terça-feira, junho 30, 2009

Hiato

Batem fortes aqui dentro, novamente, as mágoas da separação. Grandes despedidas marcaram nossa história – nenhuma definitiva, nenhuma de verdade. Nossas lindas palavras falam na vã tentativa de calar nossa terrível verdade: jamais estivemos juntos. Você me incute, por fim, a dúvida - será?

Meus sonhos e desejos se voltam novamente para ti, e em meio a um inverno emocional dos mais cruéis sua presença me lembra novamente o verão. Me sinto viva e meus galhos mostram novamente vontade de florescer. Meu solo está novamente fértil – recebo então sua semente estéril e acolho sua eterna dúvida. Mudam novamente as estações, e enxugo calmamente as lágrimas negras do rímel que usei pra te encontrar.

No hiato congelado existente entre nós, permanece a indelével e inquestionável evidência de que nossa história foi despedaçada há muito, muito tempo atrás. A esperança, morta-viva, volta para de onde veio. No eco das suas palavras eu vejo, finalmente, que nada restou a não serem promessas de que tudo seria muito diferente, se tudo não fosse exatamente como é.

domingo, junho 28, 2009

Sede



O sucesso é mais doce
A quem nunca sucede
A compreensão do néctar
Requer severa sede...


Emily Dickinson

sexta-feira, junho 26, 2009

Tempos Modernos?



Recentemente, minha amiga Andrezza* me procurou para um café. Na SMS que ela me mandou, cheia de gírias e de abreviações, adiantou que o assunto era SOS, o que me fez me preparar emocionalmente para o encontro.

As conversas com a Andrezza eram tensas. Ela era ás em encontrar boas justificativas para tudo o que fazia. Mestra na argumentação, ela era capaz de convencer um indiano a maltratar uma vaca, de tão convincente que era. Eu já sabia, àquela altura do campeonato, que a coisa ia ser feia – eu e a Andrezza sempre fomos radicalmente diferentes, e temos um histórico de grandes discussões. Assuntos SOS eram sinal de confusão.

Assim que nos encontramos no café, a Andrezza foi rápida e fulminante: “Você curte tecnologia?”. Confesso que esperava, antes de mais nada, as conversas amenas típicas de elevador. Pra ganhar tempo, pedi um cappucino, enquanto tentava me orientar novamente.

A questão era: a Andrezza tinha encontrado um cara no clube de salsa, um cara que sempre estava lá e com o qual sempre trocava olhares. Na semana anterior, haviam conversado e finalmente trocado algumas beijocas. O clima estava bacanérrimo, conversaram todo um atlas, de esporte a economia, de viagem a tintura de cabelo, de princípios de vida à religião. No fim da noite, ele segurou seu casaco, disse que havia amado a noite e que havia gostado muito de conhecê-la. E então...

- Sem delongas, ele foi dizendo o endereço de email dele. Que era pra eu escrever, adicioná-lo no MSN, esse tipo de coisa. Eu logo achei que aquilo era uma desculpa pra gente nunca mais se ver, mas o problema é que ele parecia sincero ao pedir que eu escrevesse!

Ela estava em surto. Absolutamente confusa. Após consultar suas duas terapeutas, a Andrezza estava questionando se estes eram os Tempos Modernos. E pela primeira vez em muito tempo, eu comecei a concordar com ela - eu ainda sou do tempo em que se trocava telefones, emails eram coisas de trabalho, e MSN era só tiração de sarro. Mas ela tinha razão em uma coisa: o telefone também estava migrando pra internet, com o Skype e outras coisas do tipo.

O processo parece mesmo ter se invertido – o telefonema é o último passo a ser dado quando duas pessoas estabelecem uma comunicação virtual. Eu mesma passei a perceber que tenho muito mais disposição em enviar um longo email para uma amiga, do que me pendurar ao telefone com ela. Está certo que eu me expresso melhor escrevendo do que falando, mas é verdade que eu tenho amizades que têm sido mantidas assim há aaaaanos. Telefonar virou raridade.

O que aconteceu com a Andrezza já aconteceu comigo, com outras amigas e praticamente com todo mundo por aí. Não sei se por falta de tempo, falta de coragem ou se por puro hábito, a intimidade mudou de cara, e tornou-se difícil delimitá-la no dia-a-dia. Em tempos em que nos sentimos totalmente à vontade para nos expor em blogs e outras coisas do gênero, e que trememos na base diante de encontrar pessoalmente um carinha ou mocinha bacanas, como resguardar algum parâmetro real sobre o assunto? Como não transformar isso tudo num grande jogo de detetive, o que poderia ser perfeitamente substituído por uma simples troca de olhar em que as intenções e desejos se revelam? O homem que usa muitas reticências está reticente? A mulher que usa muitos pontos de exclamação está eufórica? Como possuir algum referencial verdadeiro dentro deste novo, bizarro e tosco jogo de conquista?

Talvez eu deva mencionar: Andrezza é portadora de Transtorno de Ansiedade Generalizada, o que significa que todo este questionamento é muito, muito sofrido para ela. Ela ainda está achando que o problema é com ela e que o carinha não queria vê-la novamente. Pra confrontar essa crença, eu a incentivei a, afinal, adicionar o tal cara na porra do MSN e ver que bicho que dava. Ela relutou, como sempre, usando mil e uma justificativas. Um bom “vai tomar no c%$&*#” e algumas frases de Gandhi trataram de convencê-la.

Neste exato instante, Andrezza adicionou Fulano e está no quarto café em frente ao computador, esperando alguma resposta para o sorrisinho tímido que ela lhe enviou. Já se passaram dois minutos e nada ainda aconteceu. Andrezza treme e fuma. Do outro lado do seu celular, estou eu, igualmente ansiosa pelo desfecho, quase como se eu também dependesse disso. Não sei se me encaixo nessa modernidade toda, então também tremo. Tremo de verdade. Tremo e penso... SOS.
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* O nome da minha amiga foi trocado, pra não expor sua intimidade nem nada...

quarta-feira, junho 24, 2009

Rapidinha

As escolas do país estão ensandecidas, terminando seus períodos escolares antes da hora.

Tirando o fato de que isso deixa minha mãe, que tem mania de doença, cada vez mais histérica, que delícia ser presenteada com a notícia de que eu então também tô de férias até agosto de uma das escolinhas. Coisa chata ter a sexta-feira livrezinha da silva sem crianças mala gritando no ouvido é ter que parar o trampo assim de repente, sem aviso prévio e sem programar a interrupção com os pais.

Pelo menos eu ganhei a mesma grana trampando muito menos deu pra entrar em recesso vendo o trabalho surtindo efeito. Diferente de em algumas outras ocasiões...

Duro ser psicóloga, viu! Mais duro ainda ter fim de semana de 4 dias :P

segunda-feira, junho 22, 2009

Thank you

Although it was painfull anyway.

sexta-feira, junho 19, 2009

Cantilena




Eis aqui notícias de seu criado - estas terras por aqui, meu Rei, são estranhas! Uma eterna luta entre cobras e aranhas mancha o solo que aqui é encontrado!

Não existe o conceito de errado, não existe a ordem e a moral! Não vejo nada aqui que seja normal - esse lugar, por Deus, foi abandonado. Os desejos parecem todos forjados: quem quer finge não querer; quem sabe, finge não saber - os valores estão todos invertidos!!

Certos combates podem até ser divertidos, mas sempre à custa da humilhação alheia. A pessoa que por um instante titubeia é isolada sem dó nem piedade! Não sei dizer, senhor, o que aqui é de verdade, ou o que é encenado com a maior das perfeições. Sei dizer que as mentes calam os corações, pelo medo de ser ridicularizado.

Meu Rei, fico mesmo desolado, porque o amor, que tristeza, virou guerra! Com estratégias dignas de nossa terra pra conseguir a mais simples das vitórias. Por aqui, senhor, se contam histórias, de que o amor fere, ao invés de fazer bem! Tem gente que prefere viver sem, a correr o risco de um dia chorar.

Imploro ao Senhor que me permita voltar! O ar daqui parece ser contagioso - eu mesmo já ando desgostoso de com as pessoas daqui conversar. Sugiro nosso exército avisar, e que permaneça fortemente armado - por aqui se tem planejado os nossos campos dominar!

Senhor, eu vim lhe avisar, e rogo: por favor não permita! que essa gente esquisita possa nossa fé abalar! Não nos deixemos desmotivar! Lembremos do nosso passado, dos nossos anos dourados, e das nossas amadas crianças!

Não deixemos que a esperança possa pra cá se debandar! Reunamos nossos homens e às mulheres vamos avisar! A partir de hoje, ergamos os copos, e brindemos, senhor, a meus votos, que não deixemos de acreditar...

segunda-feira, junho 15, 2009

Partida

Neste fim de semana, me despedi de mais um amigo, desta vez dos mais queridos. Meu melhor amigo, parte de mim, vai morar nas Ilhas Canárias, com apartamento emprestado, passagem doada, emprego garantido. Diversas aventuras o esperam por lá, nesta nova vida que ele hoje arrisca. Em menos de 1 ano, várias pessoas queridas partiram para viver suas vidas de um jeito diferente. Mudando de país para renovar a vida, de cidade para retomar estudos, de continente para tentar de novo, vejo pessoas valentes, corajosas e ansiosas por vidas novas, cheias de surpresas e de novidades.

Enquanto uma parte de mim vibra de alegria por cada uma destas partidas, outra parte de mim se sente, inevitavelmente, solitária e parada no tempo. A sensação é de estar ficando pra trás, de estar estagnando em torno das mesmas conquistas. Sinto-me, de repente, extremamente velha. Não sei se é vontade do novo ou bode momentâneo do presente; não sei se é ansiedade pelo futuro ou apego afetivo elevado à enésima potência. Mas eu sei que, por alguns breves momentos, eu tive o desejo de que tudo parasse e ficasse exatamente no mesmo lugar, que o tempo voltasse e que meus grandes amigos jamais tivessem partido.

A parte mais saudável de mim caiu na real, e desejei por fim, alternativamente ao tempo parar e nada mudar, e assim retirar de meus amigos, de meus corações, suas novas oportunidades de serem felizes, que a minha própria vida mudasse e que eu me projetasse ante um novo futuro, ganhando assim a força e vitalidade que cobicei. Desejei por fim ter eu mesma minhas próprias surpresas e aventuras, e a vida nova e vibrante que, sem malícia ou inveja, secretamente desejei também experimentar. Se tudo o que vemos no outro nos evoca partes de nós mesmos, gosto então de acreditar que partezinhas de mim estão viajando por aí, vivendo suas novas vidas, recomeçando nem que seja estudando numa nova faculdade, viajando todo o continente, ou quem sabe somente se espreguiçando sob o sol morno de uma praia nas Ilhas Canárias...

Valentines?

I think nothing will never be enough...

terça-feira, junho 09, 2009

Alea jacta est!



Depois de ter o coração estraçalhado pela segunda vez pelo cara que até outro dia era homem com agá maiúsculo pra mim, eu resolvi abrir as portas da represa e declarar: estou disponível e a temporada de datings está aberta!

Inverno emocional é pra principiantes. Eu já tive o meu, que durou dois anos e teve efeitos colaterais tenebrosos, como transtornos ansiosos e namoros ridículos com homens de merda. Desta vez eu juro que vai ser diferente.

E na onda dos experimentos afetivos, as vagas foram disponibilizadas para o público e o processo seletivo já está rolando (inscrições aqui, aqui!) – já descolei um convite pra jantar com um menino incrível e troquei telefones com um cara gatésimo da outra academia.

Os experimentos têm mostrado tanto resultado que até carona pro gatésimo eu dei, e vou te contar que se eu fosse mais beáti e desse um mole pegava o cara ali mesmo. Quem me conhece sabe que este não é o meu feitio, nem fazer caras e bocas. Mas acontece que eu honestamente acho que tá na hora de mudar esse tal do meu feitio.

Quem sofre de seca é o povo do sertão, aqui na metrópole o que rege a vida de nós solteiros é a Lei da Oferta e da Procura. Chega de seriados de TV! A vida é agora! Ok Next! E só pra não dar zica... alea jacta est!

sexta-feira, junho 05, 2009

Mais Azul


Eu sei que esse meu jeito é difícil, e que não sou apenas e tão somente alguém cheia de opiniões. O meu buraco sempre foi mais embaixo, eu acho as mulheres todas fracas e patéticas e me recuso a ingressar neste rol, apesar de ser como qualquer outra garota que cruza nossos caminhos todos os dias. Desprezo estes grupinhos femininos que só falam em vocês, respiram do ar seus hormônios masculinos, produzem-se todas só pensando sobre isso. No fundo, eu sei que o que sinto é inveja de não ter esse assunto todo pra falar. Acabo arrogante. Talvez seja hora de dar o braço a torcer, não sou menininha nem quero ser, tenho outros focos na vida que não apenas este, mas entre o preto e o branco tem mil e uma tonalidades de cinza. Posso escolher uma se preferir, e descobrir a mocinha aqui dentro de mim. Parei por aqui de fingir que não me importo. Eu cansei das defesas que pesam minhas costas, cansei de ver só o preto no branco - hoje meu dia amanheceu mais azul, e está mais do que na hora de confessar: amanheceu mais azul por ter reencontrado você.

terça-feira, junho 02, 2009

Mar de testosterona


Existem duas coisas que, desde pequena, sempre foram capazes de me tirar do sério: pizza de marguerita e sapatos. Recentemente, descobri mais um novo fator responsável por elevar meu nível hormonal e de desestabilizar completamente meu sistema nervoso: campeonatos de artes marciais. Claro, claro, a técnica é demais e eu, como lutadora, mais do que aprecio um bom espetáculo de trocação de porradaria. Mas (e como diz minha amiga Luli, sempre tem um ‘mas’), confesso que não foi bem isso que me apeteceu nesse sábado em específico.

Após praticamente agarrar um braço alheio no metrô de São Paulo, fui acometida de outros impulsos irrecorríveis e inusitados. A cena: um ginásio com capacidade de 2.500 pessoas, 90% do sexo masculino, no centro um ringue com dois caras semi-nus, suados e brilhantes, com cara de machos bravos pra diabo, enfiando a mão na cara um do outro... é o cúmulo do instinto animal feminino eu ter simplesmente ENLOUQUECIDO num lugar destes. Considerando então uma fêmea solteira, desimpedida, em idade fértil e, digamos, sem praticar a cópula há algum tempo... lá se foram meus níveis de progesterona.

Nunca imaginei que passaria por este tipo de situação, mas a verdade é que não assisti patavinas das lutas. Sei quem ganhou o GP, mas não sei dizer se mereceu, se o juiz roubou, se teve chute na virilha. Mas pergunte-me sobre a anatomia dos competidores e poderei dizer que, não apenas no ringue, como também nas arquibancadas, o ginásio do Pacaembu estava “assim” de exemplares excelentes da espécie humana. Um show de abdomens, um festival de tríceps, e bíceps, e coxas que até Deus duvida. Bundas perfeitas (homem com bunda é artigo de luxo), tórax suados e ofegantes, ombros definidos, rostos afogueados, respirações aceleradas, gritos da torcida, instintos à flor da pele, cabelos desgrenhados, bocas entreabertas... alguns até eram bonitinhos. Enfim, um MAR DE TESTOSTERONA.

Eu jamais achei que fosse passar por isso, mas a verdade é que aquilo tudo foi demais pra mim. A enxurrada hormonal me dominou, desestruturou e doeu em mim como um soco na cara. A solidão nunca bateu tão forte, e por “solidão” entendam como quiserem. A verdade é que tem horas na vida de uma mulher que o que é preciso não é dormir de conchinha, cafuné ou cartinha de amor. É o autêntico pegapracapá. Por via das dúvidas, e de maneira a massacrar o instinto recém-aflorado e impossível de ser satisfeito pelo menos nas próximas horas, tomei várias na baladinha à noite, e terminei a noite de sábado devorando um x-salada no Burdog na companhia da minha melhor amiga. É como eu sempre digo: comer são as duas melhores coisas do mundo. Mais os sapatos, claro.