segunda-feira, setembro 08, 2008

OSSU!

Família Seiwakai Lapa ** OSSU!
Da esq. para a dir., em pé: Tecchio, Thiago, Rodolfo, Clayton,
Sensei Rato, Caio e Douglas
As meninas: Vivi, Fabi, Dani, Mariana, Shirlei, Fabi e eu
Ajoelhados: Rafa, Ligeirinho, Renan e Carlos


O combinado era às 9h30 da manhã (nem um minuto a mais, disse o sensei) ali na academia. Da Lapa, a gente seguiria em comboio até o Campo Belo, pra todo mundo chegar junto.

Na noite anterior, senti o sintomas de uma crise de ansiedade se aproximando: taquicardia, suor frio, pensamentos a milhão. E se eu não conseguisse? E se eu fosse reprovada? Pensei em ligar pras meninas, mas achei meio nóia. E respirei, respirei horrores. Mal dormi, porque fantasias terríveis vinham na minha cabeça – na pior delas, éramos chamados, individualmente, para demonstrar os golpes: Nana, uchi kakato otoshi! Ossu sensei! Yoko geri – ossu sensei! Ushiro mawashi – ferrou, sensei!

Acordei às 6 da manhã, totalizando no máximo 4 horas de sono... a ansiedade era grande. E se eu errar? E se confundir os golpes? Vou ter que lutar? Chegando na academia, toquei na porta da casa da Vivi esperando que ela me acalmasse – por sorte ou não, ela estava quase tão ansiosa quanto eu... o resto da galera estava agitado, mas ninguém parecia estar na mesma vibe que eu, até eu encontrar a Shirlei. A gente se abraçou e confessou que estava com dor de barriga de nervoso, e naquela hora estava mais do que determinado que não importava quantos golpes me pedissem: uma avaliação era sempre a maior porrada na vida de uma perfeccionista.

Chegamos na academia do sensei Luciano após pegar um puta trânsito, e no carro mesmo, com a Vivi, a Shirlei, a Fabi e o Thiago, eu já saquei que a galera estava muito mais nervosa do que queria demonstrar. Quando chegamos na academia-matriz, eu quase sentia que tinha que ficar em silêncio, um quê assim de reverência... nos trocamos e em pouco tempo o exame de faixa ia rolar.

O treino técnico começou e senti que dava pra dar uma relaxada - já havia feito aquilo centenas de vezes, era campo seguro, território neutro, dentro do controle. Beleza, estava tranquila, apesar do calor de mais ou menos 30 graus que estava rolando lá dentro. Também, pudera: eram 44 alunos, além dos senseis e convidados. Tudo isso gerava um calor humano dos mais potentes...

O problema recomeçou quando que eu me liguei que os 4 senseis presentes (Luciano, Rato, Edivan e Jurandir) ficavam passando entre nós, olhando detalhadamente o que estávamos fazendo. Recomeçou o nervosismo, e quando o Luciano me corrigiu no bloqueio de um mawashi, eu tremi na base - pronto, tinha havido uma falha. Quase chorei, mas o olhar tranquilo da Fabi, que no auge da sua porra-louquice estava achando tudo aquilo o maior barato, me tranquilizou... só dava pra seguir em frente.

Acabado o treino, foram nos chamando em ordem de faixa. Dava pra sentir uma energia incrível rolando ali no meio daquela galera, todo mundo sentado esperando ansiosamente seus nomes serem chamados, o sensei Luciano com um livro preto na mão, iguais àqueles que as professoras usavam no colégio para escrever anotações e advertências sobre os alunos. Então... então eu estava na maior adrenalina e na maior tensão ao mesmo tempo.

Faixa azul eu sabia que não tinha pegado, mas na amarela eu dei uma titubeada... será que tinha conseguido superar? O sensei chamou as meninas, e eu via na cara delas o orgulho e o sentimento de conquista. Fiquei orgulhosa que todas as meninas da academia estavam com uma graduação mais alta, e vi que o Rato também estava bem feliz.

Quando o sensei começou a chamar os faixa-verde, eu quase explodi: tinha conseguido! Era de verde pra cima, e aquele era meu objetivo. Fora pelo calção verde que eu parara de fumar, fora pelo calção verde que eu havia abdicado de muita coisa em prol dos treinos. Foi pelo calção verde que minhas amigas se irritaram algumas vezes quando eu eliminei todas as segundas e quartas à noite do meu calendário de saídas noturnas– “é dia de treino, e eu não vou faltar”. De segundas e quartas, eu incluí as terças e quintas à tarde, e depois a sexta-feira à noite. Minha família reclamou um pouco que eu só treinava, e foi meio duro fazer mamis compreender que os machucados faziam parte do negócio...
O pessoal era chamado um a um e eu fui ficando. Todo mundo morreu de rir quando o sensei chamou o Ligeiro por um nome meio americanizado, que a princípio ninguém reconheceu. Era óbvio que o apelido ia pegar. Ia não, já pegara: de Janílson, ele virara o Djénilson, e a gafe foi a oportunidade que todo mundo esperava pra poder rir, mostrar que estava feliz, tirando um pouco a cara de seriedade do rosto.

Quando o Luciano me chamou, eu queria pular, gritar, chorar. OSSU!, foi tudo o que eu disse, e orgulhosamente me sentei junto aos demais faixa verde. Enquanto os outros alunos eram graduados, um filminho passou na minha cabeça – lembrei da primeira aula que eu fiz, ainda na academia do Bruno, com o Thiaguinho... não sabia o que era jab, nem direto, muito menos um gedan. Minha irmã ainda lutava comigo, a gente achava tudo aquilo a maior doidera e às vezes até brigávamos no meio do treino.

Lembrei quantas vezes pensei em parar os treinos por achar que não levava jeito pra coisa, mas as palavras do sensei Rato sempre me motivavam e eu seguia em frente, até mudar pra academia da Lapa atrás dele quando ele saiu da Uru-Brasil. Lembrei que eu cheguei lá na Lapa cheia de medo, com a minha sempre presente dificuldade em fazer amigos, insegura, com vergonha... Lembrei que abandonei os treinos no começo do ano por causa da ansiedade, e que fui super bem recebida quando voltei com o rabo entre as pernas e disposta a recuperar o meu moral. Foi quando eu e as meninas metaforicamente baixamos a guarda e nos tornamos amigas, parceiras, que se ajudam nas horas difíceis, que puxam a orelha uma da outra durante os treinos – o mais honesto exemplo de seiwa: a união pela aprendizagem, a ação coletiva, o esforço conjunto.

Após a graduação, fomos todos tomar uma cerveja na pastelaria ali na Monteiro de Melo mesmo, e claro que o brinde foi um OSSU! bem alto e bem forte, como a gente merecia! A Shirlei tentou ir embora umas 12 vezes e em todas elas a gente a convenceu a ficar mais um pouquinho. Ninguém queria que ninguém fosse embora, pois havíamos conquistado aquilo juntos, e a Shirlei era o maior exemplo de superação – ela teve que usar a corda durante os primeiros meses, e estar ali era uma puta vitória!

A gente comeu e bebeu, e conversou e riu demais, todos meio anestesiados pela descarga de adrenalina: tinha acabado, e todo mundo tava mais que satisfeito! Dava pra ver que o sensei estava orgulhoso de nós, e o sorriso da galera quando viramos o último copo era algo de filme. Ninguém tirou foto porque nem precisava: eu tenho certeza que ninguém nunca vai esquecer aquele brinde.

Depois de um tempo os ânimos foram baixando, a adrenalina acabando, e sem falar nada, levantamos pra irmos embora. A despedida na frente da academia foi gostosa, com muitos parabéns e agradecimentos ao sensei, e todo mundo se comprometeu a, óbvio, estar lá de novo na segunda à noite pra treinar pesado.

Voltando pra casa o sorriso não saía do rosto... vitória, vitória, vitória! Não há nada igual ao sentimento de vencer os próprios fantasmas, e eu estava tomada por satisfação. Botei no som o meu hino à alegria, Girls just want to have fun, e cantei a plenos pulmões porque era bem isso: eu tinha vencido uma etapa importante e agora queria curtir a conquista, sentir orgulho, merecido orgulho, e me sentir finalmente confiante.

Chegando em casa, a adrenalina baixou total e veio o sono, merecido, após tantas noites mal-dormidas. Abracei minha mãe, que ficou toda orgulhosa da filhinha, e me fechei no meu quarto. Era a minha hora comigo mesma. Continuei com a roupa de treino, e me olhei no espelho com olhos de combate... sorri – agora, Ana Paula, é rumo ao ringue, rumo à faixa marrom, rumo às competições.

Com espírito guerreiro e de roupa de treino e tudo, adormeci, um sono profundo com sonhos intenso, povoados de príncipes, princesas e ringues em plenos verdes campos... no centro do campo estava eu, num lindo vestido. E quando eu subi naquele ringue, o Sr. Myagui, de Karate Kid, estava lá, me entregando uma flor verde.

Acordei agradecendo àquele mestre que na minha infância e em minhas fantasias me deu tantos exemplos, e dentro de mim nasceu uma nova sensação: a de que tudo está apenas começando...

Um comentário:

Priscila Rocha disse...

CONGRATS MY FRIEND!
GOT FIGHT?

bjuuusss