segunda-feira, agosto 18, 2008

Gremlin!


Quem me conhece sabe: eu sou boazinha até a página dois.

E, pra falar bem a verdade, já teve vezes em que eu me orgulhei disso. É sério: já aconteceu uma porrada de vezes de eu, uma babaca completa, achar até bacaninha surpreender todo mundo e dar umas surtadas às vezes. Surtadas seria exagero, mas é fato que tem hora que eu literalmente viro o bicho, já que nestes momentos minha fala chega a ficar incompreensível, sendo muito mais marcada por rugidos e grasnados do que por frases construídas com palavras.

Eu chego a montar frases sem verbo.

Todos os meus amigos e amigas sabem que, apesar de ser raro, o meu mau-humor é ímpar. Quando eu estou de mal com a vida, é melhor se benzer e sair da frente, ou corre-se o sério risco de virar alvo de patadas, ironias e piadas cruéis de humor negro. Se você não me conhecer muito bem, vai achar que é mentira. Mas pergunte a qualquer um que me conhece melhor: me aguentar puta da vida atinge o nível 200 da Escala de Paciência Necessária. Além de ser igualmente necessário ter bastante estômago.

É raro, mas acontece.

A verdade é que eu sou bem legalzinha até alguma coisa realmente feder perto de mim. Tipo uma pisada no calo. Tipo me passar pra trás. Tipo me julgar sem me conhecer. Porque com isso eu fico putona mesmo e então sai de baixo que a boiada vai passar. Aí não tem piadinha nem ironia, é na lata mesmo, é lavagem de roupa suja.

Mas às vezes (raramente, reforço) basta pouco, mas muito pouco mesmo, pra eu virar uma megera. Basta a porra da internet cair. Basta o imbecil do vizinho não ter deixado a chave dentro do carro quando vou manobrar. Basta embalagem de CD (existe algo mais insuportável?). Basta me deixar esperando. Basta eu cortar o cabelo (odeio).

Sendo assim, outro dia, em plena análise, cheguei a uma grande conclusão a respeito de mim mesma. Ok, talvez você não ache grande, nem sequer mediana, talvez ache até meio idiota, mas para mim fez todo o sentido do mundo: eu sou um gremlin.

Alguém aí lembra dos Gremlins? Aqueles bichinhos fofinhos e peludinhos, de olhar manso e carinha amorosa?

Os quais, ao menor contato com a água, viravam criaturas infernais, endiabradas, algo assim como pequenos demônios?

Pra quem não lembra, os Gremlins (que, na fase boazinha, chamam-se Mogwais), tinham três regrinhas básicas para uma boa convivência com os seres humanos: não serem expostos à luz forte; não entrarem em contato com a água; e, por fim, nunca, jamais, em hipótese alguma, ser alimentados após à meia-noite, não importando a carinha de dó que fizessem. Qualquer uma das alternativas faria com que o dócil bichinho virasse um mostrengo, que se multiplicaria indefinidamente.

A associação não é difícil: às vezes, realmente basta uma gotinha de água pra me enfezar (e eu confesso que às vezes qualquer gotinha de água faz meu copo transbordar), basta uma crise compulsiva de ataque noturno à geladeira para me deixar irritada pro resto da semana. E quando eu fico puta da vida, é bem capaz que eu fique assim, meio sacana. Meio filha-da-puta.

Dificilmente eu bateria em alguém – não sou disso, odeio briga e detestaria apanhar (já bastam os treinos). Sou realmente mais fã da agressão psicológica (como por exemplo fazer cara de “hmmm” quando o alvo da minha putice reclama que está ficando velha) e das molecagens estilo saci-pererê. Tipo amarrar os seus cadarços de um tênis nos do outro por debaixo da mesa. Ou jogar sal no seu refrigerante. Ou cuspir na maçaneta do seu carro: de baixo nível e tira qualquer um do sério, mas apenas estripulias.

Eu diria até que, quando estou “inspirada”, nada me passa despercebido. Eu chego a gostar de ser meio cuzona e assim vou me alimentando de comentários infelizes dos outros pra bolar a próxima piadinha malévola, como o gremlin do filme que pula numa piscina pra se multiplicar e dominar toda uma cidade. Pra resumir a ópera, eu me torno alguém 100% estúpida, 110% maldosa e 150% politicamente incorreta, mas incapaz de grandes estragos. É foda. E eu quase-quase me orgulho disso.

Mas vá lá, quem nunca cagou que atire a primeira pedra... no fundo no fundo, sou apenas como você ou como eles: tenho um lado irracional que aflora de vez em quando. Aquele lado meio bicho que fica egoísta e ri da desgraça alheia. Vai dizer que você nunca riu assistindo Vídeos Incríveis? Ou de um tombaço de alguém na rua? O princípio é o mesmo: o escárnio se torna um prazer e os palavrões estão presentes na maioria das frases.

A diferença é que, quando eu estou do avesso, eu geralmente crio motivos pra satirizar algo ou pra falar todas as palavras feias do mundo. Normal.

O que me deixa tranquila é que, no final do filme dos Gremlins, o velho chinês que vendeu o Guizmo pro pai do Billy (lembram deles?) vai buscar o bichinho de volta, e explica que a sociedade não está pronta pr’aquele tipo de criatura.

No fim tudo acaba bem (menos pro Guizmo que fica sem os amiguinhos e sozinho com o sábio chinês). A cidade é reconstruída e fica linda mesmo estando uma merda. O Billy fica triste mas compreende. Ele até sente saudades daquela bolinha de pêlos.

A melhor parte é que, no final das contas, o Guizmo vira uma criatura quase mágica, secreta e especial. A sociedade é que está despreparada. Moral da história: os culpados são os outros que não seguiram as regrinhas. Afinal, eles foram avisados!

O que... hm, bem... isenta os gremlins de toda a responsabilidade pelos seus atos!

Hãn, hãn?

Adooooooooooro!

4 comentários:

Marcello Fiore disse...

Vamos mudar o foco?
E "se" todos tivessem seguido as regrinhas??? A história seria de uma bundamolice sem tamanho... sem emoção...
Regras? Não foram feitas para serem desrespeitadas??? :)

Pati Peterson disse...

oh my Gosh
mi irra...rs
considere moazinha ciente de todos os efeitos colaterais...sim, estou avisada...rs
apesar de que te conheço pra lá de bem, e pra mim vc é uma criatura sempre adorável!!! (sem ironias)

amo!

Priscila Rocha disse...

Onde tá escrito que não pode??

Você pode tuuuudo gata porque quando eu fico p da vida tb... voa merda pra todo lado!

Saudadessss!
BJOK!

Fernanda Rossinih disse...

Seres humanos, quase bichos quando é preciso sobreviver pelo instinto... é tao natural...
Mas é raro... convenhamos que boa parte das nossas açoes ja sao comedidas...
Ja imaginou se todos os dias irrigassemos as cidades com nossos sentimentos exarcebados?
corre!!