segunda-feira, dezembro 15, 2008

Escolhas




A vida é feita delas. Somos, todos os dias, inundados por milhares de situações que exigem que optemos entre isso, aquilo ou aquilo-outro. Muitas vezes, as alternativas são escassas, e nossas opções limitam-se a uma ou duas possibilidades - por exemplo agora: escolha, desde já, se você irá ler ou não este texto inteiro. Ele é grande, e parar no meio pode ser frustrante.

O cérebro humano, através de milhares e milhares de sinapses realizadas simultaneamente, desenvolveu um sistema eficiente e – o mais importante – extremamente veloz de processar as informações e agir diante de determinada circunstância. Imagine só se, a cada tomada de decisão, o nosso cérebro não funcionasse rápido o bastante pra decidirmos algo: virar à direita ou à esquerda, escolher um ou outro prato, colocar esta ou aquela blusa, desviar de um obstáculo, fugir de um cachorro, etc etc etc.

Os exemplos são infinitos, e todo mundo já reparou que, quando esse tipo de escolha de ordem prática não é tomada rapidamente, nos sentimos perdidos. É o caso de quando não fazemos a menor idéia do que vestir, ou quando queremos comer todos os pratos do cardápio, ou quando não sabemos que direção devemos seguir com o carro. O natural é que este tipo de decisão seja tomada rapidamente – mesmo que, havendo a possibilidade, se repense a decisão tomada. Quando não sabemos o que escolher, o resultado é, invariavelmente, a angústia.

A verdade é que, de uma forma ou de outra, estamos sempre escolhendo. Às vezes de forma inconsciente e automática (suco de laranja ou de limão? com ou sem gelo?), às vezes depois de muito pensar. Às vezes nos deparamos com situações em que a escolha é mais difícil e implica em, fatalmente, des-escolher uma série de coisas e essa é a maior angústia em relação às escolhas da vida: escolher algo significa, necessariamente, a morte de todas as outras possibilidades. Escolher como destino de viagem o Japão significa, sem choro nem vela, não ir à Islândia – pelo menos não num primeiro momento.

Entretanto, por mais que as escolhas sejam inerentes à condição humana, é fato que nem sempre elas são fáceis, já que existem, fatalmente, decisões mais ou menos complexas. Tem coisa que não tem como escolher na base do uni-duni-tê (método que já utilizei fartamente em situações de desespero!). Tem gente que queima os tubos refletindo e nunca chega a decisão alguma. Outras pessoas podem escolher algo sem perceber e depois viver a vida lamentando a decisão e culpando os outros. Isso sem contar na quantidade de vezes que a gente, por querer escolher tudo, acaba sem nada. É o caso clássico da mulher ou do cara que namora duas pessoas ao mesmo tempo e que no fim acaba ficando sem ninguém. Já diz o ditado célebre: melhor um pássaro na mão do que dois voando! Pensando em escolhas, opções, decisões e possibilidades, não pude evitar de me perguntar: como fazer a escolha certa?

O medo do arrependimento é o que geralmente permeia a dificuldade de uma decisão. Escolher certo é uma pressão que sentimos desde quando somos obrigados, aos meros 17 ou 18 anos de idade, a escolher aquilo que iremos, pelo menos em teoria, fazer pelo resto da nossa vida: uma profissão. Acredito ser essa, fatalmente, a primeira grande escolha de nossas vidas. Como escolher certo? E se nos arrependermos? E se fizermos a escolha errada?

Esse medo costuma dominar as pessoas por toda a vida. Não se trata aqui de decisões do tipo ‘compro uma Tucson ou uma CRV-4’, mas escolhas um pouco mais amplas e de consequências mais vastas – deixar ou não um emprego, ter ou não filhos, casar-se ou não com o parceiro, impedir ou não uma traição, se meter ou não onde é não chamado. Coloco aqui apenas situações binárias, cujas possibilidades se resumem a alternativas opostas, diretas, sim-ou-não, mas existem em nossas vidas situações e mais situações, a todo o tempo, em que todo um leque de opções se abrem, dificultando ainda mais nossas decisões. Some-se a isso a realidade angustiante da dimensão temporal: jamais pode-se voltar no tempo. Resultado: medo. Insegurança. Ansiedade.

Recentemente, um paciente meu queixou-se de não saber mais quem era, pois não sabia mais do que gostava. Andava indeciso para tudo – até mesmo para comprar sapatos. A inteligência dele o impedia de ver a genialidade da simplicidade de seu raciocínio – sua indecisão estava diretamente ligada aos seus desejos, por ora ocultos embaixo de um monte de pressões sociais, carências afetivas e expectativas frustradas.

A verdade é que, em se tratando de escolhas, não existe melhor parâmetro do que nosso próprio desejo e o alcance de nossos objetivos, mesmo que isso signifique, às vezes, sacrificar outros desejos para atender algum em especial, ou postergar certos prazeres em prol de um benefício a longo prazo. Por vezes a gente decide fazer algo que não está muito satisfeito, mas visualizando algo bacana lá na frente. Sendo assim, para escolher bem (qualquer que seja a situação), é totalmente necessário ter um mínimo de auto-conhecimento, um mínimo de auto-percepção. Pra saber se escolhemos o doce ou o salgado, há de se ter, necessariamente, conhecido ambos. Para resolver, afinal de contas, se é melhor terminar ou não um relacionamento, é preciso tê-lo vivido em sua plena intensidade para absorver e compreender todos os sentimentos e possibilidades envolvidos.

Recentemente, enfrentei uma escolha difícil: marquei sem querer duas coisas importantes para a mesma data e, fatalmente, precisaria frustrar um de meus amigos. Sofri horrores com a situação. Tive medo de perder as amizades. Fiquei sem fala, tive pesadelos. Não sabia o que escolher até que, tendo percebido que, necessariamente, um dos dois sairia magoado, me resolvi por consultar o meu desejo e também o nível de confiança que eu tinha nas amizades em questão. A partir daí, a decisão ficou mais fácil, muito embora tenha sido difícil comunicá-la ao amigo com quem desmarquei.

Uma boa dica para se escolher bem é ouvir o seu estômago. Sim, ele mesmo – quando algo não vai bem, ele logo aponta o desconforto da situação. Costumo dar esta orientação a meus pacientes: se sua razão e sua emoção não foram úteis numa dada circunstância, consulte seu estômago: ele geralmente está certo. Ao meu paciente confuso quanto aos seus desejos, orientei a experimentá-los todos, aproveitando-se da ausência de paradigmas para poder testar limites e saborear novas coisas, sem culpas, pressões ou exigências do tipo ‘eu deveria’, usando somente o (des)conforto estomacal para tomar as decisões mais sérias. Pelo que ele vem me contando, tem dado certo.

A única coisa que nós devemos, em se tratando de escolhas, é assumir a responsabilidade por elas. Não existe escolha certa ou errada, e não tem problema nenhum dizer “não sei”. Existe apenas a ousadia de saber arriscar. O resto é o resto, são as consequências que todos nós, como adultos que somos, teremos que tolerar – ninguém jamais descobriu uma fórmula mágica.

Nos resta experimentar e sermos ousados. É como ouvi um dia por aí: o maior risco que corremos é acreditar que podemos evitar qualquer tipo de risco.

Um comentário:

Isabela Guerra disse...

Escolhas... ah as escolhas...
Nanita do céu... li todo todinho, escolha correta, CERTEZA!!!
minha SANIDADE foi a escolha do ano de 2008... SANIDADE saber que para continuarmos evoluindo, e necess[ario sim arriscar, ousar, mas com riscos calculados e riscos assumidos...Daí vem a certeza, que independente do que deixamos, foi a escolha correta!!!!