Havia momentos em que olhava pra cima e rezava por uma solução.
Não acreditava em nada de sobrenatural. Não acreditava em horóscopo, cartomantes, signo lunar. Não acreditava em Deus.
Mas às vezes gostaria muito de acreditar. Acreditar que algo estava reservado – um caminho, um norte, um alguém, alguma coisa. Às vezes rezava simplesmente pra não se sentir tão só num mundo tão gigante.
Quando olhava para os lados, pouco enxergava. Quando fechava os olhos, podia ver tudo. A maioria das vezes era tudo sempre muito escuro. E tentava ser mais forte que a dor pra superar esta solidão, dava um passo para trás pra avançar no futuro. Às vezes uma luz se acendia e pensava que finalmente sairia dali, mas volta e meia se perdia de novo.
Lambia velhas feridas, tentando cicatriza-las. Não tinha jeito, as feridas eram mais profundas do que a pele para serem facilmente curadas. Ainda assim persistia, teimosamente, insistentemente, estupidamente persistia, na tentativa inútil de ao menos esquecer aquilo que as havia causado.
Sentia-se muitas vezes como um cachorrinho vira-lata: apegando-se a cada promessa de acolhimento, revirando restos na esperança de um todo. Convencia-se de que um dia acharia, mas esse dia nunca chegara.
Se apegava ao passado para fazer seu futuro mais bonito, se enganava com o presente pra não admitir as derrotas sofridas. Acima de tudo, fantasiava em cima de hipóteses tolas, rasas, vazias. E sabia que eram assim, cada uma delas.
Mas tinham lhe ensinado que os sonhos eram matéria-prima da realidade, e por isso sonhava. E, a despeito de tudo isso, continuava rezando, pedindo, acreditando. Um dia, com certeza, a resposta chegaria, e desta vez saberia que rumo seguir.
Continuaria revirando restos; continuaria lambendo as feridas. Continuaria achando cor-de-rosa a cor mais bonita. Continuaria acreditando-desacreditando em destino, e continuaria duvidando e mesmo assim consultando os astros. Persistiria na tentativa dita tola de cada dia transformar-se em algo melhor, em algo superior, em algo de bonito. Em algo de bondade. E continuaria pedindo perdão, assim como continuaria perdoando a que a tivesse ofendido.
Pois não acreditava em Deus, mas acreditava em si mesma.
Nenhum comentário:
Postar um comentário