terça-feira, setembro 08, 2009

Intimidade



Quem nessa vida já teve ao menos um relacionamento afetivo sabe que, em boa parte das vezes, é chegando mais pertinho que se desencanta. Como aquelas modelos maravilhosas que, se você colocar debaixo de uma lente de aumento, vai enxergar como ela realmente é: a pele, de pertinho, tem uns cravos; o cabelo maravilhoso é duro de tanto spray. Ela não é tão legal, tem bulimia, uns pés horríveis ou outras coisas do tipo.

Eu, pessoalmente, sempre acreditei e bradei por aí que a intimidade destrói uma relação, e que qualquer relacionamento se mantém muito mais sadio se certa distância for preservada. Não sei se, no fundo, isso não dizia somente a respeito de mim mesma, e se eu, a bem da verdade, não julgo a minha própria intimidade extremamente desinteressante.

Depois de alguns anos de reclusão e de pensamentos do tipo cada-um-na-sua-canga, parece que as lentes cinza da amargura aos poucos foram sendo levantadas, e as partes legais da intimidade foram sendo finalmente redescobertas. É absolutamente fantástico sair da superficialidade massacrante do nosso dia-a-dia, em que todos se encontram vestidos elegantemente dos pés à cabeça, cheirosos, os cabelos sem um fio fora do lugar, o sorriso ensaiado no rosto e o programa feito: cinema e jantar, exatamente nesta ordem. Isso basta durante algum tempo, até que você se encha e diga: quero mais, quero aprofundar.

Aprofundar é improvisar. É não ter script, não ter roteiro, não ter nada planejado e nada sob o seu controle. É simplesmente desfrutar da dinâmica complexa de uma relação sem que nada a alicerce a não ser o desejo da proximidade. Sem plano B: de repente chove e todos os planos que você fez têm que ser reformulados. Se vira nos 30 – quem sabe faz ao vivo, e o que é verdadeiro simplesmente é espontâneo.

A intimidade pode ser muito legal, porque intimidade não tem absolutamente nada a ver com as aparências, e sim com autenticidade, com essência. Sem máscara nenhuma você finalmente entra em contato, e eu, que andava com medo da intimidade, descobri que de pertinho tudo fica beeem melhor.

As pessoas são muito mais interessantes vistas de perto, porque de perto você vê por dentro. De perto você sabe que Fulano tem umas coisas engraçadas que, no “script” cotidiano, não aparecem. Você vê que Sicrano fica lindo ao acordar; você vê que Beltrana come assim ou assado. Você vê que, no fundo no fundo, todo mundo se parece um pouco, e que é justamente as nossas especificidades que vão fazer a diferença na hora de você bater no peito e dizer: esta pessoa é o máximo e eu gosto dela.

Os “erros de gravação” são sempre a parte mais legal do filme. A gente vê como poderia ter sido, a gente vê os atores rindo de verdade. O ensaiado não tem graça, é puro estereótipo. Eu, pessoalmente, sempre desconfiei de tudo o que me parecesse muito perfeito, e não é justamente o caráter tão humano o que me encanta nas pessoas? Suas particularidades, manias, pentelhices, idiossincrasias (!).

Adoro todas elas pelo simples fato de serem tão reais. Humanas, demasiado humanas. A intimidade só é capaz de destruir aquilo que, ao invés de se basear na realidade, se baseia nos ideais utópicos de perfeição, beleza e simetria.

Abaixo o Ideal! O real é o máximo, e somente a partir da intimidade podemos verdadeiramente desfrutá-lo.

6 comentários:

Luli disse...

Yes!

Marcela Marson disse...

Apoiada!
A intimidade é humana, verdadeira, REAL.
Mostra todas as nossas facetas, sem mistérios ou joguinhos.
Quem precisa de perfeição? Super - homem, Super - mulher?
Tô foraaaa.

Edilson disse...

Com certeza, é daí que percebemos o que é real, e o que deve permanecer, ou apenas um encantamento primário, por algo que num momento nos chamou a atenção. Beijo

Flavia Melissa disse...

ah, o amor...!

Fernanda S. disse...

Nana... falou tudinho e mais um pouco...
Essa tal de intimidade por trazer muitas coisas interessantes escondidas atrás dos véus do cotidiano!
Adoreiii o texto!
Beijos com saudade

Leonardo disse...

Ótimo post Nana!
Idealizações e máscaras... isso sim ajudam a destruir relações.

Beijos