domingo, setembro 28, 2008

pretérito imperfeito


Se algum dia olhaste em meus olhos, não foi entrega o que neles viste. São tantas lembranças e tantas hipóteses, mas não as memórias que a nós importariam – faltou coração, aquele que calamos e não permitimos sentir. Se um dia tivesses me perguntado, não te teria dito que era paixão o que sentia – tinha medo e por isso calei o espírito, e se tu tivesses me amado ainda assim não te amaria de volta.

Nosso amor foi puramente platônico – és idealista e sou romântica, e essa sempre foi a nossa tendência. Concordemos: em se tratando de amor, qual o sentido se uma das partes não sofre em silêncio? Se houvesse resposta, te devolveria tuas últimas palavras, a mensagem que bem construíste. Te entrego porém o vazio, que no momento tuas palavras me fogem – pois como haveria eu de tê-las, se nunca me disseste...

quinta-feira, setembro 25, 2008

DesAta-me

Lamentável é o copo de sorvete de chuva dormindo ao luar. Intragável, um par de cigarros acesos num cinzeiro improvisado de lata. É inegável - foram 20 e tantos dias de sorrisos, polvos e um cordão de prata amarrado no pulso. Imperdoável é que foi um sorriso atrasado, um carinho no rosto, uma palavra de adeus e o nosso velório.

O irremediável: o punhado de estrelas que não terminamos de contar.

sexta-feira, setembro 19, 2008

O Come All Ye Faithful

Tentei terminar aquela música que escrevi pra você.
Aquela mesma que fala de amor.
Não deu, desculpa.
É que às vezes me faltam as palavras.

quarta-feira, setembro 17, 2008

Diálogo_ A Idiotaria

"Amore!

Ontem, lendo o livro do Paulo Coelho, O Zahir, li um trecho que me lembrou da idiotaria que sempre nos acomete e sobre a qual sempre conversamos. Se trata da Lei de Jante, enunciada apenas em 1933 por um escritor dinamarquês, embora exista há séculos, desde o início da civilização. Foi formulada pelos 'donos do poder' da cidade de Jante, e parece que continua extremamente atual.

Era composta por 10 mandamentos (coincidência?), e o texto resumido te transcrevo abaixo:

"Você não é ninguém, não ouse pensar que sabe mais do que nós. Você não tem nenhuma importância, não consegue fazer nada direito, seu trabalho é insignificante, não nos desafie e poderá viver feliz. Sempre leve a sério o que dizemos, e jamais ria de nossas opiniões."

Não é o que, de certa forma, a gente vê na maioria das vezes? Gente que não transgride, que não transcende, que não arrisca, que não desafia? Não é isso mesmo que chamamos de idiotaria? A massificação, o medo, o piloto automático?

Acho que se morássemos em Jante, estaríamos na lama...

Beijo grande,
N."

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"Amore!

Na segunda-feira eu estava exatamente com esse sentimento...

Comecei a escrever um texto nesse tom de revolta com a idiotaria, mas o saco estava tão cheio que acabei desistindo e colocando no blog aquela poesia sobre 2ª-feira (que eu já te mandei há algum tempo...)

Mas meu emputecimento vai além da revolta pela falta de utilização do cérebro. A idiotaria ADORA, AMA seus pares. Idiotas chamam idiotas a se aproximar, formam uma grande corja, e nós, seres estranhos a esse mundo somos afastados posto que eles não querem aprender, não pretendem se desenvolver, acreditam que ser iletrado, mal formado, e inativo mentalmente é bom. Ler e pensar dá trabalho, é mais fácil concordar com qualquer frase com palavras rebuscadas que use apenas um verbo em sua formação e que pareça fazer algum sentido.

Nossa sobrevivência é mais difícil dessa forma, eles tomam conta de bons trabalhos por indicação e manipulação, decidem o futuro alheio sem nenhum preparo, e quem tem um pouco mais de “desenvolvimento” não se enquadra nessa orbe, tendo que penar para sobreviver.

Apesar da citação sobre Jante estar em um livro de Paulo Coelho (eu pessoalmente não gosto dos livros dele...) a lei é mais verdadeira do que nunca, inclusive porque as pessoas não mais se obrigam a respeitá-la, apenas vivem dessa forma pois foram lapidadas a isso, forçadas a cumprir, sem questioná-la. Mal comparando, a grande maioria das pessoas não se policiam para colocar o cinto de segurança no carro. Esse ato automático faz parte da vida de cada um, a fase do questionamento já passou e tudo “entrou no automático”, exatamente como o pensamento da idiotaria, está adormecido...

Sinceramente amore, estou tão cansado de ver idiotices, mameluquices, e lulices pelo Brasil que pensei em me render, parar de pensar e procurar um emprego bunda qualquer, prá ver se a situação pára de me incomodar... mas só o pensamento nesse sentido já me enjoa, então não tenho outra saída a não ser pedir um copo de chopp e um cigarrinho prá tirar esse amargo da boca, e tentar fugir mentalmente dessa terra de beócios. Nesse assunto, como eu disse há tempos naquela poesia que vc já leu... estou no limite da minha sanidade.

Beijos gigantescos!
F."

Jogos de Poder


Adoro jogos de poder.

Tem gente que acha subversivo e entende até como competitividade, mas eu juro que não é. A questão é que eu também adoro perder, depois de um belo tempo achando que estava ganhando. A verdade é que não lido bem com vitórias. A verdade é que sou mais habituada às derrotas. Assim como todo mundo na vida, que tende a perder muito mais do que ganhar. Adoro disputas. Adoro algemas, concretas ou metafóricas. E absolutamente adoro a redenção. Faz com que eu admire ainda mais quem vence de mim. E a admiração para mim é extremamente afrodisíaca.

A verdade é que a luta, entre corpos ou mentes, mas principalmente entre vaidades, me estimula a ser uma combatente cada vez melhor. É tipo oxigênio inflando meu ego. Absolutamente excitante, mas talvez eu devesse fazer terapia mais vezes por semana.

segunda-feira, setembro 15, 2008

foi bom pra você?

Pra mim foi legal conhecer um outro sorriso ;)

quarta-feira, setembro 10, 2008

mini-surto

As perguntas invadem como se as portas de uma represa lotada fossem finalmente abertas. Lutar se tornou inútil. Me rendo.

Como discernir uma oportunidade de recomeço de um teste de perseverança? Como distinguir o que é uma segunda chance do que é uma escorregada e um retorno a velhos padrões?

As coisas realmente precisam de um desfecho? Ou o desfecho já aconteceu, mas não nos apercebemos dele por estarmos, talvez, focados demais na nossa própria dor? É possível negar claramente o ponto final de uma história permeada de vírgulas e reticências?

E quanto a arriscar todas as fichas? É certo arriscá-las num jogo em que existe uma probabilidade de cerca de 90% de derrota? Aí dizem “Como você sabe? Pode ser uma questão de sorte!” Eu replico: vale a pena arriscar TODAS as suas fichas em algo cujo sucesso é determinado pelo acaso, pela sorte, pelo... azar?

A gente ouve dizer que é preciso tentar até o final. Espremer o limão até a última gota. Mas se sobrar apenas o bagaço, nenhum sumo... o que se pode fazer com este bagaço a não ser jogá-lo fora? Vale realmente a pena tentar de tudo, ao invés de tentar preservar um pouco do respeito, do carinho, do... caráter?

Segue seu coração”, ouvi um dia. E se o meu coração for bobo demais, tonto demais, pra ser confiável numa situação emocionalmente complicada? E se na verdade, ao seguir meu coração, eu estiver sgeuindo minhas neuroses? Recaindo em erro? Atuando, à completa mercê do meu conflito? Qual é de fato a medida entre evoluir... e fingir?

E se eu já souber que não é aquele caminho que devo trilhar, mas não houver nenhuma outra alternativa disponível no momento? Eu tenho mesmo que seguir em frente? Não é possível parar, respirar, avaliar as possibilidades? 5 minutinhos? Bola pra frente que atrás vem gente... é isso?

Às vezes acho que a única diferença de hoje em dia para o começo do ano é que continuo tão perdida quanto... apenas achei o balcão de informações. Aprendi a fazer as perguntas certas, mas as respostas parecem longe de serem encontradas...

segunda-feira, setembro 08, 2008

OSSU!

Família Seiwakai Lapa ** OSSU!
Da esq. para a dir., em pé: Tecchio, Thiago, Rodolfo, Clayton,
Sensei Rato, Caio e Douglas
As meninas: Vivi, Fabi, Dani, Mariana, Shirlei, Fabi e eu
Ajoelhados: Rafa, Ligeirinho, Renan e Carlos


O combinado era às 9h30 da manhã (nem um minuto a mais, disse o sensei) ali na academia. Da Lapa, a gente seguiria em comboio até o Campo Belo, pra todo mundo chegar junto.

Na noite anterior, senti o sintomas de uma crise de ansiedade se aproximando: taquicardia, suor frio, pensamentos a milhão. E se eu não conseguisse? E se eu fosse reprovada? Pensei em ligar pras meninas, mas achei meio nóia. E respirei, respirei horrores. Mal dormi, porque fantasias terríveis vinham na minha cabeça – na pior delas, éramos chamados, individualmente, para demonstrar os golpes: Nana, uchi kakato otoshi! Ossu sensei! Yoko geri – ossu sensei! Ushiro mawashi – ferrou, sensei!

Acordei às 6 da manhã, totalizando no máximo 4 horas de sono... a ansiedade era grande. E se eu errar? E se confundir os golpes? Vou ter que lutar? Chegando na academia, toquei na porta da casa da Vivi esperando que ela me acalmasse – por sorte ou não, ela estava quase tão ansiosa quanto eu... o resto da galera estava agitado, mas ninguém parecia estar na mesma vibe que eu, até eu encontrar a Shirlei. A gente se abraçou e confessou que estava com dor de barriga de nervoso, e naquela hora estava mais do que determinado que não importava quantos golpes me pedissem: uma avaliação era sempre a maior porrada na vida de uma perfeccionista.

Chegamos na academia do sensei Luciano após pegar um puta trânsito, e no carro mesmo, com a Vivi, a Shirlei, a Fabi e o Thiago, eu já saquei que a galera estava muito mais nervosa do que queria demonstrar. Quando chegamos na academia-matriz, eu quase sentia que tinha que ficar em silêncio, um quê assim de reverência... nos trocamos e em pouco tempo o exame de faixa ia rolar.

O treino técnico começou e senti que dava pra dar uma relaxada - já havia feito aquilo centenas de vezes, era campo seguro, território neutro, dentro do controle. Beleza, estava tranquila, apesar do calor de mais ou menos 30 graus que estava rolando lá dentro. Também, pudera: eram 44 alunos, além dos senseis e convidados. Tudo isso gerava um calor humano dos mais potentes...

O problema recomeçou quando que eu me liguei que os 4 senseis presentes (Luciano, Rato, Edivan e Jurandir) ficavam passando entre nós, olhando detalhadamente o que estávamos fazendo. Recomeçou o nervosismo, e quando o Luciano me corrigiu no bloqueio de um mawashi, eu tremi na base - pronto, tinha havido uma falha. Quase chorei, mas o olhar tranquilo da Fabi, que no auge da sua porra-louquice estava achando tudo aquilo o maior barato, me tranquilizou... só dava pra seguir em frente.

Acabado o treino, foram nos chamando em ordem de faixa. Dava pra sentir uma energia incrível rolando ali no meio daquela galera, todo mundo sentado esperando ansiosamente seus nomes serem chamados, o sensei Luciano com um livro preto na mão, iguais àqueles que as professoras usavam no colégio para escrever anotações e advertências sobre os alunos. Então... então eu estava na maior adrenalina e na maior tensão ao mesmo tempo.

Faixa azul eu sabia que não tinha pegado, mas na amarela eu dei uma titubeada... será que tinha conseguido superar? O sensei chamou as meninas, e eu via na cara delas o orgulho e o sentimento de conquista. Fiquei orgulhosa que todas as meninas da academia estavam com uma graduação mais alta, e vi que o Rato também estava bem feliz.

Quando o sensei começou a chamar os faixa-verde, eu quase explodi: tinha conseguido! Era de verde pra cima, e aquele era meu objetivo. Fora pelo calção verde que eu parara de fumar, fora pelo calção verde que eu havia abdicado de muita coisa em prol dos treinos. Foi pelo calção verde que minhas amigas se irritaram algumas vezes quando eu eliminei todas as segundas e quartas à noite do meu calendário de saídas noturnas– “é dia de treino, e eu não vou faltar”. De segundas e quartas, eu incluí as terças e quintas à tarde, e depois a sexta-feira à noite. Minha família reclamou um pouco que eu só treinava, e foi meio duro fazer mamis compreender que os machucados faziam parte do negócio...
O pessoal era chamado um a um e eu fui ficando. Todo mundo morreu de rir quando o sensei chamou o Ligeiro por um nome meio americanizado, que a princípio ninguém reconheceu. Era óbvio que o apelido ia pegar. Ia não, já pegara: de Janílson, ele virara o Djénilson, e a gafe foi a oportunidade que todo mundo esperava pra poder rir, mostrar que estava feliz, tirando um pouco a cara de seriedade do rosto.

Quando o Luciano me chamou, eu queria pular, gritar, chorar. OSSU!, foi tudo o que eu disse, e orgulhosamente me sentei junto aos demais faixa verde. Enquanto os outros alunos eram graduados, um filminho passou na minha cabeça – lembrei da primeira aula que eu fiz, ainda na academia do Bruno, com o Thiaguinho... não sabia o que era jab, nem direto, muito menos um gedan. Minha irmã ainda lutava comigo, a gente achava tudo aquilo a maior doidera e às vezes até brigávamos no meio do treino.

Lembrei quantas vezes pensei em parar os treinos por achar que não levava jeito pra coisa, mas as palavras do sensei Rato sempre me motivavam e eu seguia em frente, até mudar pra academia da Lapa atrás dele quando ele saiu da Uru-Brasil. Lembrei que eu cheguei lá na Lapa cheia de medo, com a minha sempre presente dificuldade em fazer amigos, insegura, com vergonha... Lembrei que abandonei os treinos no começo do ano por causa da ansiedade, e que fui super bem recebida quando voltei com o rabo entre as pernas e disposta a recuperar o meu moral. Foi quando eu e as meninas metaforicamente baixamos a guarda e nos tornamos amigas, parceiras, que se ajudam nas horas difíceis, que puxam a orelha uma da outra durante os treinos – o mais honesto exemplo de seiwa: a união pela aprendizagem, a ação coletiva, o esforço conjunto.

Após a graduação, fomos todos tomar uma cerveja na pastelaria ali na Monteiro de Melo mesmo, e claro que o brinde foi um OSSU! bem alto e bem forte, como a gente merecia! A Shirlei tentou ir embora umas 12 vezes e em todas elas a gente a convenceu a ficar mais um pouquinho. Ninguém queria que ninguém fosse embora, pois havíamos conquistado aquilo juntos, e a Shirlei era o maior exemplo de superação – ela teve que usar a corda durante os primeiros meses, e estar ali era uma puta vitória!

A gente comeu e bebeu, e conversou e riu demais, todos meio anestesiados pela descarga de adrenalina: tinha acabado, e todo mundo tava mais que satisfeito! Dava pra ver que o sensei estava orgulhoso de nós, e o sorriso da galera quando viramos o último copo era algo de filme. Ninguém tirou foto porque nem precisava: eu tenho certeza que ninguém nunca vai esquecer aquele brinde.

Depois de um tempo os ânimos foram baixando, a adrenalina acabando, e sem falar nada, levantamos pra irmos embora. A despedida na frente da academia foi gostosa, com muitos parabéns e agradecimentos ao sensei, e todo mundo se comprometeu a, óbvio, estar lá de novo na segunda à noite pra treinar pesado.

Voltando pra casa o sorriso não saía do rosto... vitória, vitória, vitória! Não há nada igual ao sentimento de vencer os próprios fantasmas, e eu estava tomada por satisfação. Botei no som o meu hino à alegria, Girls just want to have fun, e cantei a plenos pulmões porque era bem isso: eu tinha vencido uma etapa importante e agora queria curtir a conquista, sentir orgulho, merecido orgulho, e me sentir finalmente confiante.

Chegando em casa, a adrenalina baixou total e veio o sono, merecido, após tantas noites mal-dormidas. Abracei minha mãe, que ficou toda orgulhosa da filhinha, e me fechei no meu quarto. Era a minha hora comigo mesma. Continuei com a roupa de treino, e me olhei no espelho com olhos de combate... sorri – agora, Ana Paula, é rumo ao ringue, rumo à faixa marrom, rumo às competições.

Com espírito guerreiro e de roupa de treino e tudo, adormeci, um sono profundo com sonhos intenso, povoados de príncipes, princesas e ringues em plenos verdes campos... no centro do campo estava eu, num lindo vestido. E quando eu subi naquele ringue, o Sr. Myagui, de Karate Kid, estava lá, me entregando uma flor verde.

Acordei agradecendo àquele mestre que na minha infância e em minhas fantasias me deu tantos exemplos, e dentro de mim nasceu uma nova sensação: a de que tudo está apenas começando...

sexta-feira, setembro 05, 2008

Outra de mim


Outro dia, conversando com um amigo dos mais queridos, cheguei a uma conclusão tão surpreendente que quase caí numa daquelas valas que acompanham toda a extensão da Praia Grande de Ubatuba.

- Xu... quer dizer então que eu me amo?

Bingo.

A conversa girava em torno das filosofadas que costumamos dar de vez em quando. Somos muito parecidos, este meu amigo e eu. Concordamos sobre quase tudo, fazemos o mesmo tipo de piadinhas irônicas, usamos de brincadeiras maldosas com a mesma culpa de uma criança quando rouba um pirulito: tá errado, mas faz...

Por voltas que o mundo dá, estava eu dizendo a este mesmo amigo que às vezes achava difícil conversar com as pessoas da maneira que eu desejava. Às vezes as pessoas não tinham tanto interesse pelo tema, às vezes não compreendiam meu ponto, às vezes se detinham ao “micro” quando eu queria falar do “macro”, às vezes preferiam assistir à tv, o que me deixava um pouco frustrada.

Comentei então sobre meu desejo de encontrar alguém igual a mim... não um homem, no sentido de “encontrar-alguém-romanticamente-falando”, e sim de ter uma parceira que pense, fale, filosofe como eu. Que me compreenda e que discorde de mim tantas vezes quantas quiser, porque no final, a conclusão (“não há conclusão”) será pacífica.

- O que eu queria mesmo era outra de mim. Pensa nas vantagens, xu... quando eu quiser ver um filme, ela também iria querer. Ou tomar banho, nunca teria conflito quanto ao horário. E se eu quisesse trocar essas minhas idéias meio doidas que às vezes aborrecem as pessoas, teria a parceira ideal pra ter essa conversa. Não seria fantástico?

- Talvez isso mostre que você é a melhor companhia pra você mesma.

Engraçado, às vezes parece que tenho dúzias de analistas. Naquela hora, fiquei estupefata, e me senti como quando tive meu primeiro insight em terapia, já há uns 4 anos... EUREKA! Descobri: sou minha melhor amiga.

Depois disso, parei pra olhar pra mim, e me achei ultra-bacana. Claro que tenho defeitos inúmeros, e um deles é ser crítica demais com as pessoas – tenho trabalhado duro nesse aspecto, praticamente entoando o mantra “não julgar, não julgar”. E eu também posso ser bem exigente às vezes, o que dá na mesma do que ser crítica. Às vezes eu também consigo ser bem grossa, mas quase sempre me desculpo na próxima meia hora.

Mas, pra falar bem a verdade, eu sou bem legalzinha. Além de gostar da minha aparência (viva, a terapia funcionou mesmo!), gosto da minha inteligência e das minhas sacadas bacanas. Tem dias que me sinto altamente espertinha e moderninha, tem dias que me sinto assim mais zen-budista: vendo amor e cor-de-rosa em todo mundo.

Tenho dificuldades para perdoar alguém, mas quando perdõo, eu absolutamente esqueço da mancada. Aliás, meu coração tem uma capacidade de perdoar bastante grande, o que é quase como dizer que eu sou generosa. Ah, sim, sou generosa, mesmo que isso não signifique que eu compartilhe minha comida com os outros. Sim, com comida sou egoísta. Odeio dar uma mordida do meu sanduíche, mas dou por educação. E mais egoísta ainda, cobro uma mordida dos outros.

Mesmo que todos os meus amigos venham, fatalmente, a se deparar com meu egoísmo alimentar algum dia, ainda assim me considero generosa. Às vezes dou o braço antes mesmo que peçam a mão. E dentro da generosidade, eu acabo sendo carinhosa. Acho importante o contato físico, acho legal falar que gosto das pessoas. Minha mãe me ensinou a abraçar ao menos 6 vezes por dia, a tal da Terapia do Abraço – às vezes esqueço algum e abraço meus gatinhos (de quatro patas).

Gosto do meu senso de humor e adoro que tenha me tornado cada vez mais espontânea. Admiro que eu tenha perdido tantos medos. Defendo minhas idéias com convicção, e mesmo detestando qualquer tipo de julgamento, páro pra pensar quando sou criticada (nem sempre concordo com a crítica).

Eu sou questionadora e amo esse meu lado: pra acreditar em algo, eu tenho que entender. Pra poder te ajudar em algo, preciso te conhecer. E se eu não entender alguma coisa no meio do caminho, eu vou perguntar.

Eu sou uma pessoa que se adapta facilmente aos mais variados lugares e situações, mas não sou do tipo que se adapta só pra te agradar. Ah não, isso eu não faço mais. Se tem algo que eu aprendi (e eu aprendo rápido) é a ser eu mesma, e parar de tentar ser o que os outros querem que eu seja: é falso, é desleal e nunca será convincente.

Se tem uma característica minha muito legal é que eu sou bem verdadeira. Odeio meias-verdades ainda mais do que odeio as mentiras, porque a mentira não envolve tanta manipulação. A meia-verdade é grotesca de tão dissimulada. Então da minha boca você pode até não ouvir nada e eu me recusar a responder, mas mentira você não ouve. Acredite: com isso eu tomo bastante cuidado. Eu falo na cara mesmo, com carinho mas bem na cara.

Me arrependo de pouca coisa na minha vida. Estou satisfeita com meu caminho, incluindo os tombos. Tenho orgulho dos ralados nos joelhos, dos hematomas nas coxas, dos nós dos dedos avermelhados. Eu sou uma vencedora. Tenho coragem e arrisco, mesmo enfrentando fracassos durante a jornada. E quem liga pra eles? Significa que a gente tentou: não deu e a gente aprende a fazer diferente. No final eu tenho certeza absoluta que vai dar certo, o que é outra caraterística legal em mim: eu sou positiva e bem-humorada (especialmente de manhã, o que às vezes irrita as pessoas).

Eu gosto do fato de eu adorar ler e curtir compartilhar as idéias que eu leio. Pouca gente faz isso hoje em dia. As pessoas estão mais interessadas em contar que leram, contar que assistiram, descrever a cena, narrar o acontecido. Mas quem hoje em dia quer compartilhar, dizer o que sentiu, pedir opinião? Ah, poucas. E acho que sou amiga da maioria delas, graças a Deus!

Falando em amigos, tenho orgulho de ter tantos. Tenho tanto amigo e amiga diferente que daria um cardápio interessante. Tem roqueiro, cocota, hype, hippie, intelectual, artista, músico, atleta, massagista, loiro, mulato, preto bem preto, branco dos mais brancos, tem ruiva, morena gigante e loira pequenininha, tem cabeludo e tem careca, tem careta e tem moderno, ter gordo e magro, tem gente politizada e gente anarquista, e o mais legal de tudo é que eu tenho tudo a ver com cada um deles.

Não tenho a ver com quem passa mais tempo criticando, exigindo e cobrando, não tenho a ver com gente opressora que demanda mais do que os outros podem dar. Não tenho absolutamente nada a ver com gente esnobe nem com gente que se acha a última bolacha do pacote (embora nesse texto eu não esteja sendo lá muito humilde. Quem liga? Todo mundo precisa auto-pagar-pau de vez em quando). Ah, e não tenho nada a ver com gente hipócrita, espiritualizados de meia-tigela que se dizem evoluídos mas que alimentam sentimentos negativos e inferiores. Ah, nada a ver comigo. Prefiro ateus honestos, agnósticos sinceros, do que projetos de Dalai Lamas absolutamente hipócritas e julgamentosos, que adoooooram apontar o dedo na cara dos outros e dizer onde estão errando. Pé de pato, mangalô, três vezes que eu não quero (mais) nada com esse tipo de ser humano!

Mas talvez o lado em mim que eu mais goste, e mais admire, é justamente o meu amor-próprio. Que delícia é se amar, e pouca gente sabe disso! Uma vez conquistado o amor-próprio, me tornei mais alegre, trato bem as pessoas, sorrio para o padeiro (não confundir com paquera). Não mudo porque alguém quer, a não ser que esse alguém me apresente ótimas razões para tal, e isso, até hoje, aconteceu apenas algumas vezes, me fazendo melhorar como pessoa, como amiga, como namorada ou parente. Às vezes até como profissional, se bem que me considero exemplar (o que não quer dizer que eu não tenha ainda muito o que aprender).

A verdade é que eu adoraria ter outra de mim 24 horas por dia, nem que fosse pra brigar a cada cinco minutos que nem quando a gente namora gente muito parecida conosco: sempre sai pau. Mesmo assim eu adoraria trocar idéia até dormir. Adoraria me dar uns amassos. Adoraria ganhar um cafuné ou um abraço meu. Curtiria bastante ser minha amiga.

Mas talvez eu não precise...

- Você tem a si mesma todos os dias, xu... o que mais você poderia querer?

terça-feira, setembro 02, 2008

Vício


O seu silêncio me enlouquece enquanto meu vício se torna o seu pecado. Não suporto esperar nem mais um segundo sequer. Meu ventre denuncia o que espero destes seus olhos fluidos – eles revelam a graça que existe neste seu espírito de combate. Não fecho os punhos e abaixo minha guarda, há tanto pra viver que aqui dentro bate freneticamente: a minha explosão é quase certa e deste vulcão não sairão lágrimas. Vamos quebrar esta ética hipócrita que dita quem devemos e quem não devemos amar, quem devemos respeitar ou a quem devemos gratidão. Chega de paradigmas, pois somos paradoxo. Aparemos estas arestas e arrisquemos todos os nossos princípios neste jogo de esconde-esconde: eu já não tenho o que esconder. É você, nada mais, sou eu e esta dança inesgotável entre os sentidos, as fantasias e um terno encantamento. Eu a gueixa, você um samurai – apenas e tão somente recebo seu corpo cansado de mais uma batalha. Dôo-me a ele, enalteço tua honra, e te faço dormir.

Hajime.