quarta-feira, junho 27, 2007

Body, for sure!

Por um minuto apenas, parei de pensar tanto na mente e parei pra observar um pouco o corpo. O corpo, a matéria, o que nos conduz concretamente aonde queremos chegar. Da maneira que queremos chegar.






Fala-se tanto do poder do pensamento, do potencial criativo de nossas mentes, da importância de nossas tão frequentes distorções cognitivas (ah, essas eu conheço bem!), do quanto nossa cabeça pode produzir o bem e o mal, que se esquece daquele que tão comumente padece sob a complexidade enorme de nossas crenças e formas de pensar.

O corpo somente é lembrado quando adoece, ou quando não se enquadra no estereótipo tão rígido construído pela nossa sociedade com o passar dos tempos. Então reclamamos.

Parei pra olhar o meu corpo. O que ele diz sobre mim? O que minhas desordens orgânicas traduzem sobre a minha pessoa? Que sinais carrego ao longo dos anos que fazem de mim justamente quem sou?

Olho meus olhos. Uma miopia galopante quase os cega. Não é exagero, carrego 8 insuportáveis graus de miopia em cada um deles. É verdade que são verdes, minha cor favorita, mas são olhos deficientes, assim como meus olhos internos, que teimam em enxergar tudo sempre meio borrado, meio distorcido. São olhos que vêem somente aquilo que conseguem. Limitados. Literal e simbolicamente, parece que tenho uma visão curta das coisas, quando estas dizem respeito a mim ou ao meu redor.

O que dizer então do meu nariz? Vive entupido. Vive sempre a fungar, obra de uma rinite alérgica crônica, que me acompanha já há alguns anos, e que sempre foi o primeiro pretexto escolhido quando era pega chorando. Chorando? Nããão, rinite! Ah tá... O nariz entupido dificulta minha respiração, a deixa mais curta... ansiedade?

Minha boca nunca teve aquela curvinha no lábio superior, nunca teve formato de coração. São lábios grossos, e a falta desta curvinha às vezes deixa meu semblante um pouco duro. Em conjunto com as sobrancelhas, sempre franzidas, completam um visual quase que intrigado, como se um ponto de interrogação pairasse sobre minha cabeça. Desconfiada? Sim, sempre... Isso sem contar o bruxismo, que deixou meus dentes do fundo bem desgastados com tamanho atrito. Sim, estou em constante estado de tensão, de alerta... e meu sono nem sempre é tranquilo.

Hoje já percebo algumas rugas no rosto, apesar de ter apenas 24 anos. Tão jovem! Mas acolho estas rugas como sinais de uma vida de glórias: tenho marcas de expressão na testa, na lateral dos lábios, alguns pés de galinha também hoje podem ser vistos. Resultado de sempre ter feito caras e bocas, e de sempre ter rido, mas rido muito, rido de doer as bochechas, que também sempre foram grandinhas. Rugas, marcas do quanto de alegria ou tristeza carregamos.

Meus ombros são cobertos por sardas e pintinhas, algumas mais claras, outras bem escuras. Ai, que me arrependo de não ter usado protetor solar como mamãe me ensinou! Dá pra ver que a pele dos ombros está um pouco castigada... sempre tomei sol demais, e sempre passei hidratante de menos. São ombros de quem viveu com o mundo, e o sol, nas costas, sem medo. Medo de menos.

Minhas mãos são tortinhas, os dedos um pouco calejados do judô, de tanto agarrar kimonos. Da mesma forma, procuro agarrar com força as oportunidades da vida, mesmo que às vezes elas sejam doloridas. Também tenho alguns machucados constantes em minhas mãos, frutos do kickboxing praticado religiosamente todas as terças e quintas. Tantos socos acabam deixando a pele um pouco endurecida... Coitadas das minhas mãos... anos atrás tive um problema sério nas unhas. Elas pararam de crescer, sangravam as cutículas... e depois de passar por 5 dermatologistas, acabei fazendo terapia. Após 3 anos, as unhas voltaram a crescer, estão bonitas e sempre cuidadas. É... acho que precisava mesmo botar as garras pra fora em algumas circunstâncias, treinar minha agressividade, e prestar mais atenção à minha feminilidade um pouco escondida depois de anos de insegurança.

Nunca tive seios grandes, o que me trazia um pouco de vergonha na época do colégio. Ainda hoje uso sutiãs com bojo, mas bem pouquinho, só pra dar uma graça. Reclamava que só. Hoje gosto deles. São proporcionais ao tamanho da minha potencial maternidade: um dia poderão crescer e alimentar aquele de mim sairá, sem peso adicional nenhum.

Tenho uma cicatriz na barriga, não muito grande, mas um pouco funda, mal-feita. Resultado de uma apendicite aos 7 anos de idade. Dizem que o apêndice não passa disso: um apêndice, sem função nenhuma. Talvez um dia, em nossa escala evolutiva, tenha servido pra algo, mas hoje, necas: arrancaram-no fora. Hoje também me vejo retirando apêndices desnecessários da minha vida, que só servem para inflamar e me deixar de cama. Para fora com o trivial, mesmo que deixe marcas! Gosto da minha cicatriz. Não deixei que tatuassem por cima. Cobrir o que? Ela já faz parte de mim. Uma tatuagem natural.

Quadris e coxas largos, tenho desde pequena. Me levaram a muitos lugares, me salvaram de tombos homéricos! Minhas pernas fortes me permitiram correr quando isso foi necessário, e doeram quando me excedi. Hoje confio de que sempre me levarão mais longe: elas aguentam.

Tenho os joelhos um pouco estragados, dóem quando faz muito frio, ou quando vai virar o tempo. Um termômetro natural, um preditor do tempo. Gosto deles. São tortinhos e com algumas cicatrizes, mas são meus. Tenho um amigo, 18 anos apenas... um problema sério no joelho está causado atrofia de sua perna direita. 18 anos! Apenas 18! Sabe... amo meus joelhos, mesmo não tendo motivo algum.

Sempre odiei pés, acabei tatuando o meu pra amá-lo um tiquinho, acabei por venerá-lo. É a tatuagem que mais gosto, que mais gosto de mostrar. Ela diz: Conhece-te a ti mesmo! E sinto que meus pés me conduzem aos locais onde mais me encontro, onde mais acabo conhecendo de mim mesma. Nosce te ipsum, conhece-te a ti mesmo, e a teus pés também.

Sei que apontei aqui punhados de defeitos físicos. Não tenho a intenção de parecer ingrata, sou muito abençoada por ter saúde. Claro que sempre vamos encontrar defeitos... é a barriga que não é lisinha, um pouco de celulite na bunda... mas ora, convenhamos, existe coisa mais feminina do que celulite?? Que se dane a celulite das pernas, amo ter pernas! Alguém aí já parou pra pensar em como é bom ter pernas?? Ou em como é a vida de alguém amputado? Deus... reclamamos tanto, sem pararmos pra pensar em como nosso corpo é sagrado.

Ficamos com preguiça de levantarmos a bunda da cadeira; maltratamos a nós mesmos entupindo nossas veias de gordura, nossos pulmões de fumaça, nosso cérebro com drogas devastadoras... algumas vezes nossos braços servem apenas para levar o cigarro ou a cerveja à boca. Puxa... e quando os braços doerem? E quando uma artrite impedir que tenhamos força nos punhos? Perderemos então também nossa força de vida?

Quando os músculos ficarem frágeis, quando levantar ficar difícil... desistiremos da luta? Quando nossos cabelos ficarem grisalhos... nos entregaremos à velhice? Perderemos também o colorido da vida? E quando nossos corações falharem... nossa capacidade de amar será prejudicada?

Hoje eu resolvi me amar... e amar meu corpo mesmo ele tendo tantos defeitinhos, tantos probleminhas que, na visão do todo, se tornam tão irrelevantes.

Hoje eu decidi parar de reclamar da minha bunda, e cuidar do meu instrumento de vida. Dizem por aí: Mens Sana, Corpore Sano. Verdade. Mas sem nosso corpo, nosso santuário, a nossa mente também se torna prisioneira.

Porque hoje, e pelo menos por hoje, eu resolvi gostar da minha bunda, dos meus peitos, dos meus olhinhos míopes e até da minha orelha.

Porque meu coração ainda bate, meu corpo ainda se move, meu sangue corre quente nas minhas veias, e isso, pelo menos por hoje, é tudo do que preciso para ser feliz.

2 comentários:

Ick disse...

caaraaaleeeeeoooo... pensamos bem parecidos.. cara quantos defeitos.... defeitos que são perigosos pois assim colocados tao poéticamente...ficam bonitos...e suas rugas.. olha que belas rugas... 24 anos ? psico? lindona e com essa maturidade? isso sim é defeituosamente perigoso...
Brigado por me lembrar dos espinhos. grossos e venenosos... beijos
(com a permissao de mel adictionare me)
ick_2@hotmail.com

Ick disse...

será que em momento impresciso teremos a chance de sentrmos em uma pedra ?uma pedra nascida em nossa terra?uma pedra que queira escutar nossas palavras? sinto que se tem um amor pela ilha tao bonito quanto o meu... eu se Deus quiser irei domingo..kisses