Outro dia, conversando com um amigo dos mais queridos, cheguei a uma conclusão tão surpreendente que quase caí numa daquelas valas que acompanham toda a extensão da Praia Grande de Ubatuba.
- Xu... quer dizer então que eu me amo?Bingo.
A conversa girava em torno das filosofadas que costumamos dar de vez em quando. Somos muito parecidos, este meu amigo e eu. Concordamos sobre quase tudo, fazemos o mesmo tipo de piadinhas irônicas, usamos de brincadeiras maldosas com a mesma culpa de uma criança quando rouba um pirulito: tá errado, mas faz...
Por voltas que o mundo dá, estava eu dizendo a este mesmo amigo que às vezes achava difícil conversar com as pessoas da maneira que eu desejava. Às vezes as pessoas não tinham tanto interesse pelo tema, às vezes não compreendiam meu ponto, às vezes se detinham ao “micro” quando eu queria falar do “macro”, às vezes preferiam assistir à tv, o que me deixava um pouco frustrada.
Comentei então sobre meu desejo de encontrar alguém igual a mim... não um homem, no sentido de “
encontrar-alguém-romanticamente-falando”, e sim de ter uma parceira que pense, fale, filosofe como eu. Que me compreenda e que discorde de mim tantas vezes quantas quiser, porque no final, a conclusão (“não há conclusão”) será pacífica.
- O que eu queria mesmo era outra de mim. Pensa nas vantagens, xu... quando eu quiser ver um filme, ela também iria querer. Ou tomar banho, nunca teria conflito quanto ao horário. E se eu quisesse trocar essas minhas idéias meio doidas que às vezes aborrecem as pessoas, teria a parceira ideal pra ter essa conversa. Não seria fantástico?
- Talvez isso mostre que você é a melhor companhia pra você mesma.
Engraçado, às vezes parece que tenho dúzias de analistas. Naquela hora, fiquei estupefata, e me senti como quando tive meu primeiro insight em terapia, já há uns 4 anos...
EUREKA! Descobri: sou minha melhor amiga.
Depois disso, parei pra olhar pra mim, e me achei ultra-bacana. Claro que tenho defeitos inúmeros, e um deles é ser crítica demais com as pessoas – tenho trabalhado duro nesse aspecto, praticamente entoando o mantra “não julgar, não julgar”. E eu também posso ser bem exigente às vezes, o que dá na mesma do que ser crítica. Às vezes eu também consigo ser bem grossa, mas quase sempre me desculpo na próxima meia hora.
Mas, pra falar bem a verdade, eu sou bem legalzinha. Além de gostar da minha aparência (viva, a terapia funcionou mesmo!), gosto da minha inteligência e das minhas sacadas bacanas. Tem dias que me sinto altamente espertinha e moderninha, tem dias que me sinto assim mais zen-budista: vendo amor e cor-de-rosa em todo mundo.
Tenho dificuldades para perdoar alguém, mas quando perdõo, eu absolutamente esqueço da mancada. Aliás, meu coração tem uma capacidade de perdoar bastante grande, o que é quase como dizer que eu sou generosa. Ah, sim, sou generosa, mesmo que isso não signifique que eu compartilhe minha comida com os outros. Sim, com comida sou egoísta. Odeio dar uma mordida do meu sanduíche, mas dou por educação. E mais egoísta ainda, cobro uma mordida dos outros.
Mesmo que todos os meus amigos venham, fatalmente, a se deparar com meu egoísmo alimentar algum dia, ainda assim me considero generosa. Às vezes dou o braço antes mesmo que peçam a mão. E dentro da generosidade, eu acabo sendo carinhosa. Acho importante o contato físico, acho legal falar que gosto das pessoas. Minha mãe me ensinou a abraçar ao menos 6 vezes por dia, a tal da Terapia do Abraço – às vezes esqueço algum e abraço meus gatinhos (de quatro patas).
Gosto do meu senso de humor e adoro que tenha me tornado cada vez mais espontânea. Admiro que eu tenha perdido tantos medos. Defendo minhas idéias com convicção, e mesmo detestando qualquer tipo de julgamento, páro pra pensar quando sou criticada (nem sempre concordo com a crítica).
Eu sou questionadora e amo esse meu lado: pra acreditar em algo, eu tenho que entender. Pra poder te ajudar em algo, preciso te conhecer. E se eu não entender alguma coisa no meio do caminho, eu vou perguntar.
Eu sou uma pessoa que se adapta facilmente aos mais variados lugares e situações, mas não sou do tipo que se adapta só pra te agradar. Ah não, isso eu não faço mais. Se tem algo que eu aprendi (e eu aprendo rápido) é a ser eu mesma, e parar de tentar ser o que os outros querem que eu seja: é falso, é desleal e nunca será convincente.
Se tem uma característica minha muito legal é que eu sou bem verdadeira. Odeio meias-verdades ainda mais do que odeio as mentiras, porque a mentira não envolve tanta manipulação. A meia-verdade é grotesca de tão dissimulada. Então da minha boca você pode até não ouvir nada e eu me recusar a responder, mas mentira você não ouve. Acredite: com isso eu tomo bastante cuidado. Eu falo na cara mesmo, com carinho mas bem na cara.
Me arrependo de pouca coisa na minha vida. Estou satisfeita com meu caminho, incluindo os tombos. Tenho orgulho dos ralados nos joelhos, dos hematomas nas coxas, dos nós dos dedos avermelhados. Eu sou uma vencedora. Tenho coragem e arrisco, mesmo enfrentando fracassos durante a jornada. E quem liga pra eles? Significa que a gente tentou: não deu e a gente aprende a fazer diferente. No final eu tenho certeza absoluta que vai dar certo, o que é outra caraterística legal em mim: eu sou positiva e bem-humorada (especialmente de manhã, o que às vezes irrita as pessoas).
Eu gosto do fato de eu adorar ler e curtir compartilhar as idéias que eu leio. Pouca gente faz isso hoje em dia. As pessoas estão mais interessadas em
contar que leram,
contar que assistiram,
descrever a cena,
narrar o acontecido. Mas quem hoje em dia quer compartilhar, dizer o que sentiu, pedir opinião? Ah, poucas. E acho que sou amiga da maioria delas, graças a Deus!
Falando em amigos, tenho orgulho de ter tantos. Tenho tanto amigo e amiga diferente que daria um cardápio interessante. Tem roqueiro, cocota, hype, hippie, intelectual, artista, músico, atleta, massagista, loiro, mulato, preto bem preto, branco dos mais brancos, tem ruiva, morena gigante e loira pequenininha, tem cabeludo e tem careca, tem careta e tem moderno, ter gordo e magro, tem gente politizada e gente anarquista, e o mais legal de tudo é que eu tenho
tudo a ver com cada um deles.
Não tenho a ver com quem passa mais tempo criticando, exigindo e cobrando, não tenho a ver com gente opressora que demanda mais do que os outros podem dar. Não tenho absolutamente nada a ver com gente esnobe nem com gente que se acha a última bolacha do pacote (embora nesse texto eu não esteja sendo lá muito humilde. Quem liga? Todo mundo precisa auto-pagar-pau de vez em quando). Ah, e não tenho nada a ver com gente hipócrita, espiritualizados de meia-tigela que se dizem evoluídos mas que alimentam sentimentos negativos e inferiores. Ah, nada a ver comigo. Prefiro ateus honestos, agnósticos sinceros, do que projetos de Dalai Lamas absolutamente hipócritas e julgamentosos, que adoooooram apontar o dedo na cara dos outros e dizer onde estão errando. Pé de pato, mangalô, três vezes que eu não quero (mais) nada com esse tipo de ser humano!
Mas talvez o lado em mim que eu mais goste, e mais admire, é justamente o meu amor-próprio. Que delícia é se amar, e pouca gente sabe disso! Uma vez conquistado o amor-próprio, me tornei mais alegre, trato bem as pessoas, sorrio para o padeiro (não confundir com paquera). Não mudo porque alguém quer, a não ser que esse alguém me apresente ótimas razões para tal, e isso, até hoje, aconteceu apenas algumas vezes, me fazendo melhorar como pessoa, como amiga, como namorada ou parente. Às vezes até como profissional, se bem que me considero exemplar (o que não quer dizer que eu não tenha ainda muito o que aprender).
A verdade é que eu adoraria ter outra de mim 24 horas por dia, nem que fosse pra brigar a cada cinco minutos que nem quando a gente namora gente muito parecida conosco: sempre sai pau. Mesmo assim eu adoraria trocar idéia até dormir. Adoraria me dar uns amassos. Adoraria ganhar um cafuné ou um abraço meu. Curtiria bastante ser minha amiga.
Mas talvez eu não precise...
- Você tem a si mesma todos os dias, xu... o que mais você poderia querer?