A grande maioria das pessoas já se sentiu ameaçada. Seja por um ladrão, por uma crise financeira, por uma hipotética gravidez ou pela terrível balança de farmácia, a verdade é que todo ser humano já tremeu na base ao se confrontar com uma situação perigosa. Claro - o medo é uma reação normal do nosso organismo, uma preparação fisiológica para fugirmos ou enfrentarmos uma ameaça potencial à nossa integridade física. Esse processo biológico vem lá dos tempos das cavernas, quando os seres humanos tinham, por vezes, que enfrentar animais letais e outros perigos do gênero. Os sintomas são clássicos: tremor, suor frio, desconforto estomacal e pensamento paralisante. Quando o medo é muito intenso, ele leva o nome de pânico, e isso, claro, em situações extremamente perigosas, onde há risco imediato de vida, certo?
Errado. Engana-se quem pensa que só de ameaças reais forma-se a sensação de pânico. Há gente que se sente apavorado mesmo em situações em que nenhuma ameaça real está presente, quando aparentemente nada está errado e tudo parece estar dentro dos conformes. Dentro da mente da pessoa, entretanto, tudo é ansiedade e confusão, há medo da perda de controle, a sensação é de morte iminente, e o sofrimento tende a ser extremo.
Quando o medo de uma ameaça ilusória torna-se frequente, eis o Transtorno de Pânico. Todo mundo já ouviu falar, todo mundo conhece alguém que já teve. E todo mundo que já viu algo do tipo sabe que a maior característica do pânico é a irracionalidade, a incoerência, a falta de lógica do medo em questão. Às vezes, o portador sente o pânico ao se aproximar sempre diante de uma mesma situação, como por exemplo, ao enfrentar multidões. Outros, ao dirigir; outros ainda, ao comer em público. Tão vasta é a gama de medos possíveis que o ápice do pânico é sentir medo de ter medo. Daí, já se imagina a extensão do problema...
Ultimamente, não apenas na prática clínica como em minhas próprias relações pessoais, tenho observado uma tendência bastante parecida ao mecanismo que acima descrevo – basta trocarmos algumas palavras para que se configure uma nova doença, um novo transtorno, ao qual carinhosamente apelidei de Pânico Amoroso. Na verdade, nada que não possa ser explicado exatamente pelo mesmo mecanismo: a pessoa entra em contato com uma situação que lhe desperta ansiedade - uma multidão, ou um relacionamento afetivo. Está aí um prato cheio para que ela faça a associação situação – ansiedade, o que exemplifica aqueles casos clássicos que vemos por aí, de pessoas que nunca mais saíram sozinhas porque temem sentir medo novamente, ou pessoas que não vão a shows pois as multidões são o elemento desencadeante da crise... ou aquelas pessoas que adquirem um medo tão mórbido de relacionar-se que criam verdadeira aversão ao amor.
Se isso tudo lhe parece muito fantasioso, ou se você pensou, em algum momento, que eu estou forçando a barra, considere o seguinte caso: Diana tem 26 anos e está solteira. Suas últimas duas relações fracassaram, com dois homens pelos quais Diana se apaixonou intensamente, e que a abandonaram por outras mulheres. Esqueçam por um momento a relevância do fato dela ter escolhido dois homens que agiram da mesma forma (Freud ia adorar isso), e foque por um instante no que está acontecendo, neste minuto, na vida de Diana, passados quase 8 meses em que ela está sozinha: ela tem um encontro marcado com um homem bem bacana, com o qual teve altos sonhos calientes na noite seguinte em que se conheceram, mas está desanimada, ansiosa, negativa e não está curtindo nem um pouco a situação. Ela passou o dia tendo crises ansiosas, e o coração disparando a cada 5 minutos, como se estivesse levando um susto, toda vez que pensava no encontro. Ela procurou contornar estas crises sempre com o mesmo pensamento: “É só uma coisinha sem importância, e se não der certo, até melhor, perco menos tempo”. Na verdade, ela está mais para jogar cartas com sua mãe do que para ir ao encontro, o que é, óbviamente, paradoxal. Ela está, honestamente, à beira de pegar o telefone e desmarcar o encontro, fingindo, aqui e ali, uma tossezinha chata pra justificar o balão.
Neurose? Definitivamente. Mas não, não é um caso clínico tirado de algum livro. Minha amiga Diana é tão normal quanto eu ou você (pasme!), trabalha, tem amigos, é inteligente e divertida, é linda por dentro e por fora. Ela é o que muitos caras chamariam de “mulherão”. Só que, assim como eu e você, ela tem suas inseguranças. E sim, assim como eu e você, Diana tende a generalizar – todos os homens são cruéis, todas as prestações são obras do demônio, nenhuma dieta dá certo.
Diana morre de medo de ser rejeitada. Ela sequer percebe, mas dentro de sua cabeça estão pensamentos totalmente auto-destrutivos, como “não sou interessante o suficiente” ou “vou acabar sendo abandonada”. Diana segue a velha máxima: se algo aconteceu uma única vez, talvez não aconteça a segunda - mas se algo acontece duas vezes, muito provavelmente acontecerá uma terceira.
Não sejamos julgamentosos - se por acaso passou pela sua cabeça que a moça supracitada deveria parar de se boicotar, se olhar no espelho e se mancar, tenho algo a lhe propor:
Você poderia olhar no espelho e dizer, honestamente e em voz alta, do que você tem medo?
Errado. Engana-se quem pensa que só de ameaças reais forma-se a sensação de pânico. Há gente que se sente apavorado mesmo em situações em que nenhuma ameaça real está presente, quando aparentemente nada está errado e tudo parece estar dentro dos conformes. Dentro da mente da pessoa, entretanto, tudo é ansiedade e confusão, há medo da perda de controle, a sensação é de morte iminente, e o sofrimento tende a ser extremo.
Quando o medo de uma ameaça ilusória torna-se frequente, eis o Transtorno de Pânico. Todo mundo já ouviu falar, todo mundo conhece alguém que já teve. E todo mundo que já viu algo do tipo sabe que a maior característica do pânico é a irracionalidade, a incoerência, a falta de lógica do medo em questão. Às vezes, o portador sente o pânico ao se aproximar sempre diante de uma mesma situação, como por exemplo, ao enfrentar multidões. Outros, ao dirigir; outros ainda, ao comer em público. Tão vasta é a gama de medos possíveis que o ápice do pânico é sentir medo de ter medo. Daí, já se imagina a extensão do problema...
Ultimamente, não apenas na prática clínica como em minhas próprias relações pessoais, tenho observado uma tendência bastante parecida ao mecanismo que acima descrevo – basta trocarmos algumas palavras para que se configure uma nova doença, um novo transtorno, ao qual carinhosamente apelidei de Pânico Amoroso. Na verdade, nada que não possa ser explicado exatamente pelo mesmo mecanismo: a pessoa entra em contato com uma situação que lhe desperta ansiedade - uma multidão, ou um relacionamento afetivo. Está aí um prato cheio para que ela faça a associação situação – ansiedade, o que exemplifica aqueles casos clássicos que vemos por aí, de pessoas que nunca mais saíram sozinhas porque temem sentir medo novamente, ou pessoas que não vão a shows pois as multidões são o elemento desencadeante da crise... ou aquelas pessoas que adquirem um medo tão mórbido de relacionar-se que criam verdadeira aversão ao amor.
Se isso tudo lhe parece muito fantasioso, ou se você pensou, em algum momento, que eu estou forçando a barra, considere o seguinte caso: Diana tem 26 anos e está solteira. Suas últimas duas relações fracassaram, com dois homens pelos quais Diana se apaixonou intensamente, e que a abandonaram por outras mulheres. Esqueçam por um momento a relevância do fato dela ter escolhido dois homens que agiram da mesma forma (Freud ia adorar isso), e foque por um instante no que está acontecendo, neste minuto, na vida de Diana, passados quase 8 meses em que ela está sozinha: ela tem um encontro marcado com um homem bem bacana, com o qual teve altos sonhos calientes na noite seguinte em que se conheceram, mas está desanimada, ansiosa, negativa e não está curtindo nem um pouco a situação. Ela passou o dia tendo crises ansiosas, e o coração disparando a cada 5 minutos, como se estivesse levando um susto, toda vez que pensava no encontro. Ela procurou contornar estas crises sempre com o mesmo pensamento: “É só uma coisinha sem importância, e se não der certo, até melhor, perco menos tempo”. Na verdade, ela está mais para jogar cartas com sua mãe do que para ir ao encontro, o que é, óbviamente, paradoxal. Ela está, honestamente, à beira de pegar o telefone e desmarcar o encontro, fingindo, aqui e ali, uma tossezinha chata pra justificar o balão.
Neurose? Definitivamente. Mas não, não é um caso clínico tirado de algum livro. Minha amiga Diana é tão normal quanto eu ou você (pasme!), trabalha, tem amigos, é inteligente e divertida, é linda por dentro e por fora. Ela é o que muitos caras chamariam de “mulherão”. Só que, assim como eu e você, ela tem suas inseguranças. E sim, assim como eu e você, Diana tende a generalizar – todos os homens são cruéis, todas as prestações são obras do demônio, nenhuma dieta dá certo.
Diana morre de medo de ser rejeitada. Ela sequer percebe, mas dentro de sua cabeça estão pensamentos totalmente auto-destrutivos, como “não sou interessante o suficiente” ou “vou acabar sendo abandonada”. Diana segue a velha máxima: se algo aconteceu uma única vez, talvez não aconteça a segunda - mas se algo acontece duas vezes, muito provavelmente acontecerá uma terceira.
Não sejamos julgamentosos - se por acaso passou pela sua cabeça que a moça supracitada deveria parar de se boicotar, se olhar no espelho e se mancar, tenho algo a lhe propor:
Você poderia olhar no espelho e dizer, honestamente e em voz alta, do que você tem medo?
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O texto acima foi divido em partes tanto para facilitar a leitura quanto para dar uma chance à minha amiga Diana - a PARTE II virá em breve, afinal de contas, o encontro ainda está marcado...
Um comentário:
Eu tenho medo do espelho =/
beijos moça.
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