos. E iremos chorar mais ainda, não serão poucas as lágrimas, quando por fim descobrirmos que choramos pela nossa vaidade, por estarmos surpresos que o jogo que estamos jogando simplesmente mudou de nome - possui por fim novas regras, novas e confusas regras que alguém esqueceu de nos contar...

terça-feira, fevereiro 02, 2010

Buraco Negro


Tenho me sentido completamente louca. Instável, volúvel, frágil de verdade. Quero coisas, mas quando elas aparecem, já não quero mais. Em outros momentos, odeio fazer algo, mas quando me surge a oportunidade ideal de interromper isso, me falta força pra sair da inércia e da mesmice. Rejeito algo sentindo culpa e gritando ao mundo que não é um abandono, mas quando este algo concorda comigo, me sinto rejeitada. Quero vencer na vida, mas ao menos sei o que esta vitória significa. Desconheço o troféu. Me paralisa ver as águas desta correnteza avançarem velozes, enquanto tenho medo. A ansiedade me destrói quando percebo que estou nadando lentamente demais. Me sinto mal. Me sinto carente a maior parte do tempo, me sinto rejeitada a maior parte do tempo. Sei que isso tem pouca, ou talvez nenhuma, ligação com a realidade. Tudo se passa aqui dentro de mim, buraco negro. Nenhum afeto que chega é suficiente. Às vezes me pergunto se é o formato, se é o tamanho, se é o tipo. Parece-me que chave nenhuma encaixa nesta fechadura. Tenho expectativas imensas sempre a respeito de tudo. É lógico, estou sempre carente, e os carentes são os que mais esperam, e geralmente os que mais se frustram. Mas como é difícil não criar expectativas quando tudo o que te traz esperança é a possibilidade de mudar. Mudar e ao mesmo tempo permanecer sempre a mesma. Mudar e me redescobrir por completo. Mudar e voltar a ser, com serenidade, aquela que sempre fui, mas que de alguma forma, deixei de ser há muito tempo.