sexta-feira, agosto 31, 2007

Se arrependimento matasse



Se arrependimento matasse...

Eu morreria de orgulho. Morreria de ilusão, morreria de ócio. Morreria de crenças e também de temores.
Morreria de orkut. De preguiça. De brigas e tragédias. Morreria de copos d’água, de birras e manhas, morreria de cagaços e covardias.
Morreria de receio, morreria de desviar do trânsito. Morreria de porres homéricos. De omissões e de denúncias não feitas. De injustiça. De egoísmo. Morreria de ataques noturnos à geladeira.
Morreria de falta de confiança, de falta de determinação e de menos-valia. De DR’s sem fim. De superficialidade.
Morreria de acreditar em mentiras e em verdades desnecessárias. De vinganças. De invejas. De desesperança. De tempo perdido.
De decisões adiadas, remédio não tomados, atitudes desesperadas. De conclusões precipitadas. De não ouvir a mim mesma.
Morreria de ciúmes, de dor, de amor.

Se arrependimento matasse, eu morreria de você.

segunda-feira, agosto 27, 2007

Conto de fadas


Você vem e com delicadeza me abre, para então me invadir com violência. A cada seis meses mais ou menos é assim. Você surge como uma corda ao afogado, quase no instante em que esse já se conformou com uma morte certeira.

Você me abre e diz que sou bonita. Então me relembra todos os planos que um dia fizemos. Você lembra mesmo deles? Era uma casa de frente pro mar, um cachorro e um barquinho ancorado. Talvez até alguns filhos, nossa menina chamada Catarina. Você me faz acreditar que tudo isso ainda é real, eu quase posso sentir meus pés na areia e teu cheiro ao meu lado. Mas se abro os olhos, tudo me escapa.

Você chega perto e diz que sou eu, como quem cita uma antiga poesia. Foi poesia para nós dois, mas isso já faz tanto tempo. Tanto tempo que eu meio que ainda estou lá, ainda me sinto menina, tão menina como quando te vi pela primeira vez. Nessa época eu ainda tinha inocência, era ingênua, e acreditava em fadas.

Você beijava a boca de outra, se lembra? Depois gostou só da minha, e eu gostei só da sua, e hoje já não me lembro mais como você beija. Tanta gente passou no meu caminho, tantas bocas, tantos sentidos, tantos corpos e tantas palavras. Tanta história que eu pude contar. Mini fábulas, mini crônicas, mesmo as que que chegaram a ter mais de um capítulo. A história mais linda sempre foi a sua, que eu não me canso de reler. Será história? Será ficção? Às vezes me parece mais um conto de fadas: você chega em seu cavalo branco, me resgata do alto da torre, e fugimos juntos pra Terra do Nunca. Você é quase Peter Pan, não cresce nunca, eu sou Wendy te reencontrando anos depois, e a gente meio que continua os mesmos. Eu sou a princesa que você jura amar para sempre.

Mas nosso conto de fadas é moderno. Seu cavalo foi branco por um tempo, depois tomou outras formas. Esta princesa não é mais virgem, a torre se tornou subterrânea. Outros príncipes passaram, nenhum deles achou minhas tranças, talvez eu as tenha cortado, esperando que você as preserve.

Você diz que vai lutar. Você sussurra aquilo que mais gosto de ouvir, nunca me esqueci o que já escutei um dia. Você me abre e me enche de esperança, e apaga 4 anos num piscar de olhos. O meu mal é gostar disso. O meu mal é gostar de gostar de você, é gostar da idéia de ter um romance tão lindo nas páginas da minha vida.

Quanto tempo ainda até seu jardim novamente secar? Nele plantei as flores mais belas, árvores gigantes, mas nunca pude analisar seu solo. Qual é o mês para este plantio? Qual a época certa de regar esse amor? Eu perdi minhas sementes, ou as joguei em solos áridos demais para que sobrevivessem.

Você me abre.
E me fecha.
Ao seu bel-prazer.

Me resta olhar pra tua letra, sentir tua imagem, imaginar que seu cavalo ainda corre, e esperar que minhas sementes vinguem.

domingo, agosto 19, 2007

Got it?

Quando eu te conheci eu não sabia onde estava me metendo. Acho que te vi como salvação de uma fase de ilusões, tinha que ser você de qualquer jeito, talvez assim eu me sentisse mais amada e menos incompreendida.

Eu achei que a gente tinha tudo pra dar certo, nossas cabeças combinavam, talvez até nossos estilos e bebidas preferidas, não me importava que seu corpo não fosse exatamente o que eu esperava ver debaixo daquelas roupas sóbrias, nem que ele não me lembrasse de um outro corpo menos presente. Não me importava o seu silêncio nem seu estilo de vida, só queria a confirmação de que não, o problema não era comigo.

Eu não sabia onde estava me metendo, nem vi se a piscina tinha água suficiente pra eu poder me jogar. Achei que me apaixonara, mas era mais projeção. Eu achei que fosse sentimento, mas era mais sensação, era mais a química inegável que de novo me confundiu os pensamentos. Tentei fazer com que a lógica do 1+1=2 valesse pra nós, como se bastasse nossas áreas do conhecimento serem iguais, como se bastasse o sexo ser supremo, como se bastasse eu não ver nada de errado nisso.

As contas que fizemos se revelou diferente, não é nada que eu não possa compreender, como você vi muitos por aí, até demais. Foi o pacote que me atraiu e não somente o seu conteúdo, que hoje parece surpreendentemente vago. Se eu não ligasse você ficaria com raiva mas eu sei que iria passar, você ia colocar Kiss FM e eu provavelmente De Phazz, pra ficar pensando em outras pessoas que não você que nem na sexta-feira à noite alguns minutos antes de te encontrar.

Na verdade eu não menti pra você, dormi mesmo no paraíso, mas talvez tenha sido uma meia-verdade: o paraíso não era você, era seu corpo quente do lado, era sua boca na minha, sem alma nem nome, era o momento e a tensão, mas não você. E você na minha cabeça é tão somente o meu novo vício: trata-se um cocainômano com a maconha mais forte.

Eu troquei uma droga pela outra pra aliviar os sintomas da abstinência, desculpe por em você tanta responsabilidade, não é você quem vai me salvar e eu nem espero que você possa. Na verdade esperei que você pudesse um pouquinho, como todo homem faz, com palavras em promessa, mãos ágeis e bebida à vontade, o que não achei é que tão cedo veria sua incapacidade. Não é uma crítica, você é ótimo assim mesmo, mas é um sapato grande demais pro meu pé. Você quer um divã, ou todos os divãs do mundo, eu quero a sala inteira e só ela.

Isso não é uma despedida, mas um aviso para mim mesma - “escreva menos e leia mais”. Se o mais belo for sempre o mais triste você fica pra vida inteira, pois a beleza de um momento tende a ser eternizada. Você pode fazer parte deste álbum de retratos da minha memória, basta seu corpo ainda quente do lado do meu, seus dedos nos meus cabelos, e sua constante incapacidade.

terça-feira, agosto 14, 2007

Doing numbers

Pois a Matemática, essa sim é a única certeza da vida...


Nos 2 dias de uma semana de 7, que compunham as 2 em que minha alma estava fora, uma oportunidade de mais ou menos 1 hora se abriu diante dos meus olhos.

Foi a hora mais produtiva de todos os 15 dias em que minha alma voava, a hora mais curta e também mais longa, em que vários meses se passaram em minha frente em questão de minutos. Em segundos tomei minha decisão.

Foram mais ou menos 10 minutos para chegar lá, o dobro disso de pura social, meio minuto na travessia de um corredor. Em segundos tudo se foi.

Uma hora e meia fatídica. 15 minutos de introdução, 30 de história de verdade. Nem 60 segundos de um grand finale. No fim das contas, eram mesmo apenas 11 minutos. Mais uns 20 pra despedida. Uma eternidade de lembranças.

35 minutos em um telefone, para não dizer realmente nada. Uma mensagem instantânea que se revelou rápida demais. 4 minutos e meio de um telefonema que disse tudo. Um instante apenas, um sequer, para tudo desmoronar.

24 anos de história, 5 apagados da memória. 7 anos de azar, dos quais 3 passados em felicidade. Mais 4 pra esquecer. 2 dias pra evoluir, apenas um pra destruir. 6 meses pra libertação, ou pra fingir que sou liberta. Contagem regressiva para enfim a liberdade completa. E pra felicidade plena? Toda uma vida.

Tic-tac, tic-tac, os segundos se passam em um relógio ainda parado, as horas incompletas, alguns números me bastam. O ponteiro das horas ainda não existe. Me bastam os segundos.

Quanto tempo ainda, meu Deus?

Tic-tac, tic-tac. Toda uma vida. E o relógio não pára.

Tic-tac, tic-tac.

Toda uma vida.

sexta-feira, agosto 10, 2007

Em recesso



A mesma casa, o mesmo quarto, a mesma cama... tudo igual novamente.

É o prazer e o sofrimento de voltar para casa depois de um curto porém intenso período de recesso.

As mesmas caras, os mesmos corredores, o mesmo hospital. As mesmas pessoas fúteis e mesquinhas que circulam à sua volta como carniças sob um urubu, pedindo informações, pedindo detalhes, pedindo seu sangue pra beber em copos de cristal. Elas pedem o que não posso dar, a parte mais íntima da minha alegria, a que sorri apenas quando está verdadeiramente feliz.

Se estou triste? Chateada? De mau humor? Por que eu estou tão diferente? Não, não posso lhes explicar... como fazê-las entender que eu volto sempre, mas meu coração jamais volta comigo? Que minha alma permanece num lugar encantado, numa fenda na história, e que quando saio de lá, já desalmada, o tempo pára e só se mexem os ponteiros daqui... Lá o tempo pára. E eu paro junto cada vez que tenho que enfrentar o difícil retorno.

Não, não tenho como lhes explicar que cada fato me lembra algum outro, que cada palavra me remete a outras, que cada pessoa me repele em direção a mim mesma. Então me calo. Como explicar que um corredor pode ser difícil, quando um outro provocou algo tão bom, dias atrás?

Como explicar que um telefonema me recordou outro, que sequer fora feito por mim? Como dizer-lhes que minha cama se tornou grande demais, pela ausência daquele que a compartilhou comigo, por apenas uma hora e meia?

Não, não tenho como dizer o quanto o trânsito me aborrece, o quanto tantas perguntas me aborrecem, o quanto a formalidade me danifica os sentidos. E eu pareço perdida, mesmo em lugares tão conhecidos, mesmo entre pessoas tão amigas. Eu me sinto vazia. Minha alma e minhas paixões não vieram comigo, ficaram para trás, gritando para que eu volte. E enquanto isso eu sou toda saudades.

Sou toda espera, sou fera que devora a hora que falta pra que a vida passe mais um pouco, mais um pouquinho, um outro tanto pelo qual ainda aguardo, e ainda ardo e quase explodo pelo tanto de minutos que ainda faltam pra que eu vá definitivamente, sem horários de retorno, sem balsa aos domingos, sem engarrafamento de sexta-feira. Sem tchau, até mais, volto em setembro.

Volto do recesso e também dos excessos, sabendo que isso aqui é pouco demais, é pequeno demais, é vazio demais pra uma alma do tamanho da minha. Eu volto pra labuta, mas é agora, definitivamente agora, que todas as minhas convicções entram de férias.

É ir... pra poder voltar.

quinta-feira, agosto 09, 2007

Diálogo_ Crystal Clear


Ele rola para o lado, ainda ofegante.
Ela quer acender um cigarro, mas decide não cometer o mesmo erro.
De repente, uma pergunta a invade, gritando para ser feita.

- O que te deu afinal?
- Como assim?
- O que te deu pra fazer isso depois de tanto tempo?
- Me deu que não consegui segurar mais uma vontade que eu sempre tive.

Silêncio. Ela espera uma resposta.

- Não sei se entendi.
- Sempre tenho vontade de estar com você. Mas andei me segurando, meio fechado, não quero me envolver com ninguém no momento.
- E o que uma coisa tem a ver com a outra?
- Tem que se a gente continuasse saindo, se vendo, ficando, o rumo natural é que uma hora a gente ia ver e ia estar junto. Então eu andei me segurando.

Silêncio. Devia falar alguma coisa? Era essa a resposta?

- Mas olha, não te preocupa, também não é assim, você me chama pra sair e eu me envoooolvo, ou fico apaixonaaaaaaada por você...!
- Mas quem disse que eu tô falando de você?

Sim, essa era a resposta. A resposta que procurara durante longos 6 meses de perguntas, confusões, contradições, interpretações. O ponto de interrogação finalmente convertia-se em ponto final. Ou seria uma vírgula?

- Isso não envolve apenas você, também pode acontecer comigo, sabia?
- Entendo...
- Esse entendo foi de psicóloga?
- Não. Foi de mulher.

Mentira. Fora apenas sua forma de dizer que ele não precisava se preocupar com nada, ela se preocuparia por ambos, como sempre fizera. Mentira. Não o compreendia.

- E você?
- O que tem eu?
- O que deu em você pra aceitar isso depois de tanto tempo?
- Apenas resolvi aproveitar uma brecha que se abriu. Tudo era sempre tão distante.
- Distante?
- Não te preocupa. Tudo isso é bobagem.
- Você acha mesmo?
- Aham.


Mentira. Mais uma vez, mentira.

segunda-feira, agosto 06, 2007

Amores

Eu já li sobre o amor dos poetas, sofrido e romântico, traduzido em rimas simétricas e nas redondilhas perfeitas que saem de suas penas. O amor platônico, ideal, inatingível, pelo qual ninguém nunca passou incólume, a dor em forma de versos. O poeta ama ao seu próprio sofrimento.

Já li sobre o amor dos piratas por seus baús repletos de moedas de ouro, por seus tesouros escondidos no fundo do mar, por suas naus fortes e resistentes, pela donzelas sequestradas em alguma terra longínqua. O pirata ama verdadeiramente, mas seu maior amor é sempre a liberdade, a aventura e as descobertas.

Já vi o amor infantil de uma criança por seus ursinhos, a ponte entre seu mundo interno e a realidade externa. Choram as crianças por seus brinquedos e chupetas, e perdem todas as suas certezas quando estes lhes escapam. O amor de uma criança é sinceramente voltado para a segurança e para o conforto.

Já presenciei o amor de um músico pelos seus instrumentos. Este ama ao som como se este fosse a única coisa capaz de preencher seus vazios e pudesse compreender sua melancolia. Todo músico é melancólico por natureza, e tem um quê de tristeza que se traduz em seu amor sempre focado em seus próprios porquês.

O amor de um adolescente pelo seu professor preferido é talvez a forma mais bela e sutil de querer alguém. O jovem ama suas próprias aspirações, seu próprio futuro projetado na figura daquele que o ensina a coisa que mais irá amar ao longo de sua vida: o próprio viver, com seus erros e acertos.

O amor materno é sempre incondicional, inabalável, eterno. Ama a mãe aos seus filhos com devoção, um amor pelas próprias realizações representadas pelo fruto de seu ventre sagrado, que jamais se esgota. Ao pai cabe amar condiconalmente, sua devoção é limitada – rege um amor racional, construído com base na objetividade de suas regras e valores morais. Assim amam os homens: com ressalvas.

Amam-se os irmãos como amam a si próprios: espelhos que são, oriundos na mesma fonte, amarão ao outro o que falta em si mesmos. O amor fraterno é basicamente projetivo, competitivo, acirrado. Amam o que vêem refletido de si mesmos no outro que os refletem.

Já li, refleti, observei e presenciei o amor de muitas formas. Já fui poeta, já vi a música, agi como um pirata age, e amei a melodia confusa da alma humana. Projetivamente ou não, amo meus irmãos muito mais que a mim mesma. Amei ursinhos, chupetas, guitarras e moedas de ouro, já escrevi poemas doloridos e canções melosas.

Ora sou mãe dedicada, ora pai limitado, ora sou criança buscando por tesouros e até professores perdidos. Na maioria das vezes sou simplesmente humana, simplesmente mulher, talvez filha ingrata ou irmã invejosa. Porém sempre humana, demasiado humana.

Amo. Amo aos livros, aos poemas, amo a melancolia e meus vazios interiores. Amo meus brinquedos e minha família de forma (in)condicional. Amo meus sofreres, minhas seguranças e meus versos, tão tortos sobre linhas estreitas. Mas amo, seja lá que amor for este.