Recentemente, minha amiga Andrezza* me procurou para um café. Na SMS que ela me mandou, cheia de gírias e de abreviações, adiantou que o assunto era SOS, o que me fez me preparar emocionalmente para o encontro.
As conversas com a Andrezza eram tensas. Ela era ás em encontrar boas justificativas para tudo o que fazia. Mestra na argumentação, ela era capaz de convencer um indiano a maltratar uma vaca, de tão convincente que era. Eu já sabia, àquela altura do campeonato, que a coisa ia ser feia – eu e a Andrezza sempre fomos radicalmente diferentes, e temos um histórico de grandes discussões. Assuntos SOS eram sinal de confusão.
Assim que nos encontramos no café, a Andrezza foi rápida e fulminante: “Você curte tecnologia?”. Confesso que esperava, antes de mais nada, as conversas amenas típicas de elevador. Pra ganhar tempo, pedi um cappucino, enquanto tentava me orientar novamente.
A questão era: a Andrezza tinha encontrado um cara no clube de salsa, um cara que sempre estava lá e com o qual sempre trocava olhares. Na semana anterior, haviam conversado e finalmente trocado algumas beijocas. O clima estava bacanérrimo, conversaram todo um atlas, de esporte a economia, de viagem a tintura de cabelo, de princípios de vida à religião. No fim da noite, ele segurou seu casaco, disse que havia amado a noite e que havia gostado muito de conhecê-la. E então...
- Sem delongas, ele foi dizendo o endereço de email dele. Que era pra eu escrever, adicioná-lo no MSN, esse tipo de coisa. Eu logo achei que aquilo era uma desculpa pra gente nunca mais se ver, mas o problema é que ele parecia sincero ao pedir que eu escrevesse!
Ela estava em surto. Absolutamente confusa. Após consultar suas duas terapeutas, a Andrezza estava questionando se estes eram os Tempos Modernos. E pela primeira vez em muito tempo, eu comecei a concordar com ela - eu ainda sou do tempo em que se trocava telefones, emails eram coisas de trabalho, e MSN era só tiração de sarro. Mas ela tinha razão em uma coisa: o telefone também estava migrando pra internet, com o Skype e outras coisas do tipo.
O processo parece mesmo ter se invertido – o telefonema é o último passo a ser dado quando duas pessoas estabelecem uma comunicação virtual. Eu mesma passei a perceber que tenho muito mais disposição em enviar um longo email para uma amiga, do que me pendurar ao telefone com ela. Está certo que eu me expresso melhor escrevendo do que falando, mas é verdade que eu tenho amizades que têm sido mantidas assim há aaaaanos. Telefonar virou raridade.
O que aconteceu com a Andrezza já aconteceu comigo, com outras amigas e praticamente com todo mundo por aí. Não sei se por falta de tempo, falta de coragem ou se por puro hábito, a intimidade mudou de cara, e tornou-se difícil delimitá-la no dia-a-dia. Em tempos em que nos sentimos totalmente à vontade para nos expor em blogs e outras coisas do gênero, e que trememos na base diante de encontrar pessoalmente um carinha ou mocinha bacanas, como resguardar algum parâmetro real sobre o assunto? Como não transformar isso tudo num grande jogo de detetive, o que poderia ser perfeitamente substituído por uma simples troca de olhar em que as intenções e desejos se revelam? O homem que usa muitas reticências está reticente? A mulher que usa muitos pontos de exclamação está eufórica? Como possuir algum referencial verdadeiro dentro deste novo, bizarro e tosco jogo de conquista?
Talvez eu deva mencionar: Andrezza é portadora de Transtorno de Ansiedade Generalizada, o que significa que todo este questionamento é muito, muito sofrido para ela. Ela ainda está achando que o problema é com ela e que o carinha não queria vê-la novamente. Pra confrontar essa crença, eu a incentivei a, afinal, adicionar o tal cara na porra do MSN e ver que bicho que dava. Ela relutou, como sempre, usando mil e uma justificativas. Um bom “vai tomar no c%$&*#” e algumas frases de Gandhi trataram de convencê-la.
Neste exato instante, Andrezza adicionou Fulano e está no quarto café em frente ao computador, esperando alguma resposta para o sorrisinho tímido que ela lhe enviou. Já se passaram dois minutos e nada ainda aconteceu. Andrezza treme e fuma. Do outro lado do seu celular, estou eu, igualmente ansiosa pelo desfecho, quase como se eu também dependesse disso. Não sei se me encaixo nessa modernidade toda, então também tremo. Tremo de verdade. Tremo e penso... SOS.
As conversas com a Andrezza eram tensas. Ela era ás em encontrar boas justificativas para tudo o que fazia. Mestra na argumentação, ela era capaz de convencer um indiano a maltratar uma vaca, de tão convincente que era. Eu já sabia, àquela altura do campeonato, que a coisa ia ser feia – eu e a Andrezza sempre fomos radicalmente diferentes, e temos um histórico de grandes discussões. Assuntos SOS eram sinal de confusão.
Assim que nos encontramos no café, a Andrezza foi rápida e fulminante: “Você curte tecnologia?”. Confesso que esperava, antes de mais nada, as conversas amenas típicas de elevador. Pra ganhar tempo, pedi um cappucino, enquanto tentava me orientar novamente.
A questão era: a Andrezza tinha encontrado um cara no clube de salsa, um cara que sempre estava lá e com o qual sempre trocava olhares. Na semana anterior, haviam conversado e finalmente trocado algumas beijocas. O clima estava bacanérrimo, conversaram todo um atlas, de esporte a economia, de viagem a tintura de cabelo, de princípios de vida à religião. No fim da noite, ele segurou seu casaco, disse que havia amado a noite e que havia gostado muito de conhecê-la. E então...
- Sem delongas, ele foi dizendo o endereço de email dele. Que era pra eu escrever, adicioná-lo no MSN, esse tipo de coisa. Eu logo achei que aquilo era uma desculpa pra gente nunca mais se ver, mas o problema é que ele parecia sincero ao pedir que eu escrevesse!
Ela estava em surto. Absolutamente confusa. Após consultar suas duas terapeutas, a Andrezza estava questionando se estes eram os Tempos Modernos. E pela primeira vez em muito tempo, eu comecei a concordar com ela - eu ainda sou do tempo em que se trocava telefones, emails eram coisas de trabalho, e MSN era só tiração de sarro. Mas ela tinha razão em uma coisa: o telefone também estava migrando pra internet, com o Skype e outras coisas do tipo.
O processo parece mesmo ter se invertido – o telefonema é o último passo a ser dado quando duas pessoas estabelecem uma comunicação virtual. Eu mesma passei a perceber que tenho muito mais disposição em enviar um longo email para uma amiga, do que me pendurar ao telefone com ela. Está certo que eu me expresso melhor escrevendo do que falando, mas é verdade que eu tenho amizades que têm sido mantidas assim há aaaaanos. Telefonar virou raridade.
O que aconteceu com a Andrezza já aconteceu comigo, com outras amigas e praticamente com todo mundo por aí. Não sei se por falta de tempo, falta de coragem ou se por puro hábito, a intimidade mudou de cara, e tornou-se difícil delimitá-la no dia-a-dia. Em tempos em que nos sentimos totalmente à vontade para nos expor em blogs e outras coisas do gênero, e que trememos na base diante de encontrar pessoalmente um carinha ou mocinha bacanas, como resguardar algum parâmetro real sobre o assunto? Como não transformar isso tudo num grande jogo de detetive, o que poderia ser perfeitamente substituído por uma simples troca de olhar em que as intenções e desejos se revelam? O homem que usa muitas reticências está reticente? A mulher que usa muitos pontos de exclamação está eufórica? Como possuir algum referencial verdadeiro dentro deste novo, bizarro e tosco jogo de conquista?
Talvez eu deva mencionar: Andrezza é portadora de Transtorno de Ansiedade Generalizada, o que significa que todo este questionamento é muito, muito sofrido para ela. Ela ainda está achando que o problema é com ela e que o carinha não queria vê-la novamente. Pra confrontar essa crença, eu a incentivei a, afinal, adicionar o tal cara na porra do MSN e ver que bicho que dava. Ela relutou, como sempre, usando mil e uma justificativas. Um bom “vai tomar no c%$&*#” e algumas frases de Gandhi trataram de convencê-la.
Neste exato instante, Andrezza adicionou Fulano e está no quarto café em frente ao computador, esperando alguma resposta para o sorrisinho tímido que ela lhe enviou. Já se passaram dois minutos e nada ainda aconteceu. Andrezza treme e fuma. Do outro lado do seu celular, estou eu, igualmente ansiosa pelo desfecho, quase como se eu também dependesse disso. Não sei se me encaixo nessa modernidade toda, então também tremo. Tremo de verdade. Tremo e penso... SOS.
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* O nome da minha amiga foi trocado, pra não expor sua intimidade nem nada...
2 comentários:
Na boa, o mundo muda. Acho mais fácil não questionar e deixar tudo fluir. Não vejo nada de mau no cara querer o e-mail e o msn, depois pensar em telefone. Virou uma coisa como no passado era: primeiro pega na mão, depois abraça, depois beija.
Agora até terminar po e-mail virou moda... até parece que as pessoas te beijam por e-mail... afe!
Adoro receber e-mail, bilhetinhos, scraps e mimos, mas nada como ouvir a voz da pessoa no fim do dia perguntando se você está bem...
Adaptações...
Beijosss com saudade
PS: to curiosa pra saber o desfecho!
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