Como eu vinha dizendo no meu último post, as 10
paramis (perfeições) nos auxiliam em nosso caminho rumo à felicidade. E apesar deste caminho ser bem mais complexo do que parece ser, encontrei muito sentido ao pensar nestes quesitos, os quais agora compartilho com vocês.
Banthe Buddharakkitha, na última quinta-feira, iniciou sua palestra falando sobre
ENERGIA. Energia para mudar, para evoluir, para fazer o que deve ser feito. Quantas e quantas vezes nós conseguimos perceber que algo deve ser feito, mas nos sentimos sem o menor pique? Banthe alertou: para termos energia, precisamos ter urgência! Urgência espiritual, surgida a partir de reflexões profundas e diárias sobre nossa vida e sobre a efemeridade das coisas. Pense honestamente: se sua casa estivesse pegando fogo, você demoraria a sair correndo? Pegaria sua blusa preferida, tomaria um café? Acho que não. Então por que, diante das coisas que sabemos que precisam ser feitas, demoramos tanto a agir? Se não estamos felizes, por que não agir
agora?
Ter energia não significa apenas aquela empolgação inicial, não basta resolver sair da casa e ir até a porta. Você deve atravessá-la. A energia precisa ser sustentada ao longo do tempo, havendo a
DETERMINAÇÃO heróica de jamais parar no meio do caminho – e é claro que, para isso, nossas metas devem ser realistas e nossos objetivos claros. Ser determinado é ser imperturbável, é ser resoluto. Ainda no clima de ano-novo, pense por um momento na palavra “
resolução”. É verdadeiramente se RESOLver por uma soluÇÃO. É uma escolha, que quando feita internamente, bota pra quebrar. É fogo suficiente para “ferver”, ao invés de permanecer morninho.
É preciso ser consistente! Mas também é preciso ser paciente com nós mesmos e com o mundo. A
PACIÊNCIA é a aceitação sábia das coisas como elas realmente são, e reconhecer que somos imperfeitos é uma atitude sábia. Portanto, não importa o quanto tenhamos dificuldade, ou o quão lentamente caminhemos: desde que seja para frente, é válido. Afinal, tudo é apenas percepção, nada do que pensamos é, de fato, a realidade... então por que se incomodar e se impacientar tanto com as coisas, ao invés de simplesmente observar as coisas sob uma outra ótica, livre da raiva? Banthe alertou: por detrás da impaciência está a raiva, meus amigos...
E por falar em realidade, como pode ser difícil apreendê-la quando somos condicionados, desde pequenos, a ver as coisas em sua superfície... enxergar a
VERDADE é um grande desafio... falar a verdade, agir com a verdade, sentir a verdade. Tudo isso elimina a ansiedade e as tensões, elimina os conflitos mentais e nos torna mais sábios, livre das ilusões. É claro que existem verdades relativas (você chamaria de mentiroso alguém que te diz que o sol “nasceu” às 6 horas?) e absolutas (todo mundo sabe que o sol não “nasce”, ele simplesmente aparece). Mas a verdade
última, livre dos condicionamentos, das ilusões fabricadas pelos nossos sentidos, que independe de conceitos ou de imaginação, é o objetivo final daqueles que realmente desejam se iluminar. Perguntei ao Banthe como enxergar essa verdade final: “
você deve meditar com sinceridade, com plena atenção”, ele me respondeu.
Sinceros também devem ser nossos sentimentos. Praticar a
BONDADE AMOROSA com sinceridade, e não pra inglês ver, pode ser uma tarefa árdua. Praticar a empatia e ver o amor como uma habilidade pode ser algo novo; amar verdadeiramente todos os seres (não só os humanos) traz amor de volta a quem ama. É a lei da vida, é a lei do Dharma. Amar de verdade não é difícil, é natural do ser humano – devemos criar pontes entre nós, nunca cercas.
Pode ser difícil amar de verdade e conseguir equilibrar tantos sentimentos diferentes. A
EQUANIMIDADE é um conceito dificílimo de praticar, especialmente quando as pessoas podem se magoar tão seriamente. O amor deve ser igualmente equilibrado – não se pode confundir com apego, com posse. O afeto entre os seres deve ser equilibrado, assim como nossos estados mentais. Tudo que é excessivo é prejudicial. Devemos tentar praticar a equanimidade sempre que nos vemos “tomados” por sentimentos desconfortáveis – a estabilidade é o objetivo final, e reconhecer a impermanência eterna das coisas ajuda a manter a mente equilibrada.
A ordem de prática destas perfeições pouco importa – a não ser que você queira ser um Buda, aí talvez você deva praticar fervorosamente uma por vida. O importante mesmo é exercitá-las todos os dias com sinceridade, mesmo que seja um pouquinho – gota por gota vamos enchendo nosso potinho de felicidade, nos focando no presente e no que temos, em vez de sempre desejar mais e focar no que não temos.
Qualquer pote, seja pequeno, grande, de boca larga ou estreita, qualquer pote MESMO sempre fica cheio um dia, se as gotas não pararem de pingar. Sejamos determinados, pacientes, e façamos tudo com energia e amor, no caminho da verdade e do equilíbrio. Esta é a receita de Buda que, através do Banthe, se fez chegar nos meus ouvidos:
menos drama, mais Dharma!
Namastê!