Enquanto o coração atingia os mil batimentos por minuto, sua cabeça girava a uma velocidade impressionante. Atravessou a porta com fervor, a ânsia de saber o que aconteceria quando por fim o encontrasse. Procurou com os olhos por entre aquelas trinta e tantas pessoas, e por fim o avistou. Os olhos azuis denunciavam uma tristeza legítima que ela jamais havia visto. As conjuntivas lhe pareciam assim meio vermelhas, os ombros pareciam caídos como quem não suporta mais seu próprio peso.
Beijaram-se. Levemente, como que para se reconhecerem. Ainda eram eles?, sequer os lábios pareciam os mesmos. As gargantas jaziam secas. As mãos não se entrelaçaram. Instintivamente, afastaram-se, como quem é repelido por uma espécie de choque elétrico que causa uma tensão invisível, porém iminente.
Naquele momento, soube.
Deambulou pela casa estranha cheia de risadas, como um morto-vivo à procura de um jazigo. Precisava descansar. A cabeça girava ainda mais intensamente, a respiração falhava, os pensamentos descarrilhavam dentro de si. Uma torrente de sentimentos desconexos a inundou e então chorou como precisava há dias. A crise de ansiedade a alcançou e milhares de imagens passaram em sua mente a cada segundo: esperas, demoras, atrasos, desculpas, crianças, álcool, telefonemas. Justificativas. Pretextos e contextos ilusórios nos quais escolhera acreditar por pura falta de opção.
Quando a sala por fim terminou de girar, ergueu a cabeça e piscou os olhos já borrados de rímel. Uma coragem súbita sacudiu seu corpo, uma lucidez quase obscena lhe atordoou, e ela soube que era hora de se despedir. Sabia que já não fazia sentido exigir suas desculpas nem sequer apresentar as suas – só precisava abandonar aquele cenário, aquele palco tétrico daquela peça já um tanto ultrapassada. Nada mais que falassem importaria tanto quanto o resgate de si mesma, nada era tão urgente quanto o profundo desamor por si de que deveria se livrar.
Nada era mais fundamental do que voltar à sanidade mental que aquele amor lhe roubara, e por isso o abandono era assim tão importante: precisava arrancar aquela página, extirpar todas as suas lembranças e atear-lhe fogo, como se jamais houvesse existido. Precisava exorcizar aquele demônio, extrair de si aquele câncer, aquela parte necrosada de seu coração que ameaçava contaminar todo seu corpo; precisava rasgar suas entranhas infectadas e violar seus compartimentos mais profundos afim de salvar o resto de sua fé, mesmo que lhe restassem profundas cicatrizes.
Tocou-lhe os ombros cansados e disse que estava indo. O ar dele foi de um cansaço, de quem já esperava algo que por fim ocorreu. Um carinho no rosto e um beijo nas mandíbulas foi tudo o que ela pôde lhe oferecer naquela hora já carregada de saudades.
“Seja feliz”.
Ele entendeu.
Ela anuiu.
Amputara-lhe.
Beijaram-se. Levemente, como que para se reconhecerem. Ainda eram eles?, sequer os lábios pareciam os mesmos. As gargantas jaziam secas. As mãos não se entrelaçaram. Instintivamente, afastaram-se, como quem é repelido por uma espécie de choque elétrico que causa uma tensão invisível, porém iminente.
Naquele momento, soube.
Deambulou pela casa estranha cheia de risadas, como um morto-vivo à procura de um jazigo. Precisava descansar. A cabeça girava ainda mais intensamente, a respiração falhava, os pensamentos descarrilhavam dentro de si. Uma torrente de sentimentos desconexos a inundou e então chorou como precisava há dias. A crise de ansiedade a alcançou e milhares de imagens passaram em sua mente a cada segundo: esperas, demoras, atrasos, desculpas, crianças, álcool, telefonemas. Justificativas. Pretextos e contextos ilusórios nos quais escolhera acreditar por pura falta de opção.
Quando a sala por fim terminou de girar, ergueu a cabeça e piscou os olhos já borrados de rímel. Uma coragem súbita sacudiu seu corpo, uma lucidez quase obscena lhe atordoou, e ela soube que era hora de se despedir. Sabia que já não fazia sentido exigir suas desculpas nem sequer apresentar as suas – só precisava abandonar aquele cenário, aquele palco tétrico daquela peça já um tanto ultrapassada. Nada mais que falassem importaria tanto quanto o resgate de si mesma, nada era tão urgente quanto o profundo desamor por si de que deveria se livrar.
Nada era mais fundamental do que voltar à sanidade mental que aquele amor lhe roubara, e por isso o abandono era assim tão importante: precisava arrancar aquela página, extirpar todas as suas lembranças e atear-lhe fogo, como se jamais houvesse existido. Precisava exorcizar aquele demônio, extrair de si aquele câncer, aquela parte necrosada de seu coração que ameaçava contaminar todo seu corpo; precisava rasgar suas entranhas infectadas e violar seus compartimentos mais profundos afim de salvar o resto de sua fé, mesmo que lhe restassem profundas cicatrizes.
Tocou-lhe os ombros cansados e disse que estava indo. O ar dele foi de um cansaço, de quem já esperava algo que por fim ocorreu. Um carinho no rosto e um beijo nas mandíbulas foi tudo o que ela pôde lhe oferecer naquela hora já carregada de saudades.
“Seja feliz”.
Ele entendeu.
Ela anuiu.
Amputara-lhe.
4 comentários:
Pesaado. Torturante. Doloroso.
Melhor ficar sem um pedaço que deixar a laranja podre invadir e tomar todo o resto.
Amooo!
...ou evitando o que poderia se deteriorar.
Beijo.
Fiquei aqui pensando no que comentar, mas não consegui nada além de... UAU!
Forte e preciso. Excelente!!!
Beijos
Amiga!
Seja Feliz, daqui pra frente só coisas boas!
Amputar!
Postar um comentário